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3.2 AS ETAPAS CONSTITUINTES E A APLICAÇÃO NESTE TRABALHO

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ACERCA DE ANÁLISE DE IMPACTO REGULATÓRIO

3.2 AS ETAPAS CONSTITUINTES E A APLICAÇÃO NESTE TRABALHO

Referências nacionais e internacionais especificam algumas fases e requisitos necessários para o processo de AIR.

Entre as etapas, destaca-se a fase de coleta de dados. A análise depende de dados que a suportem. Para tornar os dados confiáveis, é necessário elaborar hipóteses que devem ser embasadas e submetidas ao debate com agentes envolvidos. A consulta pública é um instrumento importante para que os dados e hipóteses sejam criticados e para que o processo seja amadurecido e o resultado torne-se mais robusto. A fase de coleta de dados pode ser a etapa mais cara e que demande mais tempo na execução da AIR (OCDE, 2008; PRO-REG, 2010; Aneel, 2011).

Com base em uma adaptação das três referências citadas no parágrafo anterior, tem-se a Tabela 3.1, que descreve uma compilação das etapas para realização de uma AIR e marca a relação com o objeto deste trabalho.

Tabela 3.1 - As etapas de uma AIR e a relação com o objeto deste trabalho.

Etapa da AIR Descrição Relação com o objeto deste trabalho

1 - Definição do Problema

Na primeira etapa são essenciais a contextualização e a exposição da razão pela qual deve existir intervenção do governo ou do regulador. Trata-se da identificação do problema que se quer solucionar.

A origem do problema deve ser apontada e, em geral, está associada à:

 Falha de mercado, em especial em monopólios ou ambientes com competição prejudicada;

 Necessidade de uma medida de proteção do consumidor ou da sociedade;

 Distorção ou irregularidade verificada na prática de uma atividade; ou

 Impossibilidade de obtenção de lucros e ganhos legítimos.

A primeira etapa da AIR inclui menção sobre os grupos potencialmente afetados pela norma.

Os altos índices de perdas não técnicas estão entre os principais problemas no setor elétrico brasileiro. Além de causar prejuízos às distribuidoras, essas perdas impactam a tarifa dos consumidores. Em 2012, os prejuízos com perdas não técnicas foram da ordem de R$ 10 bilhões, conforme detalhado no Apêndice C. Outro ponto negativo no setor é a piora dos índices de continuidade verificados nos últimos anos. Como se trata de um serviço essencial, as interrupções no fornecimento de energia elétrica impactam toda a sociedade.

Os dois itens citados são os principais problemas, mas ainda existem outros tipos de ineficiências que podem ser reduzidas, propiciando mais informações e direitos aos consumidores, eficiência energética e operacional, redução de custos e melhoria do serviço no sentido amplo.

Em um ambiente monopolista e com ausência de ações do governo/regulador, os problemas não são combatidos da forma mais eficiente e podem ainda se intensificar, o que justifica a intervenção.

2 - Levantamento

dos objetivos

Essa etapa está diretamente relacionada à anterior e os objetivos da norma devem apontar soluções para resolver o problema. Com isso, a análise de impacto deve indicar qual é o escopo que se pretende alcançar com a intervenção.

Um objetivo inicial desta AIR é identificar o grau adequado e necessário de intervenção no processo de atualização e inserção de novas tecnologias no setor elétrico. Busca-se disciplinar, induzir e criar meios para que os problemas identificados sejam reduzidos. Assim, o objetivo final é o alcance de diversos benefícios:

 Eficiência e consequentes lucros legítimos para as empresas do setor elétrico;

 Compartilhamento de ganhos econômicos para fins de modicidade tarifária;

 Melhoria do serviço prestado aos usuários;

 Externalidades positivas e vantagens à sociedade e ao meio ambiente; e

 Desenvolvimento da atividade econômica do país.

3 - Identificação

das Opções

A elaboração de cenários é uma etapa essencial. A quantidade de alternativas depende do tipo e da complexidade do problema a ser resolvido.

Deve-se avaliar a “não intervenção”, que constitui o cenário conhecido como “não fazer nada” ou “Bussines as Usual

– BaU”. Trata-se da elaboração de uma

referência para definição do problema e para medir e comparar os impactos com os demais cenários.

