• Nenhum resultado encontrado

Grupo Focal: dimensão metodológica

CIÊnCIA e poLÍtICA nA oBrA De pIerre BoUrDIeU

3. Grupo Focal: dimensão metodológica

Após discutir a evolução história e os aspectos conceituais do GF, pre- tende-se, nesta terceira parte, discutir os aspectos metodológicos, sobretudo na perspectiva da abordagem de pesquisa qualitativa. Para isso, serão discu- tidos aspectos relacionados à aplicação, aos pontos positivos e negativos, à operacionalização e às adaptações do GF nas ciências sociais aplicadas.

3.1 Aplicações do Grupo Focal

Observa-se na literatura a amplitude de aplicações do GF, abrangen- do pesquisas acadêmicas, cuja finalidade é compreender determinados fenômenos sociais e de pesquisas aplicadas à realidade empresarial, so- bressaindo-se os estudos realizados na área de marketing.

Numa abordagem mais generalista que envolve as duas aplicações supramencionadas, Stewart e Shamdasani (1990) defendem que o GF tem, entre outras, as seguintes aplicações: (a) obtenção de informações sobre tópicos de interesse; (b) geração de hipóteses de pesquisa; (c) simulação de conceitos e ideias; (d) diagnósticos de problemas potenciais; (e) pesquisa de interesse de clientes; (f) obtenção de opiniões sobre produtos e servi- ços; (g) interpretação prévia de resultados quantitativos; (h) construção de comprometimento; e (i) processo político e diplomático.

Segundo Krueger e Casey (2000), a utilização do GF tem como funda- mento investigar as percepções, sentimentos e pensamentos das pessoas com relação a aspectos diversos da vida cotidiana. Sua utilização como procedi- mento de pesquisa aplica-se de quatro diferentes formas. São elas: pesquisa acadêmica; pesquisa de marketing; pesquisa de avaliação; e pesquisa-ação.

A pesquisa acadêmica geralmente é conduzida por professores e es- tudantes vinculados a Instituições de Educação Superior (IES) e tem a fi- nalidade de articular conhecimentos por meio de estudos teóricos e/ou empíricos que serão compartilhados de forma mais ampla por meio de publicações em periódicos, livros e congressos científicos.

A segunda forma indicada, que é a pesquisa de marketing, tem como foco explorar aspectos relacionados a produtos, serviços, oportunidades, desejos, expectativas, que indiquem o caminho inicial para se refletir so- bre uma diversidade de aplicações envolvendo o universo corporativo em termos de tomada de decisões, desenvolvimento de programas e produtos, satisfação do cliente, movimentos de qualidade, compreensão acerca da insatisfação de funcionários, etc.

A pesquisa de avaliação, por sua vez, visa ouvir as pessoas que este- jam envolvidas em determinados programas e/ou projetos para avaliar o andamento deles ou os resultados obtidos.

A quarta e última forma, a pesquisa-ação, tem por finalidade a resolu- ção de problemas relevantes em determinados contextos por meio de inves- tigação na qual os pesquisadores trabalham em conjunto com os colabora- dores locais na busca e na aprovação de soluções para problemas de grande importância para os colaboradores (GREENWOOD; LEWIN, 2006).

Dada essa diversidade de aplicações, o GF é um método de pesquisa capaz de interagir com qualquer outro tipo de método de pesquisa (sur-

vey, entrevistas individuais, observação participante, experimentos, etc.),

sendo utilizado principalmente na pesquisa exploratória. Isso se deve ao fato de a pesquisa exploratória ter como característica principal prover o pesquisador de um conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em tela, sendo, por esse motivo, apropriada para os primeiros estágios da investigação, quando a familiaridade, o conhecimento e a compreensão do fenômeno, por parte do pesquisador, são geralmente insuficientes ou inexistentes (MORGAN, 1997; MORGAN; SPANISH, 1984).

Observa-se que em todas essas aplicações, o método do GF assume a característica de pesquisa qualitativa de natureza exploratória, porém não se limita a ela, podendo ser empregado no contexto da pesquisa básica e aplica- da, de natureza descritiva e analítica, de campo, experimental, entre outras.

