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As Oficinas em Língua Portuguesa

No documento Manuel Castro Dissertação VF Abril 2015 (páginas 43-48)

CAPÍTULO 3 PROGRAMA DE APOIO AO SISTEMA EDUCATIVO DA

3.3. As Oficinas em Língua Portuguesa

Após um ano de implementação do PASEG I, inteiramente dedicado à lecionação, o Programa alargou a sua atividade à formação de professores do ensino básico e criou as primeiras OfLP (2001/2002).

Cedidos pelos estabelecimentos de ensino, estes espaços foram objeto de reabilitação e dotados de equipamentos obtidos, em grande parte, através de doações efetuadas por diversas entidades portuguesas. A então coordenadora do PASEG I, Doutora Helena Castro, relata, no primeiro número do Boletim Oficinas em Movimento (Anexo 1), a génese das OfLP

Quando em 2000 se visitaram os liceus de Bissau com a intenção de definir a forma de os apoiar, encontrámos locais muito degradados, onde trabalhavam professores muito ocupados com múltiplos trabalhos e onde os alunos se limitavam a assistir às aulas. Os liceus eram locais tristes e carenciados onde se estava o mínimo de tempo possível. A cooperação portuguesa não podia garantir a docência da disciplina de Português em liceus com mais de 5000 alunos. A intervenção tinha que ser mais abrangente e mais diversificada, mais ambiciosa, portanto. Havia que trazer o português para fora da sala de aula, tentando que pouco a pouco a sua presença fosse alastrando e ele fosse saindo dos livros e dos cadernos para se mostrar como um meio de aceder a outras atividades e saberes, a outros prazeres também. Foi assim que nasceu a ideia de criar em cada liceu uma sala onde professores e alunos pudessem em conjunto desenvolver novas atividades em português. Chamámos-lhe Oficina exatamente para dar a ideia de que muito se ia construir com a língua portuguesa. Os Diretores, confrontados com grandes problemas de espaço, hesitaram. Gostariam ... mas não era possível, infelizmente. Insistimos, explicámos e depois de conseguidas as pequenas salas, arregaçámos as mangas. Assiste-se, neste momento, em Portugal a grandes discussões sobre qual é o papel do professor, quais as funções, quais as tarefas que lhes podem ser pedidas. Aqui, no PASEG, não nos confrontamos com tais problemas. A tarefa de pôr os jovens guineenses a falar português é imensa e não pode ser ganha se nos confinarmos à sala de aula. O professor do PASEG para além de docente é muitas vezes pintor, por vezes trolha e pedreiro. As salas tinham sido cedidas pelos Diretores com tão boa vontade que era preciso mostrar que tinha valido a pena. As Oficinas nasceram e houve que as pôr a funcionar. Veio material, o primeiro computador. Claro que a energia era um problema mas ia-se conseguindo alguma, à custa de uns poucos litros de gasóleo. A vontade de aprender a utilizar os computadores era imensa e os professores depressa compreenderam que a informática era a grande porta para a aprendizagem do português pela camada jovem. As Oficinas em Língua Portuguesa estão agora adultas e este Boletim é a prova disso. Dificilmente se pode pensar nos liceus de Bissau sem aqueles espaços, cheios de gente, cheios de ação, alindados pelos professores, ano após ano. E para que conste, aqui fica uma referência especial àqueles que, sem nada receberem em troca, dão diariamente muitas horas do seu tempo às Oficinas. São voluntários que garantem o seu funcionamento só pelo prazer de colaborarem num projeto que consideram seu. (PASEG, 2006, p.1)

As OfLPs surgiram, portanto, da necessidade de criar espaços nas escolas que promovessem a língua portuguesa e a educação para a cidadania e ambiente, através da dinamização de um leque variado de atividades.

Inicialmente constituídas por um lugar único que proporcionava o acesso a livros e materiais pedagógicos, as OfLP foram evoluindo e transformaram-se em verdadeiros centros de recursos constituídos por três espaços diferenciados: biblioteca, sala de informática e sala de formação. Esta evolução converteu as OfLP em locais dinâmicos que aliavam atividades comuns a um centro de recursos à promoção de ações de cariz pedagógico-didático, lúdico, cultural e social, aberto a professores, a alunos, à comunidade educativa e à comunidade em geral.

