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As limitações Antrópicas das Teorias de Tudo

Capítulo III: Teorias de Tudo: Principais dificuldades

3.7. As limitações Antrópicas das Teorias de Tudo

A Ciência tem progredido como nunca, mas a razão do seu sucesso pode vir a ser a razão do seu fracasso: nós. A certa altura, Hawking proclamava o Fim da Física Teórica tal a «avalanche» de resultados dela obtidos. Porém, não foi o fim da Física.

Este físico notável, mais do que uma vez nomeado para o Nobel, admite, tal como Lederman, que a unificação só será eficaz se a Gravidade incorporar as outras forças: Forças Forte, Fraca e Electromagnética.

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Cursiva nossa.

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Não se trata aqui de retirar a qualquer pessoa informada a capacidade para compreender o Teorema da Incompletude de Godel. Apenas dizemos que ele é (naturalmente) inacessível, na sua complexidade matemática, a não iniciados.

A fraqueza de uma Teoria Final reside na circunstância da Relatividade Geral não admitir o Princípio da Incerteza, característica da Mecânica Quântica. Porém, hoje sabemos que o Universo é quântico.

Hoje, os físicos afiliados às Teorias do Tudo têm desenvolvido outras teorias parciais na tentativa de harmonizar a Quântica com a Relatividade. As chamadas Teorias das Cordas são um dos exemplos que têm tido aparentemente mais sucesso teórico.

Descobriu-se, porém, que para o sucesso (eventual) dessa Unificação, tal teoria deveria conter as 4 dimensões da relatividade mas segundo cálculos matemáticos deveria conter 26 dimensões!

Físicos como Weinberg e Lederman admitem a possibilidade de um tal número de dimensões, mas consideram que essas dimensões estão recolhidas num espaço infinitesimal tão pequeno que não as podemos ver nem com recurso às tecnologias mais avançadas:

«[As outras dimensões] estão curvadas num espaço de muito pequena dimensão, algo como um milésimo de um milionésimo de milionésimo de milionésimo de milionésimo de milionésimo de centímetro. Trata-se de uma dimensão tão pequena que simplesmente não nos apercebemos dela. Vemos apenas uma dimensão temporal e três dimensões espaciais» (Hawking, 2007: 154).

Uma explicação possível para a inexistência visível de mais do que 4 dimensões é o Princípio Antrópico. Seres como nós simplesmente não poderiam existir em 26 dimensões porque somos simplesmente demasiado grandes para isso.

O que, de resto, se discute, se estuda hoje e sobre isso se especula é sobre se, de facto, poderá algum dia o homem descobrir uma TGU ou se isso nunca virá a acontecer, ou se se tal acontecer, isso não nos será permitido conhecer devido às nossas limitações antropomórficas, ao nosso conhecimento que não abarca a aleatoriedade e a arbitrariedade. O nosso cérebro nunca seria capaz de admitir isso.

Os físicos gostam de leis e de regularidades pois só isso faz sentido para o cérebro humano, para nós. Mas, será que o Universo no seu todo pode ser reduzido a leis universais que prevejam, delimitem e controlem?. Alguns pensam que se o homem pudesse prever tudo então isso limitaria a liberdade de Deus145 de agir como quisesse.

Se partilhássemos desta ideia - e não partilhamos - poderíamos ver na Mecânica Quântica a suficiente incerteza que justificaria a margem de intervenção de Deus no Universo. Mas, como escreve Hawking: «Não há nenhuma prova de que Ele tenha

qualquer tipo de intenção» (idem, 135).

Depois levantam-se outras questões: «Será que a TGU seria tão convincente que

forçaria a criação da sua própria existência?» (ibidem, 138). Mais uma vez se

evidenciam, nesta interrogação, as nossas limitações: a GUT é o que deve ser e não causa de si própria?

Aproximamo-nos aqui da ideia ancestral do Incriado, do Ser originário, causa de todas as causas e também causa de si mesmo. Não podemos deixar de notar o quanto de místico-filosófico está incorporado neste pensamento, o que nos deve conduzir à ideia de que, entre Ciência e Filosofia é muito mais o que une do que o que separa estas duas formas de conhecimento humano.

Perante isso recorremos, por exemplo, à mística ou à Religião: Será que a TGU exige um criador? Então, quem o criou a Ele? Aqui esbarramos (mais uma vez) com a nossa incapacidade de conceber a incausalidade.

Para nós tudo tem de ter uma causa, incluindo, naturalmente o Big Bang. Mas isso não significa que o Universo tenha de ter uma causa visto esse conceito (causa) ser de proveniência humana, logo, muito limitada.

Permitimo-nos relembrar aqui o que escrevemos nas páginas anteriores sobre a ideia de universos cíclicos, acalentada por parte da comunidade científica ligada à Física.

A descoberta, o estabelecimento de uma GUT, para além do seu óbvio interesse científico, produziria efeitos que transcendem a fronteira da Física. Uma das consequências seria contribuir para a diminuição da irracionalidade com todos os fenómenos de crendice pseudocientífica a ela associados.

A descoberta final das Leis da Natureza poria fim a esse fenómeno tão espalhado e que diminui o homem:

«Hoje em dia as mentes de muitas pessoas estão repletas de […] conceitos irracionais que vão desde superstições inócuas como a Astrologia, a ideologias […] horrendas. [Como] as leis fundamentais da Natureza permanecem obscuras [isso] faz com que seja mais fácil para as pessoas terem a esperança que um dia as suas irracionalidades favoritas encontrem um lugar respeitável na […] ciência. [….] A descoberta das leis finais da Natureza deixaria […] menos espaço na imaginação para crenças irracionais» (Weinberg, 1996:, 221).

Uma última palavra para acrescentarmos que , não obstante o seu optimismo, os físicos das partículas estão inseguros quanto à elaboração de uma Teoria Final: «Talvez

exista uma Teoria Final [mas] talvez o ser humano não seja suficientemente inteligente para descobrir ou para compreender a Teoria Final» (Weinberg, 1996:216).

Curiosamente, um pouco mais à frente, duvida para, no final dizer que acredita:

«Não temos o direito de esperar que o nosso intelecto possa formular conceitos perfeitos para a compreensão total dos fenómenos […] da natureza» (idem, 216). [Mas]o meu palpite próprio é o de que existe uma Teoria Final e que somos capazes de descobri-la» (idem, 216-217).

Nem poderia ser de outra forma. Os físicos estão sujeitos à dúvida como qualquer mortal. Por muito que o seu pensamento paire muito acima do nosso viver quotidiano e das nossas preocupações domésticas eles são, em resumo, pessoas como nós com tudo o que isso significa de limitação e de condicionamento.