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As inversões corporativas no Brasil

No documento LISTA DE FIGURAS (páginas 49-52)

CAPÍTULO 2 – As inversões corporativas

2. As inversões corporativas no Brasil

Importante notar, não obstante o que foi mencionado acerca das inversões até aqui, como tais operações ocorrem no país.

No Brasil, as inversões corporativas podem ser operacionalizadas de forma semelhante do que ocorre nos EUA, seja por meio de uma operação de alienação de ativos, ou por meio de uma permuta de ações, ou ainda por uma combinação de ambas as formas.

Cumpre salientar que as inversões corporativas não devem ser confundidas com as operações de incorporação (societária e de ações), fusão, cisão, transferência da sede, redomiciliação. Todas estas operações podem ocorrer em inversões corporativas, mas não necessariamente. As inversões se caracterizam, precipuamente, pelo fato de uma antiga matriz brasileira, por meio de operações de reestruturação societária combinadas ou não, passar a ser uma subsidiária detida por uma nova matriz estrangeira, localizada ou não em paraíso fiscal ou país que possua regime fiscal privilegiado.

A figura abaixo de nossa autoria, ilustra, de forma resumida e conceitual, o que ocorre numa inversão de uma multinacional Brasileira para o exterior:

A fim de explicar o que ocorre numa situação ilustrada pela figura acima, de modo geral, três passos podem ser usados para se operacionalizar uma inversão. O primeiro passo seria a

criação de uma nova companhia, subsidiária integral da matriz Brasileira, com sede no exterior, mais especificamente o país de destino da operação de inversão. A decisão pelo país de destino da nova matriz do grupo deve ser minuciosa e levar em consideração aspectos tributários e econômicos do país de destino.

Para a formação do capital social da nova subsidiária no exterior, a matriz brasileira faria um dropdown102 de ativos e passivos para a nova empresa no exterior. Tal operação pode gerar tributação no Brasil no que concerne à alienação, em sentido amplo, dos ativos bem como eventual pagamento de cláusula penal por quebra de contrato ao se efetuar assunção de dívidas ou obrigações, se estas forem também transmitidas a fim de formar o capital da nova companhia no exterior.

O segundo passo seria a transferência das ações da nova companhia no exterior para os acionistas da matriz brasileira, por meio de redução de capital. A redução de capital é operação típica, conforme o disposto no artigo 173 da Lei n. 6.404 de 1976, em que pode ser motivada haja vista a ocorrência de perda, até o limite dos prejuízos acumulados, ou se for considerado excessivo. Tal operação, em tese, não gera efeitos tributários.

Por fim, o terceiro passo, pelo qual ocorre a inversão propriamente dita, os acionistas aportam ações da companhia Brasileira na nova companhia no exterior. Essa operação é uma transação com ações em que ocorre, na prática, um aumento de capital da nova companhia no exterior com ações da empresa brasileira, invertendo, portanto, a matriz do grupo.

Uma inversão corporativa há de ser entendida, não como uma única operação, posto que

extremamente complexa a qual requer diversas etapas (steps), mas como um conjunto de

operações cujo resultado é a matriz de um grupo econômico (empresa multinacional) sediada num determinado país (país A), deixar de ser a matriz do grupo, por meio de operações societárias que coloquem uma outra entidade, sediada no país B, no topo da estrutura corporativa, ou por meio da transferência da sede da matriz no país A para o país B ou C.

A operação de inversão corporativa no Brasil é, portanto, e acima de tudo, uma operação de reorganização societária de um grupo multinacional que tem por característica uma

102 Por dropdown de ativos e passivos pode ser entendido como a subscrição de capital por meio de bens. Nos termos do artigo 7 da Lei n. 6404 de 1976, o capital social poderá ser formado com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro. Ademais, o artigo 251 da mesma lei dispõe acerca da possibilidade de uma sociedade subscrever em bens o capital da subsidiaria integral, desde que os requisitos de avaliação dos bens sejam respeitados, nos termos do art. 8 da Lei n. 6.404 de 1976.

substancial presença internacional, evidenciada por operações no exterior e a presença de ativos no exterior e até financiamento internacional.

Numa primeira análise, uma inversão corporativa de uma multinacional Brasileira para o exterior geraria a vantagem de não estar adstrita às regras de tributação em bases universais (conforme a Lei n. 12.973 de 2014) em relação aos lucros auferidos no exterior, de forma similar do que ocorre no caso Norte-Americano, em que uma multinacional invertida não se sujeitaria mais às regras de CFC e à subparte F, desde que os critérios específicos sejam cumpridos. No entanto, como o Brasil não tributa internamente a distribuição de dividendos, não poderia ser dito que uma vantagem de uma inversão de uma multinacional Brasileira fosse ser o acesso a lucros represados, como no caso dos EUA. Mas, à semelhança do que ocorre nos EUA, uma inversão corporativa poderia levar à erosão da base tributável da matriz brasileira, posto que a nova matriz do grupo, pós inversão, poderá contratar mútuo com a antiga matriz no Brasil, criando, assim, uma despesa dedutível no Brasil, desde que as regras de subcapitalização sejam cumpridas e desde que a nova matriz no exterior não se situe em paraíso fiscal.

Passaremos no próximo capítulo a averiguar quais as potenciais causas para inverterem, bem como analisaremos me mais profundidade as potenciais vantagens de uma multinacional Brasileira inverter para o exterior.

No documento LISTA DE FIGURAS (páginas 49-52)