As Tabelas 5 e 6 ilustram a diversidade das atividades promovidas pelas OfLP, entre os anos letivos de 2002/2003 e 2007/2008, e o número de beneficiário abrangidos.

Tabela 5 – Cursos promovidos pelas OfLP – para o período 2000-200728

Tabela 6 – Outras atividades promovidas nas OfLP – para o período 2000-200729

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IPAD, 2008, p.34.

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As OfLP são da responsabilidade das direções das escolas e contaram, até 2012, com a colaboração direta do PASEG I e II. O Programa, desde a sua criação, até ao ano de 2012, procurou criar sinergias, que permitissem: (i) a apropriação das OfLP pela escola, (ii) a sua sustentabilidade e, (iii) a sua total autonomia. A este propósito o relatório do IPAD, em 2008, refere que “ao nível das OfLP, se no início todas as atividades eram dinamizadas pelos professores cooperantes portugueses, hoje, em todos os estabelecimentos há colaboradores locais com o objetivo de, no curto prazo, se conseguir a apropriação por parte do guineense.” (IPAD, 2008, p.47)

Os professores cooperantes responsáveis pelas diferentes OfLP, desde muito cedo, identificaram jovens guineenses, nas escolas, disponíveis para assumir a função de colaboradores. Estes recebiam formação não só em língua portuguesa, como também em domínios como gestão de pequenos centros de recursos e informática. Os jovens assumiam este papel voluntariamente, criando com os espaços e com os professores uma relação afetiva muito forte. Ansumane Sanhá, um dos colaboradores das OfLP, refere, no terceiro número do Boletim Oficinas em Movimento:

A minha paixão pela Oficina começou muito antes de eu lá trabalhar. Inicialmente, costumava ir lá consultar manuais, dicionários e ler revistas. Ia também tirar dúvidas ou realizar pesquisas, tudo isto, com a ajuda dos professores que lá se encontravam na altura, nomeadamente, as professoras Fátima Queirós e Isabel Santos. Elas são dinâmicas e pacientes e foram estas qualidades que me cativaram e que me levaram a passar lá todo o tempo que tinha disponível. (PASEG, 2007, p.1)

A entrada e saída constante do número de colaboradores criou, posteriormente, em 2010, a necessidade de formar professores efetivos das escolas que assumissem a função de dinamizadores das OfLP. Com esta medida, pretendia-se assegurar a autonomia e o regular funcionamento destes centros de recursos.

Os dinamizadores passaram a ser os principais responsáveis pelas OfLP, zelando pelo sua dinamização e manutenção e pela formação de novos colaboradores. Para tal, foram selecionados docentes que apresentassem um perfil dinâmico e uma grande disponibilidade. De entre as diversas funções, destacam-se:

• Promover a utilização da Língua Portuguesa dentro e fora da Oficina em Língua Portuguesa;

• Articular com todos os elementos da comunidade educativa através de relações interpessoais saudáveis;

• Participar na elaboração do Plano Anual de Atividades da OfLP, elaborar a planificação de cada atividade;

• Promover temáticas de educação para a cidadania nas atividades desenvolvidas na OfLP (educação ambiental, questões de género, democracia, direitos humanos e educação para a Paz, etc.);

• Articular o planeamento, gestão e dinamização da OfLP com a direção, coletivos e restantes elementos da comunidade educativa;

• Envolver ativamente a comunidade educativa no funcionamento da OfLP;

• Promover, divulgar e dinamizar atividades de carácter cultural, atividades lúdicas, recreativas, desportivas, artísticas, literárias e pedagógicas;

• Participar em encontros entre os dinamizadores das outras OfLP, para haver troca de ideias e experiências, planificação de atividades comuns, intercâmbio, entre outros. (PASEG, 2012, pp.8-9)

Os colaboradores, quanto a eles, a partir de 2010, passaram a ser escolhidos pelo dinamizador e pelas direções das escolas, de acordo com as necessidades de cada OfLP. De entre a as suas diversas funções, destacam-se

