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2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.3. Desempenho escolar dos adolescentes: percepção dos pais, dos alunos e da

3.3.3. Percepção da Supervisora

Na percepção da supervisora, ela considera o desempenho escolar como bom para a maioria dos alunos, porém, menciona o rendimento da aluna 7-A como fraco, e não o trata como insatisfatório, porque a estudante consegue atingir a média e é dedicada nos estudos.

Olha ela é uma aluna que é fraca (...) tem bastante dificuldade, só que assim ela é esforçada, dedicada, entendeu mais tem muita dificuldade, mas como ela se dedica ainda consegue (...) tirar a média que precisa (...). É porque, é dificuldade de aprendizagem mesmo, só que ela se interessa, procura está fazendo todas as atividades direitinho dentro de sala, ela sabe que isso é importante (...), porque tem muito disso né tem criança que tem dificuldade elas reconhecem a importância de se estudar, e aí se dedicam entendeu, apesar de ter dificuldade, igual eu conversei com uma professora, a professora falou que ela reclama muito que não está entendendo, que não consegue entender sabe (Entrevista 7-E)

A ênfase nesse discurso recai sobre a nota e a responsabilidade do próprio aluno em buscar formas de superar suas dificuldades. A ação da aluna de reclamar e pedir explicações é aprovada, porém, como ficam os alunos que se sentem inibidos de tomar esta iniciativa? Em relação a outros alunos, que possuem muita dificuldade e baixo rendimento, a supervisora relatou:

Ele é um aluno fraco, (...) é muito disperso, conversa demais, tem muitas dificuldades, português, matemática, todas disciplinas português, matemática, história, geografia, ciência. É nossa ele é um aluno problemático, não tem comprometimento em fazer as tarefas dele, a mãe também trabalha fora, não estou questionando, né? A questão dos pais não ajudar, mas trabalham fora, moram em zona rural. Acredito que isso também comprometa um pouco dessa questão de estar ajudando o aluno em casa, nas tarefas né? E ele é bem assim: bem largadinho, (...).

EU: Como assim? ELA: Ah, ele parece que ele manda nos pais (...), tivemos problemas sérios de comportamento com ele aqui de ter que conversar, chamar a mãe aqui não foi nem uma, nem duas vezes. A mãe parece que acoberta muito ou fala que não dá conta dele (Entrevista 6-E).

Ele não é alfabetizado, não consegue escrever o próprio nome, não realiza cálculo matemático nem simples, nem de jeito nenhum. Ele não lê, não interpreta. É tem dificuldade demais (...), e, além de tudo, ainda é agressivo; um menino que responde professor, sabe (Entrevista 10-E).

Em ambos os casos, a supervisora considera que o desempenho ruim dos alunos também pode estar vinculado à ausência de apoio adequado dos pais. Em seu relato a mesma aponta que o aluno 10-A não possui um desempenho satisfatório, pois não é alfabetizado. Consequentemente, possui muitas dificuldades em todos os conteúdos. Além disso, não

socializa bem, tem atitudes como agressividade, é inquieto, distraído e tem falta de concentração. Assim relata:

(...) não faz nada, a única coisa que ele faz (...) é copiar a matéria. (...). Além disso, a família não participa de reuniões na escola, e a equipe pedagógica tenta entrar em contato para tratar da situação do aluno, porém sem êxito (...). Estamos tentando insistentemente, mas não estamos conseguindo (...) (Entrevista 10-E).

Após a entrevista com a supervisora, confirmou-se que existe uma falta de aproximação entre a escola e o aluno e, também, com os pais. O vínculo é distante entre ambas, a família do aluno em questão nunca esteve com a equipe pedagógica, mas a escola já entrou em contato. Entretanto, a mãe alega não ter disponibilidade de ir.

Observou-se que este aluno (10-E) não tem domínio da leitura e escrita. A partir desse caso, identifica-se uma realidade problemática e grave que tem ocorrido no cotidiano escolar, pois, muitas vezes os alunos avançam as séries sem ter tido compreensão dos conteúdos, uma vez que não há reprovação ou avaliação justa, devido às políticas públicas atuais, as quais sugerem progressões parciais, estudos independentes, etc.

