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2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.2. Levantamento dos tipos de dificuldade apresentados pelos adolescentes no processo

3.2.1. Tipos de dificuldades apontadas pelos pais

Delineou-se, no Quadro 2, os tipos de dificuldades os quais os pais destacaram em relação ao processo da aprendizagem dos filhos, conforme abaixo:

Quadro 2 – Tipos de dificuldades apontadas pelos pais

Fonte: Dados da pesquisa.

Diante das entrevistas realizadas, percebeu-se que, das onze famílias, em seis delas (2- F, 4-F, 6-F, 8-F, 9-F, 11-F) os pais relataram que seus filhos não apresentavam dificuldades de aprendizagem. Em contrapartida, outros cinco progenitores (1-A, 3-A, 5-A, 7-A, 10-A) mencionaram que seus filhos tinham certas limitações no processo da aprendizagem.

No decorrer dos relatos, os pais pontuaram dificuldades nos estudos de seus filhos. Alguns exemplos são citados a seguir:

Tem que ficar insistindo. Eu falo assim, que no caso dele é malandragem para estudar; converso: “E” vamos estudar (...) que é preguiçoso (...). (Entrevista 1-F). Então, ele tem muita dificuldade na matemática, e aí tenho sempre (...) tá orientando, e lá eles ensinam, mas muitos alunos (...) por ser ginásio fica com vergonha, talvez de chamar a professora, de ficar explicando na carteira. E também falta de incentivo, vontade também (...) (Entrevista 3-F).

Eu acho que a questão dele, ele é muito desligado, muito desatento, qualquer coisinha sabe (...). A gente achava que ele tinha o déficit de atenção (...). O médico analisou ele, falou que não é o caso. Nós levamos na fonoaudióloga, ele fez tratamento com ela um tempo, mas não teve muito resultado, então aí acho que é o desinteresse dele mesmo (...). Na matemática, no português sim, porque ele troca letra demais até hoje; nomes de pessoas, né? De cidades, ele coloca tudo minúsculo (Entrevista 5-A). Observa-se, pelo relato anterior, que os pais chegaram a tomar iniciativa de buscarem ajuda, recorrendo aos profissionais da área de saúde, mas as dificuldades dos filhos parecem ser mesmo pedagógicas ou motivacionais.

Entrevistados Tipos de dificuldades

6 Não possuíam

5 Desinteresse; falta de concentração; dificuldade em matemática e português

Um ponto importante para se refletir, a partir desses exemplos, é sobre quais os motivos que levam esses alunos a terem tanto desinteresse pela escola. Uma das mães (6-F), também reforçou que o desinteresse pelos estudos é um problema, mas não percebeu dificuldades de aprendizagem no filho.

Portanto, na percepção das famílias a questão do desinteresse se sobressai em relação a diversos fatores. Outro tipo de dificuldade, que ocorre de forma recorrente entre os pesquisados neste estudo, é a falta de concentração, sendo que essa se destacou nos relatos sobre três alunos (3-A, 7-A, 5-A).

A mãe da aluna 7-A revelou também falta de atenção e de memória, como exemplificou ao citar a dificuldade que a filha tem na compreensão da tabuada, por não conseguir apreendê- la. Porém, ressalta que ela é muito interessada nos estudos, demonstrando comprometimento, mas a considera muito ansiosa, e disse que iria levá-la ao psicólogo.

A mãe contou, ainda que no período da alfabetização, a filha faltou muito de aula devido a problemas de saúde na infância, talvez isso tenha influenciado na aprendizagem, pois a adolescente apresenta mais atrasos do que os colegas e se sente inferior a eles.

Entre as disciplinas nas quais os alunos apresentam maior dificuldade, conforme apontou a mãe do aluno 5-A, destacam-se a matemática e o português; já a aluna 9-A tem um desempenho bom, mas o pai também disse que ela tem um pouco de queixa em matemática.

No caso da família 10-F, a mãe relatou que o filho tem muitas dificuldades na aprendizagem.

(...). Para ler quanto para escrever, para entender, interpretar alguma coisa (...). Portanto, semana passada eu fiz uma avaliação na APAE (Entrevista 10- F). Percebeu-se neste caso, que as queixas são distintas daquelas encontradas nos relatos sobre os colegas dele, devido à defasagem no processo de alfabetização. Denota-se que a mãe percebe e está atenta às dificuldades do filho; toma iniciativa no sentido de consultar os profissionais, mas não tem condições efetivas de ajudá-lo a superá-las.

Diante dos dados das entrevistas dos pais, considera-se que o desinteresse dos alunos é uma queixa frequente em relação ao cotidiano escolar. Mas, a literatura pontua que, nos contextos família e escola, há uma preocupação diante das dificuldades dos adolescentes na aprendizagem. Mesmo não sendo por causas orgânicas, e sim pela falta de interesse e de concentração pelo processo do saber. Enfatiza-se que há consenso entre diferentes autores quando afirmam ser corriqueira essa situação (COSTA; LIMA; PINHEIRO, 2010; DROUET, 2000).

Nos relatos dos familiares, houve consenso quanto ao fato de que os alunos apresentam maior dificuldade nas disciplinas de português e matemática, ou na interpretação e memorização de conteúdo.

Há que sublinhar, essas são disciplinas tidas como destaque pela utilidade para a vida futura dos alunos e também pela complexidade, com maior carga horária, e que demandam maior investimento no estudo. Como já indicado anteriormente por diferentes autores, supõe- se que nessas disciplinas as dificuldades enfrentadas em séries iniciais, se não enfrentadas, comprometerão toda a sequência de estudos dos educandos. É gritante como exemplo dessa questão o caso do aluno que ainda não está alfabetizado, mas mesmo assim chegou ao sétimo ano. No caso dele, em específico, houve troca de escolas e de professores exatamente na fase na qual deveria ser alfabetizado (SMITH; STRICK, 2007; SENA et al., 2014).

Constatou-se que os pais percebem as dificuldades, tomaram a iniciativa de buscar profissionais como médicos, fonoaudióloga, serviços como a APAE, e que ali receberam diagnósticos apontando que os filhos não demandam esse tipo de acompanhamento. Ou seja, esses problemas são de cunho pedagógico, estão atrelados ao processo de ensino e aprendizado, mas não há relatos dos familiares sobre como a escola lida com essas questões.

Evidenciou-se, pelas entrevistas com os pais, que esses possuem pouco conhecimento sobre o que acontece no contexto escolar, e de como poderiam colaborar para enfrentar as dificuldades dos filhos.