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1 CONSTRUINDO O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO-AÇÃO SOBRE

1.3 AS ESPIRAIS REFLEXIVAS NA BUSCA DE UM CAMINHO PARA A

No contexto da investigação-ação, houve uma amplitude de movimentos formativos do grupo de licenciandos (investigadores ativos), dos quais emergiram e foi possível demarcar as espirais reflexivas. No processo de investigação-ação crítica as espirais reflexivas foram sendo visualizadas pela minha análise. Ao assumir o papel de investigadora-ativa, mas também professora pesquisadora do componente curricular foi possível fazer as reflexões, que desencadearam problemas formativos, apresentados nesta tese como espirais reflexivas. Estas permitiram situar os contextos em diferentes temas e situações de formação inicial de professores da Licenciatura em Ciências Biológicas.

No sentido metodológico, as espirais reflexivas foram desenhadas na perspectiva de reflexão na investigação-ação proposta por Contreras (1994), como molas propulsoras, que foram desencadeando a direção do processo formativo e permitem avanços teóricos, investigativos e constitutivos dos sujeitos da pesquisa. Esse modelo é conhecido como espiral da investigação-ação, que apreende todas as etapas deste processo, em que depois de uma volta, os problemas são ressignificados, “o que permite avançar na sua compreensão/entendimento/

aprofundamento” (GÜLLICH, 2013, p. 60). A partir de movimentos de estudos e

pesquisa, as espirais reflexivas foram emergindo como novas perguntas, a partir da realidade e do contexto formativo, crítico e reflexivo.

A cada giro da espiral reflexiva mestra (a tese), ocorreram movimentos de observação, planejamento, ação e reflexão (CARR; KEMMIS, 1988), que geraram os metatextos, ou seja, novas proposições em espirais reflexivas. Esta investigação- formação-ação crítica desencadeou, sobretudo, a transformação de concepções nos sujeitos da pesquisa.

A Primeira Espiral Reflexiva foi denominada “Construindo o processo de

investigação do currículo e livro didático na formação inicial de professores de Ciências Biológicas”. Processo que iniciou na constituição do projeto desta tese, é

34 intrínseco a minha formação, pois ocorre no momento em que passo a problematizar o currículo e o uso dos livros didáticos em formação inicial de professores, na perspectiva da investigação-ação. Intensifica-se na construção do projeto de doutoramento, nas leituras dos referenciais da pesquisa, nos diálogos com a professora orientadora deste estudo, e nos caminhos formativos, que se intercruzam com o professor titular da disciplina. Desenvolveu-se com os encontros de planejamento entre professor titular e professora pesquisadora, e, instaura-se no primeiro encontro com os licenciandos (isto é aprofundado no capítulo 2). Nesta espiral reflexiva, demarco as perspectivas das vias do livro e do currículo em contexto da formação inicial. Estas propiciaram uma autorreflexão acerca da problemática, possibilitando relacionar tais aspectos nesta pesquisa.

Mas não há como delimitar a temporalidade desta espiral reflexiva, que não se encerrou ao término das aulas do componente curricular, nem mesmo da pesquisa. As problemáticas surgidas no contexto formaram molas propulsoras de outras tantas.

A Segunda Espiral Reflexiva, nomeada “Espiral reflexiva desencadeada

pelo planejamento e intervenção em um componente de prática de ensino, expressas nas constatações, marcas e amarras do currículo”, alimentou as

iniciativas de pesquisa e principalmente a primeira aula, bem como o planejamento colaborativo do professor titular e da professora pesquisadora.

Nesta espiral, foram declarados os papéis de cada um dos participantes, com os primeiros movimentos da formação inicial, em que se estabeleceram as regras e a apresentação da proposta de pesquisa. Nesse movimento, ouviram-se desejos, angústias e perspectivas. Também foram problematizadas as temáticas da pesquisa através das primeiras narrativas de cada investigador ativo no processo (licenciandos, professor titular e professora pesquisadora).

Novas espirais reflexivas foram desencadeadas a partir da primeira aula, com a apresentação e problematização do componente curricular, do consentimento de todos os envolvidos em participar da pesquisa, do questionário proposto.

