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4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.9 CUSTOS NÃO CONTABILIZADOS NA AIR

Os itens a seguir mostram um detalhamento sobre custos não contabilizados na análise.

O espectro de radiofrequências é um recurso limitado, constituindo-se em bem público administrado pela Agência Nacional de Telecomunicações - Anatel, que mantém plano com a atribuição, distribuição e destinação de faixas de frequências.

A Lei nº 9.472/1997 - Lei Geral das Telecomunicações - estabelece que as faixas de frequência destinadas aos serviços de telecomunicações a serem prestados em regime público são passíveis de edital público de licitação, na modalidade leilão. As demais faixas, incluindo serviços de telecomunicações a serem prestados em regime privado, são autorizadas a título oneroso, apenas com a cobrança das taxas aplicáveis (Brasil, 1997).

No âmbito das redes inteligentes, as atividades de telecomunicações devem ser prestadas em Serviço em Regime Privado de Interesse Restrito. Nesse caso, não é necessária licitação para obtenção de autorização102 e a Anatel define os preços a serem pagos pela exploração dos serviços e pelo uso das radiofrequências associadas (Abradee, 2011c).

Nesse contexto, para as atividades de redes inteligentes, são três os conjuntos de taxas e preços devidos pelo uso de radiofrequências e exploração do Serviço de Rede Privado:

 Fundo de Fiscalização das Telecomunicações - Fistel; o Taxa de Fiscalização de Instalação - TFI; o Taxa de Fiscalização de Funcionamento - TFF.

 Preço Público pelo Direito de Uso de Radiofrequência - PPDUR; e

102 A licitação para obtenção de autorização de uso de radiofrequência é realizada pela Anatel quando o número de entidades interessadas em utilizar o mesmo segmento do espectro supera a capacidade, o que não se aplica normalmente às faixas de frequência destinadas ao serviço limitado privado (Abradee, 2011c). 4.9.1 - Taxas e preços por uso do espectro (telecomunicações)

 Preço Público pelo Direito de Exploração de Serviço de Telecomunicações - PPDEST.

Esse tema foi objeto de estudo no Projeto de P&D Estratégico sobre o Programa Brasileiro de Rede Elétrica Inteligente conduzido pela Abradee. A Tabela 4.19 foi retirada desse estudo e apresenta as taxas e preços por uso do espectro (Abradee, 2011c).

Tabela 4.19 - Taxas e preços por uso do espectro no âmbito de redes inteligentes (Abradee, 2011c).

Taxa; Preço Valor Aplicação Observação

TFI

R$ 134,08 (Base ou Repetidora) R$ 26,83 (Fixa) R$ 26,83 (Móvel ou Portável)

Por estação licenciada, uma única vez no ato da autorização do uso da

frequência.

Será cobrada nova TFI a cada alteração das condições técnicas de

qualquer estação.

TFF 50% da TFI

Por estação licenciada, anualmente, no primeiro trimestre. A TFF é cobrada no ano seguinte ao início da operação. PPDUR R$ 400,00

Por estação licenciada, uma única vez durante a vigência da licença (10 anos), no ato da

autorização do uso da frequência.

Os valores são obtidos através de um equacionamento complexo constante da Resolução Anatel nº 387/2004 e depende das condições de uso do espectro. O valor de R$ 400,00 é estimado. PPDEST R$ 400,00

Uma única vez no ato da autorização para a prestação

do serviço.

Pela análise da Tabela 4.19 e pelas conclusões do estudo da Abradee, além do preço público pela autorização, é necessário o pagamento para licenciamento das estações, valor que varia de acordo com diferentes fatores (frequência de operação, largura de faixa, área de atendimento, período de atendimento, local, entre outros). Com isso, dependendo das condições, esse preço pode ser extremamente alto (Abradee, 2011c).

Ainda no âmbito do projeto conduzido pela Abradee foi montado um exemplo com uma cidade hipotética com 100 mil UCs, cujos medidores são telecomandados por meio de 2000 concentradores em uma rede NAN e rede Backhaul. Neste exemplo, a partir dos gastos com TFI, TFF, PPDUR e PPDEST (cujos valores foram baseados na Tabela 4.19), o dispêndio total seria de R$ 4,82 milhões como valor de entrada, acrescidos de R$ 1,61 milhões por ano. A Figura 4.24 ilustra essa estimativa (Abradee, 2011d).

Figura 4.24 - Projeções de gastos com taxas e preços por uso do espectro em uma cidade com cem mil unidades consumidoras (Abradee, 2011d).

