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3.3 AS BASES PARA A

3.3.3 As ruas e avenidas

Durante o período colonial, a cidade de Natal, como as demais cidades brasileiras regidas pela coroa portuguesa, não passou por um controle de planejamento urbano que administrasse a criação de suas ruas e avenidas. Na oportunidade, as ruas dos centros brasileiros eram delineadas a partir do posicionamento das primeiras edificações da área. O lugar da praça e da igreja matriz era de maior expressividade, mas, além desses, restavam apenas ruas irregulares que se expandiam conforme iam se instalando as casas, os galpões e os estabelecimentos comerciais sem nenhuma continuidade (MAIA, 2000). Nesta perspectiva, as primeiras ruas foram criadas no Alecrim, exemplo disso foi a

construção do acesso à Escola de Aprendizes de Marinheiro, conhecida atualmente como rua Silvio Pélico.

Diferentemente do que se imagina, a infra-estrutura urbana do bairro não foi diligenciada apenas no período da Segunda Guerra Mundial. Algumas ruas importantes para o bairro foram construídas antes mesmo da criação do Alecrim, como o caso da rua Amaro Barreto, criada no dia 16 de agosto de 1909, sob a Resolução nº. 132, baixada pelo então presidente da Intendência de Natal, Joaquim Manoel de Teixeira de Moura. Na oportunidade, o presidente ditava que a via começava na esquina da rua Sílvio Pélico, se estendendo até onde hoje se encontra o bairro das Quintas (CARVALHO, 2004).

No entanto, foi somente 14 anos depois de criado que parte do calçamento do bairro do Alecrim começou a ser providenciado. Segundo Souza (2001), foi em 1925, que o prefeito Omar O’grady veio a calçar a primeira rua do bairro, que seria a rua José Bernardo, no Baldo. Esta obra chegou até o cemitério e impulsionou, de certa forma, a construção de mais algumas casas naquela área, porém, o trecho calçado tinha por finalidade ligar a Cidade Alta ao Alecrim e, com isso, fornecer maiores condições de acesso ao único cemitério de Natal.

Dez anos mais tarde, na gestão de Gentil Ferreira de Sousa, o prefeito continuou o calçamento de paralelepípedo das ruas Fonseca e Silva e Amaro Barreto. A topografia do bairro do Alecrim apresenta algumas irregularidades no terreno, por isso, acreditamos que o poder público da época encontrou muitas dificuldades para desenvolver estas obras.

Entretanto, naquele momento, a maior preocupação dos administradores da cidade se resumia à saúde pública, pois era no Alecrim onde se concentrava a população mais pobre da cidade, além do único cemitério, que já se encontrava

bastante saturado, e do matadouro que não oferecia condições de higiene necessárias para um estabelecimento dessa natureza (LIMA, 2003). Todavia, todos estavam cientes de que, para sanar os problemas de saúde pública da cidade, era necessário investir num plano de reordenamento urbano de Natal.

Como já citado anteriormente, no final da década de 1920, o prefeito da cidade, Omar O´grady convida o arquiteto italiano Giacomo Palumbo para liderar o plano de sistematização para a urbanização de Natal, que promoveu, de início, a abertura de largas avenidas na cidade, atingindo diretamente os corredores do bairro. As marcas sociais deixadas pelas ruas e avenidas do bairro estão presentes até hoje no cotidiano dos natalenses.

Antes da organização urbana do bairro, os corredores viários do Alecrim já eram denominados por números. Populares e estudiosos do passado de Natal afirmam que o modelo dos estadunidenses de numerar as ruas na cidade vem antes mesmo da criação do Alecrim. Alguns autores dizem que, em toda a cidade, foram enumeradas dezoito ruas, outros falam em vinte, alguns colocam que foi no primeiro plano urbanístico de Natal, organizado por Antônio Polidrelli, em 1903, quando na cidade só existiam os bairros da Cidade Alta, Ribeira e Cidade Nova, que as ruas receberam a denominação. Mesmo assim, estas afirmações têm um pouco de controvérsia, tendo em vista que, naquele período, existiam pouquíssimas ruas no perímetro do bairro19.

Após pouquíssimos investimentos no bairro, no período que José Augusto Varela governou a cidade, o prefeito mandou calçar a rua Silvio Pélico para facilitar o acesso à Base Naval de Natal, parte das avenidas Presidente Sarmento e

19

Discussão retratada por Cascudo (1999), Souza (2001), Carvalho (2004) e por moradores que vivem há bastante tempo no bairro do Alecrim.

Presidente Quaresma, a praça da Feira do Alecrim e parte da avenida Coronel Estevam.

Durante a gestão de Mário Eugênio Lira, em homenagem ao almirante Ary Parreiras, responsável pela construção da Base Naval de Natal, o prefeito baixou o decreto Lei nº. 176, de 13 de dezembro de 1945, cujo artigo único diz o seguinte: “Passa a denominar-se Rua Ary Parreiras a atual rua Araguaia no bairro do Alecrim desta Capital, revogadas as disposições contrárias” (CARVALHO, 2004, p. 26).

Outra importante rua do Alecrim foi criada no primeiro ano da década de 1950. A rua Mario Negócio, implantada pelo prefeito Olavo Galvão, sob a Lei nº. 44, de 22 de abril de 1951. A via tomaria um trecho da rua Amaro Barreto passando pela praça Gentil Ferreira, tornando-se um dos principais acessos à ponte de Igapó. Posteriormente, a rua Mário Negócio teve seu calçamento reconstruído, o que acarretou o alargamento da via, representando o aumento de 6 para 12 metros, facilitando ainda mais o tráfego para as zonas Norte e Oeste da cidade (CARVALHO, 2004).

