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As críticas à TRS e suas implicações epistemológicas para o campo

A teorIA DAs representAçÕes soCIAIs nos estUDos

6. As críticas à TRS e suas implicações epistemológicas para o campo

Spink (1996) defende que, no lugar da TRS, se adote uma abordagem mais aberta às contribuições da linguística, na direção da chamada “abor- dagem construcionista”. No sentido de analisar a razão dessa ruptura entre Bakhtin (1986a) e a TRS, cabe observar as implicações do tratamento que o autor dá ao determinismo material, segundo a tradição do materialismo his- tórico, inserida em seu entendimento de representações (MINAYO, 1995).

A despeito de o determinismo material obscurecer, de certa maneira, o sujeito, Marková (2000), Fávero (2005) e Moscovici e Marková (1998, 2003) buscam articular com a TRS as contribuições de Bakhtin (1986a, 1986b) pela via do entendimento do autor a respeito da construção do sentido, que, para ele, é social (CALLINICOS, 1985). Há nisso uma base de origem convergente com a concepção de sociocognição de Moscovi- ci (1978) e capaz de oferecer espaço para o uso da própria Análise do Discurso na TRS, em um enfoque segundo o qual, concordando-se com Certeau (1994, p. 82, grifos do autor), se reconhece uma “[…] historicida-

de social na qual os sistemas de representações ou os procedimentos de

fabricação não aparecem mais só como quadros normativos, mas como

instrumentos manipuláveis por usuários”.

Em detrimento desse entendimento sobre a TRS, Spink (1996) pola- riza a discussão sobre o campo como sendo um embate entre duas pers- pectivas epistemológicas mais amplas: o construtivismo e o construcionis- mo. A autora explica que

[o construcionismo é caracterizado] […] como uma modalidade de episte- mologia pós-moderna radicalmente anti-representacionista; [e o construti- vismo como] […] mescla de anti-determinismo (e portanto a crença na ativi- dade construtiva do sujeito) e de historicismo (e portanto o reconhecimento da natureza histórica e cultural dos fenômenos sociais) (SPINK, 1996, p. 181).

Mas essa polarização da autora omite algo que não pode ser deixa- do de lado nessa discussão: a gênese epistemológica comum que envolve o construtivismo e o construcionismo e as diversas correntes dentro das duas abordagens, que, para alguns, são apenas divisões a partir e dentro do desenvolvimento do construtivismo (DINIZ NETO, 2005).

De qualquer maneira, se, por um lado, as diferenças atribuídas por Spink (1996) a cada vertente têm certo sentido, por outro lado, a partir do desenvolvimento dos estudos surgem correntes distintas que aproxi- mam as duas vertentes. Nesse sentido, Rey (2003) destaca compatibilida- des e incompatibilidades entre as vertentes e opõe-se a uma generalização simplista que indique a existência de um único “construtivismo” e de um único “construcionismo”. Isso mostra os obstáculos para se tentar classi- ficar abordagens que se aproximam, como ilustra Arendt (2003, p. 8) ao estabelecer distinções entre as vertentes:

Os dois paradigmas são contrastados a partir de uma dicotomia: de um lado [construtivista] teorias, objetos, sujeitos que executam procedimentos e refletem sobre coisas a partir de seus interesses, representando a realida- de, confiando nas próprias experiências como forma de compreender o mundo, investigando baseados em fundamentos considerados legítimos; do outro [construcionista], práticas, atividades, sujeitos que negociam a coordenação de ações sociais com outros no fluxo cotidiano, em função de interesses compartilhados, questionando os processos de “construção so- cial” da realidade, atuando com modos de investigação que aceitam o erro e encontram suas garantias em situações localmente constituídas. Para afastar a TRS do construtivismo e situá-la no construcionismo, Spink (1996) foca o representacionismo da abordagem, mas os problemas da classificação apresentam-se quando adeptos da TRS, como Arruda (2003), explicam que há uma confusão, inclusive interna ao campo, sobre o que é representação para a TRS e para o próprio Moscovici (1978), seu pre- cursor: o sentido não é o de representar um objeto concreto como em um espelho, mas construir algo a partir de uma construção anterior. Essa visão aproxima a TRS do construcionismo, como defende Moscovici (1997) em uma reposta direcionada aos críticos construcionistas da TRS. Isso não in- dica um pleno equívoco de Spink (1996), pois muitos adeptos do campo da TRS, como defendem e mostram Nascimento-Schulze e Camargo (2000), assumem uma postura representacionista e uma visão do discurso diame-

