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Parte II: Exploração do Campo

5. O Grupo das Meninas e suas redes de sociabilidade

5.1. Sobre a Formação do Grupo das Meninas

5.1.1. As Dezessete Rosas

A partir deste momento passaremos a apresentar cada uma das “dezessete rosas” que compõe o Grupo das Meninas. Faremos isto de forma tão objetiva e breve quanto possível. Apenas deteremos maior atenção na apresentação de Profa. Conceição Rezende pelo fato de ela ser considerada a fundadora do Grupo e, sobretudo pelo papel de destaque que ela desempenhou no cenário educacional de Amargosa especialmente entre o ano de 1973 até o início dos anos 1990. A ordem de apresentação será cronológica, tomando-se como referência o ano de formatura. Deslocaremos para o final a apresentação das Meninas que embora façam parte do

Grupo das Meninas não participaram e não acompanharam o desenvolvimento desta pesquisa.

Algumas delas que ficaram inacessíveis porque já não residem em Amargosa, ou porque em razão de compromissos familiares passam pouco tempo no município, ou ainda porque não

54 Setor de Material Escolar e Aprendizagem.

55 Atualmente João Nilton é o Bispo da Diocese de Amargosa, e – dispensável dizer – não faz parte do Grupo das

Meninas.

56 Entrevista concedida por Profª Maria Conceição da Cunha Rezende à Denise Mesquita de Melo Almeida e Prof. Fábio Josué Souza Santos (UFRB), em 21/07/2010, no Centro de Formação de Professores da Universidade Federal

puderam conciliar seus horários disponíveis com a agenda de realização das entrevistas. Com isso, algumas informações aqui apresentadas a respeito de suas biografias foram obtidas com as demais integrantes do Grupo durante as sessões de entrevistas, outras pertencem ao acervo de imagens de documentos de Profa. Regina Vaz de Almeida, e outras ainda são informações públicas. As Rosas que não participaram diretamente da pesquisa são: Profa. Marina Borges Sales, Profa. Ivone Maria Sampaio Oliveira, Profa. Josenita Souza Santos, Profa. Marinalva Rodrigues Barreto Bulhões58 e Profa. Mª Conceição Andrade Ribeiro.

Profa. Maria Conceição da Cunha Rezende é natural de Amargosa, estudou como aluna

externa no Ginásio Santa Bernadete e fez parte da primeira turma de professoras formadas pelo Curso Normal do Ginásio Santa Bernadete de Amargosa/BA, em 1955. Reconhecida por sua competência profissional e espírito de liderança, dedicou-se ao ensino de Matemática e Estatística no Ginásio Santa Bernadete, no Colégio Pedro Calmon e no Seminário de Amargosa. No Santa Bernadete, inclusive, foi professora de Estatística de todas as outras integrantes do

Grupo das Meninas59, de quem recebeu muitos elogios como este que segue em sinal de reconhecimento:

58 A entrevista concedida por Profa. Marinalva Bulhões aconteceu após o fechamento desta pesquisa e a inclusão de informações relativas à sua biografia apenas complementam este relatório.

59

Profa. Maria Conceição da Cunha Rezende Fonte: Acervo de Profa. Regina Vaz de Almeida.

Deixa eu falar uma coisa sobre a matemática. Eu odiava matemática por causa da professora [...]. Quando ela esteve aqui [em ocasião comemorativa, um encontro de ex- alunas] todo mundo falava: ‘vai falar com ela’! Eu dizia: ‘eu não vou, não, porque ainda me lembro dos meus tempos’! Por dois anos fiquei de segunda época. Estudei dezembro, janeiro e fevereiro para chegar em março fazer a prova ainda com medo de não passar de ano! Aí quando foi no intermediário – lembra que tinha um negócio que se chamava intermediário?- Que passava do Ginásio para o Pedagógico, não era?! Aí quem foi minha professora de matemática? Profa. Conceição Rezende. E aí, olhe o que é uma Professora! Eu comecei a gostar de matemática, você acredita? Você acredita nisto?! E eu passei com nota boa! (SAMPAIO, 201260).

