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As Orientações Curriculares para a educação pré-escolar em Portugal

I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2. O Desenvolvimento curricular na educação de infância

2.5. As Orientações Curriculares para a educação pré-escolar em Portugal

A Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar, vem definir a atribuição da tutela pedagógica da educação pré-escolar, 1ª etapa da educação básica, ao Estado, tornando-o

responsável pela definição dos seus objectivos, bem como, das linhas de orientação curricular. Assim, no seu seguimento, surgem as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar, aprovadas pelo Despacho nº 5220/97 de 4 de Agosto, e que constituem o primeiro documento oficial de orientação curricular para a educação pré- escolar proveniente do Ministério da Educação, tendo como finalidade, servir como «…referência comum para todos os educadores da Rede Nacional de Educação Pré- Escolar e destinam-se à organização da componente educativa» (Ministério da Educação: 13). Citando Folque (2001: 5), «até então, os educadores de infância geriam o currículo de acordo com o seu desejo, saber e possibilidade, sem documentos de suporte e regulação que os ajudasse a encontrar a coerência e abrangência necessárias a uma prática de qualidade para todas as crianças».

Também relevante, é o facto de o Ministério da Educação ter criado à data, o Gabinete para a Expansão e Desenvolvimento da Educação Pré-Escolar. Tendo como responsabilidade, coordenar as diferentes iniciativas, intencionalmente, integrava pessoal dos dois grandes Ministérios que têm tido responsabilidades e funções, muitas vezes dicotómicas, na educação pré-escolar em Portugal: o Ministério da Educação e o Ministério da Solidariedade e da Seguranças Social (Gaspar, 2004).

As Orientações Curriculares «decorrem de um debate amplamente participado que permitiu a sua progressiva reformulação» (Ministério da Educação: 13), e que beneficiou do contributo de diversos intervenientes, tanto de serviços e instituições, como de grupos de educadores que procederam à análise do documento base. Pretendeu-se que o produto final traduzisse de uma forma ampla, as perspectivas dos profissionais sobre as suas práticas, respeitando «…hábitos e identidades adquiridas…» (Vasconcelos, 2000:39).

As Orientações Curriculares assentam nos seguintes fundamentos teóricos: o

desenvolvimento e a aprendizagem como vertentes indissociáveis; a criança reconhecida como sujeito do processo de aprendizagem, a construção do saber de forma globalizante; a exigência de resposta a todas as crianças permitindo uma pedagogia diferenciada.

Vasconcelos (2000), defende que as Orientações Curriculares surgem como mais um instrumento de trabalho e contribuem para um enquadramento de práticas e modelos que vem dar resposta a uma educação pré-escolar de qualidade, contribuindo para uma valorização da componente académica, sem restringir a autonomia deste sistema de ensino. Quanto à sua prática, os educadores de infância, continuaram a gozar de autonomia, enquanto construtores e gestores do currículo, sendo o objectivo das Orientações Curriculares constituir pontos de apoio à construção e desenvolvimento do currículo e adequando-se a diferentes tipos de currículo.

Voltando a citar Folque (2001: 5), as Orientações Curriculares vêm cumprir três funções fundamentais: a primeira será a de se constituir como uma referência congregadora identitária de um grupo profissional; a segunda será de tornar visível o trabalho dos educadores de infância perante os outros parceiros educativos e a sociedade em geral; a terceira como diz a autora, a menos visível e a mais interessante, é a de se constituir como elemento desafiador e promotor de avanço das práticas em educação pré- escolar. Estas práticas que se baseiam nas mais actuais ideias e conhecimentos científicos

sobre educação e aprendizagem, desejam-se, como refere Vasconcelos (1997: 6) no prefácio às Orientações Curriculares, que vão «contribuir para que a educação pré-escolar de qualidade se torne motor de cidadania, alicerce de uma vida social, emocional e intelectual, que seja um todo integrado e dinâmico para todas as crianças portuguesas e não apenas para algumas».