Nesse sentido, Morgan (2010) afirma que o GF pode ser utilizado em três possíveis desenhos de pesquisa: (a) como método único, quando ele é a única fonte de coleta de dados; (b) como método suplementar a uma pesquisa do tipo survey, quando é utilizado para realçar uma alternativa de dados primários, por exemplo, antes da aplicação de um survey, para identificar questões-chave, ou depois, para expandir, ampliar e esclarecer questões particulares que requerem ser exploradas a fim de alcançar os objetivos da pesquisa; e (c) como parte de um desenho de pesquisa multi- modal, quando a pesquisa faz uso de diversas fontes de coleta de dados e nenhum método determina a utilização do outro.

3.2 Aspectos positivos e negativos da utilização do Grupo Focal

Como todo método de pesquisa, o GF tem aspectos positivos e negati- vos. Segundo Stewart e Shamdasani (1990), Krueger e Casey (2000) e Mor- gan (1997), a utilização do GF apresenta como aspectos positivos centrais: (a) rapidez e baixo custo na obtenção de dados e informações em compa- ração a outros métodos de pesquisa31; (b) interação direta com os partici- pantes, possibilitando clareza nas repostas e observações de registros não 31 Vale ressaltar que, dependendo do nível de investimento em estrutura na imple- mentação do método, os custos podem ser consideravelmente altos. Uma sala completa para realização de GF deve conter os seguintes itens: isolamento acústico, ambiente cli- matizado, sistema de gravação em áudio e vídeo, sistema de telefonia e fax, computa- dores com acesso a internet e outros equipamentos multimídia. Além disso, deve ser dividida por uma “parede espelhada” para que seja possível aos interessados na imple- mentação do método assistirem às sessões sem contato direto com os participantes.

verbais; (c) flexibilidade na obtenção de dados, seleção de participantes e temas abordados; e (d) facilidade na interpretação e análise dos resultados.

De forma geral, os mesmos autores apontam como principais limita- ções: (a) dificuldade para generalizar resultados, visto que a percepção e interpretação dos dados referem-se a um grupo específico; (b) dificuldade na seleção de participantes com disponibilidade de tempo para participar das sessões, o que tem motivado, em alguns casos, a admissão de GFs menores, com 4 participantes; (c) inibição de participantes em virtude do processo de interação coletiva, que intimida algumas pessoas no momen- to de exporem as suas percepções, sentimentos e opiniões; e (d) grande dependência em relação à participação do moderador/pesquisador, que é responsável pela condução, monitoramento e controle das interações en- tre os participantes.

Esses aspectos positivos e negativos relativos ao GF são tratados na literatura de forma genérica, podendo seus efeitos serem potencializados ou minimizados no contexto de sua operacionalização, assunto que será abordado a seguir.

3.3 Operacionalização do Grupo Focal

Para discutir a operacionalização do GF, optou-se por explorar três aspectos fundamentais, que são: a sua composição; a sua preparação e pla- nejamento; e as etapas do processo de utilização do método.

Integrantes do Grupo Focal

De acordo com a literatura, as pessoas envolvidas na realização de GFs são: (1) o patrocinador, que pode ser pessoa física (geralmente o pes- quisador, que define o problema de pesquisa e busca a solução por meio da utilização do método) ou jurídica (geralmente uma organização que tem interesse na realização pesquisa); (2) o financiador, que viabiliza fi- nanceiramente a realização do método; (3) o coordenador, que participa de todo o processo, desde a organização, estruturação, condução e edição do relatório final32; (4) o editor, responsável pela edição do relatório fi- nal contendo os resultados alcançados; (5) o moderador, responsável pela condução das sessões de GF; (6) o apontador, que auxilia o moderador 32 Geralmente o pesquisador (patrocinador) também assume essa função; quando, entretanto, o escopo da pesquisa é amplo e envolve vários pesquisadores, é possível del- egar essa função a um dos pesquisadores envolvidos. Isso pode ocorrer também com as seguintes funções: editor e moderador.

fazendo anotações e registros; (7) os participantes, selecionados para inte- ragir na discussão e emitir opiniões, impressões, percepções e sentimentos acerca do tema central de interesse do GF.

Como qualquer outro método de pesquisa de natureza qualitativa, a composição de um GF segue uma orientação teórica, ou seja, é constituído por componentes escolhidos em razão de um tópico de interesse qualquer, cuja fundamentação teórica determinará as características demográficas e ocupacionais dos participantes, o roteiro de entrevista coletivo33, as cate- gorias de análise de dados, entre outros procedimentos de natureza me- todológica (KRUEGER; CASEY, 2000; MORGAN, 1997; PATTON, 2002; STEWART; SHAMDASANI, 1990).

