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As estratégias de compreensão leitora

CAPÍTULO II A LEITURA DO HIPERTEXTO EM PERSPECTIVA

2.4 As estratégias de compreensão leitora

São muitos os autores que abordam o assunto estratégias de leitura para o texto impresso, porém poucos tratam especificamente do texto digital. No entanto, como aponta Koch (2006b, p.33), em consequência do interesse pela dimensão sociointeracional da linguagem, surge uma série de questões pertinentes para “agenda de estudos da linguagem”, dentre elas, as questões ligadas ao hipertexto. Aqui se situa nosso estudo que objetiva levantar estratégias de leitura utilizadas pelo leitor do texto digital.

Para chegarmos ao nosso objetivo, primeiramente, realizamos, em vários estudos, o levantamento dos tipos de estratégias de leitura apresentadas por

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8 Valls,E. Ensenyança i aprenentatge de continguts procedimentals. Uma proposta referida a l’Àrea de

La Història. Tese de Doutorado. Universidade de Barcelona, 1990 citado por SOLÉ, 1998, p.69.

diferentes autores, tais como: Davies, 1995; Van Dijk, 2004; Kato, 1995; Kleiman,1998;2008; Serra & Oller, 2003; Koch & Elias, 2006 que buscam demonstrar como ocorre o processamento estratégico na leitura.

Van Dijk (2004) apresenta um modelo cognitivo de compreensão e postula a existência de diferentes estratégias de processamento de discurso. Apresentaremos, a seguir, algumas dessas estratégias por considerá-las relevantes a nossa pesquisa:

a) estratégias proposicionais: consistem em ativação de significado para uma palavra, utilizando a memória semântica e estruturas sintáticas das orações;

b) estratégias de coerência local: consistem em procurar em uma proposição por argumentos que co-referem a um dos argumentos da proposição anterior, isto é, uso de correferência;

c) macroestratégias: consistem em estratégias flexíveis de caráter heurístico, elas permitem que os leitores levantem previsões sobre o texto antes do término da leitura;

d) estratégias esquemáticas: consistem na ativação dos conhecimentos do leitor sobre superestrutura. Essa pode ser entendida como uma estrutura hierárquica de categorias convencionais, isto é, estruturas esquemáticas culturalmente convencionadas.

Por sua vez, Kato (1995) defende que o processo de leitura implica utilização de um amplo esquema para obter, avaliar e utilizar informações que são aplicadas para compreender um texto. Para a pesquisadora, esse esquema pode ser entendido como estratégias que o leitor utiliza durante a leitura. Assim, a leitura pode ser entendida como um conjunto de habilidades que envolve estratégias de vários tipos, tais como:

9 Estabelecimento de um propósito para a leitura;

9 Uso de predição – baseadas tanto nas informações implícitas como nas explícitas. O leitor faz a antecipação de qual será o significado do texto;

9 Uso de inferência – são utilizadas para preenchimento de lacunas;

9 Estabelecimento de seleção – escolha, dentre todo o seu conhecimento e de seus esquemas, de informações relevantes e significativas para a compreensão do texto;

9 Confirmação de hipóteses – auto monitoração durante o processo de leitura. O leitor controla sua própria leitura para garantir que está produzindo sentido;

9 Correção – reconsideração das informações já possuídas e das obtidas, no caso de não poderem ser confirmadas.

Ainda para a autora, todo processo estratégico é controlado pelo leitor que, enquanto lê, constrói e reconstrói significados, num processo de acomodação de novas informações e adaptação do sentido em formação que é constantemente reavaliado e reconstruído com base em novas percepções.

Além dos estudos sobre estratégias apresentados por Van Dijk e por Kato, encontramos os de Kleiman (2004) que, pensando nos aspectos cognitivos da compreensão e leitura de textos, apresenta as estratégias de leitura em dois grandes grupos:

1) cognitivas - estratégias automáticas, inconscientes que possibilitam a leitura rápida com objetivo de construir a coerência local do texto. Está ligado a essas estratégias o processo inferencial, que possui vários princípios que o modulam, dentre eles estão: i) o princípio de economia ou parcimônia que engloba as regras de recorrência e de continuidade temática; ii) o princípio de canonicidade que engloba as regras de linearidade e regra de distância mínima; iii) o princípio de coerência que engloba as regras de manutenção tópica e não contradição e, por fim, iv) o princípio da relevância.