Da observação do documento podemos retirar o facto de se valorizar, «…mais que um conjunto de conhecimentos específicos inseridos nas diversas áreas de conteúdo, um

conjunto de disposições, atitudes e competências que são fundamentais à aquisição de quaisquer aprendizagens» (Ministério da Educação, 1997: 6). Nesta circunstância as Orientações Curriculares veiculam uma forma de aprendizagem onde se considere a criança como um ser activo na construção do seu conhecimento, sendo este conhecimento não um acto individual mas colectivo, e daí, social. Vasconcelos considera ainda, que a perspectiva apresentada pelas Orientações Curriculares da aprendizagem, se encontra dentro do campo sócio-construtivista, e que, se guia dentro dos seguintes fundamentos:

- o processo de aprendizagem desenvolve-se a partir do que a criança já sabe; - o processo de aprendizagem desenvolve-se em interacção com os outros; - a criança é o sujeito do processo educativo;

- a criança aprende agindo, explorando o mundo à sua volta mas também reflectindo sobre a sua experiência.

A intencionalidade do processo educativo que caracteriza a prática pedagógica do educador passa por diferentes etapas ligadas entre si, que se vão sucedendo e aprofundando, o que supõe algumas orientações fundamentais:

- Observar cada criança e o grupo para conhecimento das suas capacidades, interesses e dificuldades, para recolher informações sobre o contexto familiar e o meio em que as crianças vivem, de modo a melhorar conhecer as características

das crianças e assim adequar o processo educativo às suas necessidades. O conhecimento profundo de cada criança e da sua evolução constitui o fundamento da diferenciação pedagógica, que parte do seu potencial adquirido, para alargar os seus interesses e desenvolver as suas potencialidades. «Este conhecimento resulta de uma observação contínua e supõe a necessidade de referências tais como, produtos das crianças e diferentes formas de registo» (Ministério da Educação, 1997:25).

- Planear o processo educativo de acordo com o que o educador sabe do grupo, de cada criança, do seu contexto familiar e social, é condição para que a educação pré-escolar proporcione um ambiente estimulante de desenvolvimento e promotor de aprendizagens significativas e diferenciadas contribuindo para uma maior igualdade de oportunidades (Ministério da Educação, 1997). O educador necessita de «…estabelecer finalidades e reflectir sobre os meios de as atingir, em resumo, deve planear as oportunidades educativas que o jardim de infância oferece às crianças» (Silva e tal., 1990:106).

- Agir concretizando através da acção as suas intenções educativas, o educador adapta-as às propostas das crianças, tirando assim partido de situações e oportunidades que não tinham sido previstas. A participação de outros adultos, nomeadamente as famílias, é uma outra oportunidade educativa, planeada pelo educador, de modo a promover e alargar as interacções das crianças e de enriquecer o processo educativo.

- Avaliar o processo educativo e os seus efeitos, implica tomar consciência da acção para a adequar às necessidades das crianças e do grupo e à sua evolução. A avaliação serve para especificar necessidades e interesses, verificar se os objectivos estão a ser atingidos, registar dificuldades e reformular sempre que necessário os

objectivos e as estratégias. A avaliação é um suporte para o planeamento, pois permite estabelecer a progressão das aprendizagens a desenvolver com cada criança.

- Comunicar com outros adultos que possuem responsabilidades educativas para com a criança, nomeadamente as famílias, os auxiliares de acção educativa e os colegas, permite ao educador está a estabelecer redes de comunicação que o levam a conhecer melhor a criança assim como os meios que experiênciam.

- Articular de modo a promover tanto a entrada da criança no pré-escolar, através da comunicação realizada com as famílias, favorecendo a adaptação da criança ao novo meio, como a sua transição para o primeiro ciclo, proporcionando condições de sucesso para as aprendizagens na fase seguinte.

Cabe ainda, no que concerne ao presente estudo, para a fundamentação teórica deste trabalho, salientar a importância dada pelas Orientações Curriculares, no que diz respeito à relação escola/família, considerando que a educação pré-escolar é «…complementar da acção educativa da família com a qual deve estabelecer estreita cooperação…», sendo importante e fundamental «…incentivar a participação das famílias no processo educativo e estabelecer relações de efectiva colaboração com a comunidade…» (Ministério da Educação, 1997: 22).