A Terceira Espiral Reflexiva, denominada “O livro didático no currículo e

na Licenciatura em Ciências Biológicas”, constituiu-se ainda na primeira aula,

quando os licenciandos responderam as questões sobre o livro didático. Além destas respostas, também outros aspectos foram problematizados nesta espiral: as análises dos livros didáticos; do questionário aplicado pelos licenciandos aos professores da

educação básica; das narrativas registradas (observações das aulas da educação básica, leituras, reflexões e diálogos oportunizados durante as aulas).

Ressalto que embora a questão do livro didático foi instituída pelo questionário e análise dos livros, ela continuou nas narrativas dos licenciandos e no contexto da análise e observação de aulas da educação básica. As reflexões dos licenciandos foram demarcando as relações dos professores com o livro didático, posicionando o lugar ocupado por este material na prática destes professores e na instituição dos currículos. Os licenciandos perceberam as contradições dos professores sobre a escolha do livro didático, bem como o desconhecimento e as justificativas rasas sobre tais escolhas. Essa percepção pode alertar para a importância de trazer este tema em cursos de formação inicial e continuada.

Houve uma necessidade de compreensão dos discursos nas narrativas dos licenciandos, expressas nos diários de bordo, sobre as concepções envoltas e o modo como se propagam e se definem as reflexões. Esta espiral reflexiva surge quando demarquei e analisei com os licenciandos documentos de recontextualização dos discursos acerca das políticas curriculares, e teci uma reflexão-ação contínua entre e a partir dos discursos dos quais fui me apropriando. A culminância dessas auto e metarreflexões constituem o capítulo 3.

As reflexões dos licenciandos (investigadores-ativos) causaram interações e possibilitaram alterações no seu contexto. As narrativas, nos diários de bordo, tornaram-se cada vez mais reflexivas e menos descritivas, constituindo mudanças na concepção de currículo manifestada pelos licenciandos, propiciando o desencadeamento da Quarta Espiral Reflexiva identificada como “A transformação

e a ressignificação das concepções de currículo dos licenciandos de Ciências Biológicas no processo de formação inicial”. Esta espiral reflexiva tem estreita

relação com a anterior, pois as observações das aulas e análises de documentos oficiais do estado e das escolas, bem como as leituras de artigos sobre currículo influenciaram muito e desencadearam alterações nas concepções dos licenciandos. A espiral desenvolveu-se durante as aulas do componente curricular, e pode ser visualizada, a partir das análises das narrativas dos licenciandos, que elucidaram a evolução das suas concepções de currículo. No capítulo 4, ela foi analisada.

Essa espiral cercou-se dos processos de reflexão, que foram mediados em distintos contextos através da interação dos licenciandos com os professores das escolas de educação básica, e com o professor titular e a professora pesquisadora.

36 A interação tornou-se mediada, contundente, aprisionante, libertadora, ou ainda investigativa, reflexiva e crítica.

A investigação-formação-ação na perspectiva crítica demanda processos de reflexões, que no caso desta pesquisa, ocorreram também através das leituras de referenciais teóricos das temáticas envoltas nesta pesquisa. As reflexões críticas mediadas pela teoria, em pequenos ou grandes grupos, em momentos de diálogo, entre professores (titular e pesquisadora) e licenciandos, mas também entre licenciandos e licenciandos, provocadas pelas observações e análises de diferentes contextos formativos, eram drenados para um contexto formativo comum, a formação inicial de professores na licenciatura em Ciências Biológicas.

Esta espiral reflexiva foi tão marcante na evolução de concepções no contexto desta pesquisa, que ciclos reflexivos foram desencadeados, e demonstram a evolução da concepção de currículo pelos licenciandos, nas escritas narrativas, durante o componente curricular.

A intensidade com que os movimentos formativos foram articulados em novas espirais reflexivas e ciclos reflexivos provocou a investigação de alguns deles durante a formação inicial de professores.