tralmente oposta aos desenvolvimentos do construtivismo na direção do chamado “construcionismo”, apresentados por Arendt (2003). Contudo, considera-se um equívoco apenas generalizar as críticas para todo o cam- po e assumir a complexa decisão da incomensurabilidade paradigmática, uma opção comum em muitos campos do conhecimento, que, para os que discutem o tema, tem contornos tanto epistemológicos quanto políticos (BURREL; MORGAN, 1979; BURREL, 1999; CLEGG; HARDY, 1999).

Diversos pesquisadores, como Räty e Snellman (1992), Voelklein e Howarth (2005) e Arruda (2003), apesar de concordarem com parte das críticas de Spink (1996), destacam que elas são apenas contribuições para o campo da TRS, pois a partir delas têm surgido propostas teórico-meto- dológicas opostas, distintas ou complementares às existentes no campo, sem que se imponha um afastamento dele, ampliando seu potencial para lidar com fenômenos sociais. Essa última posição é assumida, neste ca- pítulo, segundo o entendimento de que não há uma ruptura que exija a passagem para uma “nova” abordagem, mas o reconhecimento de que na origem da TRS há espaço para abarcar as contribuições dos críticos inter- nos e externos. O próprio Moscovici (1997) deixa claro que há espaço para a aproximação entre a TRS e aspectos do construcionismo.

Dentro dessa ótica, cabe discutir a crítica de Spink (1996) sobre a maneira como a TRS lida com o sujeito e sua atividade construtiva. Para a autora, na TRS, a construção seria uma maneira de reproduzir objetos de uma realidade substantiva. Entretanto, Duveen (1998, p. 446) destaca que a construção na TRS envolve um engajamento ativo

[…] que considera a cultura como um padrão estruturado de significados, sustentado por formas de relações e práticas sociais. […] [Ela envolve e não impede] o processo pelo qual são geradas novas formas de compreen- são, e é este o sentido de “construção” que mais se aproxima com o fenô- meno das representações sociais.

De acordo com o autor citado acima, na TRS, as representações cons- truídas distinguem-se por umas serem relativamente estáticas, compondo padrões de significados estáveis, e outras serem mais dinâmicas, marcando um processo construtivo do qual surgem novos significados no mundo so- cial. Os que criticam a TRS, como Spink (1996) e Medrado (1998), enfati- zam que ela está centrada na estabilidade e que o dinamismo estaria apenas nas maneiras dos sujeitos apresentarem objetos inseridos na estabilidade

social, o que remeteria à ideia de representação desses objetos.

Esses críticos advogam que o uso do termo representação seria um equívoco no âmbito de uma proposta que vê o conhecimento como pro- duto da construção social. Para eles, a ideia de representação por si só remeteria a um “objetivismo” implícito, pois pressupõe a existência de um objeto anterior, a ser representado (MEDRADO, 1998; SPINK, 1996). Ao se discordar desse ponto, é necessário destacar que o argumento, em parte, tem coerência, não no tocante à necessidade de um objeto anterior que preexista independentemente do sujeito, mas relativamente à necessidade de se reconhecer uma anterioridade, histórica, que demarca um passado de origem das representações e que continua no presente, em um eterno processo de demarcação que envolve a dimensão temporal na constru- ção social do conhecimento – o objeto em si é um corte nessa dimensão. Como explica Marková (2000, p. 430), é necessário reconhecer a diferença “[…] entre a definição de objetos estáticos e monolíticos versus a defini- ção de um fenômeno dinâmico e relacional”. A segunda definição marca a posição da TRS, em oposição à primeira, que marca a tradição positivista.