Para a implantação de redes inteligentes no Brasil, são avaliados seis cenários que variam o grau de penetração de infraestrutura de medição (e proporcionalmente de automação, de telecomunicações e de TI) e o grau de instalação de IHDs.

O Apêndice C ilustra o Cenário Zero (BaU). O Capítulo 4 apresenta a caracterização dos seis cenários de implantação e a Tabela 4.1 compila as informações relacionadas aos cenários.

4 - Análise de Impacto

A partir dos dados coletados e das hipóteses construídas, a análise de impacto deve ser realizada sobre todos os cenários elencados. Nessa etapa devem ser quantificados os impactos da intervenção.

O órgão que propõe a norma deve lançar mão das metodologias de AIR existentes. Conforme já destacado, a análise custo-benefício é recomendada e é uma das mais conhecidas e utilizadas. Nesse contexto, deve-se quantificar e monetizar custos e benefícios até onde seja possível.

Os impactos (positivos e negativos) da proposta de redes inteligentes são exibidos em valores monetários (R$). São consideradas as características dos cenários e a realidade do setor elétrico brasileiro. É realizada uma análise custo-benefício.

Também são listados custos e benefícios não contabilizados (itens qualitativos ou itens passíveis de quantificação, mas que envolvem incertezas ou externalidades).

Os materiais e métodos da Análise de Impacto são apresentados no Capítulo 4.

5 - Consulta ou Audiência

Pública

Trata-se de uma fase relevante. Não deve ser encarada como um passo burocrático e não deve ser exclusivamente uma ferramenta de legitimação para a deliberação final. A Consulta/Audiência é útil para a AIR no sentindo de verificar os dados e hipóteses. Trata-se ainda de uma etapa de subsídio para análise e é oportunidade para coletar novas informações que serão utilizadas na estimativa dos efeitos da norma. Essa etapa influencia positivamente a qualidade dos resultados.

Para o programa de redes inteligentes, essa fase de debate e coleta de novas informações pode ser instaurada pela Aneel, pelo MME ou até mesmo pelo Congresso Nacional.

Não é possível realizar essa etapa neste trabalho acadêmico.

Para a estimativa dos parâmetros, dos custos e dos benefícios, utilizou-se um conjunto de valores e dados do Brasil e de diversos outros países, conforme Apêndices A e B.

Complementarmente, para o custo do medidor, foi realizada uma pesquisa de preços simplificada com alguns fabricantes brasileiros. O Capítulo 4 apresenta as informações consideradas e o Item 4.2 traz comentários sobre a forma de obtenção desses dados.

6 - Conclusões e

resultados

Os resultados da AIR devem mostrar qual o melhor cenário (opção que maximiza os ganhos líquidos para a sociedade). Trata-se da indicação de qual opção atinge, de maneira mais efetiva, os objetivos para a solução do problema identificado. Essa etapa é indicação essencial para o tomador da decisão.

Para todos os cenários, os resultados do trabalho apresentam as quantidades de equipamentos envolvidas na implantação e os valores monetários associados.

O Capítulo 5 mostra as conclusões e um detalhamento para o melhor cenário, sendo que o Apêndice D ilustra os resultados dos demais cenários. 7 - Implantação, monitoramento e fiscalização Posteriormente à edição do regulamento, devem existir mecanismos relacionados à implantação e ao monitoramento da opção escolhida. A finalidade do acompanhamento é verificar o grau de alcance dos objetivos e identificar eventuais problemas que podem surgir com a aplicação da norma. Os efeitos causados pela implantação podem implicar em revisões nas regras, com redução de obrigações, mudanças na abrangência ou ações de incentivo ou punição. A partir dos resultados verificados na prática, novas análises custo-benefício podem ser realizadas.

Como se trata de uma fase posterior à publicação da norma, ainda não é possível a realização.

Caso realmente exista uma determinação para implantação em massa de redes inteligentes, a Etapa 7 pode ser objeto de trabalho futuro, utilizando-se das informações e conclusões apresentadas nesta tese.