• Promover a utilização da Língua Portuguesa dentro e fora da Oficina em Língua Portuguesa;

• Promover o cumprimento das regras da OfLP e da escola;

• Participar na resolução dos problemas e necessidades identificadas na OfLP; • Participar na elaboração do Plano Anual de Atividades da OfLP e apoiar o

dinamizador na elaboração da planificação de cada atividade;

• Promover temáticas de educação para a cidadania nas atividades desenvolvidas na OfLP (educação ambiental, questões de género, democracia, direitos humanos e educação para a Paz, etc.);

• Apoiar o dinamizador na promoção, divulgação e dinamização de atividades de carácter cultural, atividades lúdicas, recreativas, desportivas, artísticas, literárias e pedagógicas;

• Realizar e supervisionar as inscrições nos cursos de informática, na utilização da internet, na utilização dos computadores, bem como nos concursos e atividades realizadas;

• Supervisionar a utilização da bibliografia existente na OfLP e ajudar os utilizadores sempre que haja necessidade;

• Manter a bibliografia arrumada e organizada, arrumar o mobiliário antes e após as atividades;

• Tirar fotocópias e apoiar a impressão e digitação de documentos, registando todos os pagamentos efectuados pelos utilizadores. (PASEG, 2012, pp.12-13)

Criadas no ano letivo de 2001/2002, as OfLP constituíam, no âmbito do Programa “a melhor componente conseguida, com melhores resultados, funcionando como ilhas de qualidade no quadro dos liceus.” (IPAD, 2008, p.47)

O relatório de avaliação de 2008 do IPAD, refere:

As OfLP fazem hoje parte da identidade dos estabelecimentos públicos de ensino secundário, sendo estas o principal responsável pela nova dinâmica que se vive nestes estabelecimentos. As OfLP revelaram-se instrumentos decisivos no desenvolvimento do PASEG e centros de influência emblemáticos para a difusão da língua portuguesa. Promovem leituras, emprestam livros a professores e alunos;

esclarecem dúvidas em língua portuguesa e disponibilizam materiais didáticos para as aulas. As OfLP ultrapassam a simples missão de centros de apoio. (IPAD, 2008, p.44)

Acresce referir que, em 2012, eram já 17 os estabelecimentos de ensino que usufruíam de uma OfLP (Figura 7).

Nível de ensino Escola/Liceu

Ensino pré-escolar 1. Jardim Infantil Nhima Sanhá (Bissau)

Ensino Básico

2. Escola do Ensino Básico Unificado Justado Vieira (Bissau) 3. Escola do Ensino Básico Unificado UCCLA (Bissau) 4. Básico Unificado III Congresso (Bissau)

5. Escola do Básico Unificado Ernesto Che Guevara (Bissau) 6. Escola do Ensino Básico Unificado Salvador Allende (Bissau)

Ensino Secundário

7. Unidade Escolar Jorge Ampa Cumelerbo (Bissau) 8. Liceu Samora Móises Machel (Bissau)

9. Liceu Dr. Rui Barcelos da Cunha (Bissau) 10. Liceu Dr. Agostinho Neto (Bissau)

11. Liceu Nacional Kwame N´Krumah (Bissau) 12. Liceu Hô Chi Minh (Canchungo)

13. Liceu Dr. Fona Luis Tchuda (Gabú) 14. Liceu Hoggy Ya Henda (Bafatá)

Ensino Superior

15. Unidade de Ensino ENEFD – Escola Nacional Educação Física e

Desportos (Bissau)

16. Unidades de Ensino 17 de Fevereiro e Tchico-Té (Bissau) 17. Unidade de Ensino Amílcar Cabral (Bolama)

Figura 7 - Estabelecimentos de ensino guineenses com OfLP - 2012.

O PASEG II foi suspenso em 2012, após o golpe de estado de 12 de abril. Desde então, as OfLP deixaram de contar com a colaboração direta de professores cooperantes portugueses e funcionam autonomamente.

No documento Manuel Castro Dissertação VF Abril 2015 (páginas 43-48)

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