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2.2 O GÊNERO ARTIGO DE OPINIÃO E O DISCURSO MIDIÁTICO

2.2.2 As estratégias do Posicionamento midiático dos fatos

O ato de se posicionar, de tecer comentários e avaliações sobre os fatos é um processo de discursivização existente deste a Antiguidade. O modo discursivo desenvolvido pela mídia apresenta-se ora em forma de relatos, ora em forma de comentários imbuídos de teor argumentativo que visam a avaliar, medir, a fim de ganhar a adesão do leitor a uma tomada de decisão contra ou a favor com relação às ideias propostas. O gênero textual que elegemos para o presente estudo, o artigo de opinião, por si mesmo dá indícios da atividade jornalística que priorizaremos para este trabalho de pesquisa: a atividade de argumentar. Neste contexto, convém ressaltar que entendemos a linguagem na perspectiva de Oswald Ducrot (1987) para quem a linguagem é intrinsecamente argumentativa.

Ducrot (op cit) sustenta que a argumentatividade está inscrita na própria língua; ou seja, a linguagem é constitutivamente argumentativa e o elemento informativo deriva deste aspecto da língua e não o contrário. Para este autor, a linguagem verbal é essencialmente enunciativa, cuja razão maior de sua utilização é a intenção sempre persuasiva dos locutores. Para ele, a argumentatividade engendrada no jogo enunciativo manifesta-se necessariamente em todo e qualquer enunciado proferido pelos sujeitos.

Como abordamos neste tópico as estratégias do ato de se posicionar, comentando os acontecimentos na mídia, retomamos as reflexões de Charaudeau (2015, p: 177, 178, 180) que elucida a mecânica argumentativa em torno do

acontecimento comentado. Segundo este autor, no ato de argumentar, o ator deve problematizar seu propósito, elucidar e avaliar seus diferentes aspectos: Na instância midiática, os atos de problematizar, elucidar e avaliar em torno do posicionamento do comentador dão-se da seguinte forma:

Problematizar

Nas mídias, a problematização pode ser apresentada de diferentes maneiras: através de uma pergunta; sob a forma de uma asserção negativa:” Nós não iremos a São Francisco “ (deve-se ir? E por que não ir?); sob a forma de dupla asserção apresentada como alternativa: “A Suíça: estranho modelo ou modelo estranho” (qual dos dois?); e sob uma asserção simples que incluiria uma opinião engajada ou uma apreciação orientada: “Adeus século XX!” (= será mesmo o fim do século?).

Elucidar

É esclarecer o que não se vê, o que está oculto, o que está latente, o que constitui as razões mais ou menos profundas do surgimento do fato (...) o papel do jornalista que tem o poder de elucidar, consistiria em descobrir a intenção dissimulada por trás das declarações e dos atos de tal ou qual político (...), o que tende a atribuir ao jornalista, dependendo do caso, uma imagem de detetive, de inquiridor, que aumenta a credibilidade. Esta atividade de elucidação se faz com o auxílio de diversos procedimentos: reconstituir uma sequência de fatos, seguindo relações de causa e consequência entre eles (...) Seu comentário apresenta-se como uma tradução simplificadora da complexidade dos fenômenos para torna-los acessíveis à massa. Outro procedimento seria raciocinar por analogia, isto é, apresentar explicações comparando o fato com outros similares (...) apresenta estudos de casos, ou seja, constrói hipóteses sobre desdobramentos possíveis que permitiriam prever a resolução dos fatos ou explicar suas causas.

Avaliar

Não há comentário sem que o sujeito informador expresse um ponto de vista pessoal. (...) Diz-se que as mídias não têm de tomar posição, que devem mostrar neutralidade, mas sabe-se que esta neutralidade é ilusória. Entretanto, há gêneros redacionais que se prestam mais ou menos a uma avaliação (...) É que o jornalista parte do princípio de que o consumidor de informação tem uma relação afetiva com esses tipos de acontecimento, esperando que o jornalista lhe dê razões para gozar ou detestar.

