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4.1 Sobre os agentes do campo acadêmico contábil: o Multi e seus egressos(as)

4.1.1 As instituições de ensino do Multi: uma breve contextualização

As universidades passam, com o objetivo de contribuírem e acompanharem a evolução da sociedade, por inúmeras mudanças ao longo do tempo. E o mesmo se passou com as instituições de ensino que compõem o Multi, que se desenvolveram com valores e normas distintas e, concomitantemente, com a evolução das regiões em que estão inseridas. O caminho percorrido da UnB mistura-se com a trajetória histórica de Brasília, a capital do Brasil. A UnB foi criada com o advento da Fundação Universidade de Brasília (FUB) pela Lei nº 3.998/61, sendo inaugurada em 1962, dois anos após a criação de Brasília, “com a promessa de reinventar a educação superior, entrelaçar as diversas formas de saber e formar profissionais engajados na transformação do país” (UnB, 2017f, Sem página). O artigo 1º da Lei nº 3.998/61 autoriza o Poder Executivo a criar a FUB: “Fica o Poder Executivo autorizado a instituir, sob a denominação de Fundação Universidade de Brasília”.

Com o objetivo de possuir maior liberdade e flexibilidade em sua gestão se comparada a outras universidades federais, a UnB organizou-se como uma fundação tendo a sua estrutura e regras estabelecidas em seu plano diretor de 1962. O artigo 3º da Lei nº 3.998/61 definiu que os objetivos da FUB eram “criar e manter a Universidade de Brasília, instituição de ensino superior de pesquisa e estudo em todos os ramos do saber e de divulgação científica, técnica e cultural”. A UnB foi pensada por seus criadores, principalmente Darcy Ribeiro e

Anísio Teixeira, para ser uma universidade autônoma, inovadora e transformadora da realidade social. As outras universidades na época da concepção da UnB eram vistas como burocratizadas, profissionalizantes, elitistas, sujeitas a cátedras, copiadoras do conhecimento derivado do estrangeiro, desdenhadoras da pós-graduação e pouco democráticas com seus alunos, sendo assim, não tinham condições de promover a inovação e a transformação, corroborando para a reprodução da sociedade, mantendo o status quo. Todavia, a liberdade e autonomia, objetivada na criação da UnB, começaram a ser colocadas em dúvida a partir da primeira invasão da universidade por tropas militares em 1964 (Mendes, 2009; UnB, 2017b, 2017d, 2017f).

Darcy Ribeiro entendia que a universidade deveria ser, além de um local de estudos, pesquisas e projetos, um lugar para que a comunidade pudesse interagir e se reunir. Desta forma, o espaço universitário seria ideal para a troca de ideias, permitindo o desenvolvimento científico, cultural e social. A união dos agentes (alunos, professores, pesquisadores etc.) ali inseridos proporcionaria a criação de uma consciência coletiva, permitindo que transformações sociais ocorressem (Mendes, 2009). A autonomia almejada pela UnB encontrou respaldo na Constituição Federal, de 1988, e na LDB, de 1996, mas Morhy (2003) destaca que essa liberdade estava “prejudicada pelas restrições constitucionais e legais existentes, no que diz respeito à administração das instituições universitárias e similares e quanto à gestão financeira e patrimonial dessas instituições” (p. 23). Mendes (2009) pontua que

as carências das antigas universidades apontadas por Darcy Ribeiro ainda se fazem presentes. As escolas superiores continuam elitistas e burocráticas. Provavelmente a influência do mercado e a preocupação profissionalista tenham aumentado com a tendência neoliberal de nossa política nacional. Os currículos ainda não propiciam maior liberdade para o aluno escolher sua formação. Os índices de desistência dos cursos são altíssimos, pois a escolha profissional é obrigatoriamente feita quando o aluno entra na faculdade, ainda inexperiente e imaturo. Assim, a faculdade está impossibilitada de servir como instrumento de transformação social por meio de uma consciência coletiva. (Sem página)

O curso de graduação em Ciências Contábeis da UnB foi criado no ano 1977. Primeiramente ele foi implantado junto ao Departamento de Administração, contando com cinco professores. Dado o avanço tecnológico, em 1988, a estrutura curricular do curso de Ciências Contábeis foi alterada, conferindo um enfoque maior na utilização de sistemas de informação. Como resultado dessa nova proposta, ocorreu um aumento no número de docentes e na disponibilização de vagas para o curso e a criação, em 1991, do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais (CCA). Em 1994, o curso superior em Ciências Contábeis passou a ser oferecido no período noturno, sendo o curso no período diurno interrompido,

com a retomada da oferta diurna em 1996. Em 2016, o curso de graduação em Ciências Contábeis da UnB ofereceu um total de 130 vagas em seus cursos diurno e noturno, uma relação de 2,99 candidatos por vaga, sendo o curso da área com a quarta maior demanda no Brasil (Diniz, 2016, UnB, 2017b, 2017c, 2017d, 2017e, 2017f).