No decorrer de uma investigação pautada na TRS, quando se coloca que a representação é de um sujeito sobre um objeto, esse objeto é uma delimitação proposta pelo pesquisador ou oferecida pelos sujeitos para que exista um foco na análise das mediações e construções que ocorrem nesse cotidiano. Comumente, para direcionar e facilitar a coleta e o tratamento dos dados, o pesquisador oferece um objeto (foco) a respeito do qual o sujeito se manifesta, o que dá margem para as críticas deque haveria ênfase numa relação simplista de oposição entre sujeito e objeto. Entretanto deve- se observar a maneira como isso é realizado. O pesquisador pode buscar esse foco nas próprias manifestações dos sujeitos, pois eles delimitam obje- tos por conta própria em suas interações cotidianas e revelam construções sociais associadas a esses objetos (o que inclui as representações sociais).

A importância da definição do objeto no estudo das representações sociais não vem de sua concepção como uma referência objetiva ou real, mas do fato de esse objeto delimitar o contexto social em que se expressa a representação social (REY, 2003). Sem isso, o que se tem é o infinito de relações sociais impossíveis de serem tratadas pelo pesquisador. Não cabe aqui discutir a necessidade das delimitações em qualquer estudo, mas é importante deixar claro os caminhos para se chegar a essas delimitações. No caso da TRS, segundo a abordagem defendida neste capítulo, o objeto é o meio para essa delimitação de uma realidade socialmente construída. Portanto ele não é a realidade, e tampouco a representação é o reflexo dele.

Para Moscovici (1978), o termo representação não é sinônimo de re-

produção, mas de uma nova produção, na qual os objetos, ao contrário de

serem parcial e mentalmente reproduzidos pelo indivíduo, são produzidos e “vividos” por aqueles que interagem com eles, em um processo socio- cognitivo que os insere em contextos históricos e culturais (HOWARTH, 2002; VOELKLEIN; HOWARTH, 2005). Arruda (2003, p. 349, tradução nossa) explica que, para a TRS, “[…] a realidade é socialmente construída; conseqüentemente, ela obscurece os limites entre sujeito e objeto”. Ou seja, uma separação simplista é inviável e incoerente.

Wagner (1998, p. 309, tradução nossa) esclarece que Moscovici rara- mente utiliza o termo construção social em seus primeiros estudos “[…] seu termo preferido, ‘représentation’, em francês, tem um âmbito dinâ- mico e construtivo. O termo inglês e germânico representation tem um âmbito mais estático de reprodução, por exemplo, uma fotografia ou um mapa”. Essa distinção explica parte das críticas que associam de manei- ra generalizada a TRS a uma visão estática de uma realidade objetivada (VOELKLEIN; HOWARTH, 2005), ignorando estudos em posições total- mente distintas (WAGNER, 1998). Além disso, Rey (2003) destaca que Moscovici (1978) não descarta uma ontologia da realidade, diferentemen- te dos construcionistas, mas aproxima-se deles ao associar essa ontologia às relações sociais. Ou seja, a realidade existe a partir das delimitações do sujeito, não como algo nato, pois a ontologia que define a suposta realida- de comum é uma construção dos sujeitos.

Nesse sentido, a TRS não se insere numa visão objetivista da realida- de e tampouco na plena relativização contextual defendida pelos constru- cionistas, que, segundo Guareschi (2003), na medida em que é assumida como uma verdade absoluta, portanto, não relativa, contraria o próprio argumento (ROSA, 2006). Para Guareschi (2003), a contingência e a re- lativização que caracterizam os discursos nas análises construcionistas também devem ser assumidas no tocante ao entendimento da produção teórica e nos resultados das investigações, o que inclui as críticas à TRS. Isso denotaria a existência de espaço entre os construcionistas para a vi- são da realidade defendida pela TRS e destacada por Arruda (2003): uma realidade socialmente construída com base em processos de comunicação e interação permeados por formas de conhecimento distintas, que per- mitem ao sujeito criar e lidar com a diferença e a novidade (heterogenei- dade), sem, necessariamente, as eliminar, o que envolve seus interesses, valores e ideias.

