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CAPÍTULO 1 – MÍDIA-EDUCAÇÃO E INTEGRAÇÃO DAS TIC NA ESCOLA

1.3 INTERFACES DA MÍDIA-EDUCAÇÃO

1.3.1 As diversas culturas das mídias

Um trabalho voltado para mídia-educação deve considerar os espaços midiáticos como possibilidades de utilização das mídias nas práticas, mas também de reflexão e produção crítica de novos produtos midiáticos, como elementos importantes da prática social e da construção de nossas visões de mundo. Isso nos leva a entender a mídia como cultura. Para isso, é necessário “conhecer a cultura das mídias, as modalidades através das quais os sujeitos se apropriam, as práticas individuais e sociais que se desenvolvem em torno delas; analisar criticamente as mensagens das mídias na sua capacidade de construir e difundir valores” (FANTIN e RIVOLTELLA, 2010, p. 101). A cultura midiática envolve os meios de comunicação, a produção de bens culturais, o conjunto de meios, os atos comunicacionais, as tecnologias e práticas.

Enquanto alguns autores denominam essa cultura de cybercultura, entre eles Lévy (1999), recentemente tem-se utilizado o termo cultura

digital referindo-se à possibilidade de reelaboração do conhecimento em

rede, onde há a possibilidade de todos tornarem-se autores e coautores na medida em que interferem nas produções veiculadas no meio digital, as reelaboram e publicam novamente (TORNAGHI, 2010). Segundo

Altenfelder (2011) o termo cultura digital pode ser adequado por que tanto a mídia quanto a educação são processos e produtos sociais, ou seja, cultura produzida nas interações sociais e em consequência delas. Além disso, segundo a autora, o adjetivo digital é adequado ao momento, para destacar a importância dos meios digitais no contexto atual. Por este motivo, é tarefa da escola colocar a cultura digital em relação com as outras culturas.

Segundo alguns pressupostos teóricos, as tranformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, são características da cultura digital denominada por Jenkins (2009) de cultura da

convergência. Ao pensarmos em convergência, logo lembramos dos

equipamentos como os celulares, por exemplo, que agora integram as funções de diversas mídias. No entanto, para o autor, mais do que um processo tecnológico que integre múltiplas funções dentro de um mesmo aparelho, a convergência representa uma transformação cultural que incentiva os consumidores a procurar novas informações fazendo conexões entre conteúdos dispersos de mídias. Ou seja, convergência diz respeito ao “fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação” (p. 29). Ele afirma que a convergência representa mudança de paradigma, “um deslocamento de conteúdo de mídia específico em direção a um conteúdo que flui por vários canais, em direção a uma elevada interdependência de sistemas de comunicação, múltiplos modos de acesso a conteúdos de mídia” (p. 325).

O surgimento desta nova cultura requer novas formas de inserção e participação. A esse novo movimento Jenkins (2006) denomina cultura

participativa, para caracterizar o comportamento do consumidor

contemporâneo de mídias. Isso significa que os jovens passam de consumidores (críticos ou não) para produtores e “participantes culturais” (2009, p. 343), reescrevendo as histórias que a cultura oferece. Ou seja, todos tornam-se produtores com uma participação mais ativa na cultura que é produzida e integram-se em redes e um sistema complexo de regras, criado para ser “dominado” de forma coletiva.

Ainda segundo Jenkins, isso requer que a escola promova formas de educação e letramento midiático31 como um conjunto de competências

31 Expressão em português para designar media literacy. Segundo Tufte e Christensen (2009), no contexto da Mídia-educação, literacy é uma metáfora que envolve tanto a aprendizagem dos códigos como seus usos sociais e poderia ser traduzido como literacia (que correspondente à

culturais e sociais que os jovens necessitam neste cenário, para garantir sua efetiva participação na contemporaneidade.

