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São muitos os autores que contaram a história da cidade de Natal, discutindo seu processo evolutivo e relatando alguns fatos importantes na reprodução do espaço urbano natalense, entre esses autores, destacamos Cunha (1987), Clementino (1995), Costa (2000), Lopes Junior (2000), Souza (2001), Lima (2003) e, principalmente, o historiador Cascudo (1999).

O espaço urbano natalense está regado de contradições que fazem parte da origem de sua organização urbana, manifestando aí a sua forma de reprodução. Assim, ressaltamos que a utilização destes autores passa pela busca do entendimento e construção de uma periodização banhada pela reflexão crítica de suas obras.

Segundo os autores supracitados, a cidade de Natal teve sua posição geográfica determinada originalmente em função de sua localização estratégica, no extremo Nordeste, para a conquista e o monitoramento do território colonial norte- rio-grandense.

O processo de formação de Natal, que já nasceu cidade, reforça o objetivo da coroa portuguesa em dividir o poder territorial na região ligado à primazia social do aparelho político-administrativo que tinha por finalidade fundar núcleos urbanos ao longo da costa litorânea, tendo os fatores econômicos e militares como os mais importantes para garantir o controle do território da então capitania do Rio Grande, contra as investidas dos franceses e holandeses (SOUZA, 2001). Esta situação não era vista em outras áreas do litoral nordestino, pois estas eram vinculadas diretamente ao desenvolvimento da produção da cana-de-açúcar,

criatório do gado, dentre outras pequenas atividades que a capitania não adotava como prioridade.

Mesmo assim, as primeiras décadas de sua existência foram caracterizadas por abandono e muita pobreza para os poucos indivíduos que se encontravam naquela cidade, composta por um pequeno aglomerado de casas. Segundo Cascudo (1999, p. 58), “Os trinta e quatro anos de cidade, 1599-1633, foram lentos, difíceis, paupérrimos. Interessava ao Rei o forte, a situação estratégica” nada mais. Com “Quinze dias depois de fundada ainda estava deserta [...] E com quinze anos de vida, a Cidade de Natal do Rio Grande tinha maior nome que número de moradas” (CASCUDO, 1999, p. 52).

Pode-se dizer que, no período compreendido entre a sua fundação, em 1599, até o início do século XX, a cidade apresentou um crescimento urbano pouco expressivo, não obtendo um desenvolvimento econômico considerável nem mesmo o ganho de população. Ao contrário, Pernambuco continuava a deter a maior importância regional, comandando o complexo agrário representado pela atividade açucareira e algodoeira juntamente com a pecuária.

Costa (2000, p. 109) registrou que esse era:

[...] o cenário de Natal nos seus primeiros anos de existência, enfrentando dificuldades para garantir o seu povoamento, pois a pobreza e a falta de infra-estrutura, atrelada a outros fatores, impediam o seu crescimento.

A situação foi agravada pelos constantes conflitos entre os portugueses e holandeses que lutaram pelo território, provocando a destruição da cidade e, conseqüentemente, o seu despovoamento, porque a população residente, temendo

os conflitos permanentes, migrou para áreas distantes da sede da capitania (COSTA, 2000).

Vale salientar também que, em decorrência de um destes conflitos, os holandeses tomaram e ocuparam a cidade entre o período de 1633 a 1654, fazendo da área um suporte de suprimento, principalmente, de açúcar e carne (Figura 2).

Figura 2 - Ilustração representativa do período em que Natal estava

sob dominação dos holandeses (1630-1654).

Fonte: Miranda (1999).

As dificuldades no desenvolvimento econômico de Natal estavam atreladas às condições naturais existentes na cidade, pois os acidentes geográficos não podiam ser vencidos na época, tendo em vista a grande quantidade de dunas e, principalmente, a má estrutura do porto, localizado às margens do estuário Potengi/Jundiaí (SOUZA, 2001).

Assim, a cidade de Natal foi “[...] aos poucos se consolidando como repassadora de produtos agrícolas para o comércio externo, o que fez surgir um centro comercial e administrativo que passou a ganhar importância”, em função da

produção do algodão, da cana-de-açúcar, da cera de carnaúba e da pecuária, que se desenvolvia no interior do estado (COSTA, 2000, p. 111).

Sobre sua evolução urbana, a história fala que, por volta do século XVIII, a cidade de Natal veio a tomar um perfil mais dinâmico com a construção das primeiras ruas e as três primeiras igrejas, duas na Cidade Alta e uma na Ribeira, os dois únicos bairros existentes naquela época em Natal. “O primeiro mapa da população, dirigido pelo capitão-mor José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque e com data de 31 de dezembro de 1805, marca 6.393 pessoas [...]” (CASCUDO, 1999, p. 93). Foi somente no século XIX que a Cidade Alta e a Ribeira vieram adquirir algumas feições que indicavam a presença do urbano, como o movimento de pessoas nas ruas, o comércio etc. Pois, segundo o historiador Medeiros Filho (1991, p. 70),

[...] até o ano de 1700, parece ter havido duas ruas em Natal: a primeira corresponde à que fica defronte à Matriz, na atual Praça André de Albuquerque; a segunda, o caminho do rio de beber água, as atuais ruas Santo Antônio e da Conceição.

No que tange ao aumento de sua dinâmica, a Ribeira assume características de urbano com o surgimento de alguns estabelecimentos comerciais, uma população residente e o início da construção do cais do porto, em 1869, considerado como fundamental para a função comercial que ele passava a ostentar, tornando-se mais ativo que a Cidade Alta11. Somente com a construção do cais

neste antigo porto, marco na vida econômica da cidade, foi que algumas atividades puderam ser diligenciadas no mesmo (CASCUDO, 1999).

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A transferência do governo provincial para o bairro também contribuiu para sua consolidação como principal bairro da cidade naquele momento (COSTA, 2000).

A grosso modo, até o final do século XIX, existiam apenas dois bairros na cidade de Natal - Ribeira e Cidade Alta, este último adquiriu inicialmente um caráter residencial e, em seguida, um pequeno comércio (Mapa 2).

Mapa 2 - Zona urbana de Natal no final do século XIX. Fonte: Cunha (1987).

Nota: Cartografia de Josué Alencar Bezerra, 2005.

Na periferia deste núcleo principal, encontravam-se outros aglomerados populacionais, como as Rocas, localizado entre a Ribeira e o Forte dos Reis Magos; o Passo da Pátria, fincado às margens do estuário Potengi/Jundiaí, entre a Cidade

Alta e a Ribeira; ao Sul, o Baldo e Barro Vermelho e, a Sudoeste, as Quintas e o Refoles12, conhecido atualmente como Alecrim.

O início do povoamento de Natal teve forte influência do setor comercial colonial impregnado nas vias de escoamento que saíam do interior e chegavam até o porto da cidade. Estas povoações observadas no mapa anterior surgiram para dar apoio aos que faziam o transporte das mercadorias até o centro comercial de Natal. Posteriormente, com o crescimento da cidade, estes povoados foram absorvidos pela mancha urbana oriunda do centro e, assim, vieram a ganhar o título de bairro de Natal.