Como nossa pesquisa procura estudar os artigos de opinião publicados em duas grandes revistas de circulação nacional, consideramos relevante este destaque quanto à mecânica argumentativa do discurso da mídia tecido por Chauradeau (op. Cit). Estes acontecimentos vinculados ao ato de argumentar na esfera midiática revelam que o comentador tem consciência de que precisa tocar a afetividade do consumidor de informação para ter sua adesão e formar opiniões sobre os fatos, que

no nosso contexto de pesquisa, foram selecionados aqueles que tematizam o impeachment da Presidenta Dilma em 2016. Este pesquisador destaca o não compromisso com a neutralidade da mídia, o que corrobora com o que afirma Moita Lopes (2002), que todo discurso é ideológico. A mídia parece ser, de certo modo, decisiva para o desenvolvimento da sociedade, devido a sua grande influência nas instâncias sociais, visto que comumente se atribui ao discurso jornalístico o papel de arauta da verdade. Ainda corrobora Moita Lopes que a instância midiática é responsável por constituir imagens de lealdade, com a legitimação do poder; de protesto, para os cidadãos, e de denúncia, para a esfera midiática. Estas três instâncias (político, povo e mídia) representam os atores da cena política, sobretudo quando esta cena é midiatizada. Do acontecimento em estado bruto até o texto que nos é servido pela instância midiática, há os filtros construtores de sentido. Em outras palavras, esta mecânica argumentativa problematizada, elucidada e avaliada ratifica que o ato de comentar acontecimentos é uma atividade impregnada da inescapável subjetividade inerente a estas ações, principalmente à ação de avaliar, quando o articulista lança mão dos acontecimentos suscetíveis de tocar os cidadãos e reverbera sua intencionalidade discursiva. No presente estudo, iremos analisar como tudo isto acontece na linguagem no nível léxico-gramatical.

Por fim, convém destacar o que Chauradeau (2015, p. 270 – 276) apontou o que seria a responsabilidade das mídias, sabendo que este discurso circunscreve num quadro de ação e influência, e a responsabilidade do cidadão. A responsabilidade da mídia, segundo o autor, estaria na seleção dos acontecimentos, na identificação das fontes e na prática da citação. A instância midiática deixa entender que muitos atores da vida política procuram mascarar a verdade e que seu papel é desmascarar o que é mantido oculto, ou seja, um papel de denunciador. Ela tem o poder de transformar toda pessoa, entidade ou instituição em herói ou em vilão. Da responsabilidade do cidadão, estaria o ato de exigir dos atores da máquina midiática que tenham consciência do que fazem, para que as escolhas que operam os tornem responsáveis do que fazem, seria uma possibilidade de o cidadão ter um direito de monitoração. Este direito seria não aceitar a trapaça, não aceitá-la em nome dos índices de audiência, seria recusar cair na armadilha dos efeitos produzidos pela máquina de informar: efeitos de exagero, efeitos de dramatização,

descontextualização, e da essencialização. Em suma, as mídias contribuem para a construção das opiniões, com base na verdade dos fatos ou na verdade de opinião.

Na seção seguinte, serão detalhados os procedimentos metodológicos que seguimos para a execução da presente pesquisa.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANALÍTICOS

Para a composição desta seção, detalhamos como foram selecionados os artigos para a presente pesquisa e os periódicos que nos serviram de fonte de busca, ou seja, o universo da análise e a constituição do corpus. Em seguida, expomos as categorias de análise da tese e os procedimentos analíticos com base na vertente teórica de que nos servimos para responder os questionamentos aqui levantados. Para fins mais elucidativos, fecharemos este capítulo com uma ilustração da análise para que se possa ter mais clareza quanto à sistematização do presente estudo.

Vale destacar que este trabalho de pesquisa baseia-se na análise quantitativa e qualitativa dos dados, a fim de coletar os aspectos linguísticos capazes de testar as hipóteses que estipulamos para tal.