• Nenhum resultado encontrado

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1. Descrição do perfil das famílias

3.1.2 As famílias com filhos adolescentes

No grupo das famílias entrevistadas observou-se que as pessoas mantêm uma relação positiva, boa comunicação e envolvimento afetivo. Denota-se que todas as famílias do presente estudo estão vivenciando no seu ciclo de vida a fase da adolescência, porém quatro das famílias também se encontram na fase dos filhos pequenos.

Apenas em uma das famílias (10-F) foi identificada a ocorrência, atualmente, de problemas intrafamiliares, devido ao alcoolismo parental. Além disso, o aluno passou por transição de uma escola rural para o contexto urbano. Nesse processo, houve trocas de professoras, o que comprometeu sua aprendizagem.

Em outra família (11-F), a adolescente passou por situação semelhante em relação ao alcoolismo do pai; mas, atualmente, essa é uma questão superada pela família.

Em dois outros casos de alunas com bom desempenho escolar, os pais queixaram-se que as filhas têm tido alterações nos estudos, após entrarem na fase da adolescência. Um deles relatou que a filha está mais lenta (4-F). O outro relatou que a filha (8-F) apresentou uma nota baixa em uma disciplina, e o pai associou o fato à fase que estão. Ele relatou a distração da adolescente, sendo essa uma dificuldade apontada por alguns pais em relação aos filhos.

Outro problema ocorrido entre quatro alunos é a desmotivação nos estudos. Entretanto, não foi possível confirmar se possivelmente seja em razão da etapa do ciclo de vida na qual estão inseridos, ou se devido à oscilação de humor que alguns vivenciam nessa fase, ou, ainda, se outros fatores relacionados às suas condições de vida foram relevantes para o aparecimento do desinteresse. Nota-se que, sete dos alunos expressa motivação sobre seu desempenho escolar e possui perspectiva de crescimento pessoal.

De fato, conforme já assinalado anteriormente, esses adolescentes enfrentam muitos obstáculos para permanecerem na escola, que podem ser decisivos como fatores que influenciam no desempenho escolar.

Dois dos pais (7-F, 9-F) assinalaram que as filhas estão tendo mais maturidade após a entrada na adolescência, em relação às suas atitudes. Então, não houve reclamação desses pais sobre rebeldia ou impulsividade dos filhos, características da fase em que se encontram.

Autores como Papalia e Feldman, (2013) sugerem que muitas vezes a adolescência é vivenciada como um período de problemas com os membros familiares, ou de desordem afetiva, mas não foram encontradas situações similares entre os adolescentes entrevistados.

Convém ressaltar que o grupo de alunos participante desta pesquisa está na fase inicial da puberdade, período no qual ainda estão muito dependentes dos pais, passando pela transição da infância para a adolescência.

Como aponta Reis (2013), essa etapa gera mudanças nas relações com as pessoas, inclusive como os pais. Há ainda que se destacar que aqueles que vivem na área rural ficam mais limitados à convivência familiar, tendo mais contato com os colegas na própria escola.

No entanto, algumas famílias vivenciaram eventos críticos, verificou-se que além dos problemas intrafamiliares, constatados em duas famílias, as mesmas vivenciaram a fase do nascimento de outros filhos. A literatura aponta que, neste período em que há “filhos pequenos”, ocorrem dificuldades, especialmente, pelo despreparo dos progenitores em relação às obrigações com os filhos, se sentem impossibilitados de estabelecer regras (CARTER; MCGOLDRICK, 2008).

Na família (5-F), a mãe menciona que ocorreu um acidente no parquinho da escola com o filho quando estava na fase pré-escolar, e a partir do ocorrido, ele teve insegurança para frequentar a escola.

Na família (7-F) houve um processo de divórcio. Há autores que corroboram que, muitas vezes, o processo de separação gera problemas no “desenvolvimento infantil”, como temores e ansiedades. Autores como Melo e Miccione (2014) destacam que a criança pode desencadear queixas escolares durante o divórcio dos progenitores.

Além disso, Brown (2001) ressalta que o divórcio causa uma ruptura no sistema familiar, o que resulta numa série de mudanças na estrutura da família e nos relacionamentos. Embora os autores como Petrini, Alcântara e Moreira (s/d) evidenciam que na contemporaneidade é evidente a ocorrências de novos hábitos de vida e de novos arranjos familiares, incluindo-se as separações, é relevante considerar que essas podem ecoar de maneira negativa no desenvolvimento dos filhos.

Sobre os eventos críticos, a violência doméstica apareceu em uma das famílias (10-F) a mãe queixou-se da situação vivenciada no lar e de sua predominância no cotidiano, e considerou as influencias no desenvolvimento dos filhos, como no processo da aprendizagem do filho de

12 anos, que apresenta grande defasagem na escola e ainda não era alfabetizado. Como podemos perceber na família (10-F), a mãe sofria com as agressões verbais e físicas por parte do marido como relatou na entrevista. Além disso, o marido não se comprometia na educação dos filhos e nem mantinha diálogo ou demonstrava afeto pelos filhos. Nesse caso específico, um dos filhos era acompanhado pelo serviço do CRAS no município, mas ficou evidente que as sequelas desse processo de sofrimento afetam imensamente o estudante. Não foi possível confirmar se os professores estão cientes das dificuldades enfrentadas por esse jovem em casa.

Silveira (2018), em estudo realizado com famílias atendidas pelo CREAS de outra cidade do interior mineiro, ressalta que os profissionais das escolas e mesmo as equipes dos serviços públicos, quando identificam casos de violência doméstica, ficam indecisos sobre como fazer a denúncia. O autor aponta a necessidade se de que a mesma seja feita, até mesmo de forma anônima, no sentido de que medidas de proteção possam ser tomadas.

Autores comoLyra, Constantino e Ferreira (2010) enfatizam que essa situação repercute de forma negativa na saúde e no desenvolvimento escolar dos indivíduos. Complementam Barros e Freitas (2015), as consequências da violência doméstica afetam o estado psicológico, físico, cognitivo e social com grande impacto na vida das vítimas.

Diante da descrição das famílias, identificaram-se como os ambientes familiar e escolar influenciam no desenvolvimento dos alunos. Dessa forma, o diálogo no contexto da família é essencial, como pontuam Santos, Melo e Koller (2014, p.10), “independente de como ocorre a comunicação ela está presente em todos os âmbitos da nossa vida, que é um elemento essencial para as relações humanas e para o desenvolvimento deste”.

Destaca-se também a relevância dos pais e da escola se comprometerem no processo da aprendizagem, principalmente na fase da adolescência.

Concluídas essas caracterizações iniciais, no próximo tópico, apresentam-se as categorias de análise e a interpretação dos dados.

3.2. Levantamento dos tipos de dificuldade apresentados pelos adolescentes no processo