2) metacognitivas – estratégias de natureza pragmática, ou seja, estratégias conscientes que permitem o controle e regulamento do próprio conhecimento. Em outras palavras, são acionadas quando o leitor sente alguma falha em sua compreensão. Esse tipo de estratégia também é utilizada quando o leitor tem como propósito a memorização e a aprendizagem.

Na acepção de Koch (2007), as estratégias cognitivas consistem em estratégias de uso do conhecimento. Esse uso vai depender dos objetivos do leitor (usuário), da quantidade de conhecimento disponível a partir do texto e do contexto, das opiniões, crenças e atitudes que o leitor desperta no momento da compreensão. Assim, para a autora, a análise estratégica depende não só de características textuais, como também de características dos usuários da língua, tais como seus objetivos, convicções e conhecimento de mundo.

Objetivando descrever o conjunto das estratégias mais utilizadas durante o processo de leitura, Serra & Oller (2003, p.38) apresentam a relação a seguir:

1. Identificar sinais gráficos com fluidez;

2. Reler, avançar ou utilizar elementos de ajuda externa para compreensão léxica;

3. Avaliar a consistência interna do conteúdo expressado pelo texto e sua correspondência com os conhecimentos prévios e com o que é ditado pelo senso comum;

4. Distinguir o que é fundamental do que é pouco relevante ou pouco pertinente com relação aos objetivos de leitura;

5. Construir o significado global;

6. Elaborar e testar inferências de tipos diferentes, como interpretações, hipóteses, previsões e conclusões;

7. Distinguir a estrutura textual facilita na ativação dos conhecimentos prévios sobre uma organização retórica para aprofundar-se em um determinado texto. (está associada ao conhecimento genérico);

8. Ativar a atenção concentrada;

9. Conhecer os objetivos de leitura: O quê? Por quê? Para que devo ler?;

10. Ativar conhecimentos prévios pertinentes;

11. Avaliar e controlar se a compreensão do texto ocorre e autorregula a atividade de leitura, partindo da revisão da própria atividade e da recapitulação do que se leu;

12. Relacionar os conhecimentos prévios pertinentes com a informação que o texto nos proporciona ao longo de toda leitura;

13. Avaliar e integrar a nova informação e reformular, se necessário, as ideias iniciais.

Os autores deixam claro que esta lista não é uma regra tampouco uma ordenação hierárquica, pois as estratégias são utilizadas de maneira aleatória e muitas vezes simultânea.

Outro pesquisador que aborda o estudo sobre estratégias é Davies (1995). Para o autor, as duas estratégias de leitura mais citadas pelos estudiosos em relação ao ensino de línguas são: scanning (leitura rápida, folhear um livro, catálogo, manual etc., para achar algo específico como uma data, um nome, um número telefônico, um conceito, uma definição) e skimming (leitura rápida para entender as ideias e conceitos principais). Para tanto, o leitor recorre ao título, subtítulos, ilustrações, nome do autor, a fonte do texto, ao início e ao final dos parágrafos, itálicos, sumários.

Conforme Davies (1995, p.150-151), a estratégia de skimming “envolve a exploração, pelo estudante, dos aspectos afetivos da interação entre o escritor e o leitor e a estratégia de scanning têm por objetivo a organização e estruturação do processamento cognitivo do texto”. Ambas são estratégias associadas a leituras rápidas e são muito semelhantes.

O que diferencia uma da outra é que, ao usar a estratégia de scanning, o leitor sabe o que busca, ou seja, ele está procurando uma informação específica, ao passo que, com a de skimming, o leitor está em busca do sentido geral do texto, muitas vezes para decidir se vai ou não ler todo o texto de forma mais detalhada. Ainda, de acordo com o autor, a utilização dessas estratégias depende do propósito da leitura.

Ao nosso ver, esses tipos (scanning e skimming) de estratégias podem ser utilizados em qualquer texto, principalmente na leitura hipertextual, uma vez que são

associados a leituras rápidas que podem auxiliar o hiperleitor no reconhecimento do texto e de suas informações. No entanto, não são somente estas estratégias que podem ser utilizadas na leitura hipertextual, acreditamos que as estratégias que serão apresentadas a seguir também possam ser utilizadas para o texto digital, por serem estratégias de ordem sociocognitiva que se adaptam conforme a necessidade do leitor.

