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2.2 A EVOLUÇÃO DA EXTENSÃO RURAL NO BRASIL

2.2.2 As novidades no contexto rural

Durante a modernização agrícola o processo de inovação esteve relacionado a uma perspectiva linear, produzida pelas Ciências Agrárias e difundidas pelos extensionistas e técnicos, para então ser incorporada pelos agricultores. Nesse fluxo linear, as trajetórias tecnológicas e a modernização na agricultura direcionaram as formas de organização da produção, transformando-os em processos de mercantilização. Nesse cenário, a inovação estava relacionada com o aumento da produção e a produtividade agrícola. Além disso, as inovações eram elementos exteriores as realidades, sendo introduzidas de maneira desconectada nos ecossistemas locais (OLIVEIRA et al., 2011).

A partir dessa perspectiva, os mesmos autores, afirmam que com a crítica ao modelo produtivista houve um aumento no debate sobre o lugar e o papel das tecnologias, bem como o do conhecimento nas práticas desenvolvidas, de maneira oposta aos padrões dominantes. Dessa forma, a abordagem sobre a produção de novidades representa uma alternativa frente aos limites das abordagens convencionais.

A trajetória da agricultura é uma história de produção de novidades. No decorrer dos séculos os agricultores têm produzido mudanças, combinando os elementos naturais, culturais, econômicos e institucionais. No contexto rural, a interação ocorre pelos processos de construção e transformação dos elementos sociais e naturais (MARQUES, 2009; PLOEG et al., 2004).

Desta maneira, no decorrer do tempo surge a necessidade de novos termos para destacar os fenômenos que, até então, permaneceram ocultos no cotidiano. Nessa perspectiva, Ploeg et al. (2004, p. 1) afirmam que a produção de novidades é um desses termos. Para os autores, a produção de novidade pode ajudar a

encontrar novos caminhos para as crises enfrentadas pela agricultura na atualidade, sendo consideradas “sementes da transição”. Assim:

A novelty is a modification of, and sometimes a break with, existing routines. It is, in a way, a deviation. A novelty might emerge and function as a new insight into an existing practice or might consist of a new practice. Mostly a novelty is a new way of doing and thinking - a new mode that carries the potential to do better, to be superior to existing routines. Novelties can be

seen then as seeds of transition (PLOEG et al., 2004, p. 1).2

Ploeg et al. (2004) associam a produção de novidades com a metáfora das sementes, pois auxilia a esclarecer três elementos: o Primeiro, as novidades precisam de tempo, assim como as sementes, para germinar, crescer, florescer e gerar frutos. Do mesmo modo, as novidades requerem tempo para mostrar se as promessas assumidas realmente se materializam; em Segundo lugar, as novidades requerem uma mudança nas rotinas existentes. Além disso, uma novidade raramente permanece isolada, ao contrário, ela é resultado de um programa mais amplo de novidades e que estão inter-relacionados de maneira mútua; e em Terceiro lugar, a insegurança faz parte das novidades. Assim, como uma colheita pode fracassar as novidades podem apresentar falhas. Dessa forma, as novidades estão relacionadas às expectativas e pode ocorrer dos resultados finais não corresponderem às expectativas iniciais.

Ressalta-se que as novidades diferem do termo inovações. De acordo com Marques e Mello (2009), o processo de inovação está relacionado a uma padronização e globalização, o que difere da produção de novidades na agricultura, na qual é um processo localizado, dependente do tempo, cultura e outros elementos. Corroborando:

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2 Uma novidade é uma modificação e, às vezes, uma ruptura com as rotinas existentes. É, de certo

modo, um desvio. Uma novidade pode emergir e funcionar como uma nova percepção de uma prática existente ou pode consistir em uma nova prática. Principalmente uma novidade é uma nova maneira de fazer e pensar - um novo modo que carrega o potencial para fazer melhor, para ser superior às rotinas existentes. Novidades podem ser vistas como sementes de transição (tradução

Entre as principais características diferenciadoras presentes nas inovações e novidades destacam-se a forma com que estas são produzidas e os efeitos que geram. Enquanto inovações seguem o padrão linear de produção e uso de conhecimentos (pesquisadores-extensionistas- agricultores) as novidades são produzidas localmente e tem como base o conhecimento contextual dos agricultores e técnicos envolvidos na sua geração. As inovações são externalizadas, padronizadas e globalizadas, enquanto as novidades são internalizadas (a unidade de produção ou ao local), contextualizadas e territorializadas (OLIVEIRA et al., p. 110, 2011).

Conforme Oliveira et al. (2011), a produção de novidades na agricultura se diferencia do chamado de inovações, devido a três características principais: a contextualização, a internalização e a territorialização. Nesse sentido:

A contextualização se refere aos tipos de conhecimentos e habilidades que são utilizados pelos agricultores para gerar e construir as novidades. [...] A internalização caracteriza o tipo de recurso utilizado na produção de novidades, na maioria das vezes recursos internos do local/território ou até da unidade de produção agrícola – a chamada endogeneidade das práticas. [...] Já a territorialização envolve a ideia de que as novidades nascem imersas (embeddedness) em um espaço e em relações e redes sociais locais. “Desta forma, a produção de novidades na agricultura sempre é um processo localizado num território e dependente do tempo, dos ecossistemas locais e dos repertórios culturais em que o processo de trabalho na agricultura está sendo desenvolvido” (OLIVEIRA et al., 2011, p. 99).

De acordo com Oliveira et al. (2011, p. 92), a produção de novidades na agricultura pode ser considerada como “um processo contínuo de solução de problemas diários e de criação de novas e melhores maneiras de otimizar o uso dos fatores de produção e de praticar agricultura”. Adicionalmente, os autores afirmam que a produção de novidades não é um processo novo na agricultura, pois, as relações estabelecidas entre agricultores e outros atores envolvidos se criam e recriam ao longo do tempo.

Contudo, Marques e Mello (2009), destacam que a produção de novidades não está relacionada apenas ao processo produtivo, como também “[...] pode estar relacionada com as formas de organização da produção e com a criação e consolidação de dispositivos coletivos e arranjos institucionais”. Por esse ângulo:

A emergência de novas e complexas redes de relações sociais é uma realidade, resultantes de processos de mobilização social, parecem estar favorecendo novas aprendizagens individuais e coletivas que são fundamentais para o surgimento das promissoras novidades (MARQUES; MELLO, p. 15, 2009).

Neste contexto Ploeg et al. (2004), consideram que a produção de novidades está interligada a um tipo específico de conhecimento, advindo do local, sendo este que enriquecerá a produção de novidades. Para Oliveira et al. (2011), na produção de novidades ocorre a centralidade do conhecimento do agricultor, contudo, isso não significa a desconsideração do conhecimento científico e das inovações produzidas pelas Instituições. Assim, “[...] a produção de novidades é embeddedness aos ecossistemas, as práticas e as relações sociais, sendo o fruto da inter-relação do conhecimento tácito com outros tipos de conhecimentos e ofertas tecnológicas” (OLIVEIRA et al., 2011, p. 110).

A partir da metáfora das sementes da transição, usada por Ploeg (2004), podemos visualizar as novidades como uma expectativa. Do mesmo modo, as Tecnologias de Informação e Comunicação podem ser vislumbradas como sementes de propagação das novidades no contexto rural, buscando o diálogo, comunicação e reciprocidade. Nesta perspectiva, apresentamos na seção a seguir a emergência da Sociedade da Informação.