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Capítulo III – Crowdfunding como modelo de negócio para o ciberjornalismo

2. As novas formas de rentabilizar o ciberjornalismo

A mudança de ambiente, do físico para o digital, não significa que o jornalismo de qualidade tenha perdido suas fontes de receita. A questão é que as oportunidades são diferentes e requerem novas maneiras de sustentá-las. Enquanto há um clima geral de derrotismo em relação à viabilidade do negócio na internet, por outro lado existe um otimismo que se espalha pelos órgãos de comunicação devido a novas formas de operação de financiamento (Picard, 2014, p. 501).

A crise econômica é também uma impulsionadora para que o setor da comunicação perceba as oportunidades que surgem e já estão disponíveis para serem exploradas no novo ecossistema midiático (Canavilhas, 2015, p. 358). A internet é um elemento que fornece dinamismo à indústria do jornalismo, com a possibilidade de incrementar e agregar novos modelos de negócio aos já existentes, além do que, permite às empresas do setor lançarem mão de “una estrategia comercial que va más allá de las fronteras nacionales” (Zurita e Segura, 2011, p. 118).

Downie e Schudson (2009) observam que as fontes de receita dos veículos de comunicação na internet deixam de ser exclusivas de anunciantes e assinantes. Há agora

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outras maneiras de rentabilizar os negócios de comunicação, como apoio de fundações, universidades, governo e contribuição dos leitores. Cria-se, assim, um ambiente mais colaborativo para garantir recursos.

Esses novos modelos de negócios que surgem com a rede alteram a estrutura das empresas. As antigas organizações, antes ineficientes e morosas, acabam reduzindo de tamanho, mas se tornam mais ágeis em seus processos (Picard, 2014, p. 504). A realidade é que a questão financeira invadiu de vez as redações e se tornou aspecto primordial para a sobrevência não apenas do negócio, mas também do próprio jornalismo no século 21 (Jones e Salter, 2012, p. 54).

Apesar de novos modelos que surgem no ecossistema da internet, os veículos tradicionais, que nasceram no mundo analógico e precisaram se transportar para o ciberespaço, tendem a não se distanciar do que já faziam. Inicialmente, apostaram na publicidade para disponibilizar gratuitamente o conteúdo, o que se mostrou ineficiente do ponto de vista financeiro, visto que a competição com redes sociais e sítios de busca reduziu consideravelmente as verbas repassadas aos órgãos de comunicação (Bakker, 2012, p. 628). Em decorrência disso, iniciou-se uma tendência mundial de cobrar pelo conteúdo acessado na internet (Villada, 2008, p. 168).

Because of a general transition in news consumption from print to digital, revenues from print newspapers can no longer undertake free online news. So, the implementation of digital subscription and of charging online audiences has become a widespread strategic initiative for legacy newspaper organisations in the second decade of the new millennium (Kammer et al., 2015, p. 107).

O modelo que se destaca nesse sentido é o paywall, que age como uma barreira entre o usuário e o conteúdo online de uma organização de mídia. Para ultrapassar essa barreira, o leitor precisa pagar, seja uma única vez ou como parte de uma assinatura. Ou seja, o modelo não é muito diferente do já praticado enquanto jornais impressos, mas foi o mais aplicado após a crise financeira mundial de 2009, que reduziu os recursos dos anunciantes (Pickard e Williams, 2014, p. 1).

O grande desafio para o sucesso do paywall é convencer as pessoas a pagarem por algo que a própria internet disseminou, que é a cultura do grátis, na qual se espera por conteúdo

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e serviços sem custo algum (Fletcher e Nielsen, 2017, p. 1176). A barreira desafia o princípio da abertura da rede e também limita o acesso à informação a uma considerável parcela da população que não tem condições de pagar ou que simplesmente não quer pagar pelas assinaturas digitais (Pickard e Williams, 2014, p. 19).

Para Franklin, os paywalls foram difundidos e implementados rapidamente, sem que houvesse um tempo de maturação, especialmente porque vai de encontro ao que se tinha como padrão na internet, de que tudo deve permanecer sem custo. Como consequência, essas barreiras “are also being demolished, and promptly” (Franklin, 2014, p. 483).

O paywall se tornou um padrão da indústria enquanto o protagonismo esteve entre os veículos derivados dos jornais impressos. Nos últimos tempos, porém, as organizações puramente digitais, nascidas na própria rede, ganharam mais relevância, rechaçando o modelo de negócio então vigente (Salaverría, 2016, p. 29). Batizados de nativos digitais, esses veículos acompanham e evoluem “con la aparición de cada nuevo desarrollo tecnológico por lo que nos encontramos ante un estado de innovación y evolución contínuos” (González, 2010, p. 16).

Segundo Machado, os nativos digitais representam a inovação do jornalismo na internet ao aplicarem alterações de técnicas, tecnologias, processos, linguagens, formatos, equipes, dispositivos e “modelos de negocios destinados a dinamizar y potenciar la producción y consumo de las informaciones periodísticas” (2010a, p. 67). É um fenômeno que busca soluções conceituais e tecnológicas para maximizar a produção e atender às demandas da sociedade por informação de qualidade ao menor custo possível (Machado, ibid., p. 68).

Por essa razão, o jornalismo tem um desafio importante de se manter relevante e importante na sociedade, mas há um custo para isso. E esse custo pode ser vencido no momento em que a inovação e o empreendorismo entrarem de fato no mundo da comunicação. Para Ferrari, os empreendedores fazem a ligação entre as ideias e as ferramentas que as tornam possíveis. “São pessoas capazes de enxergar o que precisa ser mudado para que a essência das coisas continue servindo às pessoas” (2016, p. 152).

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financiamento. Elas, em geral, não buscam lucro, são organizações que têm um propósito. Entretanto, mesmo assim devem buscar maneiras cada vez mais inovadoras para se manterem em funcionamento e oferecendo um conteúdo de qualidade para os leitores (Picard, 2014, p. 502). Elas acabam se voltando, de certa forma, ao sustento garantido pelo leitor, como no caso do paywall. Mas de uma maneira distinta. O conteúdo segue aberto, mas parte dos leitores se compromete com assinaturas e doações, desde que haja profundidade no tratamento das informações (Bradshaw, 2014, p. 134).