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Pedagogia social e educação social

No documento Manuel Castro Dissertação VF Abril 2015 (páginas 30-33)

CAPÍTULO 2 EDUCAÇÃO, COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

2.4. Pedagogia social e educação social

Desde a Antiguidade Clássica até à atualidade são muitos os autores que se debruçaram sobre as questões relacionadas com a pedagogia social e todos eles contribuíram para que esta se transformasse numa disciplina de caráter científico. Compreender a fundamentação desta ciência não se afigura, no entanto, uma tarefa fácil.

De facto, como sugere Fermoso (1994), os dois termos que constituem o próprio conceito de pedagogia social evidenciam uma polissemia que, quando associados, tecem uma rede de significados ainda mais ampla e complexa.

A pedagogia social como ciência provém das grandes transformações políticas, económicas e sociais verificadas nos finais do século XIX, aquando da revolução industrial. Surge na primeira metade do século XX, com o crash da bolsa de Nova Iorque, em 1929, e após a II Guerra Mundial.

A pedagogia social emerge, deste modo, como o resultado de uma inquietação social e de uma tentativa de procurar na educação respostas para os problemas humanos e sociais que se verificavam (movimentos migratórios, desemprego, pobreza e exclusão económica e cultural).

Paul Natorp (1854-1920), filósofo neokantiano, considerado o fundador da Pedagogia Social, é o primeiro a afirmar, em Pedagogia social: teoria da educação e da vontade sobre a base da comunidade, que a comunidade é uma condição indispensável para o progresso e que esta deve estar na base de qualquer ação educativa. Para este autor, a pedagogia só adquire significado, e só existe, se for social.

Mais tarde, com Nolh (1879-1960) os conceitos de pedagogia social e educação social aproximam-se. Do seu contributo destaca-se a necessidade de: (i) “modificar as condições ambientais e contextuais, com o fim de assegurar a eficácia da ação pedagógica social.”, (ii) “dotar de estatuto científico a pedagogia social, até então considerada apenas no quadro conceptual”, (iii) “Toma[r] a realidade concreta como ponto de partida da teoria da pedagogia social.” (Diaz, 2006, p.94)

A partir da década de 50, evolui-se para uma pedagogia social de teor reflexivo/crítico. Encarada como tal, Combi e Orefite (1996), citados por Diaz (2006),

enumeram os seus traços distintivos, nomeadamente: (i) a necessidade de partir de uma situação concreta que enfatiza as diferenças culturais e a memória histórica; (ii) a valorização da prática com base na autocrítica e na reflexão coletiva; (iii) o recurso a uma investigação assente na observação da realidade social para a transformar e (iv) a supressão de condicionalismos que possam impedir uma interação solidária.

A pedagogia social afigura-se, deste modo, uma dialética em que a teoria e a prática são indissociáveis. Ela visa “a emancipação humana, analisa as estruturas sociais e procura o seu aperfeiçoamento e transformação.” (Diaz, 2006, p.96)

No que respeita à relação entre pedagogia social e educação social considera-se que são conceitos que se combinam, interligam e complementam. O primeiro destes conceitos é entendido como uma disciplina científica e o segundo como a vertente prática da primeira. O conceito de pedagogia social pode ser interpretado como “uma ciência pedagógica de caráter teórico-prático, que se refere à socialização do sujeito (...) [que] implica o conhecimento e a ação sobre os seres humanos” ou, num sentido mais lato, como “a ciência da educação social das pessoas e grupos, por um lado, e por outro, como a ajuda, a partir de uma vertente educativa” (Diaz, 2006, p.92).

Já a educação social deve “ajudar[-nos] a ser e a conviver com os outros: aprender a ser com os outros e a viver juntos em comunidade.” (Diaz, 2006, p.92). Deve, ainda, segundo Ortega (1999), conduzir: (i) a um desenvolvimento progressivo do indivíduo de modo a que este possa participar na comunidade e a compreender-se a si mesmo e ao mundo que o rodeia, (ii) a uma educação ao longo de toda a vida que não se centre apenas na aquisição de conteúdos instrutivos e (iii) a uma formação que não se cinja à escola, mas que se alargue à família e à(s) comunidade(s) e que realize em tempos e espaços distintos.

A pedagogia social é assim entendida como uma educação para todos, para e ao longo da vida, que abrange a educação formal, não formal e informal. O indivíduo (i) adapta-se, adquirindo as competências necessárias que possibilitem a sua vida num ambiente social concreto e uma integração social bem sucedida e (ii) socializa-se, assimilando os valores e as atitudes da sociedade em que participa.

Baptista (2008) vai um pouco mais longe ao sugerir que a expressão pedagogia social pode remeter para (i) uma ciência que integre as Ciências da Educação e que tem como objeto de estudo a aprendizagem social, “em conformidade com o ideal de uma educação ao longo de toda a vida num cenário de relegitimação histórica do Estado

providência21” (Baptista, 2008, p.21); (ii) uma disciplina académica – a incluir nos planos curriculares do conjunto dos ciclos de formação do ensino superior e que responde a uma necessidade de aprendizagem social; (iii) um saber técnico profissional – de cariz teórico-prático – que “pode funcionar como saber profissional de referência para uma pluralidade de atores sociais” (Baptista, 2008, p.22); (iv) uma filosofia de ação – promotora “de laços sociais significativos entre pessoas, instituições e comunidades, funcionando nesta medida como uma antropologia prática associada a valores de Humanismo de caráter relacional.” (Baptista, 2008, p.22)

Concebida como tal, considera-se que a pedagogia social contribui para a integração do indivíduo na sociedade e muito para a sua capacitação, com a finalidade de o tornar um cidadão crítico e interventivo, capaz de melhor e (ou) transformar o mundo que o rodeia. Ou seja, fomenta e dinamiza “uma sociedade que educa e uma educação que socializa integra e ajuda a evitar, equilibrar e reparar o risco a dificuldade ou o conflito social.” (Diaz, 2006, p.99).

Acresce mencionar que a educação social está hoje contemplada nas constituições da grande maioria dos países e fundamenta-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), na Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959) e mais recentemente na Declaração Universal dos Direitos da Infância (1989).

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Andrés Soriano Díaz define Estado providência como “aquele no qual predomina a ação estatal, de tal maneira que , sem romper com as estruturas capitalistas, procura a otimização das condições de vida para todos os cidadãos. Neste modelo, o Estado tende a produzir e distribuir bens e serviços nos setores não rendíveis ou de pouco interesse para o capital privado: educação, saúde, cultura, habitação, etc.” (Diaz, 2006, p.96)

No documento Manuel Castro Dissertação VF Abril 2015 (páginas 30-33)

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