A UFPB foi criada na mesma década da UnB, em 1960, pela Lei nº 3.835, que possibilitou a federalização da Universidade da Paraíba, uma universidade estadual que havia sido criada pela Lei Estadual nº 1.366/55. A UFPB foi o resultado da junção de algumas escolas superiores que se transformaram na Universidade da Paraíba. Primeiramente a criação da Escola de Agronomia do Nordeste em 1934 possibilitou o surgimento de instituições superiores em áreas não tradicionais da época, como Medicina e Direito. Assim, em 1947, surgiu a Faculdade de Ciências Econômicas (FCE). A FCE foi considerada um divisor de águas para Paraíba, pois permitiu que o estado saísse de um período com predominância de instituições de ensino secundário (nomenclatura à época referente ao Ensino Médio) para um período de criação de instituições de ensino superior. Na década seguinte, a partir de 1950, foram criadas várias escolas que culminariam na criação da Universidade da Paraíba, em 1955, que posteriormente, em 1960, seria transformada na UFPB. Nessa década, surgiram a Escola de Engenharia, a Faculdade de Direito, a Faculdade de Medicina, a Faculdade de Odontologia e a Escola de Enfermagem. Ao todo, em 1955, havia 11 escolas de nível superior, que culminaram na Universidade da Paraíba (UFPB, 2017a, 2017b, 2017c).

O funcionamento efetivo das escolas superiores isoladas estaduais e particulares, o satisfatório contingente de alunos, abrindo margem para uma crescente procura de cursos, o andamento precário de algumas escolas por falta de infra-estrutura financeira, a formação a curto e médio prazos de mercados de trabalho nos diversos ramos profissionais, como Medicina, Odontologia, Magistério Secundarista, Advocacia e Engenharia, seriam as condições propulsoras de criação da Universidade Estadual da Paraíba, em 1955. (Limeira e Formiga, 1986, Sem página)

Em 1973, a estrutura acadêmica “multicampi” dividida em centros, da UFPB foi aprovada pelo Conselho Universitário, fazendo com que a instituição fosse constituída por sete campus universitários. Essa condição durou até o ano de 2002, quando, com a criação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), houve o desmembramento de quatro campus, que foram incorporados pela UFCG (UFPB, 2017a, 2017b, 2017c).

O Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) que abriga o curso de Ciências Contábeis e os demais cinco centros foi institucionalizado no Campus I da UFPB. A princípio, compunham o CCSA as faculdades de Direito, Ciências Econômicas e Educação e os departamentos de Administração e Contabilidade aos quais eram vinculados os respectivos cursos de Administração e Contabilidade. O CCSA teve o seu primeiro regimento aprovado

somente em 1980, e já contava nesse período com o curso de graduação em Ciências Contábeis que havia sido criado em 1969 (CCSA UFPB, 2017).

A UFRN, assim como a UnB e a UFPB, foi criada na década de 1960. A Lei nº 3.849 federalizou a Universidade do Rio Grande do Norte (URN) e transformou-a na UFRN em 1960. Sendo assim, a UFRN é oriunda da URN, uma universidade estadual criada em 1958 pela Lei estadual nº 2.307, pela junção de faculdades e escolas de nível superior. Compunham a URN e inicialmente a UFRN as faculdades de medicina, farmácia, odontologia e direito de Natal e a escola de engenharia da Universidade do Rio Grande do Norte. Em 1968, uma reforma universitária pôs um fim às faculdades, consolidando a estrutura departamental e de centros acadêmicos (UFRN, 2017a, 2017b).

A Lei de sua federalização (3.849/60) garantia a UFRN autonomia didática, financeira, administrativa e disciplinar, porém, assim como a UnB, durante o regime militar, a UFRN, esteve com a sua autonomia universitária comprometida (UFRN, 2015). O Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da UFRN, que abriga o departamento de Ciências Contábeis, foi criado em 1973 pelo Decreto Federal nº 73.144. Antes mesmo da criação do CCSA e da junção das diversas universidades para a consolidação da UFRN, o curso de Ciências Contábeis já existia, tendo a sua autorização de funcionamento, ainda como Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais, em 1962. Assim como o curso de Brasília, a princípio não existia o departamento de Ciências Contábeis, ficando o curso vinculado ao departamento de Administração. Depoimentos de ex-alunos, ex-professores e professores para o documentário de 55 anos do curso de Ciências Contábeis da UFRN explicitam as dificuldades enfrentadas para sua consolidação, desde a opção da maioria dos discentes por fazer Ciências Econômicas em vez de Contábeis até a falta de qualidade e infraestrutura para a obtenção do curso superior em Contabilidade (UFRN, 2017a, 2017b).