2.4.1 Estratégias de pré-leitura: objetivos

Após levantarmos os estudos realizados pelos autores sobre estratégias de leitura, observamos que o primeiro requisito apontado pelos estudiosos como essencial para a prática de leitura é a busca de um objetivo. O leitor precisa saber o “porquê” e o “para quê” ler um texto. Assim, como apontam Kato (1995), Serra & Oller (2003) e Solé (1998) a definição de um objetivo, além de ser “uma condição” para a prática da leitura também pode ser vista como uma estratégia.

De acordo com Solé (1998), os objetivos dos leitores podem ser muito variados, tudo depende da situação e do momento, no entanto, a autora busca exemplificar alguns tipos:

• Ler para obter uma informação precisa (É a leitura que realizamos quando pretendemos localizar alguma informação específica, isto é, uma leitura mais seletiva);

• Ler para seguir instruções (É a leitura com objetivo de “saber como fazer...”);

• Ler para obter uma informação de caráter geral (É a leitura rápida para entender as ideias e conceitos principais do texto, ou seja, “saber de que trata” para ver se vale continuar lendo);

• Ler para aprender (É a leitura com propósito, isto é, para ampliar conhecimento, estudar etc. No entanto, é valido ressaltar, como o faz Solé (ibid) que naturalmente toda leitura que realizamos sempre aprendemos algo.);

• Ler para revisar um escrito próprio (É a leitura como instrumento de trabalho ou como autorrevisão);

• Ler por prazer (É a leitura chamada de fruição, aquela que se faz sem cobrança e está, em geral, relacionada ao texto literário);

• Ler para comunicar um texto a um auditório (É a leitura própria de grupos de atividade restritos);

• Ler para praticar a leitura em voz alta (É a leitura, de certa forma, escolarizada. Segundo Solé (1998) a leitura em voz alta é um tipo de leitura que envolve algumas necessidades, objetivos e finalidades específicas da prática de leitura.). (Adaptado de Solé, 1998, p. 93-99)

Sobre essa questão, Kleiman (1998) acrescenta que os objetivos para a leitura podem variar de acordo com o gênero textual, por exemplo, os objetivos para leitura de uma bula de um remédio são bem específicos e limitados, enquanto que os objetivos para a leitura de um romance podem atender um conjunto infinito de propósitos.

2.4.2 Uso de previsões

Outra estratégia que apresenta destaque é a do uso de previsões no texto. Essa estratégia muitas vezes é utilizada inconscientemente pelo leitor, porém é muito importante para o processo de leitura, pois é por meio dela que o leitor faz a eliminação do que não ler.

A previsão consiste em estabelecer hipóteses ajustadas e aceitáveis sobre o que será encontrado no texto. Para Smith (1999, p.79) a previsão é a base da compreensão, pois ela só é alcançada quando encontramos sentido naquilo que já sabemos sobre o mundo, “fazendo uso da nossa teoria de mundo”.

Solé (1998), também, ressalta que a estratégia de previsão está associada a formulação de perguntas, podendo ser:

9 Perguntas de resposta literal, isto é, perguntas cuja resposta se encontra literal e diretamente no texto;

9 Perguntas para pensar e buscar, isto é, perguntas cuja resposta pode ser deduzida, mas que exige que o leitor relacione diversos elementos do texto e realize algum tipo de inferência;

9 Perguntas de elaboração pessoal, isto é, perguntas que tomam o texto como referencial, mas cuja resposta não pode ser deduzida do mesmo; exigem a intervenção do conhecimento e/ou a opinião do leitor.

2.4.3 Ativação do conhecimento prévio

Como vimos, para chegarmos à compreensão de um texto utilizamos conhecimentos prévios, isto é, o leitor no processo de leitura aciona os conhecimentos armazenados na memória adquiridos ao longo de sua vida. Para Kleiman (2008, p.25), a ativação do conhecimento prévio é essencial à compreensão, “pois é o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto que lhe permite fazer as inferências necessárias para relacionar diferentes partes discretas do texto num todo coerente”.

Por outro lado, Foltz (1996) ressalta que escritores (produtores de texto), frequentemente, assumem que os leitores possuem conhecimentos prévios adequados para produzirem inferências e, portanto, completarem as lacunas deixadas no texto automaticamente. No entanto, se um leitor não tem um bom conhecimento prévio, estas inferências consumirão recursos adicionais do leitor, o que pode acarretar em baixa compreensão.