Na gestão do prefeito Djalma Maranhão, as ruas Machado de Assis e Agostinho Leitão, parte da avenida Presidente Bandeira e uma área próxima ao então Mercado do Alecrim foram também calçadas. Sabe-se que, entre 1960 e 1980, quase todas as ruas do Alecrim haviam sido pavimentadas e algumas asfaltadas.

O prefeito Agnelo Alves foi um dos que mais desenvolveu este tipo de infra-estrutura no bairro, atingindo um total de 20 ruas: Ferreira Nobre, Alexandrino de Alencar, Vila dos Paianazes, Monsenhor Pegado, Calistrato Carrilho, parte da Olinto Meira, Canindés, parte da Presidente Bandeira, dentre outras. Além do

calçamento das ruas, foi providenciado um novo sistema de iluminação pública no bairro do Alecrim (CARVALHO, 2004).

Segundo relato de alguns moradores, outras ruas foram sendo criadas e, posteriormente, calçadas. No entanto, somente quando José Agripino Maia estava à frente da prefeitura da cidade foi que as travessas tiveram atenção do poder público. Todas estas vias localizadas entre a avenida Coronel Estevam e a rua Amaro Barreto foram atendidas. Durante sua estada na prefeitura, parte da rua Leão Veloso, dos Caicós, a João Carlos, a Álvaro Navarro e a Vila Chagas foram pavimentadas As ruas do Alecrim foram traçadas em forma de xadrez, obedecendo ao sentido Norte-Sul a partir da avenida Presidente Quaresma (Figura 8).

Figura 8 - Alguns dos principais corredores viários do Alecrim: rua Ary Parreiras (1);

avenida Manoel Miranda (2); avenida Presidente José Bento (3); avenida Coronel Estevam (4); rua Dr. Mário Negócio (5) e avenida Presidente Bandeira (6).

Fonte: Josué Alencar Bezerra, jul./dez. 2004.

Era a partir da avenida Presidente Quaresma que se iniciava a numeração, continuando, assim, com a outra via que seguia. Neste primeiro sentido, as ruas foram enumeradas de um a cinco. Já no sentido Leste-Oeste, a contagem

continuava até chegar-se à avenida Doze, conhecida oficialmente como rua dos Paiatis. Mariz e Suassuna (2002, p. 335) colocam que:

[...] muitas ruas do bairro do Alecrim, que originalmente, têm nomes de presidentes da Província e tribos indígenas, como por exemplo a Av. Presidente Bandeira, a Presidente Quaresma, ou a Av. dos Caicós ou dos Panatís, entre outras, que foram numeradas por eles e assim ficaram conhecidas como, a Avenida Um; a Avenida Dois, a Seis, a Sete, a Nove, a Dez, etc, numeradas até 20. Entretanto, os cidadãos mais antigos de Natal, contestam essa informação, afirmando que o uso dessa denominação às ruas do Alecrim é anterior a chegada dos americanos em Natal.

Sabe-se que o prefeito O´grady sugeriu que os representantes do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) listassem alguns nomes de personagens históricos do estado para atribuir às ruas do Alecrim. Alguns receberam nomes de tribos de índios que viveram no território norte-rio-grandense no decorrer do século XVIII, e outras adotaram denominações comuns às pessoas que governaram o estado durante o período colonial e do império (Quadro 1).

Denominação

popular Denominação oficial Referência

Avenida 1 Rua Presidente Quaresma João Quaresma Torrão

Avenida 2 Rua Presidente Bandeira João Capistrano Bandeira de Melo Avenida 3 Rua Presidente José Bento José Bento da Cunha Figueiredo Avenida 4 Rua Presidente Sarmento Cassimiro José de Morais Sarmento Avenida 5 Rua Presidente Leão Veloso Pedro Leão Veloso

Avenida 6 Rua dos Canindés Índios Canindés

Avenida 7 Rua dos Caicós Índios Caicós

Avenida 8 Rua dos Pajeús Índios Pajeús

Avenida 10 Rua Leonel Leite Leonel Leite

Avenida 11 Avenida Manoel Miranda Manoel Tavares da Costa Miranda

Avenida 12 Rua dos Paiatis Índios Paiatis

Quadro 1 - Referências das avenidas atingidas pelo Plano Palumbo no bairro do Alecrim. Fonte: Carvalho (2004) e pesquisa de campo.

As avenidas 9 e 11 receberam outras denominações, enquanto a rua Leonel Leite, que se chamava rua dos Paianazes, em homenagem aos índios da tribo Paianazes, tem esse nome em homenagem ao proprietário da Casa Leite Importadora de Ferragens LTDA que, durante muitos anos, funcionou no famoso edifício Leite, localizado na avenida presidente Bandeira. Os populares dizem ainda que a avenida Manoel Miranda era conhecida também como rua dos Espinhares, devido à enorme quantidade de espinha de peixe deixada pelos gatos no final da feira.

Torna-se ainda difícil deixar de referir-se às ruas do bairro pelo número. Os jovens, os meios de comunicação da cidade e até o poder público ainda utilizam a antiga denominação quando se remetem àquelas vias.

O conteúdo cultural inserido nestas vias resistiu aos vários serviços que se enquadravam como uma das medidas implantadas para atender ao crescimento da população que vivia no e do Alecrim, principalmente influenciada pelo comércio e pelos meios de transporte verificados no bairro, despontando como outras particularidades do Alecrim.