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2.1 A PERSPECTIVA FUNCIONAL DA LINGUAGEM NA LINGUÍSTICA

2.1.2 As Metafunções

2.1.2.2 Metafunção Textual

2.1.2.2.2 O Tema e sua diversidade conceitual

Com os estudos da dinâmica da sentença como evento comunicativo, denominado "perspectiva funcional da sentença", a noção de Tema foi articulada por Mathesius (1939) e desenvolvida por membros da Escola de Praga. Para este estudioso, o Tema é sinônimo de informação dada, o ponto de partida para a mensagem, o elemento que o falante seleciona para dar base ao que vai dizer ou escrever. Posteriormente, Halliday, na década de 60, incrementou esta noção de Tema ao modelo sistêmico-funcional. Como Halliday, (2004, p. 64), então, define o Tema? O elemento que serve como ponto de partida da mensagem; é o elemento que trata a oração, conforme definição dada acima. Este autor metaforiza o Tema como o prego em que se prende a mensagem, em referência a este elemento que atua como ponto de partida da mensagem. A leitura de Halliday quanto ao conceito de Tema diverge da acepção dos pesquisadores da Escola de Praga, uma vez que estes sobrepõem o conceito de Tema com o foco informacional, enquanto Halliday separa essas duas funções. Estes dois elementos, Tema e informação, representam dois sistemas distintos, com diferentes escolhas semânticas e distintos modos de realização.

Na visão adotada por Matthiessen (1995), o Tema serve como uma força que restringe o desenvolvimento da mensagem na oração, ao estabelecer um contexto local para que o leitor interprete a mensagem da oração. Davies (1988) também realiza estudos sobre o Tema e lhe atribui as seguintes funções: a identificação do tópico realizado pelo sujeito, o que para Halliday seria o Tema não-marcado, e elementos circunstanciais que antecedem o sujeito, o tema marcado. O Tema não- marcado para esta autora é obrigatório e atua na continuidade do tópico no texto. Já o Tema marcado é indicador de mudanças no discurso e é opcional. Ainda nas palavras da autora, os elementos na posição temática são selecionados pelo seu autor, conforme os papeis que se queiram atribuir a eles.

Outro estudioso que define o Tema, Fries (1994), realiza estudos sobre a estrutura temática. Este pesquisador afirma que no conteúdo do Rema concentra todo o objetivo do texto, assim como o tema é, para ele, o orientador da mensagem comunicada pela oração. A asserção do autor é que a informação necessária para a

preensão do leitor encontra-se no Rema, ou seja, no Rema é que se concentra a essência do conteúdo informativo e enfático. Tal conteúdo pode ser encontrado também no Tema, porém com menos incidência. Este estudioso segue a linha defendida por alguns sistemicistas, segundo a qual o Tema é incluído como tudo aquilo que precede o verbo da oração. Ainda segundo Fries (op cit), os Temas apresentados nas orações de um parágrafo são responsáveis pelo método de desenvolvimento do texto, ou seja, o conteúdo lexical dos termos em posição temática.

Alguns pesquisadores têm encontrado dificuldades quanto à interpretação da proposta caracterizadora de Halliday com relação ao Tema como o pico de proeminência em inícios de cláusulas. Ninomiya (2012, p. 47) aponta alguns pontos de divergência:

a) a proposta de Halliday é criticada por Downing (1991), Gómes González (2000), Guijarro e Zamorano (2009), já que ele coloca em aposição, como se explicitasse o outro, dois critérios diferentes: o primeiro, de caráter sintático (primeira posição na oração), e o segundo de caráter semântico (aquilo de que trata a oração);

b) Downing, (1991, p. 124) mostra que há muitos elementos iniciais que não estão nem remotamente ligados àquilo a que a oração diz respeito. c) para Halliday, apenas os Temas ideacionais são referenciais e podem receber o status de topical. Entretanto, há uma vasta classe de elementos ideacionais (adverbiais, construções existenciais, atributos prepostos, formas verbais) que podem ser colocados em posição inicial sem desempenhar uma função topical. (DOWNING 1991).

d) Guijarro e Zamorano (2009) mostram que não é possível estabelecer sempre uma correlação automática entre o tópico (de que trata a oração) com o primeiro elemento ideacional da oração, e oferecem como exemplo o texto da História de Babar: "Na grande floresta [Tema], um pequeno elefante [tópico] nasceu", cujo Tema é realizado por um componente adverbial que não veicula informação topical, tendo como única função especificar a moldura espacial dentro da qual a interação comunicativa acontece.

Esta pesquisadora esclarece que os pontos de discordância devem-se a alguns quesitos:

a) noção de tópico, visto que o tópico é uma categoria discursiva, cognitiva e contextualmente referencial. Difere-se do Tema por ser restrito a constituintes com tratamento especial formal.

b) posição inicial, Fetzer (2008), afirma que a posição inicial pode introduzir algo de acordo com a linha de argumentação conduzida, ou se pretende introduzir uma linha diferente de argumentação. Logo, os tópicos de sentença precisam apresentar coerência com os tópicos de discurso. A este respeito, Halliday (2004) enfatiza que a primeira posição não é definição de Tema, mas apenas como ele se realiza na oração da língua inglesa. O Tema é de configuração estrutural, que organiza a oração como uma mensagem; logo, a escolha do Tema é responsável por parte do significado de qualquer oração. Assim, a acepção de Tema que adotamos na presente pesquisa utiliza-se das referenciais da Gramática Sistêmico Funcional e dos estudos hallidayanos, como o elemento que o falante seleciona para dar base ao que vai dizer, para indicar a progressão de uma informação geral para uma particular, ou mesmo de uma particular para uma geral. Como é possível também que o falante queira apresentar como dado o que é novo por questões retóricas.

Segundo Martin (1992, apud Ninomiya 2012, p. 51), ainda há necessidade de mais estudos sobre o Tema, para que se possam contrastar as estratégias discursivas de cada língua e chegar a um tipo de constantes contextuais, antes que se possa fazer, em larga escala, generalizações através das línguas. A autora acrescenta que há grande complexidade interna das línguas, e por isto, sugere que classificá-las apenas pela ordem básica das palavras, ou pela ordem básica do tópico, simplificaria bastante os problemas de tipologias das línguas.