• Nenhum resultado encontrado

do pedagógico pois as reuniões são muito importantes e não aconteceriam se não fossem desta forma, já que por determinação da Secretaria de Educação não

5) Multimeios em diversos espaços: Nas séries/anos iniciais

2.4.1 Uma iniciativa que merece destaque

Conforme já pontuado anteriormente, a única iniciativa de

produção de vídeo com os alunos que acompanhei durante a pesquisa foi

realizada pela mesma professora de geografia, que trabalhou sobre apresentações de slides. Utilizando o projetor PROINFO nas 8ª.s séries, exibiu o filme 11'09''0178, onze curta-metragens abordando diversos aspectos dos ataques terroristas aos Estados Unidos, ocorridos em 11 de setembro de 2001. Com as onze versões sobre o acontecido, ela queria explorar as diferentes formas de expressão e de produção de conhecimento com os alunos. Na sequência do trabalho, utilizou o Laboratório de Informática para iniciar o processo de produção de vídeos. Para isso assistiram o vídeo No estranho planeta dos seres

audiovisuais79. Na aula seguinte houve a discussão dos vídeos, principalmente sobre a questão da autoria e a responsabilidade de postar conteúdos em redes. Depois disso, exploraram o programa Movie maker, para iniciar a produção e edição de vídeos. A professora auxiliou aos alunos que não conheciam o programa e os alunos foram desafiados a produzirem seus vídeos que deveriam mostrar algo que tivesse sido significativo para eles nas aulas de geografia ministradas ao longo do ano. Após a apresentação dos vídeos houve discussão sobre as produções: a escolha das imagens, o tema proposto e as mensagens trabalhadas.

O trabalho chamou a atenção inclusive pela escolha dos vídeos apresentados aos alunos (pouco comuns ao circuito comercial). Este trabalho diferenciou-se pela intenção de ampliação do repertório cultural, de produção de audiovisuais e de conhecimento, com discussão e problematização, e parece se aproximar de uma proposta de Mídia- educação, que prevê além do consumo responsável a produção crítica e criativa com o uso dos meios. É interessante destacar que essa professora

78Título original: (11'09''01), lançado em 2002 na França. Direção: Youssef Chahine (segmento Egito), Amos Gitai (segmento Israel), Alejandro González-Iñárritu (segmento México), Shohei Imamura (segmento Japão), Claude Lelouch (segmento França), Ken Loach (segmento Reino Unido), Samira Makhmalbaf (segmento Irã), Mira Nair (segmento Índia), Idrissa Ouedraogo (segmento Burkina-Faso), Sean Penn (segmento Estados Unidos), Danis Tanovic (segmento Bósnia-Herzegovina). Duração: 135 min. Gênero: Drama. Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/11-09-01/ acessado em 20/11/2010.

79

No Estranho Planeta dos Seres Audiovisuais é uma série de televisão brasileira, idealizada por

Cao Hamburger, escrita e dirigida por Paulinho Caruso e Teo Poppovic. Exibido pela TV Futura (http://www.futura.org.br) em 16 episódios e explora a relação do homem contemporâneo com o universo audiovisual.

não teve formação inicial sobre o uso das mídias, foi iniciativa pessoal. Aparentemente este foi um trabalho bem sucedido no uso da tecnologia como meio de expressão, como diz Tornaghi (2010), pois além de ser uma excelente forma de motivação para a aprendizagem escolar permitiu a utilização de outro meio para dar forma à expressão do conhecimento produzido pelo grupo.

2.4.2 Reflexões

Os instrumentos de pesquisa utilizados nos permitiram verificar a utilização prioritária das mídias como tentativa de aumentar a motivação e sair da rotina, fato que os professores haviam relatado nas entrevistas. Para isso os professores buscaram utilizar outros espaços além da sala de aula e, na sala de aula buscaram utilizar equipamentos que permitissem um apoio audiovisual ao conteúdo ministrado. No entanto, além de limitados, estes usos estão ainda muito ligados à atividades que promovem poucas mudanças no processo educativo já consolidado, assim como foi constatado por Lara (2011). Levando em consideração que vários professores da escola utilizam apresentações multimídia em suas aulas, em que medida isso significa “sair da rotina”? Neste sentido, foi muito importante o cruzamento dos dados dos diversos instrumentos de pesquisa, por ser diferente “o que se percebe”, o que “se fala que usa” e “como se usa”. No caso analisado, na maioria das vezes estar num espaço diferente da sala de aula e utilizar outras tecnologias não significou nada de novo em termos didáticos e muito menos despertou maior interesse nos alunos, como foi relatado ao longo do texto, exceção feita ao trabalho de produção de vídeos relatado anteriormente.

