2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ACERCA DE REDES INTELIGENTES
2.3 AS FUNCIONALIDADES E A APLICAÇÃO NESTE TRABALHO
Conforme já destacado, redes inteligentes pressupõem que as tecnologias operem de forma coordenada e otimizada. Nesse contexto, a análise conduzida neste trabalho considera conjuntamente custos e benefícios decorrentes de medidores eletrônicos, In Home Displays – IHDs, telecomunicações, automação e tecnologia da informação.
Em decorrência de uma determinação regulatória, o Sistema de Informações Geográficas - SIG já está implantado no segmento de distribuição de energia elétrica. Essa determinação de implantação decorreu de uma imposição da Aneel, que foi motivada pelo fato de que a Agência pode ter acesso a esse sistema e, consequentemente, reduzir a assimetria de informações com as distribuidoras, o que facilita as ações de regulação e fiscalização. Ademais, outra motivação da Agência foi uniformizar a implantação de uma ferramenta eficiente para as distribuidoras nos processos de gerenciamento comercial, operação de redes, gestão de ativos e controle patrimonial. Como o SIG já está implantado, os gastos já foram alocados. Por outro lado, os benefícios são potencializados com a integração das demais tecnologias de redes inteligentes. No âmbito da AIR realizada neste trabalho, o SIG não é mencionado expressamente, mas esse sistema ajuda a justificar e legitimar os benefícios contabilizados.
Para microgeração e minigeração distribuída, a opção pela implantação é do consumidor. Assim, também não são contabilizados os custos com implantação de geração distribuída. Contudo, como esta análise contempla gastos com medição, telecomunicações e Tecnologia de Informação - TI, a implantação de geração de pequeno porte é facilitada e também ajuda a validar benefícios, tais como redução da geração centralizada, de perdas técnicas e de emissão de CO2.
O medidor funciona como a balança, a caixa registradora e os olhos das distribuidoras. Desempenham um papel importante em quase todos os aspectos do serviço de distribuição: além de tomar parte do faturamento e das ações de mercado, são equipamentos que podem atuar também na operação e no planejamento do sistema. Medidores de energia elétrica que utilizam comunicação bidirecional para atuação remota, para coleta de dados e para
fornecimento de informações aos consumidores e distribuidoras são chamados de medidores inteligentes6.
Com objetivo de adotar o amplo conceito de redes inteligentes, a análise de impacto regulatório realizada neste trabalho considera um único modelo de medidor com um rol completo de funcionalidades:
Medição de energia ativa e reativa;
Capacidade de aplicação de tarifas horárias;
Demanda programável;
Possibilidade de faturamento em pré-pagamento ou pós-pagamento eletrônico;
Inversão de fluxo (geração distribuída);
Registro de eventos e apuração de indicadores de continuidade e conformidade;
Medição de neutro, sensor de abertura da tampa e alertas anti-fraude;
Corte e religamento remoto;
Mostrador LCD parametrizável e display com seis dígitos;
Saídas ou entradas de pulsos (ou saída serial) e porta ótica de comunicação local; e
Comunicação remota bidirecional.
A Figura 2.2 ilustra exemplos de medidores inteligentes.
Figura 2.2 - Exemplos de medidores inteligentes7.
6 Leituras recomendadas sobre medição inteligente: guia para países da União Europeia (Kema, 2012a); e dissertação de mestrado sobre implantação de medição eletrônica em baixa tensão (Lamin, 2009).
7 Fonte: https://www.google.com.br/search?q=smart+meters&tbm=isch&tbo=u&source (acesso em 8/5/2013).
Uma das vantagens das redes inteligentes é fornecer ao consumidor mais informações. Nesse contexto, os IHDs são mostradores (telas) instalados no interior das unidades consumidoras, que disponibilizam dados mais detalhados e precisos ao consumidor (dados sobre consumo, demanda, tarifas vigentes, dispêndios totais, além de avisos e outras informações sobre o serviço). Proporcionam um melhor acompanhamento e tomada de decisão sobre o hábito de consumo8.
In Home Display (ou In House Display) também é conhecido como Portal, Energy Management System - EMS ou simplesmente Display. A Figura 2.3 ilustra exemplos desse
equipamento.
Figura 2.3 - Exemplos de In Home Displays - IHDs9.
8
Algumas informações, funcionalidades e modelos de IHDs estão disponíveis na seguinte página eletrônica:
www.in-home-displays.co.uk/ (acesso em 8/5/2013).
