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As Implicações da Modernidade na Escola do Campo de Chapadinha (MA)

2 REVISÃO DA LITERATURA E MARCOS TEÓRICOS

2.2 Marcos Teóricos

2.2.4 As Implicações da Modernidade na Escola do Campo de Chapadinha (MA)

Na visão de Weber (1987), existe uma nova ética do trabalho e o “espírito” do capitalismo moderno só se desenvolve porque há uma mudança cultural, que combina uma nova mentalidade religiosa, com uma nova visão científica do mundo, pois, se de um lado reformulam-se os parâmetros que balizavam a organização dos negócios e das políticas governamentais, do outro, se organiza também o sentido da vida cotidiana, de acordo com a finalidade do trabalho e as demandas da modernidade.

Além dessas considerações, o mundo da alta modernidade, movido pela força do capital, promoveu a industrialização, reorganizou os mercados de produtos, de serviços e de consumo, redimensionou o conceito de tempo-espaço, deslocando as relações sociais para além dos contextos, mediante as demandas populacionais.

Dessa forma, o desejo de se tornar moderno, atualizado, arremessa as massas humanas para o usufruto dos insumos e produtos dispostos pelo mercado do capital. Com isso, certas práticas se apresentam como forças catalisadoras de bens e consumo, promotoras de contextos particularizados, que ocasionam alterações nem sempre satisfatórias no cotidiano das pessoas. Observa-se que a modernidade, ao mesmo tempo em que ampliou as chances de progresso da ciência e das inovações tecnológicas – como o relógio, os transportes e as telecomunicações para uniformizar e racionalizar o tempo – também trouxe riscos de grande relevância para a humanidade, como a sofisticação da indústria de armas e da biogenética. Tal processo causou mudanças, que afetam cada vez mais os lugares e não têm origem unicamente no local. Como aponta Ortiz (2006):

A sociedade da informação tem a capacidade de interconectar esferas da vida antes separadas, a casa e o trabalho, a produção e o consumo, a gestão e distribuição dos produtos e, claro, as distâncias geográficas. Na esfera da cultura, a mesma tendência se repete, pois o fluxo incessante das informações religaria os indivíduos nessa teia. (ORTIZ, 2006, p. 71)

Aos olhos do autor, a rapidez com que as tecnologias difundem os acontecimentos no mundo mostra como a velocidade altamente impactante dessas novas tecnologias tem invadido a vida das pessoas, de igual modo, do país à pequena comunidade. Sendo assim, a alta modernidade gera um mundo altamente complexo e desenraizador, uma vez que – ao mesmo tempo em que distancia – junta, interliga e modifica condutas preexistentes.

O ritmo das transformações econômicas e sociais é de tal modo acelerado que não dá tempo de se estabelecer uma relação humanizadora, próxima das necessidades afetivas dos sujeitos. As pessoas estão cada vez mais envolvidas em situações artificiais, passageiras. As particularidades de um lugar são alicerces e condições para as relações universais e o global assume as peculiaridades da localidade.

Florestan Fernandes (1973, p. 24) adverte que comunidade é “essencialmente ligada ao solo, no sentido de que os indivíduos vivem permanentemente numa dada área, têm consciência de pertencer tanto ao grupo como ao lugar e funcionam conjuntamente nos princípios da vida”. Assim sendo, compartilha a ideia de que os que vivem no campo têm sua vida significada no espaço das comunidades, com práticas e papéis diferenciados e formas socializadoras de relacionar-se com o outro.

Os processos de desenvolvimento social do homem do campo não devem desapropriá- lo de suas identidades sociais e pessoais, nem tampouco da cultura local. O “campo pode ser considerado lugar de descanso, de lazer, de sociabilidade, como também de construção de novas possibilidades de representação social e de desenvolvimento sustentável” (FERNANDES; CERIOLI; CALDART, 2004, p. 54).

Concorda-se com essa colocação, uma vez que o campo deve ser compreendido como um espaço de práxis, onde se realiza toda a extensão da vivência humana. O conceito de campo como lugar de vida é multidimensional e interdisciplinar, e, as Escolas do Campo, inseridas no contexto educacional, assumem o significado da terminologia campo, a partir da compreensão de que as escolas de Educação Básica estão situadas em diferentes espaços de cultura e de história viva. Contudo secularmente, essas escolas têm enfrentado, em seu cotidiano, desafios em várias circunstâncias. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), as principais dificuldades das Escolas do Campo são:

Insuficiência e precariedade das instalações físicas da maioria das escolas; dificuldades de acesso dos professores e alunos às escolas, em razão da falta de um sistema adequado de transporte escolar; [...] falta de conhecimento especializado sobre políticas de educação básica para o meio rural [...] falta de atualização das propostas pedagógicas das escolas rurais. (BRASIL, 2007)

Sabe-se que estes problemas existem e se expressam numa conjuntura perversa no modo de fazer a Educação escolar, na forma de articular a estrutura de formação das crianças e dos jovens, em situações específicas de precariedade e de descaso, condicionando-os a contextos de negação de seus direito subjetivos. E o trabalho do docente se situa à luz dessas peculiaridades estruturais, caracterizado por uma realidade adversa, problemática e desumana, considerando que o percurso da Escola do Campo evidencia as contradições e as complexas condições históricas de oferta do ensino e da forma como são desenvolvidas essas práticas.