Mas o reconhecimento à sua trajetória profissional não se deve apenas à sua competência pedagógica no âmbito das salas de aula, como professora de Matemática e Estatística. Profa. Conceição Rezende teve um papel de extrema relevância no cenário educacional amargosense durante a década de 1970 até o final dos anos 1990 pelo exercício da gestão escolar tanto do Santa Bernadete, quanto do Colégio Pedro Calmon e, sobretudo por ter implantado a 29ª Diretoria Regional de Educação e Cultura da Bahia em Amargosa e através dela ter fundado a Escola Agrotécnica de Amargosa – atual Centro Técnico Profissional, o CETEP/ Vale do Jiquiriçá. No Colégio Pedro Calmon, Conceição Rezende ingressou como professora, lecionando a disciplina de Matemática no ano de 1957 e permaneceu nesta escola por dezesseis anos, dos quais cinco foram simultaneamente dedicados ao cargo de Vice-diretora, conforme se verifica em seu próprio depoimento:

E, tinha uma Diretora, uma professora que tinha sido minha professora de pedagogia, que era uma professora muito boa, Sisínia61. Ela despertou muito exemplo para a gente: de ter interesse, de colaboração... Quando chamavam a gente para trabalhar, ela orientava. Então, aí fui criando gosto, e, depois o Pedro Calmon precisou de Vice- diretora. Fizeram a eleição, Lomanto era governador, e aí, deu condição, fez-se a eleição e eu fiquei Vice-diretora. [...] No Pedro Calmon eu fiquei como professora de 1957 a 1973. Dezesseis anos. [A partir] De sessenta e quatro, [fiquei] cinco anos na vice- diretoria e [ainda como] professora (REZENDE, 2010).

60 Suzete Rebouças Sampaio em entrevista concedida pelo Grupo das Meninas em agosto de 2012, na residência de Profa. Regina Maria Vaz de Almeida. Estiveram presentes, participando desta ocasião: Profa. Regina Maria Vaz de Almeida, Profa. Noelia Raimunda Passos Andrade, Mª de Lourdes Pinheiro Barbosa, Suzete Rebouças Sampaio, Joseny Moraes Cajado Rezende, Mariza Helena Borges Sales, Mª Eunice Figueiredo Andrade, Iza Maria Almeida Souza e Silvandira Chaves, além de Elen Linch e Leandro Rodrigues que faziam a filmagem da entrevista. Uma curiosidade a destacar é que Suzete terminou desenvolvendo tanta afinidade com a matemática que acabou sendo bancária.

61 Profa Conceição Rezende (2010), durante a entrevista que nos concedeu descreveu Profa. Sisínia: “Sisínia era uma educadora modelar, o Pedro Calmon deve muito a ela, como também a cidade. [Ela] criou a Escola Paroquial, implantou o ensino público à noite com a Escola Castro Alves para adultos analfabetos. Foi professora de Pedagogia no Santa Bernadete – nossa turma e outras –, participava de muitos congressos e cursos de Educação no Rio de

Quando da crise financeira vivida pelas Irmãs Sacramentinas, na década de 1970, que levaram à venda o Ginásio Santa Bernadete ao Governo do Estado da Bahia, Profa. Conceição Rezende foi indicada ao governador Antônio Carlos Magalhães para substituir as Irmãs na direção do colégio, que àquela altura tinha passado a se chamar Escola de 1º Grau Antônio

Carlos Magalhães – popularmente conhecido como “ACM”. Tendo aceitado o desafio,

permaneceu no cargo por quinze anos, como ela mesma descreveu no depoimento oferecido a esta pesquisadora em março de 2013:

A saída das Irmãs foi muito sentida. Era uma necessidade para elas, porque elas não tinham recurso para continuar e a cidade empobreceu – era um período que a cidade estava muito pobre, tinha caído muito a renda da cidade. E justamente Antônio Carlos Magalhães comprou o Santa Bernadete a pedido de Dona Arlete [sua esposa, ex-aluna de uma das unidades educacionais mantidas pelas Irmãs Sacramentinas]. E ele atendeu a outro pedido das Irmãs: que a direção do colégio ficasse na mão das ex-alunas. Daí que eu entrei, que a coisa caiu nas minhas costas. Eu estava em Conquista passeando e o prefeito da cidade mandou me chamar. Eu não sei se meu nome veio de lá [do Gabinete do Governador] ou se foram eles daqui que escolheram que era para eu assumir o colégio. Eu não estava querendo, não estava com vontade de fazer isto, mas foi uma missão que Deus me deu, e aqui eu fui muito feliz. Vim para ficar pouco tempo, passei quinze. Quinze anos! (REZENDE, 201362).

