CAPÍTULO 2 – AS TUTELAS RESSARCITÓRIAS-PECUNIÁRIAS DOS
2.1. As modalidades de tutela ressarcitória
A violação dos direitos da personalidade pode causar prejuízos patrimoniais e
extrapatrimoniais. Havendo dano decorrente da ofensa aos atributos fundamentais da pessoa
humana, a tutela ressarcitória se revela adequada à reparação ou à compensação de prejuízos.
O ressarcimento pode ocorrer de duas maneiras, sendo possível falar em: (i) tutela
ressarcitória na forma específica, por meio da qual se pretende reparar o prejuízo com a
aplicação de medidas não pecuniárias, buscando o retorno ao estado anterior à lesão e a
restauração do bem jurídico violado, como se o dano não houvesse ocorrido;
196e (ii) tutela
ressarcitória pecuniária (ou pelo equivalente monetário), por meio da qual se busca a
indenização ou a compensação do prejuízo com a entrega de quantia pecuniária à vítima.
Pontes de Miranda esclarece, a propósito, que o ressarcimento pode ocorrer de duas
formas: “repristina-se mediante a retribuição em pristino, que se faz pela reentrega do bem ou
pela reparação em natura, integral ou conservativa, ou com o equivalente em dinheiro”.
197Em sentido similar, Luiz Guilherme Marinoni aduz que ressarcir é eliminar o prejuízo
decorrente do ilícito e que existem duas formas de ressarcimento:
198No caso de dano, há duas formas de ressarcimento: pelo equivalente ao valor da lesão e na forma específica. [...]. Ressarcir é eliminar o estrago provocado pelo fato danoso. Portanto, é pouco mais do que óbvio que o dinheiro não pode constituir a única ou sempre a melhor forma de ressarcimento. [...]. Portanto, ressarcir é uma resposta ao dano que pode ser prestada de duas formas: mediante dinheiro e na forma específica.
196 MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 5ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2018, p. 293-294.
197 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito Privado. Parte Especial. Tomo LIV.
Direito de personalidade. Direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 410.
198 MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 5ª ed. São Paulo: Revista dos
Na mesma direção, Sérgio Cruz Arenhart, Daniel Mitidiero e Luiz Guilherme
Marinoni explicam as duas formas ou espécies de tutela ressarcitória:
199,200[...] é preciso separar o dano, o ressarcimento e as duas formas de tutela ressarcitória. Quem sofre um dano tem direito ao ressarcimento, mas pode se valer, conforme a sua situação concreta, de uma das duas formas de tutela ressarcitória. A tutela ressarcitória pode ser prestada pelo equivalente ou na forma específica. [...]. Enquanto a tutela ressarcitória em pecúnia visa a dar ao lesado o valor equivalente ao da diminuição patrimonial sofrida ou o valor equivalente ao custo para a reparação do dano, ou ainda pode constituir uma resposta contra o dano acarretado a um direito não patrimonial (a chamada indenização por dano moral), a tutela ressarcitória na forma específica objetiva estabelecer a situação que existiria caso o dano não houvesse sido produzido.
A tutela ressarcitória pelo equivalente pecuniário ainda pode ser subdividida em: (i)
indenizatória de danos patrimoniais, destinada à eliminação de prejuízos econômicos, para
que a vítima retorne ao status quo ante, recompondo seu patrimônio; e (ii) compensatória de
danos extrapatrimoniais, voltada à amenização de prejuízos decorrentes de lesão a interesses
existenciais, insuscetíveis de avaliação financeira, com a concessão de uma quantia pecuniária
que constitui um lenitivo para a vítima.
Em outras palavras, a tutela ressarcitória-pecuniária tem por objetivo a reparação ou a
compensação do dano causado pelo ato ofensivo aos direitos da personalidade, abrangendo a
tutela indenizatória, que visa à reparação de danos patrimoniais (danos emergentes e lucros
cessantes), possibilitando o retorno do patrimônio ao status quo ante, com a entrega de
quantia monetária correspondente ao prejuízo; e a tutela compensatória, consistente no
pagamento de uma quantia pecuniária que serve para mitigar o prejuízo de ordem
extrapatrimonial.
201199
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz, MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo
Civil: teoria do Processo Civil. Vol. 1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 297-298.
200 No mesmo sentido, afirmam Felipe Peixoto Braga Netto e Karine Cysne Frota Adjafre: “Note-se que a
reparação de um prejuízo não necessariamente está vinculada à forma pecuniária (embora seja a mais comum). Assim, a tutela ressarcitória pode se manifestar tanto na forma genérica quanto na específica. No primeiro caso, fatalmente ocorrerá a entrega de soma em dinheiro para ressarcir o prejuízo patrimonial ocasionado (ou para compensar um dano moral). Já no segundo, é possível pensarmos numa tutela que permita restabelecer a situação que vigia antes da prática da lesão (ou, pelo menos, propiciar o estado mais próximo possível” (BRAGA NETTO, Felipe Peixoto; ADJAFRE, Karine Cysne Frota. Tutela contra o ilícito: em busca de contornos conceituais. In: BRAGA NETTO, Felipe Peixoto; SILVA, Michael César; THIBAU, Vinícius Lott (Coords.). O
direito privado e o novo Código de Processo Civil: repercussões, diálogos e tendências. Belo Horizonte: Fórum,
2018, p. 161).
201
HIBNER, Davi Amaral; SILVESTRE, Gilberto Fachetti. A tutela dos direitos da personalidade no Brasil e na Itália: questões materiais e processuais. In: II Congresso de Processo Civil Internacional, 2017, Vitória. Anais do
Nessa linha, Luiz Guilherme Marinoni afirma que a tutela ressarcitória pelo
equivalente pecuniário pode ser concedida para a reparação de danos patrimoniais e
extrapatrimoniais:
202[...] não é correto confundir o conteúdo do dano com a forma de sua reparação. O dano pode ter conteúdo patrimonial ou não patrimonial, ao passo que existem duas formas para a sua reparação: pelo equivalente e na forma específica. Não é apenas o dano patrimonial que pode ser reparado na forma pecuniária. O dano não patrimonial, apesar de não poder ser expresso em dinheiro, também pode ser ressarcido mediante a imposição de um valor em pecúnia [...]. Nessa linha, há ressarcimento quando se atribui valor em dinheiro ao sujeito lesado, ainda que com a finalidade de compensá-lo, no caso de dano com repercussão não patrimonial (dano à honra, dano estético etc.).