delimitação do grupo de sujeitos de pesquisa e à associação desse grupo como um todo a uma determinada representação social. Defendendo esse argumento, Medrado (1998, p. 10-11) alerta para as limitações da TRS nas pesquisas empíricas, pois

[…] aquilo que define um grupo social a ser investigado seriam as repre- sentações por eles compartilhadas, ou seja, aquilo que só será alcançado no final do trabalho. […] Assim, nos trabalhos de Moscovici, é circular e tautológico o critério utilizado para se identificar um grupo, resultando numa confusão conceitual, na medida em que o grupo é definido a partir daquilo mesmo que define as representações, a saber, sua natureza social.

Novamente, a delimitação de uma dimensão da abordagem empírica é colocada em questão, mas os críticos reconhecem apenas a etapa da de- limitação dos sujeitos; a decisão inicial da escolha é do pesquisador e de seus critérios. A TRS mantém essa condição, mas o equívoco dos críticos está em não reconhecer a segunda etapa que envolve os estudos. O argu- mento de Medrado (1998) remete ao entendimento de que àquele grupo, inicialmente definido, será atribuída determinada representação, de ma- neira simplista e direta, mas, na TRS, cabe ao sujeito a palavra final sobre suas relações sociais. Ou seja, o pesquisador pode incluir os sujeitos que bem entender, mas, ao analisar as relações entre eles com base na TRS, evi- dencia-se o papel dos sujeitos na demarcação dos espaços de suas relações sociais, e os membros do grupo escolhidos pelo pesquisador nem sempre são aqueles que melhor interagiriam acerca dos temas também escolhidos pelo pesquisador. Sá (1998) reconhece que essa característica da TRS é ig- norada em estudos dentro do próprio campo e considera uma falha adotar a teoria ignorando o rigor necessário para evitar que o pesquisador defina arbitrariamente as relações sociais em torno das representações, sem ofe- recer espaço aos sujeitos de pesquisa, como defende a TRS.

Uma das principais contribuições do uso da TRS em estudos orga- nizacionais, portanto, é a existência de um espaço privilegiado para que o sujeito ofereça seus próprios elementos, no sentido de suprir as limita- ções dos pesquisadores do campo na escolha das delimitações do escopo adequado para investigar as infinitas relações sociais que podem envolver determinado contexto. A circularidade mencionada na citação de Medra- do (1998) – o grupo de sujeitos remete às representações sociais que re- metem ao grupo de sujeitos – ignora que o primeiro grupo não é igual ao

segundo. O primeiro, quem define é o pesquisador; o segundo interessa à TRS, pois é a construção dos próprios sujeitos que rejeita, confirma ou reconstrói as escolhas do pesquisador e que é parte do objeto de análise.

Outra crítica a ser discutida é a noção de consensualidade na TRS, que, para os críticos, “[…] pressupõe uma uniformidade nos discursos e ações de indivíduos pertencentes a um dado grupo” (MEDRADO, 1998, p. 16; HERMANS, 2003). A despeito de alguns autores que adotam a TRS, como Nascimento-Schulze e Camargo (2000), defenderem abordagens que focam fragmentos lexicais na busca por uma suposta homogeneidade, outros pesquisadores, como a própria Spink (1995a, 1995b) em estudos anteriores à sua ruptura com o campo, não buscam essa homogeneidade e desenvolvem metodologias nas quais as oposições, inclusive as discursivas, fazem parte das construções dos sujeitos sociais. Rose e outros (1995) des- tacam que o consenso não significa a plena homogeneidade das constru- ções dos sujeitos em torno das representações sociais, pois isso faria destas algo estático e inútil para lidar com a complexidade dos fenômenos sociais. Existe certo grau de consenso que permite o desenvolvimento de processos de comunicação e cognição, mas ele se restringe a certas bases, como os rituais, as tradições e a linguagem comum, e é envolvido pela contradição, pela fragmentação e pela mudança que caracterizam a intera- ção social imediata em seu nível argumentativo (VOELKLEIN; HOWAR- TH, 2005). O consenso está apenas nos limites simbólicos, construído por representações sociais na medida em que elas compõem uma cultura comum (HOWARTH, 2002). Pode-se identificar o consenso ou dissenso grupal e a heterogeneidade dentro dos grupos e entre eles tanto se atendo aos limites quanto os forçando até a ruptura. Não existe “o consenso”, mas infinitos níveis simultâneos de consenso e, consequentemente, de dissen- so, uma vez que não se trata de lidar com uma construção social como algo isolado, mas com um conjunto de construções sociais simultâneas e cotidianas que também compõem níveis de consenso e dissenso.

