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CAPÍTULO 2 – Terminologia e Terminografia

2.1 Terminologia

2.1.1 As Escolas Clássicas de Terminologia

A Terminologia surge com a necessidade de facilitar a comunicação internacional devido aos avanços das ciências e técnicas. Diante desse contexto e levando em consideração que os precursores da disciplina não eram estudiosos da linguagem, percebe-se nitidamente que o intuito maior era firmar orientações metodológicas para a produção terminográfica por meio de fundamentos prescritivos. As Escolas Clássicas são consideradas as precursoras da Terminologia como disciplina autônoma, por contribuírem significativamente com o estabelecimento das bases metodológicas da disciplina. As três Escolas consideradas clássicas são as de Viena, Russa e de Praga. Todas elas possuem características em comum: valorizam a dimensão cognitiva dos termos e a sistematização de métodos de trabalho que estabelecem a padronização dos termos (KRIEGER & FINATTO, 2004).

2.1.1.1 A Teoria Geral da Terminologia e a Escola de Viena

O engenheiro austríaco Eugen Wüster é o fundador da Escola de Viena. Ele também é considerado o pai da Terminologia moderna porque os seus estudos a partir de sua tese de doutorado sobre a padronização dos termos empregados na engenharia eletrotérmica em 1931 ganharam maior repercussão a partir da segunda metade do século XX, momento pós-guerra que exigia uma maior normatização para harmonizar a comunicação no cenário mundial, contribuindo, então, de forma mais efetiva para o estabelecimento da Terminologia como disciplina.

A preocupação dos estudos de Wüster era a padronização terminológica com o intuito de alcançar a univocidade comunicacional no plano internacional, o que deu origem à Teoria Geral da Terminologia (TGT), na década de 1970, que tem como base um método prescritivista. A TGT preocupa-se com a normalização, controle e padronização dos usos terminológicos em proporções mundiais. Assim, os aspectos cognitivos dos termos são priorizados, valorizando suas dimensões conceituais em detrimento dos significados, não os vendo, dessa forma, como elementos naturais das línguas. (KRIEGER & FINATTO, 2004).

Krieger (2001) aponta que Wüster reconhecia a face Linguística da Terminologia por elas manterem uma relação interdisciplinar, considerando-a inclusive um ramo da Linguística Aplicada, apesar de toda sua preocupação com a precisão conceitual. Dessa forma, ao abordar as noções de monovalência ou de univocidade, isso é refletido.

Em sentido restrito, um termo unívoco ou monovalente é um termo que, em um contexto de discurso determinado, apenas tem um “significado atual”, embora possa ser polissêmico. Por “contexto de discurso” é preciso entender, ou bem o contexto

da frase, ou bem a situação de discurso determinada pelas circunstâncias. A distinção entre, por uma parte, a monossemia, e por outro, a monovalência, ou univocidade em sentido estrito, permite limitar a exigência teórica da monossemia em terminologia a uma única condição econômica: que os termos sejam “monovalentes”, sem serem necessariamente “monossêmicos”.

(WÜSTER, 1998, p.140 apud KRIEGER, 2001, p.50)

A Escola de Viena com a TGT é reconhecida por trazer à tona os princípios básicos e iniciais que permitiram o desenvolvimento dos estudos teóricos e aplicados da Terminologia. Entretanto, não ampliaram as discussões explicativas, fortalecendo unicamente a parte metodológica que colabora com a produção terminográfica. Assim, conseguiram difundir e consolidar as concepções normativas no âmbito internacional (KRIEGER, 2001).

Wüster obteve destaque internacional, presidindo comitês e associações técnicas e científicas. A Escola de Viena com os trabalhos de Wüster influenciou a normalização terminológica da Unesco, da Federação Europeia de Associações Internacionais de Engenheiros (Feani) e as normas da Organização Internacional de Normalização (ISO). Apesar do destaque, a TGT sofre críticas por não priorizar os aspectos comunicativos, valorizando os termos e não o uso da linguagem de especialidade (BARROS, 2004).

2.1.1.2 Escola Russa

Também na década de 1930, inicia-se o desenvolvimento dos estudos terminológicos na ex-União Soviética (URSS). Para Rondeau e outros especialistas, os russos foram os pioneiros da Terminologia moderna, pois os trabalhos de Wüster e seu grupo em Viena preocupavam-se com a elaboração de métodos para tratar os termos, ou seja, de uma vertente prática, enquanto os russos, além disso, preocupavam-se com os aspectos reflexivos. Dentre os nomes de destaque da Escola Russa vale ressaltar o de Lotte, pois ele foi responsável pelo Comitê de Normalização Terminológica do Instituto de Normalização do Conselho de Ministros da URSS. Embora tenha publicado em vida, a produção científica de Lotte manteve-se isolada na antiga URSS, sendo traduzida e divulgada no Ocidente por Rondeau e Felber apenas em 1981. Lotte teve conhecimento dos trabalhos de Wüster, porém apresentava uma visão diferente: considerava os termos como parte da língua geral, podendo, assim, adquirir qualquer característica de uma palavra comum. Sob essa perspectiva, os termos não são unidades controladas rigidamente por determinações extralinguísticas, não visando, assim, à monossemia, por reconhecer que é no contexto e no discurso que o termo tem seu valor. Outros nomes que merecem destaque dessa Escola é o de Drezen, com a vertente normalizadora, e o de Vinokur, que contribuiu no campo dos processos de formação das

unidades terminológicas. A Escola Russa concilia teoria e prática, partindo de uma concepção mais linguística, mesmo priorizando o termo (BARROS, 2004).

2.1.1.3 Escola de Praga

A Escola de Praga também se destaca por seus estudos terminológicos. Uma vez que recebe influência da Escola Funcional de Praga, considera o termo como menor unidade e parte da língua. Portanto, atenta-se para o fato de a língua ser viva e dinâmica, analisando o aspecto funcional das línguas de especificidade. Os trabalhos da Escola de Praga defendem duas línguas e duas culturas: a checa e a eslovaca. Para isso a normalização é feita por meio de organismos oficiais, pois para o grupo esse tipo de codificação garante maior estabilidade. Os principais nomes desse grupo são Drozd, Havranek, Horecky, Roudný e Kocourek (BARROS, 2004).