Desta tessitura empírica-teórica emerge o questionamento: quais os indícios de que o processo formativo de professores através da investigação-ação pode conferir avanços nas compreensões dos professores em formação inicial sobre as concepções de currículo e livro didático? Esta dúvida conduz o processo reflexivo e configura as demais espirais e ciclos, os capítulos, minhas compreensões, defesas e intenções. Destaco que as espirais reflexivas não estão representadas explicitamente nos capítulos que seguem, mas nortearam minhas análises e a forma de organização da tese.

A fim de compreender o enredo da pesquisa envolto no componente curricular de prática de ensino, o capítulo 2 narra o entrelaçamento deste com o currículo e o livro didático, no contexto de formação inicial em Ciências Biológicas diferenciado pela investigação-formação-ação.

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Dissertação de Mestrado, defendida no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação nas Ciências, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, UNIJUÍ, ano 2011.

2Em pesquisa realizada, na dissertação de mestrado “Estado da arte e coletivos de pensamento da

pesquisa sobre o livro didático no Brasil” (EMMEL, 2011), ao revisar o indexador Scientific Eletronic Library (Scielo) e eventos Encontro Nacional de Didática Prática de Ensino (ENDIPE), Encontro

Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC) e Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), no período de 1999 a 2010, emergiram da análise textual discursiva destes artigos, as temáticas de pesquisa, sendo que 72 artigos evidenciaram a preocupação com currículo. Posteriormente, identifiquei nas referências utilizadas e sua ocorrência em todos os artigos, quatro categorias: conceitos (22 autores), currículo (6 autores), pesquisa em/sobre livro didático (21 autores) e metodologia (3 autores). Assim percebemos a existência de um impasse, pois os artigos em sua maioria trazem a temática currículo, e somente 6 autores são utilizados como referência de currículo. Uma análise mais profunda das relações existentes entre o currículo e o livro didático urge destes dados, para compreender as implicações e a complexidade envolvida no entendimento de currículos pelos autores dos artigos e naqueles utilizados como referência. Ainda cabe compreender que a categoria conceitos, pode ser uma possibilidade de análise ao estabelecer relações com o currículo: qual o lugar que ocupa a formação de conceitos dentro do conteúdo, na constituição de currículos a partir dos livros didáticos? Neste sentido, uma possibilidade seria entender se entre os autores alguns estariam restringindo o currículo unicamente a conteúdo. Tais problemas pertencem a outro tema mais amplo: a formação de professores, e as apostas primeiras seriam na formação inicial de professores, mais especificamente, neste projeto de tese a Licenciatura em Ciências Biológicas, como lugar, onde se iniciam discussões, concepções e relações entre currículo e livro didático.

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No contexto desta pesquisa assumi o componente curricular como professora estagiária, ou seja, professora que fez a intervenção, usando do estágio de docência no Ensino Superior como espaço de pesquisa, adotando o lugar de professora pesquisadora.

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Narrativas, neste caso específico foram consideradas, pois implicam recolher as diferentes vozes, a interpretação dessas vozes (CHAVES, 2000; CARNIATTO, 2002; REIS, 2008) e a construção de uma história (os diários de bordo, ou o texto que origina esta tese) na qual as narrativas dos investigados e as narrativas dos investigadores se fundem ou se entrecruzam para a compreensão de uma realidade (REIS, 2008), em processo que pode ser de ressonância.

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Nesta investigação entendo o diário de bordo como um caderno de anotações, em que o professor titular e a professora pesquisadora e os licenciandos deste componente curricular, utilizaram durante as suas aulas ou no decorrer do semestre em outros espaços, para que estes façam reflexões acerca de suas experiências, pesquisas, leituras, diálogos, que envolvem o processo formativo nesta prática de ensino, constituindo as narrativas das aulas como apresentam Porlán e Martín (1997).

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Oficiais entendido aqui como os documentos do estado, que balizam a educação da federação; já que os documentos das escolas educação básica também são oficiais, mas de cunho restrito a instituição.

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2 A PRÁTICA DE ENSINO E AS RELAÇÕES COM O CURRÍCULO, O LIVRO