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As marcas da guerra para o desenvolvimento do Alecrim

3.3 AS BASES PARA A

3.3.2 As marcas da guerra para o desenvolvimento do Alecrim

Com o desencadeamento da Segunda Guerra Mundial, ocorrida de 1939 a 1945, a cidade de Natal, por deter destes importantes fatores estratégicos observados fundamentalmente pelos E.U.A., líder dos Aliados no conflito, passou por importantes mudanças políticas e sociais no seio do seu desenvolvimento, o que representou um fato histórico de grande significado para a vida urbana da cidade.

A presença das tropas estadunidenses na cidade deu-se emparelhada à intensa e progressiva extensão demográfica no contexto urbano da capital. Esse fluxo migratório multiplicou-se movido, principalmente, pelo trabalho disponível nas obras empreendidas para assessorar os militares, como a construção da Base Naval, e pelo poder público local, responsável por acompanhar o ritmo desenfreado do crescimento urbano de Natal naquela década, abrindo ruas, oferecendo serviços

básicos de saúde, educação, segurança e, principalmente, de infra-estrutura urbana. Mesmo assim, os investimentos não acompanharam a demanda da população, pois:

[...] o grande contingente de militares e a construção das bases atraíram a população civil motivada pela oferta de emprego, incentivada pela grande circulação de dinheiro que ocorria na cidade. Era grande o despreparo da capital potiguar para absorver esta atividade e estes contingentes, principalmente nos aspectos ligados ao abastecimento, disponibilidade de moradias, infra-estrutura urbana, (transportes, hotéis, pensões) custos de vida e defesa civil (CLEMENTINO, 1995, p. 22).

Com o objetivo de sanar todos os problemas advindos dessa nova dinâmica posta na cidade, novas transformações urbanísticas foram diligenciadas na cidade de Natal, tendo os bairros da Ribeira, Cidade Alta e do Alecrim como alvos principais destas políticas.

Calçamentos foram desenvolvidos, instalações elétricas e hidráulicas providenciadas e, principalmente, o sistema de transporte foi ampliado. Em decorrência disso, outros serviços também foram gradativamente surgindo naquela época, como bares, restaurantes, pousadas, hotéis, cabarés, delegacias etc.

Para se ter idéia da dimensão colocada pela presença dos militares naquele momento em Natal, Clementino (1995) coloca que diversas personalidades importantes estiveram presentes na cidade como os presidentes Getúlio Vargas (Brasil) e Franklin Roosevelt (E.U.A.), e os príncipes Bernard (Holanda) e Faisal (Arábia Saudita).

A implantação da Base Naval, na rua Silvio Pélico, em 1941, obra construída pelo governo brasileiro com auxílio do governo dos E.U.A., e instalada na mesma área onde se encontrava a Escola de Aprendizes de Marinheiros “[...] pode

ser considerada um marco para a mobilização militar verificada na década de 40 e seguintes” (CLEMENTINO, 1995, p. 203).

Com a vinda dos militares, foram trazidos, concomitantemente a este fato, outros adereços importantes, como novos equipamentos e funcionalidades para o espaço natalense, embora a cidade não estivesse preparada para receber todo este aparato em um curto período de tempo. Segundo Clementino (1995, p. 215):

A vinda para Natal de grande contingente de militares e mais a construção das bases, atrai de imediato a população civil motivada pela oferta de emprego civil e militar e também incentivada pela grande circulação de dinheiro que ocorria na cidade. O despreparo da capital potiguar para absorver esta atividade e estes contingentes faz-se de imediato, principalmente nos aspectos ligados ao abastecimento, disponibilidade de moradias, infra-estrutura urbana (transporte, hotéis, pensões) custo de vida e defesa civil.

Em um momento no qual o país pautava-se pelo crescimento econômico para dentro, ampliando a rede urbana e acentuando sua hierarquização, o setor terciário cresce e se fortalece, sustentando o processo de industrialização e promovendo a expansão urbana das cidades brasileiras. No entanto, cabe ressaltar que, no contexto local, o setor secundário não tenha sido a tônica principal da expansão urbana de Natal, pois os serviços mostraram-se mais eficientes no modelado do espaço da capital, principalmente, durante e após a Segunda Guerra Mundial, marco no desenvolvimento socioespacial na cidade.