Apesar de já estarem regulamentadas e de serem cobrados em outros ramos com aplicações de serviços de telecomunicações, esses valores não são arrecadados no setor elétrico brasileiro, pois ainda não existem aplicações difundidas de redes inteligentes (“não há mercado”). Assim, há um pleito no setor elétrico para que essas taxas e preços não sejam cobrados, ou que exista uma mudança nos valores. As distribuidoras argumentam que a regulamentação foi baseada em uma realidade distinta e que cada unidade consumidora não deveria ser considerada uma estação. O pleito também se baseia no fato de ser uma cobraça que não existe atualmente (“não há mercado”) e, com isso, não acarretariam prejuízos de arrecadação advindos de uma desoneração (não seria uma receita que deixaria de existir, mas apenas uma arrecadação que poderia ocorrer e não ocorrerá em prol da melhoria de um serviço essencial – distribuição de energia elétrica).

Esses gastos não foram considerados nesta AIR, baseado no fato de que uma desoneração é necessária e pode ocorrer, conforme mencionado no parágrafo anterior. Complementarmente, as taxas e preços não são cobrados em todos os tipos de telecomunicação passíveis de utilização no contexto de redes inteligentes. Nas análises custo-benefício conduzidas pela Aneel e pela Abradee, esses gastos também não foram considerados.

Entre os custos não contabilizados nesta análise, esse é considerado o mais relevante e seria o único capaz de levar a alterações nos resultados finais. A partir do exemplo da Figura 4.24 e considerando um montante de 124,7 milhões de medidores (Grau Avançado), os custos com taxas e preços por uso do espectro poderiam atingir R$ 8 bilhões em valores correntes (valores totais).

Esse custo se refere à eventual adequação do padrão de entrada das unidades consumidoras, notadamente em caixas/quadros/painéis de medição, pontaletes, isoladores e disjuntores. Em alguns casos, até mesmo reformas e obras civis poderiam ser necessárias nas UCs.

Apesar de não ter sido citada expressamente em outras análises custo-benefício, essa necessidade de adequação foi verificada em alguns dos pilotos conduzidos no Brasil, em especial nos projetos Sete Lagoas/Cemig e Parintins/Eletrobras103, conforme Tabela A.16 e Tabela A.22 do Apêndice A.

O presente trabalho não contabiliza esses gastos, pois as adequações não são necessárias em todas as UCs. Além disso, em muitas unidades onde mudanças são necessárias, essa já seria a realidade existente e a adequação não seria decorrente da implantação de redes inteligentes. Para aquelas onde seria preciso algum tipo de adaptação, existem incertezas nas estimativas, pois os custos não seriam uniformes em todas as UCs.

Existe um gasto para retirada dos medidores eletromecânicos que não estavam totalmente depreciados no início do tempo de análise (mesmo ainda com vida útil remanescente, esses

103 No levantamento de campo realizado pela Eletrobras no Projeto de Parintins, 73% das caixas de medição foram enquadradas no estado “Bom” e o restante foi classificado nas condições “Substituir” (25%); “Sem Tampa” (2%); “Em Madeira/Padrão antigo” (menos de 1%). Para o conjunto Poste/Pontalete/Isolador, novamente 73% foram enquadrados no estado “Bom” e o restante foi classificado nas condições “Substituir” (15%); e “Partido/Emendado” (11%). Com relação à Chave/Disjuntor, 80% foram enquadrados no estado “Bom” e os restante classificado como “Substituir” (20%) (Eletrobras, 2011).

4.9.2 - Adequação de caixas de medição e necessidade de obras civis

medidores eletromecânicos serão trocados em razão da implantação do programa de redes inteligentes). Esse gasto é denominado custo do abate.

Esse item não foi considerado relevante em outras experiências, já que poucas análises o consideraram expressamente. No Reino Unido, considerou-se apenas custo de £ 1,00 por medidor (DECC, 2012). A análise em Portugal considera que existem gastos decorrentes da substituição antecipada de medidores convencionais e o resultado final é muito pouco significativo (Erse, 2012).

Nesta análise, optou-se por não considerar esse gasto, uma vez que há incerteza na valoração e esse seria um custo pequeno quando comparado com os custos de redes inteligentes.

Um ponto que deve ser analisado diz respeito a qual seria a destinação e quais seriam as soluções para o descarte dos medidores eletromecânicos retirados de campo.

