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2.3 A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E AS TICS

2.3.2 Relações sociais no meio rural na Sociedade da Informação

As relações de cooperação e confiança estão imbricadas no desenvolvimento de um espaço, pois conforme Abramovay (2000, p.11), o processo de desenvolvimento de um território necessita da “[...] formação de uma rede de atores trabalhando para a valorização dos atributos de uma certa região.” Dessa forma, para que o desenvolvimento ocorra, é necessário um ambiente de cooperação entre os atores envolvidos.

Abramovay (2000) considera importante que sejam desenvolvidas inciativas nos próprios territórios e reitera o importante papel das Universidades na formação de redes territoriais de desenvolvimento. “Feiras de produtores rurais são um exemplo barato de como certas aptidões locais podem converter-se na base para a formação de novos laços de confiança e cooperação entre os setores econômicos.” _______________

8 Quando são implementados programas ou projetos destinados à promoção da adoção da Internet

em áreas rurais, seria oportuno perguntar-se - os emissores - e perguntar aos potenciais adotantes, por meio de diversas instâncias participativas, o que eles conhecem e esperam da Internet? As respostas certamente serão muito esclarecedoras, e sua contribuição ampliará o pensamento e enriquecerá as experiências.

O autor segue afirmando que “o desafio consiste em dotar as populações vivendo nas áreas rurais das prerrogativas necessárias a que sejam elas as protagonistas centrais da construção dos novos territórios” (2000, p. 13).

Na Era da Informação, as tecnologias desempenham um papel importante na troca de informações e conhecimentos entre os diferentes atores e territórios, ultrapassando as barreiras de espaço e tempo. Albagli (2004) defende que as redes técnicas, como a teleinformática, auxiliam na integração dos territórios, facilitando a troca de informações, bens e capital. Além das novas possibilidades, as Tecnologias de Informação e Comunicação trouxeram uma série de transformações, abordadas na próxima seção.

Castells (2010, p. 108-109) destaca alguns aspectos que formam a base da Sociedade da Informação. A primeira característica é que “[...] a informação é sua matéria-prima: são tecnologias para agir sobre a informação [...]”. A segunda característica está relacionada à “[...] penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias”, ou seja, a informação é parte de toda ação humana, portanto, é moldado pelo novo meio tecnológico. O terceiro aspecto está relacionado à “[...] lógica de redes em qualquer sistema ou conjunto de relações, usando essas novas tecnologias da informação.” Conforme o autor, graças às Tecnologias de Informação, essa configuração em rede pode ser aplicada em todas as organizações e processos. A quarta característica da Sociedade da Informação refere-se à flexibilidade: “O que distingue a configuração do novo paradigma tecnológico é sua capacidade de reconfiguração, um aspecto decisivo em uma sociedade caracterizada por constante mudança e fluidez organizacional. ” Nesse elemento, o autor chama a atenção para o fato de que a flexibilidade pode ser uma força libertadora, e ao mesmo tempo repressiva. O quinto fator está relacionado à crescente “[...] convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado, no qual trajetórias tecnológicas antigas ficam literalmente impossíveis de se distinguir em separado”.

Diante desse contexto, as tecnologias tornaram possíveis as integrações das formas de comunicação em uma rede interativa. Castells (2010) salienta que, por conta da dimensão global, o novo sistema de comunicação está mudando e mudará para sempre nossa cultura. Nesse sentido:

A integração potencial de texto, imagens e sons no mesmo sistema – interagindo a partir de pontos múltiplos, no tempo escolhido (real ou atrasado) em uma rede global, em condições de acesso aberto e de preço acessível muda de forma fundamental o caráter da comunicação. E a comunicação, decididamente, molda a cultura porque, como afirma Postman “nós não vemos... a realidade... como ‘ela’ é, mas como são nossas linguagens. E nossas linguagens são nossos meios de comunicação. Nossos meios de comunicação são nossas metáforas. Nossas metáforas criam o conteúdo de nossa cultura”. Como a cultura é mediada e determinada pela comunicação, as próprias culturas, isto é, nossos sistemas de crenças e códigos historicamente produzidos são transformados de maneira fundamental pelo novo sistema tecnológico e o serão ainda mais com o passar do tempo (CASTELLS, 2010, p. 414).

O novo sistema de comunicação transforma o espaço e tempo. As localidades se integram em redes e desprendem do sentido cultural e histórico do qual fazem parte. Adicionalmente, Castells (2010, p. 445) afirma que a Rede9 é apropriada para a formação de múltiplos laços fracos, os quais são importantes para a troca de informações, “A vantagem da Rede é que ela permite a criação de laços fracos com desconhecidos, num modelo igualitário de interação [...]”. Os laços fracos, tanto on-line quanto off-line, auxiliam o contato entre as pessoas, ampliando a sociabilidade.

Nesse aspecto Castells (2010, p. 445), considera que a Internet auxilia na expansão das relações sociais “[...] numa sociedade que parece estar passando por uma rápida individualização e uma ruptura cívica. ” O autor amplia sua discussão afirmando que as comunidades virtuais são mais fortes do que muitos observadores pensam, pois, “Existem indícios substanciais de solidariedade recíproca na Rede, mesmo entre usuários com laços fracos entre si. ” E dessa forma, as redes sociais interpessoais baseadas em laços fracos, também, são capazes de produzir reciprocidade.

Thornton (2003) contextualiza que o desenvolvimento da tecnologia, redes de computadores e telefonia, está mudando o modo de relacionamento social e as questões culturais e, portanto, o mundo rural. Conforme o autor, essa tecnologia permite que pessoas estejam em todos os lugares e em tempo real, ultrapassando as barreiras de espaço e tempo.

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9 De acordo com Castells (2010, p. 566), “Rede é um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto

no qual uma curva se entrecorta. [...] Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetivos de desempenho).

Blanco e Cànoves (2005) afirmam que as TICs impactam diretamente tanto naqueles territórios e sociedades envolvidos, quanto naquelas que não puderam incorporar em seu raio de ação. Dessa forma, as TICs podem favorecer a implantação de iniciativas produtivas nas áreas com acelerado processo de despovoamento e/ou naquelas regiões frágeis e desfavorecidas pela sua localização. Ao mesmo tempo, a falta das TICs supõe uma desigualdade dentro das novas redes, a perda de possibilidade de desenvolvimento e, portanto, o declínio dos territórios. Nesse sentido, as autoras consideram que a sociedade informacional e o desenvolvimento local devem estar inevitavelmente unidos.