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“Nomen Adjectivum” ou “nomen qualitatis” são as designações apresentadas por Vilela (1995: 182) para introduzir a categoria lexical ‘adjectivo’. Define-o como sendo, a seguir ao substantivo e ao verbo, “a classe mais representada na língua” e caracteriza-o do ponto de vista sintáctico, morfológico e semântico, tal como é visível através do excerto que se segue:

“ [O adjectivo] caracteriza-se gramaticalmente como uma categoria não autónoma sintacticamente e dotada de flexão e graduação sob o ponto de vista morfológico; semanticamente designa qualidades, propriedades ou relações.”

Vilela (1995: 182)

Dado tratar-se de uma ‘categoria não autónoma’, Vilela (1995) ressalta que os adjectivos acompanham outras categorias autossemânticas, de tal forma que, quando se encontram no domínio do verbo, são considerados “adjectivos frásicos”, com a função predicativa ou adverbial e, quando fazem parte do domínio do substantivo, adquirem a função de “atributo” (Ibid.), o que lhes confere a designação de “adjectivos adnominais”26.

Do ponto de vista semântico ou lexical, Vilela (1995) faz referência a dois tipos de adjectivos, nomeadamente, os “adjectivos qualificativos”, os quais expressam qualidades, e os “adjectivos relacionais”, cuja função é a de dar a conhecer aquilo que o autor designa como “a relação da coisa designada pela palavra de relação com outra” (Ibid.). Ambas as designações são também usadas por Mateus et al. (2003: 376), os quais atribuem também aos “adjectivos qualificativos” a designação de “modificadores”, por exprimirem qualidades, estados ou modos de ser. Aos “adjectivos relacionais”, também considerados “adjectivos temáticos e referenciais”, os autores atribuem a função de representação dos argumentos dos nomes com os quais são combinados, o que implica que possam desempenhar diferentes papéis semânticos.

Do ponto de vista semântico, Biber et al. (1999: 508) distinguem dois grandes grupos de adjectivos, que designam de “descriptors” e de “classifiers”. Descrevem os adjectivos pertencentes ao grupo dos “descriptors”, da seguinte forma:

“Descriptors are prototypical adjectives denoting such features as color, size and weight, chronology and age, emotion, and a wide range of other characteristics.”

Biber et al. (1999: 508)

Esta designação aproxima os “descriptors” dos “adjectivos qualificativos”, introduzidos por Mateus et al. (2003: 376) e Vilela (1995: 182-3). Relativamente ao

grupo dos “classifiers”, Biber et al. (1999: 508) referem que a sua principal função é delimitar ou restringir o referente do nome que caracterizam, colocando-o em relação com outros referentes. Esta definição aproxima os “classifiers” dos “adjectivos relacionais”, também propostos por Mateus et al. (2003: 376) e Vilela (1995: 182). Biber et al. (1999: 508) são um pouco mais específicos que os restantes autores, quando introduzem este último grupo de adjectivos, já que referem que estes podem agrupar-se em subclasses, das quais destacam “relational”, “affiliative”, e “a miscellaneous topical class”. De acordo com os autores, estas subclasses podem expressar diferentes níveis de descrição, o que exemplificam com o facto de os chamados “relational classifiers” possuírem um baixo teor descritivo e o oposto se verificar, no caso dos “topical classifiers”, os quais não só limitam o domínio de referência do nome a que se referem, como facultam um alto nível descritivo sobre o mesmo (Ibid.).

Do ponto de vista sintáctico, tanto Biber et al. (1999)27 como Vilela (1995)28 e Mateus et al. (2003)29 concordam quanto ao facto de os adjectivos alternarem entre uma posição atributiva e uma posição predicativa. São também unânimes ao considerarem que a função depende, directamente, da localização em relação àquilo que estão a caracterizar. Mateus et al. (2003: 377) indicam que os “adjectivos qualificativos” podem ocorrer, tanto em posição atributiva, na qualidade de adjectivos adnominais, como em posição predicativa. Relativamente aos “adjectivos relacionais” referem que não podem, em geral, surgir em posição predicativa (Ibid.).

Referindo-se aos adjectivos em posição atributiva, Biber et al. (1999: 510) indicam que a sua função é modificar expressões nominais ou nomes próprios associados a locais, e que, habitualmente, precedem o substantivo nuclear do sintagma nominal. Relativamente aos adjectivos em posição predicativa, referem que estes caracterizam sintagmas nominais que se localizam numa oração externa e que ocorrem sobretudo como predicativos do sujeito, a seguir a verbos copulativos (Ibid.), apesar de, segundo os autores (1999: 515), poderem também cumprir a função de predicativo do objecto, cuja designação é também usada por Mateus et al. (2003: 371), quando se referem a “construções de predicação secundária”.

Biber et al. (1999: 515) consideram que os adjectivos em posição predicativa podem cumprir duas funções distintas, nomeadamente, a de predicativo do sujeito ou a

27 Vide Biber et al. (1999: 505; 510; 515). 28 Vide Vilela (1995: 182).

de predicativo do objecto, e tendem a ocorrer num complemento externo, materializado num sintagma preposicional, numa oração infinitiva ou numa oração relativa, introduzida por “that”. Enquanto predicativos de sujeito, os autores referem que os adjectivos complementam um verbo copulativo e caracterizam a expressão nominal, que cumpre a função de sujeito da frase (Ibid.). No papel de predicativos do objecto, indicam que os adjectivos procedem um objecto directo, constituindo-se como a forma de predicação do respectivo sintagma (Ibid.).

