• Nenhum resultado encontrado

As contradições do capitalismo que forjam a necessidade pela sociedade futura

1. A APROPRIAÇÃO DA PRODUÇÃO PELOS TRABALHADORES EM PROCESSOS DE TRANSIÇÃO AO SOCIALISMO

1.1. A (re) produção humana e as formas de propriedade nos determinados modos de produção

1.1.3. As contradições do capitalismo que forjam a necessidade pela sociedade futura

O aprofundamento do conflito de classes presente na sociedade capitalista entre burguesia e proletariado, bem como das contradições presentes na própria estrutura de (re) produção do capital, foram apontados por Marx e Engels com a perspectiva de que haveria a tomada do poder pelos trabalhadores do mundo – o que permitiria iniciar a construção da nova sociedade. A compreensão da relação

entre a estrutura econômica e superestrutura em Marx contribui para essa reflexão. No campo da estrutura econômica encontram-se as relações de produção31, todo processo de produção econômica real que sustenta a reprodução material da vida humana. Já na superestrutura está o aparato jurídico e político, no qual se constituem determinados níveis de consciência social e que são também aspectos das relações de produção, das relações sociais em sua totalidade. A partir da crítica a dialética hegeliana32 Marx irá apontar que, nessa relação entre estrutura e superestrutura, é na superestrutura que o homem terá constituída sua consciência a partir da produção econômica, sendo neste âmbito estabelecidas relações entre os próprios homens e entre estes e seus meios de produção ou de trabalho (objetos de trabalho, instrumentos de trabalho e reprodução do próprio trabalhador) (MARX, 2008b). Dessa maneira, pontuou ainda Marx (2011, p.60)33 que, “[...] sobre as diferentes formas da propriedade, sobre as condições sociais da existência se eleva toda uma superestrutura de sentimentos, ilusões, modos de pensar e visões da vida distintos e configurados de modo peculiar [...]”,ou seja, na relação entre estrutura e superestrutura, haveria ainda uma variação entre as classes dos distintos modos de viver e também de formação da consciência e modos de pensar.

A medida então que as contradições nas relações de produção se aprofundam e as classes que sofrem o processo de dominação, opressão e exploração levantam suas indignações e se organizam coletivamente há a possibilidade de tomada do poder e de alteração das relações de produção em sua totalidade, no âmbito da superestrutura e da estrutura econômica. Afirma Marx (2009, p.125) no texto Miséria da Filosofia de 1847 que as “[...] relações sociais estão intimamente ligadas às forças produtivas. Adquirindo novas forças produtivas os homens transformam o seu modo de produção e, ao transformá-lo, alterando a maneira de ganhar a sua vida [...]” serão também alteradas todas as relações sociais.

31

Relação de produção é o ato social de produzir para abastecer as necessidades, que corresponde a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas, em determinado tempo e espaço. Sendo que, “[...] a totalidade dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência [...]”, (MARX, 2008b, p.47).

32

A proposição de inversão da dialética hegeliana foi o que permitiu compreender dessa maneira o movimento entre estrutura e superestrutura; diferentemente de Hegel que concebia a realidade em movimento dialético a partir do qual as ideias conformariam a materialidade existente. Consultar esse debate em Crítica da filosofia do direito de Hegel de 1843, (MARX, 2010c).

33

Diferente dos demais períodos de passagem de um modo de produção para outro e devido ao alcance mundial do modo de produção capitalista, sua ultrapassagem deverá promover a emancipação das classes trabalhadoras de todo o mundo, conforme pontuou Marx (2009, p.17), “[...] de uma vez e para sempre, de toda a exploração, opressão, distinção de classe e luta de classes”34

, o que significa uma transformação a nível universal.

Portanto, é no âmbito do próprio capitalismo que se conformam as possibilidades para o surgimento da nova sociedade, a qual buscará negar as contradições da sociedade anterior. Tendo em vista este aspecto, a resposta dada pelo capitalismo à expansão e elevação ao extremo da anarquia da produção no âmbito da sociedade em geral foi justamente o seu oposto: “[...] a crescente organização da produção como produção social em cada um dos estabelecimentos produtivos [...]”, (ENGELS, 2015, p.309). Mesmo com a crescente organização/ planejamento da produção em cada estabelecimento, a contradição entre produção social e apropriação privada culminou na contradição35 entre a organização/ planejamento no âmbito de cada estabelecimento e a anarquia da produção no âmbito da sociedade em geral, sendo esta uma das contradições a serem enfrentadas em processos de transição do capitalismo para o socialismo e depois para o comunismo.

As relações de produção no âmbito do capitalismo manifestam contradições próprias deste modo de produção, um processo de transição do capitalismo para o socialismo demandará, portanto, romper com estas relações de produção, bem como com suas formas de propriedade.

Neste modo de produção, o Estado através de seus Regimes Políticos é também composto pela relação contraditória entre as classes e visa garantir a conservação das relações de produção capitalistas. No âmbito destas relações, os Governos cumprem papel fundamental no que tange a coerção política, que se realiza a partir de suas instituições quando necessita garantir, à força, a manutenção das relações de produção capitalistas (CORAZZA, 1987).

34

Engels nos Prefácios às edições alemã (1883) e inglesa (1888) do Manifesto Comunista; atribui a fundamentação dessa ideia a Marx.

35

Sendo esta uma das contradições secundárias expressas no modo de produção capitalista (MAO, 1999).

A anarquia da produção em geral, aliada a outras leis36 que regem a economia capitalista, conduzem a ocorrência de diversas crises, as quais também são inerentes a este modo de produção. Nestes contextos que surgem as empresas estatais na sociedade capitalista, criadas pelos Governos enquanto representantes, majoritariamente, da classe de capitalistas, mas que aparecem como representantes da sociedade em geral. Assim, passa a se apresentar no capitalismo a forma de propriedade estatal concomitante com as outras formas de propriedade, sendo predominante a propriedade privada. A propriedade estatal, na aparência e na perspectiva jurídica, seria uma entidade que representaria a sociedade em geral, mas na essência, visa reproduzir as relações de produção capitalistas.

É a partir desta interpretação acerca do planejamento e organização das relações de produção no capitalismo por seus Regimes Políticos, que Engels apontará como tática inicial à possibilidade de transição do capitalismo ao socialismo, e posteriormente ao comunismo, a tomada do poder pelos trabalhadores e o processo de planificação a partir das empresas estatais aliadas a um plano nacional37. Assim, apontar-se-á no item que segue os elementos relativos à possibilidade da transição do capitalismo para o socialismo e depois para o comunismo, bem como as formas de propriedade e as relações de produção que passam a se conformar neste contexto.

1.2. A apropriação da produção pelos trabalhadores e as formas de

Outline

Documentos relacionados