De forma geral, a composição e a segmentação dos participantes do GF podem variar de acordo com as características demográficas (idade, sexo, raça, localização geográfica, estado civil, etc.) e outras formas de caracterização (atividade profissional, conhecimento sobre o fenômeno sob investigação, etc.), que são avaliadas e definidas como necessárias e relevantes pelo pesquisador, com fundamento em seu objeto de pesquisa (AGAN et al., 2008).

Segundo Agan e colaboradores (2008), os participantes do GF são escolhidos pela sua capacidade e habilidade de fornecer insights ao pesqui- sador numa perspectiva de grupo, bem como de criar as condições sociais que permitam que tal insight possa emergir nas interações do grupo sob a coordenação do moderador.

Um aspecto considerado por Stewart e Shamdasani (1990), Krueger e Casey (2000) e Morgan (1997) como relevante sobre os participantes de um GF é a relação entre a homogeneidade e a heterogeneidade do grupo. Essa questão é polêmica, pois um grupo qualquer tem simultaneamen- te características de homogeneidade e heterogeneidade, dependendo da matriz de análise. Por exemplo, um grupo de dez homens provenientes de dez estados brasileiros diferentes é, ao mesmo tempo, homogêneo e heterogêneo. Na matriz sexo, formam um grupo homogêneo e, na matriz local de nascimento, todos são originários de estados diferentes, portanto constituem um grupo heterogêneo.

Para efeito de seleção dos participantes de um GF, recomenda-se atenção a alguns aspectos como (1) a natureza do grupo, que pode ser 33 Embora haja controvérsia com relação à utilização do termo “roteiro de entrevista coletivo” no contexto do GF, optou-se aqui por manter o termo, visto que a literatura consultada lhe faz referência. Há que se registrar que alguns autores se referem a esse aspecto como “roteiro de questionamento” (KRUEGER; CASEY, 2000), evitando o uso do termo “entrevista”.

de dois tipos: quando seus componentes possuem relação e/ou vincula- ção anterior à realização das sessões (grupo de conhecidos) e quando não existe essa relação e/ou vinculação (grupo de não conhecidos); (2) a forma de seleção, que pode ser aleatória ou intencional; e (3) o meio de contato e de localização dos participantes, que pode ser através de uma lista pré- via de participantes, por correspondência, serviços de seleção, grupos já existentes que participam de outros eventos, anúncios em jornais, sites e outros meios de comunicação (STEWART; SHAMDASANI, 1990; KRUE- GER; CASEY, 2000; MORGAN, 1997).

Diante de tantos aspectos e questões relativas à composição do GF, tais como características dos participantes, tamanho e natureza do grupo, forma de seleção e de contato, o patrocinador, o coordenador e o modera- dor devem ter, como norte e referência central, o problema de pesquisa e seus objetivos (geral e específicos).

O moderador, que pode ser interno ou externo, ou seja, fazer parte ou não da organização que está patrocinando o GF, tem algumas caracte- rísticas que são fundamentais e decisivas para o sucesso da utilização do método de pesquisa: (a) ter capacidade de liderança; (b) ser flexível; (c) agir com gentileza na condução das entrevistas; (d) ser encorajador; (e) saber ouvir; (f) ter experiência na condução de GF; (g) ter conhecimento profundo do tema central de interesse do GF; (h) ser um bom comunica- dor; (i) não ser autoritário e adotar uma postura mais democrática; e (j) não julgar os participantes em virtude de suas opiniões sobre os temas centrais e periféricos da discussão (STEWART; SHAMDASANI, 1990; KRUEGER; CASEY, 2000; MORGAN, 1997).

Para Stewart e Shamdasani (1990), Krueger e Casey (2000) e Morgan (1997), na condução das sessões de GF, o moderador tem as seguintes atribuições básicas: organizar o formato das sessões, elaborar as questões, criar ambiente favorável, cumprir a agenda, motivar a discussão participa- tiva, clarificar o sentido das manifestações, associar pensamentos distintos e resumir resultados finais. O moderador, ao conduzir as sessões, deve tomar cuidado para não comprometer o sucesso da utilização do método com atitudes negativas, por exemplo, ser tendencioso, criticar manifesta- ções, ser prolixo, ignorar os participantes e as suas manifestações, perder o controle das discussões e assumir interpretações parciais. Esses cuidados são considerados fundamentais para que tudo que foi planejado e organi- zado não seja comprometido na condução do GF.

As questões relativas à preparação e ao planejamento do GF serão tratadas a seguir.