As dificuldades vão da infraestrutura deficitária dos prédios escolares à precariedade salarial, e, ainda, ao fato de que a história desses professores sempre esteve ligada à pobreza, à existência de classes multisseriadas, com crianças sem lápis, sem cadernos, sem livros e sem alimentação adequada para enfrentar as distâncias que separam suas casas da escola.

Nesse mesmo sentido, Candau et al (2008), tratando da aproximação do local com o global, afirmam que:

O desafio implícito nessa aproximação é a concepção de modelos de desenvolvimento mais amplos, que levem em consideração não apenas os processos relativos à sustentabilidade econômica de uma localidade, mas também os processos de sustentabilidade sociocultural tais como: os estilos de vida, diferenças de gênero, divisão de trabalho, hierarquias sociais, sistemas de valores, mecanismos de participação política e possibilidade real de decisão em projetos de desenvolvimento em termos de conscientização e participação local. (CANDAU et al, 2008, p. 48)

Considerando as implicações da modernidade no âmbito das Escolas do Campo de Chapadinha (MA) tem-se que a escola é uma instituição coletiva, que objetiva “[...] assegurar a todos os brasileiros a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes os meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”, mediante os Artigos 21 e 22 da Lei nº 9.394/96 (BRASIL, 1996).

Nesse sentido, observa-se que a legislação vigente disciplina a escola como um espaço de formação para o mercado de trabalho. A legislação aponta para uma formação técnica, uma vez que visa formar um trabalhador apenas executor de tarefas. Diferentemente dessa perspectiva, a escola tem a função social de ensinar conhecimentos formais construídos historicamente, de forma significativa.

Já o Artigo 28 da Lei de Diretrizes e Bases, prevê que a oferta de Educação Básica nas escolas situadas no campo deve se pautar em conteúdos curriculares e metodologias adequadas às peculiaridades de cada localidade. Tais pressupostos se propõem a legitimar a relação dialógica entre o aluno e o lugar em que vive, assim como propiciarem a valorização das potencialidades locais (BRASIL, 1996).

Nesse sentido, cabe pensar uma escola contemporânea, em tempo de modernidade, que precisa constantemente reinventar os procedimentos metodológicos, pautar-se em parâmetros atuais e emancipatórios, em mudanças que venham a atender às necessidades dos sujeitos e do mundo do trabalho. O mundo moderno exerce certo tipo de poder sobre as ações e comportamentos dos sujeitos, interferindo na composição da história de vida da pessoa e do lugar. Busca-se, então, a auto-realização, a mudança de atitude e de vida.

Atualmente, a Educação tem sido uma temática intensamente discutida em todos os países do mundo. No Brasil, a realidade de crianças e jovens em idade escolar que ainda

permanecem afastados dela extrapola o nível de tolerância com percentuais de fracassos, que fragilizam o Estado aos olhos dos países ditos desenvolvidos.

Chapadinha (MA) é um dos nove municípios localizado na mesorregião do leste maranhense. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa região compõe-se de uma área de 3.247,383 km² e conta com uma população estimada em 73.350 habitantes, de acordo com o Censo 2010 (IBGE, 2010). No âmbito do município de Chapadinha (MA), e, em especial, de suas comunidades do campo, percebe-se que as implicações da alta modernidade têm se refletido em todos os aspectos e setores e é extensivo ao chão da escola, se traduzindo em estratégias de fortalecimento da racionalidade, a partir das configurações organizacionais do ensino e dos elementos que compõem as formas de administração dos sistemas escolares.

A estrutura educacional do Município corresponde a do Estado, que articula diretrizes normativas e estabelecem as atribuições e as competências dos sistemas educacionais para a execução de planos, projetos e programas, que atendam aos objetivos mais amplos do mercado de trabalho. São sob essa cultura organizacional que se verificam os conflitos e contradições reveladoras da diversidade de interesses e de valores internos e externos à escola, ou à sociedade por inteiro, e que fazem valer os interesses do capital.

O Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (IDEB) do Maranhão em 2011 foi de 3,9. Em relação ao IDEB do País, que é da ordem de 5,0, o Estado engorda uma estatística como um dos mais baixos dentre todos os Estados (BRASIL, 2012). São milhares de crianças oriundas de famílias de baixa renda sem creches e muitas outras sem acesso a uma pré-escola adequada e digna; sem alimentação necessária; outras frequentando escolas com altos percentuais de repetência, com distorção idade/série e evasão. São milhares de adultos que não sabem ler e nem escrever, e outros milhões de analfabetos funcionais. Este é o exército de excluídos da Educação maranhense, como um todo.

Embora muitos pesquisadores mostrem a necessidade de transformação da escola ou indiquem alguns sinais que sugerem alguns deslocamentos das antigas concepções de escola, ela ainda é considerada uma instituição com futuro e é valorizada pela comunidade.