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Ato Normativo 120/1993 (1993-1997)

3 O PAPEL DO INPI NOS CONTRATOS DE TECNOLOGIA Benedito Adeodato, em artigo publicado na Revista da ABPI de

3.2 OS ATOS ADMINISTRATIVOS DO INPI RELACIONADOS AOS CONTRATOS DE TECNOLOGIA

3.2.3 Ato Normativo 120/1993 (1993-1997)

O Ato Normativo 120, de 17 de dezembro de 1993, revogou a Resolução 22/1991 e Instrução Normativa 01/1991, ao dispor sobre o processo de averbação dos atos e contratos de transferência de tecnologia e correlatos.

Nas considerações da norma, citaram-se: o artigo 218 da Constituição da República Federativa do Brasil, no que se refere à promoção e incentivo ao desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológica; o artigo 2º e parágrafo único da Lei 5.648/1970, que atribuiu ao INPI a função de acelerar e regular a transferência de tecnologia; e os artigos 30, 90 e 126 da Lei 5.772/1971, os quais determinaram a competência do INPI para proceder à averbação/registro dos contratos de tecnologia.

O Ato 120/1993 regulamentava que a dependência tecnológica mútua dos países e a centralização das especialidades tecnológicas em determinadas regiões do mundo, em virtude de questões econômicas, fazem com que a importação de tecnologia tenha adquirido uma crescente importância.

Outrossim, considerava que a eliminação de proibições de importações e da gradual redução de barreiras tributárias na área tecnológica estimularia a competitividade e a produtividade dos vários setores da indústria.

Por fim, foi declarado que a averbação dos atos e contratos de tecnologia e seus correlatos “não deve constituir em entrave ou fator de atraso no acesso da indústria nacional às fontes de tecnologia e de pesquisa e desenvolvimento existentes no Brasil e no exterior” (INPI, 1993).

38 Conforme já visto, o artigo 126 da CPI/1971 somente previa a averbação de contratos de transferência de tecnologia, sendo que o artigo 211 da LPI/1996 passou a prever também o registro do contrato de franquia.

Desse modo, definiu-se no item 1 que o processo de averbação perante o INPI dos atos e contratos de licenciamento de direitos de propriedade industrial, que implicassem transferência de tecnologia, compartilhamento de custos e/ou cooperação em programas de pesquisa e desenvolvimento, franquia, serviços de assistência técnica, científica e similares, se daria nos moldes da norma em questão.

De acordo com o item 2 do Ato 120/1993, prevaleceria a liberdade contratual nos contratos acima descritos, considerando-se nulos os dispositivos que ofendessem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. Nos casos de licenciamento de patentes e de marcas, o contrato deveria indicar expressamente os seus respectivos números, sendo que seria conferido efeito precário aos contratos em que a patente ou marca ainda não tivesse sido concedida, cujos efeitos fiscais e cambiais retroagiriam à data do depósito da patente e à data do registro da marca, respectivamente.

Nesse ponto, o caput do item 4 determinava que o INPI limitaria sua análise, em todos os contratos de tecnologia, à verificação da situação das marcas e patentes licenciadas, assim como à informação quanto aos limites aplicáveis de dedutibilidade fiscal para fins de Imposto de Renda e de remessa em moeda estrangeira dos pagamentos contratuais.

O §1º do item 4 estabeleceu que não seria objeto de exame ou de exigência por parte do INPI

[...] os dispositivos contidos nos atos ou contratos de que trata este Ato Normativo não especificamente relacionados aos aspectos elencados no caput deste artigo, inclusive aqueles que se refiram a preço, condições de pagamento, tipos e condições de transferência de tecnologia, prazos contratuais, limitações de uso, acumulação de objetos contratuais, legislação aplicável, jurisdição competente e demais cláusulas (INPI, 1993).

Além disso, o INPI não poderia recusar averbação baseada em alegação de violação de legislação repressora de concorrência desleal, anti-trust ou de abuso de poder econômico, de proteção ao consumidor, entre outras, facultando-se ao órgão a opção de informar às partes quanto aos aspectos legais relacionados, conforme §2º do item 4.

O item 6 determinava o prazo máximo de trinta dias, contados da data do protocolo, para averbação dos atos e contratos. O §1º estipulava

que, em caso de ausência de pronunciamento no INPI nesse período, os atos e contratos seriam considerados automaticamente averbados.

Conforme item 7, caberia recurso das decisões da Diretoria de Transferência de Tecnologia ao Presidente do INPI. Pelo item 8, definiu- se que o INPI poderia emitir Atos Normativos complementares, com o objetivo de regular aspectos específicos da averbação dos contratos que possuíssem características peculiares, respeitando-se os princípios gerais estabelecidos no Ato 120/1993.

Ao final, o item 10 dispôs que a Diretoria de Transferência de Tecnologia prestaria o serviço de apoio à aquisição de tecnologia, com o propósito de assessorar empresas brasileiras interessadas em obter tecnologia ou licenciamento, no Brasil e/ou no exterior. Os serviços eram realizados na área contratual e na área tecnológica, sendo essa última por meio da disponibilização de estudos e relatórios relacionados às contratações de tecnologias e de pesquisas específicas, a pedido da parte, quanto a patentes eventualmente disponíveis para licenciamento. Na área contratual, a Diretoria colocaria à disposição dados e aconselhamento de técnicos habilitados e com experiência na análise de contratos, bem como levantaria dados e estatísticas em relação à forma de negociação e aos preços médicos praticados no mercado em setores específicos.

É importante observar que o Deputado Federal Luiz Salomão apresentou, à Câmara dos Deputados, o Projeto de Decreto Legislativo 404, em 9 de março de 1994, com o objetivo de sustar os efeitos do Ato Normativo INPI 120/1993. O Projeto foi arquivado em 02/02/1995, após a manifestação da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados.

Barbosa (2015, p. 433) aborda a inefetividade do Ato Normativo 120/1993, em razão de que a legislação havia determinado o papel do INPI na análise dos contratos e “a ninguém escapará, certamente, que as competências que a lei federal comete a um órgão público não são uma faculdade, mas um poder-dever”.

Diante disso, no cumprimento do que estabelecia o parágrafo único do artigo 2° da Lei 5.648/1970, o INPI continuou a aplicar as regras de exame de mérito nos contratos de tecnologia, “após breve vacilação” (BARBOSA, 2015, p. 433).

Buscou-se localizar doutrinas que abordassem como se deu o processo de exame dos contratos de tecnologia na DIRCO/INPI entre os anos 1993 a 1997, quando o Ato 120 foi revogado, porém apenas Barbosa (2015) afirmou que o exame de mérito foi mantido pelo INPI, após um breve período sem análise. Não obstante, o Projeto de Decreto Legislativo foi arquivado, antes de passar pelo Plenário da Câmara dos Deputados.

Permanece muito vago como se deu esse período de quatro anos no INPI, mas, ao que parece, a área técnica continuou realizando o exame de mérito, ainda que houvesse a disposição em sentido contrário.

Posteriormente ao Ato 120/1993, o INPI editou a Resolução 44, de 2 de setembro de 1994, com o objetivo de estabelecer normas de procedimentos no preenchimento dos Certificados de Averbação expedidos pelo INPI. Esta mudança se deu com a entrada em vigor do Decreto 1.157, de 21 de junho de 1994, o qual reduziu à zero por cento a alíquota do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF), incidente sobre a operação de câmbio realizada para pagamento de contrato de transferência de tecnologia averbado pelo INPI.