Entre os acordos estabelecidos para que Profa. Conceição aceitasse o desafio de gerir a nova Escola de 1º Grau Antônio Carlos Magalhães, figurava a autonomia para a escolha da equipe de professores que a acompanhariam no desempenho da tarefa. A escolha da equipe representou para Profa. Conceição Rezende um elemento importante para a composição de suas estratégias para manter o ensino da nova ACM semelhante, em estilo e qualidade, ao ensino proporcionado pelas Irmãs Sacramentinas no Ginásio Santa Bernadete. Assim, em meio aos nomes indicados por ela, constavam algumas das que mais tarde constituiriam o Grupo das

Meninas. A própria Profa. Conceição Rezende (201063) narrou o episódio:

É, na época foi grande, aquele compromisso de a gente manter o Colégio do esquema do Colégio particular, do Colégio das Irmãs. Um Colégio público que o Secretário de Educação virou para mim e disse assim: “eu tenho pena desse Colégio, porque isso tudo na mão de escola pública, é difícil”. E, eu disse: “mas a gente vai conseguir trabalhar

62 Depoimento concedido durante visita esta pesquisadora ao Ginásio Santa Bernadete com o objetivo de recuperar a memória das experiências vividas pelo Grupo das Meninas durante sua formação e exercício profissional. Estiveram presentes participando da ocasião: Profa. Mª Conceição da Cunha Rezende, Profa. Noélia Raimunda Passos Andrade, Profa. Mª Belarmina dos Santos e Profa. Silvandira Chaves – Diretora do Santa Bernadete na ocasião da visita -, além de Elen Linch e Ryane Nascimento que realizavam a filmagem da entrevista.

63 Entrevista concedida por Profª Maria Conceição da Cunha Rezende à Denise Mesquita de Melo Almeida e Prof. Fábio Josué Souza Santos (UFRB), em 21/07/2010, no Centro de Formação de Professores da Universidade Federal

aqui do jeito que as irmãs faziam”. E, aí a gente trouxe as ex-alunas para dentro do Colégio. Porque a gente pôde escolher professores, trazer os professores. (REZENDE, 2010).

Conforme afirmamos anteriormente, mesmo frente ao empobrecimento vivido pelo município e todas as suas consequências sobre a paisagem, a economia, a cultura e sobre o modo de vida da população amargosense, ao longo das décadas de 1970 e 1980 assistiu-se a um princípio de reorganização. Amargosa reconquistou pequena parte de seu prestígio econômico frente ao contexto regional e implicou-se propositivamente num momento de reestruturação da região, tornando-se, de acordo com Lomanto Neto (2007, p. 158), a sede da 29ª Região Administrativa do Estado da Bahia. Com isso, passou a sediar a 29ª Diretoria Regional de Saúde – DIRES, a Ciretran e a 29ª Diretoria Regional de Educação e Cultura, a DIREC 29. Com Dr. Waldir Pires à frente do governo do estado durante os anos de 1987 a 1989, Profa. Conceição Rezende assumiu a tarefa de realizar a implantação da 29ª DIREC em Amargosa, onde permaneceu como gerente durante as gestões dos governadores Nilo Coelho, Antônio Carlos Magalhães, Ruy Trindade e Antônio Imbassahy. Apenas na metade da gestão de Paulo Souto, Profa. Conceição Rezende foi destituída do cargo. A este respeito, Santos (2010)64 afirmou: “teve protesto na cidade. Parece que em Salvador até no jornal A Tarde saiu! Parece que houve uma ou duas passeatas em defesa do nome dela”. Mas a posição de Profa. Conceição Rezende frente ao caso foi o seguinte:

Marilda era Coordenadora Municipal e Raimundo, seu primo e amigo de ACM, me consultaram se eu aceitava o retorno. Eu não aceitava mesmo. Respondi que meu trabalho com Educação era muito importante. Como um cristal, quando se quebra não tem mais valor. Agradeci e hoje estou bem comigo mesma. Fiz uma carta aberta à comunidade e ponto final (REZENDE, 201065).

Concomitante à sua militância na Educação, Profa. Conceição Rezende militou em movimentos sociais originados no seio da Igreja Católica e teve sua vida pessoal e profissional fortemente marcada pelos princípios defendidos por estes movimentos. Especialmente durante a década de 1960 militou na Ação Católica. De acordo com suas palavras:

A ação Católica nos anos 60 era muito atuante em Amargosa, o Bispo com os Sacerdotes lideravam este movimento que formava grupos especializados de formação