9 Fonte: https://www.google.com.br/search?q="In+Home+Displays"&hl=pt-BR&tbm=isch&tbo=u&source (acesso em 8/5/2013).
A implantação de sistemas de telecomunicações possibilita um ambiente realmente inteligente. A partir dessa implantação, há a viabilização da automatização da distribuição e o medidor configura-se em um portal entre a distribuidora e o consumidor10.
De um modo geral, a infraestrutura de telecomunicações pode ser dividida de acordo com a abrangência sobre a cadeia medidor-concentrador-distribuidora (modificado - Light, 2012):
Home Area Network (HAN): rede de comunicação entre o medidor e os dispositivos internos à unidade consumidora. Trata-se da rede usada para automação doméstica (smart home) que oferece conexão para eletrodomésticos, computadores e outros tipos de medições, tais como gás e água. As tecnologias geralmente empregadas são Zigbee e PLC. Pode ainda existir rede de menor abrangência - Personal Area Network (PAN) - que está associada a um indivíduo e seus próprios dispositivos, viabilizada por tecnologias de curtíssima distância tais como Bluetooth ou wi-fi.
Neighborhood Area Network (NAN) ou Local Area Network (LAN): rede de comunicação entre o medidor e os equipamentos/pontos de centralização de dados (concentradores), com abrangência sobre várias unidades consumidoras, um quarteirão ou um bairro. É chamada rede de acesso e as tecnologias geralmente empregadas são Zigbee, PLC, Wimax, Mesh, ADSL11, Rádio Frequência - RF.
Wide Area Network (WAN): rede de comunicação formada entre os concentradores e o centro de medição/operação da distribuidora. É chamada rede Backbone e abrange grandes distâncias e as tecnologias geralmente empregadas são GSM12, GPRS13, ADSL e até satélites. Entre a NAN e a WAN pode ainda existir uma rede intermediária, chamada de rede Region Area Network (RAN) ou Backhaul, com
10 Leituras recomendadas acerca de telecomunicações no âmbito de redes inteligentes: relatório do P&D Estratégico (Abradee, 2011c) e handbook sobre o programa de redes inteligentes da Light (Light, 2012).
11 Asymmetric Digital Subscriber Line – ADSL (Rede Signatária Digital Assimétrica).
12 Global System for Mobile Communications - GSM (Sistema Global para Comunicações Móveis).
13 General Packet Radio Service - GPRS (Serviço Geral de Pacotes por Rádio).
interligação dos concentradores a pontos mais amplos, tais como subestações. Na RAN, as tecnologias geralmente empregadas são Wimax, Mesh e fibras óticas.
A Figura 2.4 ilustra um diagrama representativo para a estrutura de telecomunicações.
Figura 2.4 - Diagrama esquemático com a estrutura de telecomunicações.
As referências pesquisadas são unânimes em afirmar a importância dos sistemas de telecomunicações para as redes inteligentes. Sem a aplicação desses sistemas, os ganhos com redução de custos operacionais não poderiam ser contabilizados. Além disso, quase todos os demais benefícios considerados nesta AIR teriam estimativas menores. Ou seja, a aplicação de sistemas de telecomunicações permite potencializar benefícios.
A automação da rede de distribuição possibilita atuações remotas, restauração automática, remanejamento de cargas e reconfiguração de circuitos sem a necessidade de atuação humana, diminuindo a abrangência das interrupções e eliminando falhas (conceito denominado self healing – autorrestabelecimento ou “autocura”). Equipamentos de
automação ainda possibilitam vantagens aos operadores, aumentando as ações remotas de supervisão, comando, controle e execução em instalações de distribuição14.
A automação justifica-se pela necessidade de redução da duração e da frequência das interrupções e a melhoria na qualidade serviço é o principal benefício. Com o melhor monitoramento e o maior controle das faltas e das operações de religação e reconfiguração, também existem ganhos com diminuição do estresse e de avarias em transformadores e outros equipamentos do sistema, além da redução de queimas de equipamentos eletroeletrônicos de consumidores. Os deslocamentos e as atividades operacionais de equipes de campo também podem ser otimizados e reduzidos.
Além do controle dos novos equipamentos de medição, de telecomunicações e de automação, sistemas de informática amplos e atuais são necessários para gestão e armazenamento de todos os dados no contexto das redes inteligentes. Assim, gastos com hardwares e softwares devem ser previstos e considerados15.
Sem a aplicação de TI, todas as categorias de benefícios consideradas nesta AIR teriam estimativas menores. Em alguns casos, não seria possível nenhum tipo de ganho. Ou seja, o emprego de sistemas de TI viabiliza benefícios. As referências pesquisadas são unânimes em afirmar a importância dos sistemas de TI para as redes inteligentes.