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1. REVISÃO DE LITERATURA

1.4. Relação família e escola: contribuições da legislação escolar

A família, independentemente de seu arranjo familiar, é essencial na educação e na criação de seus filhos. Leite e Gomes (s/d) abordam a importância da participação da família no contexto escolar, sendo reconhecida na legislação nacional.

Deste modo, é relevante destacar como a relação entre família e escola pode ser eficaz no desenvolvimento dos alunos, assim como é reconhecido pela legislação educacional vigente: Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990; Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN), de 1996, e o Plano Nacional da Educação (PNE), de 2014.

O ECA, lei nº 8.069 de 1990, em seu art. 4º, afirma ser obrigação da família, da sociedade e do poder público garantir a concretização dos direitos respectivos “à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” (s/p).

A LDBN, lei nº 9.394 de 1996, em seu art. 1º, assegura que:

Os processos formativos da educação se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, e nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (s/p).

O atrelamento entre família e educação é confirmado em seu art. 2º, em que a educação é vislumbrada como “dever da família e do Estado e que tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (s/p). Mas na constituição de 1988, assegura-se que a educação é um direito de todos os cidadãos, sendo deveres do Estado e da família, ou seja,é encargo do poder público o serviço educacional, bem como a família é corresponsabilizada pela tarefa de educar seus filhos.

Contata-se que na LDBN a família aparece em primeiro lugar, enquanto na Constituição o papel do Estado é destacado. Configura-se aqui novamente a necessidade de distinção sobre qual o papel de cada instância.

Já o PNE, instituído pela lei nº 13.005, de 2014, traz uma importante contribuição no que diz respeito ao acompanhamento do educando, sugerindo a aproximação da escola com as famílias. Entre suas orientações, sugere a criação de:

(...) mecanismos para o acompanhamento individualizado dos (as) alunos (as) do ensino fundamental; (...) incentivar a participação dos pais ou responsáveis no acompanhamento das atividades escolares dos filhos por meio do estreitamento das relações entre as escolas e as famílias (...) (BRASIL, 2014, p.52).

Faria Filho (2000, p.44) aponta a complexidade de fatores a serem analisados nessa relação entre família e instituição de ensino:

(...) a prática pedagógica dos professores e gestores da escola põe em evidência um fato: a forma e a intensidade das relações entre escolas e famílias variam enormemente, estando relacionadas aos mais diversos fatores (estrutura e tradição de escolarização das famílias, classe social, meio urbano ou rural, número de filhos, ocupação dos pais, etc.).

Em cada contexto emergem diferentes aspectos que, atrelados às mudanças sociais ocorridas, limitam as possibilidades de execução das indicações propostas no PNE. Mas não se

nega a relevância de aproximação dos pais no processo de ensino (CARVALHO; NASCIMENTO, 2013), entretanto, no cenário educacional do país o comprometimento dos familiares no contexto escolar ainda é uma novidade.

Diante dessa realidade, Resende e Silva (2016) revelam que o Ministério da Educação (MEC) estabeleceu no ano de 2001 o “Dia Nacional da Família na Escola”, com a finalidade de envolver a comunidade, bem como progenitores, educadores e diretores nas atividades escolares.

Leite e Gomes (s/d, p.3) citam a visão de Gokhale (1980), salientando que:

A família não é somente o berço da cultura e a base da sociedade futura, mas é também o centro da vida social, e a educação bem-sucedida da criança na família é que vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo quando for adulto.

Segundo Dessen e Polonia (2007), a família e a escola são espaços de aprendizado e de crescimento. Analisar esses ambientes é relevante, para assim compreender as possíveis desordens que ocorrem nas relações vivenciadas nessas instituições, cruciais para o desenvolvimento dos alunos.

Deve-se ressaltar ainda como a escola e os educadores utilizam os conhecimentos que os estudantes têm em casa; então, a escola deve aproveitar as experiências de casa para conduzir as aptidões necessárias ao ensino. Estudos apontam que esse distanciamento entre os programas e currículos e a realidade dos jovens geram sérios comprometimentos na formação destes e na elaboração de seus projetos de vida (ALVES; DAYRELL, 2015; LOPES, 2018).

Dazzani e Faria (2009) revelam que, no Brasil, o baixo rendimento escolar tornou-se um desconforto dos docentes e do Estado, a partir das propostas de planos para o analfabetismo, nas décadas de 1960 e 1970, e da massificação da educação pública.

Quando a aprendizagem não se produz e a escola não consegue desempenhar seu serviço, os docentes e políticos são coagidos a compreender melhor o método pedagógico; e, a partir disso, buscar a superação dessas questões.

Observa-se que as mudanças vivenciadas pela sociedade, ao longo dos anos, repercutiram na família e na escola, tendo como efeitos reclamações de progenitores e de educadores quanto às dificuldades em ensinar os alunos (CASARIN; RAMOS, 2007).