Preparação e planejamento do Grupo Focal

Mesmo não havendo consenso entre os autores pesquisados sobre a preparação e o planejamento do GF, podem-se identificar as seguintes eta- pas: (1) determinação do propósito da pesquisa e adequação do GF ao ob- jetivo da pesquisa; (2) recrutamento e seleção dos participantes; (3) deter- minação da quantidade de grupos focais a serem realizados; (4) elaboração do roteiro de entrevista coletiva; (5) seleção e preparação do moderador; e (6) definição e preparação do local de realização das sessões (TEMPLE- TON, 1994; STEWART; SHAMDASANI, 1990; KRUEGER E CASEY, 2000; MORGAN, 1997; CRUZ NETO; MOREIRA; SUCENA, 2002).

A primeira etapa é o ponto de partida para o emprego do método na pesquisa qualitativa; é o momento em que se define o propósito da pesqui- sa e verifica-se se o GF é o meio mais adequado para alcançá-lo. Na visão de Krueger e Casey (2000), é recomendável que o propósito da pesquisa seja definido coletivamente, com a presença de pessoas que participam da equipe de pesquisadores e dos responsáveis por utilizar os resultados da pesquisa para um determinado propósito. Em outros termos, nesse pri- meiro momento, essa coletividade envolve, pelo menos, o patrocinador (pessoa física ou jurídica), o potencial financiador e a equipe de pesquisa- dores que irá operacionalizar o método.

Para os autores, a definição do propósito da pesquisa implica algu- mas indagações, por exemplo: (1) qual o problema de pesquisa?; (2) qual a finalidade do estudo?; (3) que tipo de informações serão necessárias?; (4) quais dessas informações têm particular importância para a finalidade do estudo?; (5) quem precisa dos resultados da pesquisa?; e (6) quem irá utilizar esses resultados e com que finalidade?

Ainda em relação à primeira etapa, após a determinação do propósi- to da pesquisa, Krueger e Casey (2000) entendem ser necessário analisar crítica e criteriosamente se o GF é o método mais adequado para se atingir os objetivos da pesquisa. Para isso, é recomendável refletir se o propósito da pesquisa é convergente com as aplicações do GF.

A segunda etapa da preparação e do planejamento do GF é o recruta- mento e a seleção de participantes. Stewart e Shamdasani (1990) afirmam que os participantes do GF podem ser recrutados por diversos meios, des- de que ajustados à orientação do problema e ao propósito da pesquisa, os quais, via de regra, definirão as características da amostra do grupo dos participantes.

mais em termos de características e tendências mínimas do que de alcance genérico. Normalmente, a seleção dos participantes do GF é feito a partir de amostras selecionadas, em uma quantidade limitada, e, muitas vezes, provenientes de apenas uma fonte de recrutamento.

Para Morgan (1995), um dos aspectos críticos e que tem sido fonte de problemas na operacionalização do GF está nos esforços inadequados de recrutamento de participantes. Simplesmente localizar participantes, re- crutá-los e eles concordarem em aparecer nem sempre é o bastante. É ne- cessário desenvolver mecanismos cuidadosos que assegurem que a quan- tidade suficiente de participantes realmente apareça em cada sessão de GF. Entre esses procedimentos cuidadosos, destacam-se: o meio de con- tato para convidar os participantes, que pode ser pessoalmente, via telefo- ne, e-mail, entre outros; a proposição e definição de incentivos, monetá- rios ou não; a definição do local de realização do GF, inclusive verificando se há a necessidade de transporte especial; e a fixação da quantidade ne- cessária de participantes do GF e da quantidade a ser convidada.

Sobre a quantidade a ser convidada, o pesquisador precisa conside- rar, por vezes, a conveniência de convidar um percentual de participantes superior ao necessário, para o caso de alguns convidados não aparecerem para a sessão. Contudo isso pode ser arriscado, pois, se todos compare- cerem e a quantidade de pessoas for grande, será necessário que o pes- quisador selecione alguns e dispense outros (STEWART; SHAMDASANI, 1990; KRUEGER; CASEY, 2000; MORGAN, 1997).

Krueger e Casey (2000) assinalam a importância de alguns procedi- mentos necessários para assegurar a viabilização das sessões após o recru- tamento e a seleção os participantes. Entre eles, destacam-se: o ajuste de datas, horários e locais com os participantes; envio de carta personalizada confirmando o convite para a realização das sessões; e contato telefônico como forma de lembrete para o participante nas vésperas das sessões.