Esse tema foi alvo de questionamento realizado pela Aneel na Consulta Pública nº 15/2009, instaurada com objetivo de obter subsídios e informações para implantação da medição eletrônica em baixa tensão. Segundo o documento da Aneel que compilou as respostas e contribuições recebidas na referida Consulta, fabricantes e distribuidoras manifestaram soluções simples e viáveis para a questão do descarte de equipamentos, de modo que essa “não seria uma etapa crítica” (Aneel, 2009).

Os fabricantes manifestaram interesse em montar uma logística reversa, com uma empresa especializada em receber os ativos e dar destinação final. A Abinee pontuou que os descartes são fáceis, já que todas as partes dos medidores eletromecânicos são recicláveis. Segundo a Associação, para o descarte dos medidores eletromecânicos “já existe uma

empresa de logística reversa (recolhimento e destinação final) contatada”. Ressaltou ainda

que “essa mesma empresa facilmente interessar-se-á pelo recolhimento dos medidores

eletrônicos”. Complementarmente, outras contribuições citaram a possibilidade de revenda

dos equipamentos para países que permanecem utilizando a medição eletromecânica. A Abradee, por exemplo, ressaltou que “mesmo que o Brasil deixe de utilizar medidores

eletromecânicos, existe um grande mercado externo que ainda utilizará estes equipamentos”. Já a Ampla pontuou que os medidores descartados são sucateados e suas

partes já são vendidas a uma empresa de reciclagem (Aneel, 2009).

Ou seja, o descarte de medidores eletromecânicos poderia ser considerado até mesmo um benefício, uma vez que poderia ser obtido algum valor monetário com a venda do equipamento retirado de campo.

Apesar de terem considerado valor nulo, as análises conduzidas em Portugal (Erse, 2012) e na Holanda (SenterNovem, 2005) mencionam que pode existir algum valor residual dos medidores convencionais substituídos antes do final da sua vida útil.

Assim, considerando que pode existir mercado em outros países e que os componentes (ferro, alumínio, cobre e vidro) são recicláveis e possuem valor de mercado, esta AIR não contabilizou valor relacionado ao descarte dos medidores eletromecânicos.

Em alguns casos, há a necessidade de nova instalação de medidores ou outros equipamentos para resolver problemas técnicos ocorridos durante o processo de implantação (taxa de reinstalação). Também existem casos em que o equipamento deve ser trocado após certo tempo em campo, mesmo antes do fim da vida útil (taxa de falha). De toda forma, com o atual estado da arte e o avanço tecnológico, essas taxas tendem a cair cada vez mais.

Entre as experiências pesquisadas esses problemas não foram apontados como críticos. No caso da análise conduzida na Irlanda , considerou-se uma taxa de reinstalação de 3% a 5%, mas não foram citados problemas com taxa de falhas (CER, 2011a).

Se por um lado a implantação de leituras remotas traz redução de custos operacionais, por outro pode gerar um impacto social decorrente do fim das atividades realizadas pelos leituristas.

4.9.5 - Taxa de reinstalação e taxa de falha

Caso não sejam realizadas capacitação e realocação desses empregados, pode se chegar a situação onde os leituristas seriam despedidos. A modernização, automação e otimização dos serviços tendem a extinguir empregos de baixa qualificação. Essa é uma situação que ocorre em vários setores, com exemplos nos diversos segmentos da indústria e na prestação de serviços. Na agricultura, esse tipo de situação aconteceu, por exemplo, na colheita de café e cana de açúcar, onde já existe processo mecânico automatizado. No setor de telecomunicações, o avanço nas tecnologias também exigiu dos trabalhadores capacitação e realocação para conservação dos empregos.

Nesta análise, optou-se por não considerar esse gasto, uma vez que há incerteza na valoração. Além disso, conforme será discutido posteriormente no Item 4.10.14, um programa de redes inteligentes pode impulsionar o desenvolvimento da atividade econômica no país e, inclusive, criar empregos e incentivar a mão de obra especializada.

Algumas análises internacionais consideram o tempo despendido pelos consumidores com a instalação de medidores e com o aprendizado de novas tarifas e faturas, conforme mostra a Tabela B.21 do Apêndice B. Em geral, esse custo é valorado pelo salário médio por hora.

Esta AIR não contabilizou custo de oportunidade do tempo dos consumidores, em função do valor de salário praticado no Brasil ser relativamente inferior a outras referências internacionais, conforme discutido anteriormente e mostrado na Figura 4.20. Complementarmente, a estimativa desse custo envolveria alta incerteza.