Acreditamos que o uso das mídias como ferramentas para melhorar as aulas pode ser utilizado em projetos para desencadear uma aprendizagem colaborativa e para tornar o aluno pesquisador e investigador. O trabalho com projetos é o que mais se aproxima da possibilidade de produção com mídias na perspectiva da Mídia-educação; as disciplinas organizadas na forma curricular tradicional operam mais em caráter instrumental e nesta escola, apenas o troca-troca tem a intenção de projeto. No entanto, nesta forma de organização do trabalho a motivação não estaria na mídia em si, mas na aprendizagem, que deve ser “significativa, desafiadora, problematizadora e instigante, a ponto de mobilizar aluno e grupo a buscar soluções possíveis, para serem discutidas e concretizadas à luz de referenciais teórico/práticos”, diz Behrens (2000, p. 77). Esse processo favorece a que o aluno tenha prazer

em conhecer, porque para produzir conhecimento precisa ousar, criar e refletir sobre os conhecimentos acessados para dar-lhes significados relevantes. Essa forma de mediar a aprendizagem é que pode promover “saídas da rotina”.

A respeito de “dar certo” o uso das TIC, Masetto (2000), afirma que o uso de multimídia pode ser um importante recurso facilitador e mediador da aprendizagem pelas suas características multi e hipermidiáticas que integram imagem, luz, som, texto, movimento, etc. No entanto, o aluno não pode ser um expectador passivo, ele precisa ser incentivado a pesquisar, precisam ser oferecidos momentos para perguntas, reflexões, debates, trabalhos, incentivados pela apresentação.

Refletindo sobre a questão da utilização dos espaços para o trabalho com as mídias e tecnologias, é importante perceber que não são os espaços que determinam a eficácia do trabalho. A utilização do espaço é o resultado da maneira de entender o ensino, tanto em relação à função social como à compreensão dos processos de aprendizagem. Conforme já mencionado, Massey (2008) aponta uma das possibilidades de definição de espaço como “produto de relações” e, neste sentido, as relações ali existentes são resultado das representações que percebem as mídias e os espaços como fatores motivadores da aprendizagem, mas que na realidade não o são por si só e, por isso, os espaços neste caso se configuram apenas como “lugar”.

Assim, da forma como vem sido desenvolvido o trabalho pedagógico com as mídias, a sala de aula é “o lugar de fazer sempre o mesmo” e quando se quer fazer algo diferente procura-se outros espaços. No entanto, as mídias podem e devem estar diluídas nos tempos/espaços escolares a serviço da mediação pedagógica a fim de chegar ao aluno por todos os caminhos possíveis: pela experiência, imagem, som, representação (dramatizações, simulações), multimídia, interação on-line e off-line (Moran, 2000). As mídias devem estar presentes não apenas para motivar o aluno mas para

valorizar a auto-aprendizagem, incentivar a formação permanente, a pesquisa de informações básicas e das novas informações, o debate, a discussão, o diálogo, o registro de documentos, a elaboração de trabalhos, a construção da reflexão pessoal, a construção de artigos e textos (MASETTO, 2000, p. 154) .

Acrescente-se aos aspectos acima mencionados a possibilidade de tornar o aluno protagonista na produção de conhecimentos para que, tendo as mídias hibridizadas ao cotidiano escolar, ele possa mais do que receber conhecimento, produzí-lo com as possibilidades oferecidas por elas, com a mediação do professor. Nesta direção Orofino (2005) aponta que cabe à escola garantir o acesso igualitário, o consumo reflexivo (problematizando as representações sociais contidas no texto), a produção e participação das próprias crianças e adolescentes em narrativas utilizando as novas linguagens tecnológicas, sobretudo a eletrônica e a digital.

A perspectiva ecológica, proposta pela Mídia-educação, prevê que a tecnologia não seja utilizada apenas nos laboratórios multimídia e sim que os alunos “atuem neste e noutros espaços estabelecendo interações e construindo relações e significados” (FANTIN, 2006a, p.2).

Mas este é um processo que requer uma mudança de postura do professor que deixa de perceber as mídias apenas como recurso e passa a entendê-las como cultura. Com seu “kit de formador” (Rivoltella, 2005) ele pode construir sua competência e incorporar as mídias em sua prática como uma nova linguagem, que vem complementar a oral, a escrita e a audiovisual.

CAP. 3 – EM BUSCA DE NOVAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

“… para enxergar a realidade não é suficiente não ser cego, é preciso ter o compromisso e a vontade de querer abrir as janelas e deixar entrar as luzes.”

Fantin: 2008, p.165)

Após apresentar os dados obtidos na pesquisa empírica e refletir sobre eles à luz das contribuições teóricas é chegado o momento de buscar pistas para a “tão sonhada transformação das práticas”. Neste capítulo apresentaremos algumas constatações que desencadearam possíveis pistas para repensarmos as práticas pedagógicas com a utilização das mídias.