Neste contexto escolar, Glória (2002, p.12) revela que nos anos de 1990,

Com a assunção ao poder de grupos partidários progressistas em alguns estados e municípios, e após uma crítica maciça e contundente ao sistema de reprovação escolar em nível nacional, a escola pública brasileira tem sido palco de uma mudança lenta, mas extraordinária, cuja proposição central é o fim da reprovação escolar. Ao considerar que o sistema de reprovação escolar implica perdas significativas, tanto em nível de recursos humanos como materiais e financeiros, nos anos 90, algumas administrações públicas, especialmente no âmbito municipal, passaram a adotar projetos pedagógicos inovadores, que introduzem o princípio da progressão continuada com a não- retenção escolar. Tal princípio é proposto como um avanço educacional expressivo, por ser uma tentativa de reversão da atual conjuntura de fracasso pela construção de uma cultura do sucesso escolar.

Essa ação, segundo a autora, facilita a continuação dos alunos na escola, mas por outro lado essa não-retenção escolar caracteriza aprovação dos alunos sem ter a plena propriedade dos conteúdos escolares (GLÓRIA, 2002).

Ainda no sistema educacional, tem-se outro fator que é a equidade “Equidade e Igualdade, assim, são valores essenciais para balizar a formulação de políticas públicas que deverão promover a justiça social e a solidariedade” (BAQUEIRO, 2015 p.41). Ainda a autora reflete para restringir as diferenças.

Nota-se, diante da percepção da supervisora, que há uma insuficiência de dados de alguns alunos em relação ao contexto familiar deles, inclusive no caso supramencionado (10-

E). Apesar de a supervisora ter relatado possuir conhecimento da vida de algumas mães, como o tipo de trabalho dos pais, a escolaridade deles, se estes comprometem ou não nas atividades escolares dos alunos.

Deste modo, a escola deve rever a prática pedagógica, pois, muitas vezes, ela pode influenciar no baixo rendimento escolar dos alunos. E, além disso, é necessário que se observe a realidade de vida dos alunos. Assim, a literatura pontua que o estudante é considerado culpado pelo seu fracasso, sendo que não é o único responsável pelo seu baixo desempenho (BROM; AGUIAR, 2010).

Percebe-se outro aspecto relevante, é sobre o estímulo sendo fundamental no processo de ensino e aprendizagem, visto que a maioria dos filhos que são motivados e auxiliados pelos pais se sentem mais interessados e engajados.

Contudo, pesquisas ainda revelam quando o âmbito familiar é motivador, seus membros, enquanto educandos estão predispostos a se desenvolverem melhor no processo da aprendizagem, mesmo que tenham algum problema de saúde que possa interferir em seu intelecto (SMITH; STRICK, 2007).

Ao relatar sua percepção sobre o desempenho escolar dos alunos, a supervisora destaca uma visão positiva desse grupo de estudantes, ao considerar que possuem bom rendimento. Identifica alguns alunos como “fracos”, mas reitera que estes se esforçam para superar suas dificuldades. A mesma cita como critérios de avaliação para o baixo rendimento a nota, o mau comportamento de alguns alunos na escola e em casa, e a ausência de apoio de alguns dos pais em função do trabalho e da falta de tempo para se dedicarem aos cuidados com os filhos.

Na análise dos dados sobre a categoria “desempenho escolar” observou-se a coerência na percepção dos pais, dos alunos e da supervisora prevalecendo uma visão positiva em relação a nove estudantes, com divergências apenas quanto aos fatores de motivação e atenção.

Houve consenso na maioria das informações dadas pelos diferentes participantes quanto às dificuldades na aprendizagem e aos fatores que colaboram para o baixo desempenho escolar, destacando-se a defasagem no processo de assimilação dos conteúdos, principalmente nas disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa; a falta de motivação dos alunos; e as limitações dos pais que os impedem de orientar adequadamente os filhos nos estudos, como o não conhecimento dos conteúdos ou a ausência de tempo para se dedicarem aos mesmos em função da necessidade de realizarem atividades de trabalho, domésticos ou não, como no caso das mães.