2.4.4 Uso de inferências

Koch (2007, p.36) afirma que as inferências constituem estratégias cognitivas por meio das quais o leitor, “partindo da informação veiculada pelo texto e levando em conta o contexto (em sentido amplo), constrói novas representações mentais”, estabelecendo relações entre segmentos textuais das informações explícita e implícitas do texto.

Por sua vez, Marcuschi (1999) assinala que as inferências permitem ao leitor construir novas proposições a partir de outras já dadas. O pesquisador defende que a inferência é um dos fatores fundamentais para a compreensão de um texto, pois está ligada ao conhecimento prévio do leitor, possibilitando o preenchimento de lacunas no texto. Marcuschi (2003, p.245), ainda, define inferência como “um ato de inserção num conjunto de relações (propositalmente expressáveis) com finalidade de produzir sentido”. Para o autor, “é impossível não inferir quando se quer produzir significações, ou seja, toda significação está ligada a processos inferenciais”.

Em seu estudo sobre inferências, o pesquisador apresenta os seguintes tipos:

• As lógicas – são as mais usadas, baseiam-se nas relações lógicas, porém estão mais voltadas para um cálculo e uma projeção de natureza sociocontextual do que para uma operação lógica no sentido estrito.

• As analógico-semânticas – são baseadas sempre no

input e também no conhecimento de itens lexicais e relações

semânticas;

• As pragmático-culturais – são baseadas nos

conhecimentos, experiências, crenças, ideologias e axiologias individuais.

[Adaptado de Marcuschi, 1999 (p.103 – 105); 2003 (p.246)]

Além dos estudos de Marcuschi sobre inferência, encontramos o de Abarca & Rico (2003, p.144) que concebem a existência de dois tipos de inferências: i) inferências de conexão textual (são aquelas que o leitor infere a relação entre as ideias do texto que são sucessivas ou muito próximas. O objetivo desse tipo de inferência é manter a progressão temática ou continuidade argumentativa entre os diferentes ciclos de processamento), ii) as inferências extratextuais (são aquelas que estabelecem relações entre ideias relativamente distantes, sendo mais dependentes da ativação de conhecimentos prévios e de uma representação mental mais global da situação explicada e descrita no texto).

Ferreira & Dias (2004, p.443) citam os estudos de Kintsch (1998) que diferencia as inferências dos processos de recuperação de conhecimento. Para o autor, as inferências se caracterizam como “processos de resolução de problema, favorecendo a geração de uma nova informação, enquanto os processos de recuperação apenas recuperam na memória conhecimentos preexistentes”. As inferências podem ser automáticas (inconscientes) ou controladas (geralmente conscientes), como demonstra o quadro abaixo:

Recuperação Geração

Processo automático Inferências, pontes, associações elaborativas.

Inferências transitivas em um domínio familiar

Processo controlado Busca de conhecimentos conectados

Inferência lógica

De acordo com os estudos realizados por Ferreira & Dias (2004, p. 441), a atividade inferencial é um fator essencial no processo de comunicação e compreensão em geral, podendo a mesma ser descrita como “um ato inteligente que envolve raciocínio lógico e criativo, e que é levado a efeito através da junção de informações novas e antigas, possibilitando o surgimento de novas intuições e conclusões”.

Assim, os estudos apresentados demonstram que a operação inferencial é importantíssima para produção de sentidos do texto. Além de favorecer a organização das relações de significados dentro do texto, são as inferências que possibilitam o leitor a completar as lacunas deixadas no texto, isto é, tornar explícito o que se acha implícito, a partir de dados previamente existentes na memória do interlocutor, os quais são ativados e relacionados às informações veiculadas pelo texto (FERREIRA & DIAS, 2004).

2.4.5 Estratégia de resumo

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Para comprovar se o texto foi compreendido, o leitor pode acionar a estratégia de resumo, que consiste em expor sucintamente o que foi lido. Solé (1998) comenta que essa estratégia permite que o leitor avalie seu processo de leitura e ao mesmo tempo esclareça eventuais dúvidas sobre a leitura.