Os autores Dazzani e Faria (2009) recorreram às contribuições de Soares (2007) para afirmar que estudos sobre a educação assinalam que os causadores do baixo rendimento escolar permanecem fora do domínio da escola. Algumas investigações indicaram descrença

educacional e que essa instituição pondera pouco na explicação da variação do rendimento dos educandos.

Neste contexto, o MEC, por meio do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), de 2017, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revelou que mesmo com progressos nas etapas dos anos iniciais e finais do ensino fundamental, a condição do processo da aprendizagem no Brasil está abaixo do esperado no nível básico. Houve rendimentos favoráveis no ensino fundamental (anos iniciais), havendo uma melhora no desempenho, tanto em português quanto em matemática, em todas as unidades da Federação. Em contrapartida, no ensino médio, os resultados demonstram baixos níveis de aprendizagem.

Assim, o MEC divulgou uma apresentação do Saeb, em que a presidente Maria Inês Fini defende a elaboração de novas medidas como exemplos do novo ensino médio; a Base Nacional Comum Curricular (BNCC); Mais Alfabetização e o Ensino em Tempo Integral, para o progresso no sistema da educação básica do país (BRASIL, 2018).

Dessen e Polonia (2007) destacam a necessidade de mudanças no projeto pedagógico das escolas, nos tipos de avaliação, além da adoção de estratégias no processo ensino- aprendizagem, as quais possam abranger a família, efetivando a presença dos pais, pois essa ainda é uma questão no âmbito da educação nacional.

Percebe-se, mediante isso, a necessidade de implementar as legislações e políticas públicas contundentes, vinculando não só a obrigatoriedade estatal e social, mas também a família.

Enfatiza-se que não se trata de responsabilizar ou culpabilizar apenas a família, porém evidencia-se a importância do engajamento dos pais na escolarização dos filhos, pois, se pressupõe que a participação mais efetiva dos progenitores no ambiente escolar pode dirimir problemáticas afetas ao contexto educacional dos seus filhos, visando estimular o bom rendimento deles. Mas nesse caso, o movimento por parte das instituições de educação, de promoverem a abertura para maior participação das famílias, e o suporte para aquelas que tenham limitações, torna-se imprescindível.

Além da aproximação entre família e escola, considerada nas legislações já mencionadas, outras reflexões que envolvem o contexto escolar são significativas por influenciarem no desempenho escolar dos alunos.

1.5 Questões do contexto escolar que afetam os alunos

Bremberger (2010) salienta problemas que, de maneira geral, ocorrem em todo ambiente escolar, como: evasão escolar; queixas escolares; problemas em sua estrutura e na metodologia empregada. Entretanto, não se deve imprimir conformismo a esses.

Souza, Lopes e Silva (2013) trazem as contribuições de Rogers (1951; 1959) e Larrosa (2004), evidenciam, entre as dificuldades da escola, as questões estruturais. Os autores sugerem que a escola deva propiciar adequada estrutura física e psicológica para o processo da aprendizagem, além disso, ressaltam que a sala de aula deve oferecer afeto para que o educando se sinta confortável diante de suas convicções.

Alves (2010) relata apontamentos relativos às condições de aprendizagem dos alunos, refletindo que as atividades do cotidiano escolar exigem ampliar a visão sobre as coisas, ou seja, buscar a realidade desse lugar. Ao mesmo tempo que necessita apreender a não olhar de maneira distante, sendo preciso examinar todo ambiente educacional. A partir disso, percebe- se o trabalho de discentes e as condições reais de aprendizagem dos alunos.

Barroso (2011) discorre sobre a relevância de rever a peculiaridade do aluno. Além disso, a afinidade entre educador e educando, uma vez que, aqueles que apresentam muitas dificuldades vão se sentir mais protegidos.

Ademais, Papalia, Olds e Feldman (2013) trazem a visão de Samdal e Dür, (2000), que defendem a tese quando o jovem percebe o auxílio do educador, o processo de aprendizagem se torna mais eficaz, pois, com isso, ele se sente mais interessado.

Outro importante aspecto, de acordo com Dessen e Polonia (2007), é que as escolas carecem de fortalecer a relação entre pais e docentes, como o conselho escolar, adotando medidas que propiciem aos progenitores se comprometerem na educação dos filhos, auxiliando a escola.

É relevante abordar, no enfrentamento do fracasso escolar, outra situação que emerge com frequência, e que diz respeito à indicação de medicamentos para crianças e adolescentes para reduzir a problemática das queixas escolares.

Segundo os autores Braga e Morais (2007, p.36) apud Collares e Moysés (1986):

(...) existe atualmente uma patologização do processo ensino-aprendizagem. Buscam-se soluções médicas para problemas eminentemente sociais, o que se reflete numa tendência à medicalização e à psicologização dos problemas escolares, que são encaminhados para as Unidades Básicas de Saúde numa busca de resolução, já que as causas dos problemas de rendimento escolar são atribuídas aos pais ou à própria criança. Tais ações acabam por culpabilizar