A terceira etapa é o estabelecimento da quantidade de GFs. Na visão de Krueger e Casey (2000), a regra geral é planejar três ou quatro GFs diferentes com todo e qualquer tipo de participante. Uma vez realizadas, é necessário que o pesquisador responsável determine o ponto de saturação. A saturação é um termo usado para descrever o ponto em que os dados coletados tornam-se repetitivos por não gerar novas informações, ou seja, começa a haver recursividade de informações. Caso o pesquisador conti- nue obtendo informações novas após a realização de três ou quatro GFs, ele deverá conduzir outras sessões até que alcance a saturação.

trevista coletiva. No entendimento de Stewart e Shamdasani (1990), o rotei- ro de entrevista define a agenda para a discussão do GF. Semelhantemente ao recrutamento e à seleção de participantes, a elaboração do roteiro de en- trevista não deveria ser feita até que a agenda de pesquisa e todas as questões relatadas tenham sido claramente articuladas por todas as partes envolvidas no processo de pesquisa. Nesse sentido, os autores defendem que a elabora- ção do roteiro de entrevista não deve ser responsabilidade exclusiva do mo- derador, uma vez que ele pode ser selecionado apenas depois que a agenda de pesquisa for estabelecida e antes que o roteiro preliminar seja estruturado.

Morgan (1997) enfatiza que o objetivo central, nessa etapa da prepa- ração e planejamento do GF, é construir um roteiro de entrevista que cubra um tópico particular, ao mesmo tempo que proporciona observações que satisfaçam os quatro critérios de efetividade do GF definidos por Merton, Fiske e Kendall (1956), quais sejam: (1) amplitude, ou seja, cobrir o má- ximo de tópicos relevantes; (2) especificidade, ao direcionar a discussão em grupo no sentido de explorar de forma concreta e detalhada as expe- riências dos participantes; (3) profundidade, ao assegurar o envolvimento dos participantes com o material e a temática em discussão; e (4) contexto pessoal, ao permitir o surgimento de posições e manifestações individuais referentes ao contexto social, político e ideológico de cada participante.

Recomenda-se que a formulação das questões que irão compor o ro- teiro de entrevista seja orientada por dois princípios básicos. O primeiro sugere que as questões sejam ordenadas das mais gerais para as mais es- pecíficas, permitindo assim o aprofundamento de tópicos específicos. O segundo princípio refere-se ao seu ordenamento pelo critério do grau de importância para a agenda da pesquisa, segundo o qual as questões de maior importância devem ser abordadas no início, deixando as de menor importância para o final (STEWART; SHAMDASANI, 1990).

Essa é uma questão polêmica, visto que no início da sessão é muito comum que os participantes ainda não estejam ambientados com a dinâ- mica do GF e não ofereçam suas contribuições adequadamente. Em razão disso, parece ser interessante proporcionar, no início do GF, um momento de ambientação, conforto e segurança, uma espécie de “ice-breaker ques-

tions” ou “discussion-starter questions”34 (MORGAN, 1997), para que to- dos possam se manifestar mais livre e espontaneamente.

34 As traduções dos dois termos são, respectivamente, “questões quebra-gelo” e “questões que fomentam discussão”. Morgan (1997) sugere que as “questões quebra-gelo” iniciem-se com uma breve apresentação de cada participante, o que ajuda a criar uma at- mosfera positiva para o grupo como um todo. Já nas “questões de fomentam a discussão”, o moderador apresenta o tópico básico para a sessão e abre a discussão no grupo.

Na formulação do roteiro de entrevistas, Stewart e Shamdasani (1990) chamam a atenção para outros dois pontos: a quantidade de questões e o grau de estruturação das questões. Para os autores, é frequentemente difí- cil julgar o número de tópicos e questões a serem abordados no GF, visto que diferentes grupos irão demandar diferentes quantidades de tempo e tópicos específicos. Porém é possível estabelecer alguns critérios nortea- dores, comoo fato de grupos homogêneos tenderem a requerer quanti- dades menores de questões quando comparados a grupos heterogêneos. Independentemente do contexto, os autores recomendam que o roteiro de entrevista tenha menos de doze questões, que podem ser alteradas pelo moderador, que as amplia ou reduz, no momento da realização da sessão. Quanto ao grau de estruturação, os autores afirmam que, via de regra, as questões não são estruturadas, pois, assim, permitem um amplo potencial