64 Durante entrevista concedida por Profª Maria Conceição da Cunha Rezende à Denise Mesquita de Melo Almeida e Prof. Fábio Josué Souza Santos (UFRB), em 21/07/2010, no Centro de Formação de Professores da Universidade

social, política e religiosa. Havia o grupo das senhoras e das domésticas. A juventude: Juventude Agrária Católica – JAC (atuante), Juventude Estudantil Católica – JEC (muito atuante), Juventude Independente Católica – JIC (atuante), Juventude Operária Católica (fraca atuação) e Juventude Universitária Católica, que não existia porque não existia universidade na Diocese, só em Salvador. O trabalho de despertar lideranças era com o método VER – JULGAR – AGIR. Um trabalho interrompido com a revolução de 64. Sobre sua participação nestes movimentos, a Profa. Conceição Rezende (201066) afirmou:

Foi uma semente do movimento sem terra na Bahia a JAC [Juventude Agrária Católica]. Daqui e do Brasil todo. Foi através disso que o grupo foi se organizando, e, foi formando mesmo as lideranças rurais. Eu digo que a JAC serviu para isto. E era tão bom, era gostoso de ter aquele contado. Na época o pessoal da JEC [Juventude Estudantil Católica] – eu, por exemplo, eu ia com Odelita ajudar o pessoal. Ia com boa vontade, levava verduras, levava tudo, alimento. A gente separava tudo lá com o pessoal e fazia a festa. Assim ficou marcado - A Festa do Agricultor. Todo ano eles faziam, o Bispo ia, o Padre ia, e aí fazia um movimento bom. Assim também com o movimento operário, mas o movimento operário aqui não vingou porque não tinha indústria. [...] A gente ia para o Rio, fazia parte de reuniões lá. O despertar do movimento foi ali, mas quando chegou a Revolução fechou tudo. [...] Eu fui conselheira de Juventude Católica, fui para o Rio para discutir com as lideranças, mas como estudante. Depois eu fui como professora, e, nesse período eu trabalhava, ajudava muito Odelita nesse processo de implantação da JAC.

Dentro de sua militância social e religiosa, Profa. Conceição Rezende conduziu cursos de batismo, e ainda hoje coordena um grupo de estudos bíblicos com as Meninas. Profa. Conceição Rezende não se casou e não teve filhos, dedicou sua vida à Educação, aos irmãos e aos sobrinhos. Sobre sua trajetória de vida, pessoal e profissional, afirmou: “Eu sempre tive a consciência de que a gente estava ali trabalhando para o bem de Amargosa, dos filhos de Amargosa, dos filhos que a gente não teve no ventre, mas teve no coração!”.

Profa. Terezinha da Cunha Rezende é irmã de Profa. Conceição Rezende e, como esta,

também é natural de Amargosa e estudou como aluna externa no Curso Normal do Ginásio Santa Bernadete. Formou-se professora na turma de 1958. Ao longo de sua trajetória profissional foi professora primária na Escola São Pio XII, e no nível ginasial ensinou Matemática no Colégio Pedro Calmon. Paralelamente ocupou o cargo de Secretária tanto no Colégio Pedro Calmon, quanto na Escola de 1º Grau Antônio Carlos Magalhães. Profa. Terezinha Rezende não se casou e não teve filhos, dedicou-se à Educação, aos irmãos e sobrinhos.

Profa. Terezinha da Cunha Rezende Fonte: Acervo de Profa. Regina Vaz de Almeida.

Profa. Regina Maria Vaz de Almeida é natural de Amargosa e até sua formatura no

Curso Normal, toda sua vida escolar foi cursada no Ginásio Santa Bernadete. Profa. Regina apresenta-se como aluna fundadora do Santa Bernadete, ingressou nesta escola no pré-escolar aos cinco anos de idade, em 1946, e lá permaneceu até formar-se professora no ano de 1961. Entre todas as professoras do Grupo, Profa. Regina é a única que deu continuidade aos estudos através de curso superior, além das especializações e aperfeiçoamento como o CADES 67. Nos anos de 1973 e 1974 cursou Licenciatura Curta em Estudos Sociais na Universidade Federal da Bahia, e em 1974 e 1975 cursou os semestres iniciais do Curso de Pedagogia na mesma Universidade. As outras Meninas conquistaram suas habilitações por meio de Cursos de Suficiência, aperfeiçoamentos e especializações. Profa. Regina foi professora primária nas Escolas Reunidas Almeida Sampaio, ensinou História, Geografia e Educação Moral e Cívica no Ginásio Santa Bernadete ainda sob a direção das Irmãs Sacramentinas e continuou lecionando as mesmas disciplinas após da venda do colégio ao governo do estado. Não obstante, assim como Profa. Conceição Rezende, Regina também se dedicou à gestão escolar durante a maior parte de sua trajetória profissional. Quando Profa. Conceição Rezende assumiu a direção da Escola de 1º

67 De acordo com o Programa de Estudos e Documentação Educação e Sociedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, CADES foi uma Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário, criada no governo de Getúlio Vargas na década de 1953 para difundir e elevar o nível do ensino secundário. “A partir de 1956, a CADES passou a promover, nas inspetorias seccionais do ensino secundário espalhadas por todo o país, curso intensivos de preparação aos exames de suficiência que [...]conferiam aos aprovados o registro de professor do ensino secundário

Profa. Regina Maria Vaz de Almeida Fonte: Acervo de Profa. Regina Vaz de Almeida.

