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Aspectos gerais sobre a forma política de participação e as particularidades do caso Cubano

2. A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DOS TRABALHADORES NAS EMPRESAS ESTATAIS EM PROCESSOS DE TRANSIÇÃO AO SOCIALISMO

2.3. Aspectos gerais sobre a forma política de participação e as particularidades do caso Cubano

Este item tem por objetivo levantar os aspectos principais apontados neste capítulo e introduzir os elementos que darão sequência a essas reflexões, pensando a realidade particular de Cuba.

Neste capítulo buscou-se refletir sobre a relação entre Estado, participação e planificação diante das novas relações de produção em construção em processos de transição ao socialismo. Para isso, inicialmente buscou-se identificar a participação e a democracia como elementos presentes no capitalismo sob a forma burguesa, mas que teriam aspectos conservados, negados e superados durante os processos de transição ao socialismo. Em seguida se caracterizou o Estado que se formaria após a vitória revolucionária, o da “ditadura do proletariado”. Este seria o Estado dos trabalhadores e teria por objetivo principal a realização da transição através da implementação e sustentação de novas relações de produção, mesmo enfrentando inúmeras dificuldades e desafios. Ainda no primeiro item do capítulo, discutiu-se

sobre a planificação e a estatização das empresas como importantes mecanismos para iniciar a supressão das formas de propriedade e relações de produção capitalistas, com vistas a alterar a forma de apropriação da produção pelos trabalhadores. Para isso, além de uma produção socializada, se inicia um processo de apropriação social de toda a produção (produção, distribuição e consumo) pelos trabalhadores, o que também exige participação política e poder de decisão.

É a construção dos próprios mecanismos de participação política e decisão no âmbito da sociedade em geral e também das empresas estatais que contribuirá de maneira significativa com o processo de apropriação da produção pelos trabalhadores. Dessa forma, a produção que desde a sociedade capitalista é social, passa também a ser apropriada de maneira social durante a transição ao socialismo, por aqueles que de fato produzem. Os trabalhadores passam a estabelecer com a produção e seus resultados uma relação de objetivação, realizando-se em seu processo de produção e de trabalho, rompendo gradativamente com a relação de estranhamento.

Os processos de decisão no bojo da sociedade em transição deve ainda contar com mecanismos de participação direta e indireta (representativa), de forma que há situações em que os representantes é que decidem, mas em outras diversas situações a decisão ocorre de maneira direta, pelas próprias classes trabalhadoras (como o exemplo dos conselhos operários dentro das empresas estatais). O espaço da produção é o que pode evidenciar a participação direta de maneira muito expressiva, visto que são os próprios produtores que atuam naquele âmbito. Nesta linha, a segunda parte do capítulo buscou destacar o processo de participação e controle político da produção pelos próprios trabalhadores no âmbito da empresa estatal. Entretanto, a participação e controle da produção pelos trabalhadores deve se consubstanciar em qualquer unidade de produção, ou seja, em qualquer forma de propriedade.

Algumas experiências concretas de conselhos operários foram destacadas com a intenção de refletir sobre seus desafios e potencialidades quanto à participação política e controle político pelos trabalhadores no âmbito da produção. Os conselhos operários são um exemplo de autogestão das empresas que contribuiria no processo de substituição da forma de organização política herdada do capitalismo por relações de produção novas. Durante o largo período de transição, a organização através de conselhos operários ou similares contribuiria para exercitar a

nova forma da democracia no âmbito da produção, num contexto em que os trabalhadores tivessem expressiva participação política e decidissem coletivamente.

A discussão apresentada neste capítulo sequencia o texto desenvolvido no capítulo primeiro, sendo que naquele buscou-se destacar aspectos relativos às formas de propriedade e as mudanças quanto à apropriação da produção pelos trabalhadores em processos de transição ao socialismo. Para que, a partir disso, fosse possível avançar em um debate que articulasse Estado, planificação, participação política e decisão no interior das modificações realizadas durante a transição ao socialismo, como condição fundamental para se avançar no processo de apropriação social da produção.

No próximo capítulo, apontar-se-á como este contexto de início de processo de transição ao socialismo vem se concretizando em Cuba. Após a vitória da Revolução Cubana em 1959, quando se tem a tomada do pelos trabalhadores e se iniciam transformações estruturais no sentido de modificar as relações de produção, as formas de propriedade – primeiro através de intensa estatização – e a forma de participação política dos trabalhadores em toda a sociedade e também no interior das empresas estatais.

Cuba tem conseguido avançar quanto à forma política de participação (representativa e direta) durante o processo de transição, alterando a organização partidária e os espaços de decisão no âmbito da sociedade em geral. Todas as mudanças realizadas no país enfrentam inúmeros desafios e contradições, àquelas herdadas do capitalismo e que estariam em movimento de desaparição, bem como outras novas que surgem das particularidades da transição ao socialismo em Cuba. Para compreender esta experiência histórico-concreta, considerar-se-ão os aspectos relativos às relações internacionais estabelecidas pelo país, sua história e os desafios postos a seu processo de transição. Estes elementos são imprescindíveis para compreender como está atualmente organizada a forma de participação política, controle e decisão dos trabalhadores no interior das empresas estatais cubanas. Assim, serão consideradas no próximo capítulo as principais mudanças realizadas em Cuba durante o período de 1959 até a década de 1990, principalmente quanto às formas de propriedade, a participação política e controle da produção pelos trabalhadores.

3. AS PARTICULARIDADES DAS FORMAS DE PROPRIEDADE E DA

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