O poder militar teve um papel importante para a expansão urbana de Natal. Segundo Cascudo (1999), a Base Naval, alojada na direção Sul das margens do estuário do Potengi/Jundiaí, era uma das três construídas na cidade, juntamente com a do Exército e da Aeronáutica, para dar suporte principalmente aos estadunidenses que se instalaram na cidade durante o período da Segunda Guerra Mundial (Figura 7).

Figura 7 - A antiga Escola de Aprendizes de Marinheiro, local da atual Base Naval de Natal

(Marinha do Brasil).

Fonte: Miranda (1999) e Lidiane de Morais Diógenes, dez. 2003.

Em particular, o bairro do Alecrim foi a área em Natal que mais recebeu estes embates socioespaciais, advindos da influência militar. A instalação da Base Naval de Natal, no Alecrim, proporcionou, de início, por exemplo, a construção da Vila Naval, composta por 189 casas destinadas aos militares da Marinha, aumentando consideravelmente o fluxo de pessoas naquelas áreas até então desocupadas18.

A influência da Marinha no bairro promoveu a construção também de alguns dos principais clubes sociais da história da cidade, como o clube dos oficiais que funcionava na Base Naval; o Atlântico e o Camana (Casa de Marinheiro Natal), presentes ainda hoje na avenida Alexandrino de Alencar.

Clementino (1995) ressalta que o momento da guerra mostrou-se como um progresso mascarado, tendo em vista os altos custos que essa dinâmica de curto espaço temporal levou para a cidade. As transformações infra-estruturais e culturais eram bastante perceptíveis àqueles que viveram a época em Natal.

18

A Vila Naval está localizada no quarteirão formado pelas avenidas Presidente José Bento, Presidente Sarmento, Coronel Estevam e pela rua dos Canindés. Posteriormente, outros conjuntos da Marinha foram construídos no bairro: em 1970, 75 casas foram erguidas na rua Olinto Meira e outro ao lado da Base Naval, na rua Sílvio Pélico (CARVALHO, 2004).

Assim, percebeu-se que a cidade, como um todo, vivenciou grandes alterações socioespaciais, as quais se incorporaram à paisagem da cidade, contribuindo para a redefinição dos rumos do futuro que a mesma tomou diante do crescimento urbano.

A cidade de Natal emergiu do conflito como uma verdadeira capital regional, afirmação constatada com os seus surpreendentes 103.215 habitantes, dos quais 50,6% viviam no Alecrim em 1950. A população existente em Natal, neste período, correspondia a quase o dobro (88,2%) do período que antecedeu a guerra (54.836 habitantes) - crescimento de quase 9% ao ano e uma cidade dotada de novos equipamentos e serviços urbanos expressivos em Natal (CLEMENTINO, 1995).

Seguindo a tendência nacional, a população natalense continuou crescendo: 1960: 160.253 hab.; 1970: 264.379 hab.; 1980: 416.898 hab.; 1991: 606.887 hab. e em 2000: 712.317 hab. Atualmente, estimasse que mais de 778 mil habitantes vivam na cidade de Natal (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000, 2005). Desde sua fundação, foi somente na década de 1980 que o Alecrim deixou de ser o bairro mais populoso da cidade (Gráfico 1). 52.226 52.302 55.570 50.933 36.469 32.356 0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 1950 1960 1970 1980 1991 2000 Po pu la çã o

Gráfico 1 - Evolução da população do Alecrim (1950-2000). Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1960, 1970,

1980, 1991, 2000) e Lima (2003).

Acreditamos que a perda de população observada neste período tenha relação com inúmeras políticas de habitação implementadas nas zonas periféricas da cidade, principalmente na zona Norte. Este fato acarretou a perda de população dos bairros centrais da cidade. Contudo, o Alecrim foi o que menos sofreu com esse processo.

Vale também salientar que, com a expansão da infra-estrutura física empregada na cidade no período do conflito, a guerra havia de proporcionar profundas transformações, sobremaneira, nas relações sociais dos seus habitantes, não só pela chegada do grande contingente populacional oriundo do estrangeiro, mas, sobretudo, nos costumes que marcariam a vida no bairro até os dias de hoje.