Fantin (2011) defende a necessidade do desenvolvimento das múltiplas linguagens, para além do domínio técnico e instrumental dos códigos dos meios, no sentido da consciência de “estar alfabetizado” nessas linguagens. Neste sentido, diversos autores tem discutido em torno do conceito de media literacy (Buckinghan, 2005; Silverstone, 2005; Rivoltella, 2005, entre outros) ou literacia dos media (Reia-Baptista, 2005), alfabetizacion digital (Gutierrez Martin, 2008) ou digital literacy (Pérez-Tornero, 2004, Buckinghan, 2005, Rivoltella, 2008), ou ainda outros termos utilizados para cada necessidade de “letramento” exigidas pelas mídias contemporâneas e suas linguagens, que envolvem as habilidades e competências para usar e interpretar as mídias. Diante de tantas possibilidades. Fantin (2008) sintetiza os diversos entendimentos através do conceito de multiliteracies, ou seja, outros tipos de representação da realidade que transcendem a escrita e envolvem as representações visuais, musicais, corporais, digitais e outras32.

Ligado a estes conceitos, destacamos o de informational literacy33,

Rivoltella (2010)34, que diz respeito aos aspectos da seleção de informações na web, que pode ser definido como um conjunto de competências que, na sociedade da informação, indica a capacidade do sujeito de buscar, selecionar e certificar informações. É um conceito que diz respeito a uma competência, um saber de ação muito importante, pois o professor deixa de ser o agente transmissor do conhecimento para ajudar seus alunos a selecionar informações que chegam até mesmo

alfabetização) cujo uso é pouco corrente em português do Brasil. Sendo assim é utilizado o termo letramento que se aproxima das discussões já realizadas no Brasil sobre os usos sociais da escrita para além do domínio dos códigos (Soares, 2005) como pressupu nha o termo alfabetização.

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A ideia da Multiliteracy (ou das Multiliteracies) nasce no âmbito do New London Group, na metade dos anos 1990. Este Grupo de pesquisa desenvolveu uma nova ideia de Literacy

(conhecida como “New Literacy”) que vai além do aspecto técnico da aprendizagem da mecânica da leitura e da escrita, pois acreditavam que fossem mais um problema de abordagem cultural. A Multiliteracy diz respeito a este âmbito teórico, pois na cultura da leitura e da escrita hoje fazem parte muitas linguagens que não são verbais, mas multimídia. O conceito foi definido por Cope & Kalantzis (2000) – observações do prof. Rivoltella (2011) na defesa do trabalho.

33 A tradução literal poderia ser alfabetização ou letramento informacional. No espanhol ganhou a sigla ALFIN (alfabetización informacional), em Portugal é literaci, e os franceses falam em educação para a informação.

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Anotações pessoais do Seminário Métodos e Técnicas da pesquisa educativa em ambientes digitas, com o Prof. Pier Cesare Rivoltella e a Profa. Monica Fantin. UFSC, set. 2010.

quando não são procuradas e pressupõe uma abordagem crítica, ou seja, a ampliação do olhar para outras possibilidades.

Em direção semelhante, Perroti (2010) afirma que o domínio dos saberes informacionais demanda processos intelectuais complexos, dispositivos informacionais, mediações pedagógicas e a implementação de ações que implicam tanto o campo informacional como o educacional. Para isso sugere construir atitudes afirmativas e críticas face a informação, através do que denomina de infoeducação, para aproximar-se do conceito de informational literacy. Neste sentido, aponta como fundamentais os conceitos de apropriação e de protagonismo cultural, a ser desenvolvidos nos estudantes.

Diante desse desafio, a educação escolarizada deve preparar-se para atuar como agência mediadora nessa nova forma de lidar com a cultura participativa e com o conhecimento o que requer uma nova forma de organização do conhecimento veiculado na escola. Para Buckingham é através da Mídia-educação que podemos tornar o currículo escolar “relevante para a vida das crianças fora da escola e na sociedade mais ampla” (2005, p. 5).