De acordo com a autora, a elaboração de resumos está ligada às estratégias que utilizamos para estabelecer o tema de um texto, identificar a ideia principal e seus detalhes secundários. Segundo Solé (1998, p.147) “o resumo exige a identificação das ideias principais e das relações que o leitor estabelece entre elas, de acordo com seus objetivos de leitura e conhecimentos prévios”.

Para a produção de resumos, mesmo que mentais, podemos nos valer de algumas regras. Solé (1998), para explicar como elas funcionam, apresenta os estudos de Van Dijk (1983) que descrevem quatro regras:

9 Omissão: exclusão de detalhes ou explicações do texto, quando esses não são relevantes para sua compreensão global, ou seja, facilmente inferíveis a partir de nosso conhecimento de mundo;

9 Seleção: eliminação de todos os elementos que exprimem detalhes óbvios e normais no contexto apresentado;

9 Generalização: substituição de alguns elementos por outros mais gerais;

9 Construção ou integração: substituição de um conjunto de orações por uma que a inclua, ou ainda, elabore uma nova informação que substitui a anterior.

As regras acima são apenas um exemplo de como o leitor pode proceder para verificar se tem o controle da compreensão do texto. A estratégia de resumo não é uma obrigação para o leitor, mas pode ser utilizada como uma “técnica” de correção de possíveis falhas no processo de leitura. Em outras palavras, se o leitor não for capaz de sintetizar o que foi lido, evidencia-se que pode ter ocorrido a falta de compreensão. Dessa forma, o leitor tem a possibilidade de retomar o texto e esclarecer possíveis dúvidas.

2.5 Algumas estratégias para o texto digital

Segundo Rouet & Levonen (1996), poucos são os estudos que envolvem os processos cognitivos da leitura de hipertexto. Para os autores é necessário que se

desenvolvam estudos empíricos que abordem os processos cognitivos e as estratégias acionadas durante a leitura digital.

No entanto, os autores tentam esboçar algumas estratégias para a leitura hipertextual. A primeira está ligada à construção do hipertexto, pois acreditam que, quando as representações hierárquicas são bem estabelecidas, podem ajudar o hiperleitor a acumular mapas mentais da estrutura hipertextual, ou seja, as dicas estruturais facilitam na navegação do hipertexto. A segunda está associada a ter um objetivo e saber diferenciar se o hipertexto é simples ou complexo e, por fim, apontam que a estratégia fundamental para uma leitura compreensiva é capacidade do hiperleitor em saber decidir para onde ir.

Outro pesquisador que também aborda estratégias de leitura para o hipertexto é Foltz (1996). Conforme o autor, as estratégias não só desempenham um papel importante na compreensão do texto impresso, mas também para a compreensão dos hipertextos.

Ao tratar das estratégias de leitura e compreensão para o hipertexto, Foltz (1996) relata que, em sua pesquisa realizada em 1992 com seis universitários, seu objetivo foi levantar as estratégias utilizadas para manter a coerência diante de um sistema hierárquico de hipertexto. O pesquisador observou que os leitores utilizam estratégias semelhantes a do texto impresso e verificou que: i) leitores com objetivos específicos encontram menos dificuldade na navegação e compreensão do hipertexto; ii) leitores que possuem conhecimento prévio sobre assunto encontram mais facilidade na leitura hipertextual; e iii) leitores que se atêm a parte da hierarquia do texto antes de avançar para outras partes estabelecem mais coerência na leitura hipertextual.

O pesquisador ressalta que as estratégias de leitura podem variar de acordo com os conhecimentos prévios do leitor e os objetivos. No entanto, chama atenção para a importância da elaboração da estrutura do hipertexto e alerta, que mesmo o leitor tendo a informação específica, porém sem o adequado antecedente contextual, essa informação pode ser inútil. Em outras palavras, para Foltz (1996), existe a necessidade de o hipertexto estar situado em um contexto apropriado, para que assim o leitor possa compreendê-lo.

De modo geral, vimos neste capítulo que a leitura é um processo bastante complexo que pressupõe a interação autor-texto-leitor, envolvendo a mobilização de um vasto conjunto de saberes e que o leitor para chegar à compreensão de um texto precisa se valer de estratégias. Desse modo, nossa proposta para o próximo capítulo, usando como escopo teórico os postulados apresentados até o momento, é levantar as estratégias utilizadas pelos hiperleitores na leitura do texto digital. Porém, antes disso apresentaremos a metodologia adotada em nossa pesquisa e, em seguida, os dados coletados.

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