Grau Antônio Carlos Magalhães, Profa. Regina compôs sua equipe de gestão, ocupando o cargo de Vice-diretora do primário do período matutino, e posteriormente assumiu também a coordenação da área de Estudos Sociais. De acordo com suas palavras:

Eu trabalhava assim: de manhã eu comecei trabalhar na escola aqui de frente [Escolas Reunidas Almeida Sampaio], de manhã. Quando as Irmãs me convidaram para trabalhar no Ginásio, eu passei a ensinar à tarde. Quando surgiu a oportunidade para eu ser vice quando já era com Conceição, ai eu fiquei ensinando aí [nas Escolas Reunidas Almeida Sampaio], de noite, vice de manhã e ginásio à tarde no ACM. Eu trabalhava no Estado sessenta horas! Um grupo enorme! Todos trabalhavam sessenta horas... A maioria trabalhava sessenta horas. [...] A remuneração era ‘mixaria total’! Uma lástima, mas mesmo assim a gente trabalhava (ALMEIDA, 201168).

Regina coordenou processos formativos dedicados às professoras leigas através de um programa do governo de estado chamado HAPROL – Habilitação de Professores Leigos do Vale do Jiquiriçá. Durante a primeira parte do processo as cursistas ficaram internas no Colégio participando do curso de capacitação, na segunda fase as Coordenadoras do programa realizavam atendimento in loco. O HAPROL permitiu a Profa. Regina o conhecimento da realidade educacional das localidades mais remotas no Vale do Jiquiriçá. Outra experiência apontada por ela como relevante em sua trajetória docente foi a experiência docente no Ensino Supletivo, conforme podemos observar em seu depoimento69:

Aí então, um adendo sobre o curso supletivo: muita gente que tinha uma base de vivência, mas não tinha o diploma de ginásio, nem de segundo grau nem nada... Então, com este curso supletivo a gente dava as aulas de noite. Era prefeito, era vice-prefeito, era vereador, era funcionário público... Todas as pessoas já de uma certa idade e frequentavam. Mas era um acompanhamento! Eles pesquisavam fora, a gente passava trabalho, eles faziam, eles fizeram provas e terminaram com um nível muito bom. Até meu pai foi meu aluno! Seu João Ângelo, que foi prefeito aqui da cidade, Seu Herval, muitos senhores da sociedade – prefeito, vereador e tudo! Alunos da gente. E eles exigiam muito de todas nós. Então a gente levava material, passava slides, levava filme, mostrava o mundo! Porque muitos não tinham nem ideia de como era a coisa. E cada um depois narrava suas vivências de viagens e de tudo, e eles iam. Olhe, houve uma época que empolgação foi tão grande, que um dia, fecharam o colégio e me deixaram trancada lá dentro com os alunos todos! Chovendo e a gente dentro de uma sala de aula, num canto, fechou o Colégio todo! Ninguém olhava relógio, nada, nem se lembrava! Quando a gente saiu, que olhou para o relógio, era onze e pouco e no que a gente abriu a porta da sala estava tudo apagado! Por sorte tinha um vigia que dormia lá. Mas foi uma época maravilhosa! Silvinha, eu. Cada uma tinha uma matéria. Uma experiência muito boa.

68 Em entrevista concedida a esta pesquisadora em 22 de janeiro de 2011, em sua própria residência. Esteve presente neste momento na condição de mediadora do encontro, Karina Borges Silva – vice-prefeita na época.

69 Depoimento obtido durante entrevista concedida pelo Grupo das Meninas a esta pesquisadora em 14 de março de 2013, à noite, na residência de Profa. Regina Maria Vaz de Almeida. Estiveram presentes, participando desta

Eles só não tinham o diploma, porque tinham uma experiência melhor do que a de muita gente formada (ALMEIDA, 2013).

Após se aposentar, Profa. Regina foi ainda secretária do Centro Educacional de Amargosa – o CEA, uma escola privada de propriedade da Profa. Marina Borges Sales, e secretária da