Biber et al. (1999: 515) acrescentam que, para além das posições referidas, os adjectivos podem desempenhar outras funções na frase, na qualidade de “postponed nominal modifiers”, “noun phrase heads”, “adjectives with a clause linking function”, “exclamations”, e “detached predicatives” (1999: 518). Por “postponed nominal modifiers” os autores entendem os adjectivos que pertencem a um sintagma nominal e que estão em posição de pós-modificação, dado que se localizam a seguir ao substantivo a que se referem e não anteriormente a este (1999: 519). Um dos aspectos curiosos, relativamente a este tipo de adjectivos, é o facto de, juntamente com os seus complementos, poderem ser vistos como fazendo parte de uma oração relativa reduzida, o que é realçado por Quirk et al. (1985), quando referem o seguinte:

“A postpositive adjective (together with any complementation it may have) can usually be regarded as a reduced relative clause.”

Quirk et al. (1985: 418)

É de salientar o interesse suscitado por este tipo de estrutura, ao nível dos exemplos analisados no âmbito do estudo empírico, na medida em que um dos objectivos do estudo incidirá na detecção e tentativa de percepção da presença das mesmas, entre a amostra seleccionada. Caso se verifiquem, é necessário identificar as diferenças entre este tipo de situação e a das formas em –ed que, na categoria verbal, ocorrem em orações relativas reduzidas.

No que diz respeito aos “noun phrase heads”, Biber et al. (1999) indicam tratar- se de situações em que o adjectivo cumpre a função de núcleo do sintagma nominal de que faz parte (Ibid.). No caso dos “adjectives with a clause linking function”, os autores evidenciam a função cumprida por estes adjectivos, ao ligarem frases ou orações (1999: 520). Os adjectivos usados em situações de “exclamations” ocorrem especialmente em contextos de conversação ou de diálogo ficcional (Ibid.). Por último, Biber et al. (2003: 370) referem-se aos adjectivos com a função de “detached predicatives” quando

mencionam modificadores livres de um sintagma nominal, os quais tendem a surgir, na frase, em posição inicial30.

Tendo por base as afirmações de Mateus et al. (2003: 372), resta acrescentar que, um qualquer sintagma adjectival tem como núcleo um adjectivo, e, possivelmente, complementos e expressões de grau.

A título de curiosidade, Biber et al. (1999: 508) indicam que, em inglês, adjectivos iniciados pelo prefixo “a-” revelam uma tendência para surgir em posição predicativa, enquanto que a maioria dos adjectivos terminados em “-al” ocorre maioritariamente em posição atributiva.

Em termos morfológicos, Biber et al. (1999: 505) referem que a maior parte dos adjectivos são flexionáveis, para efeitos de comparação, o que é complementado pela visão de Vilela (1995: 183) e Mateus et al. (2003: 377), os quais são unânimes ao considerarem que, entre os “adjectivos qualificativos”, há muitos que são graduáveis, apesar de tal característica não poder verificar-se relativamente aos “adjectivos relacionais”, os quais tendem a resultar, segundo Vilela (Ibid.), da derivação de substantivos ou de advérbios. No que diz respeito às diferenças morfológicas entre ambos os grupos adjectivais, Mateus et al. evidenciam que é próprio dos “adjectivos qualificativos” possuírem antónimos, o que não acontece com os “adjectivos relacionais” (Ibid.).

Relativamente à formação, Vilela (1995: 184) refere haver outras categorias lexicais que podem pertencer à chamada “periferia dos adjectivos”, nomeadamente, particípios, substantivos, advérbios e palavras modais. No contexto deste trabalho, há que destacar o caso dos particípios no papel de adjectivos, pela relevância que representam no âmbito da análise desenvolvida, tal como foi já demonstrado no capítulo 2.1. Biber et al. (1999) vêm demonstrar a possibilidade de as formas em –ed poderem ser usadas na qualidade de adjectivos, ao tecer o seguinte comentário:

“Both ing- and ed-participle forms can be used as participial adjectives (…) In most cases, then, participial adjectives can be analyzed as being derived from verbs.”

Biber et al. (1999: 530)

Também Mateus et al. (2003: 374) demonstram serem muitos os particípios verbais que, do ponto de vista sintáctico, podem ocorrer como adjectivos. Relativamente à posição na frase, os autores referem que estes podem ocorrer, tanto em posição predicativa, como em posição atributiva e que são passíveis de modificação

através de expressões de grau (Ibid.). Biber et al. (1999: 530) consubstanciam a opinião de Mateus et al. (2003), ao evidenciarem “confused” e “excited” como exemplo da possibilidade demonstrada por este tipo de adjectivos em surgirem em posição atributiva e predicativa. Já Shibatani et al. (1976) designam estes adjectivos de “participle-shaped adjectives”, sendo da seguinte opinião relativamente aos mesmos:

“(…) the past participle-shaped adjectives denote much stronger degrees of emotion that are evoked only by definite causes. “

Shibatani et al. (1976: 196)

Esta afirmação surge num contexto em que os autores reflectem acerca da expressão de emoção em estruturas causativas31, concluindo que este tipo de adjectivos é o ideal para expressar emoção.

No que diz respeito à frequência do uso de adjectivos nos vários registos linguísticos, Biber et al. (1999: 504) referem que, apesar de comuns a todos, os adjectivos são mais frequentes nos registos escritos, em especial ao nível da prosa académica. Justificam-no com o facto de, por um lado, haver uma tendência para se introduzir informação, recorrendo a sintagmas nominais, nos quais os adjectivos em posição atributiva são recorrentemente usados. Por outro, devido à economia de espaço, promovida por este tipo de adjectivos, dado que, pelas características que evidenciam, facilitam o armazenamento de grandes quantidades de informação em sintagmas nominais (1999: 506).