A visão equivocada da ideia de consenso na TRS, associada à unifor- midade, passa pelo recorte da concepção do que é “compartilhar” para o campo. Para esclarecer a questão, Duveen (1998, p. 462, tradução nossa) defende a distinção do sentido do termo compartilhar além da ideia de algo dividido entre pessoas, reconhecendo um sentido mais específico no uso do termo pelo campo, ilustrado pelo autor da seguinte maneira: “quando eu divido uma maçã com um amigo, nós não consumimos a mes- ma coisa, mas compartilhamos diferentes partes da maçã”. Ou seja, nessa ótica, o compartilhar da TRS não está voltado para a plena homogenei-

dade, mas para a articulação de diferenças em torno de um elo comum. Na ilustração de Duveen (1998), a maçã é esse elo. Aqui surge o ob- jeto (a delimitação de uma referência abstrata do sujeito, que é a chama- da “realidade”) não como um elemento para compor a dicotomia com o sujeito, mas como o elo em torno do qual ocorrem as negociações das diferenças na direção de uma determinada representação social. Resta questionar se, ao surgir a representação social em relação a um objeto, não emergiria daí o consenso, a homogeneidade. Com base em Moscovici (1978, p. 26), a resposta é “não”. Surge apenas uma maneira negociada de lidar com o dado externo, “[…] que jamais é algo acabado ou unívoco; ele deixa muita liberdade de jogo […]”. Em virtude dessa liberdade, os “pe- daços das maçãs” são diferentes para cada sujeito de um grupo de amigos. As diferenças não desaparecem em favor do consenso. Elas estão lá, mas são negociadas por meio de construções comuns do grupo a respeito da maçã: um mero alimento ou a expressão da amizade. O aparente consenso é parcial, temporário (mesmo que esse tempo possa ser longo e remeter a certa estabilidade) e limitado às interpretações oriundas das articulações sociais, o que inclui a mediação das diferenças entre os sujeitos. Nesse pro- cesso de construção social, mesmo que as diferenças sejam colocadas em segundo plano, elas estão prontas para outras negociações, contribuindo para o dinamismo que norteia as representações sociais.

Isso não nega a existência de representações hegemônicas de grandes grupos de pessoas e que permanecem estáticas ao longo da existência de várias gerações, mas que, mesmo assim, têm certo nível de dinamismo e convivem com muitas outras representações dentro desses grupos e dos infinitos subgrupos formados pelas múltiplas inserções dos sujeitos. Mos- covici (1978) mostra em seu estudo sobre a representação social da psi- canálise que as mudanças possibilitadas pelas diferenças entre os sujeitos possuem níveis de dinamismo distintos, desde algo quase estático, que pode permanecer por séculos na sociedade de um país, a algo dinâmico, referente a subgrupos sociais e conhecimentos cotidianos específicos.

Essa composição complexa das representações sociais é explicada por Rey (2003, p. 130) ao afirmar que

[…] as representações seriam uma produção subjetiva sobre uma realida- de social, mas estariam revelando elementos de sentido diferentes dessa realidade social, independente de qual fosse o seu conteúdo explícito. Os próprios mecanismos de objetivação e ancoragem são uma manifestação dos processos subjetivos de distorção que caracterizam o processo de for-