• Nenhum resultado encontrado

II. OBJECTIVOS E OPÇÕES METODOLÓGICAS

1. Objectivos do estudo

Os capítulos anteriores constituem um quadro de referência, onde se apresenta a perspectiva teórica enquadradora da problemática do presente estudo e da pesquisa empírica realizada. Neste capítulo é apresentado o estudo empírico propriamente dito.

Émile Durkheim (1995) ao tentar caracterizar e definir regras relativas à observação dos factos sociais, considera que os fenómenos antes de se tornarem objecto da ciência, encontram-se de uma forma ainda que grosseira já conceptualizados. Assim, e segundo este sociólogo, «…a reflexão, com efeito, é anterior à ciência; esta limita-se a servir dela com mais método». Acrescenta que «…o homem não pode viver no meio das coisas sem fazer delas ideias segundo as quais regula o seu comportamento…» (Durkheim, 1995:41). Ainda na esteira do pensamento do autor, o intuito deste trabalho recai no interesse de ultrapassar uma reflexão, para a situar num estudo científico e chegar a uma compreensão dos factos. No caso deste estudo, pretende-se chegar a uma melhor compreensão das formas de participação dos actores crianças, famílias e educadores, na construção e desenvolvimento do currículo, destacando-se a importância e o espaço que é concedido à participação de cada um destes actores, assim como se envolvem neste processo.

A Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar estabelece como princípio geral que a educação pré-escolar «…é complementar da acção educativa da família, com a qual deve estabelecer estreita relação…» daí que se deverá incentivar a participação da família e efectivá-la no sentido de favorecer a educação das crianças, assim como, proporcionar desenvolvimento e aprendizagem por parte dos adultos envolvidos no processo.

No que diz respeito às crianças, considera a mesma Lei nos seus objectivos gerais, que se deverá promover «o desenvolvimento pessoal e social da criança com base em experiências de vida democrática numa perspectiva de educação para a cidadania». Alude deste modo, à capacidade que a criança possui de desempenhar um papel activo na construção do seu desenvolvimento e aprendizagem, considerando-se que ela é um sujeito e não um objecto do processo educativo.

Em relação ao educador, como é referido por vários autores, este deve ser o

construtor e gestor do currículo, expetivando-se «que deve construir esse currículo com a equipa pedagógica, escutando os saberes das crianças e suas famílias, os desejos da comunidade e, também, as solicitações dos outros níveis de educativos» (Ministério da Educação, 1997:7).

Partindo da ideia de que o jardim de infância é tido como um contexto educativo onde se privilegiam as relações entre os diferentes actores, e onde, há lugar à concretização de uma efectiva participação, procuramos compreender através desta investigação, como se desencadeia e como é aceite e tida em conta a participação dos actores: crianças, famílias e educadora na construção e desenvolvimento do currículo. Subsequentemente, procuramos saber de que modo os educadores de infância, enquanto gestores do currículo, ouviam as famílias e as respeitavam nos seus saberes de especialistas (Lindle & Boyd, 1991, in Homem, 2002:13), se tinham presente os conhecimentos e interesses das crianças enquanto actores sociais, e se proporcionavam oportunidades à participação na construção e desenvolvimento do currículo.

1.1. Questões orientadoras

O estudo que se apresenta pretende dar visibilidade à forma de construção e desenvolvimento do currículo, aos processos educativos desenvolvidos de uma forma ecológica, consagrando a educação participada, co-responsabilizada e democrática, como condição/suporte para aprendizagens e intervenções significativas comuns aos actores envolvidos.

Por um lado as crianças, como actores sociais, às quais é dada oportunidade de acção sobre o seu desenvolvimento e aprendizagem, às famílias como forma de promover o conhecimento e implicá-las na educação dos filhos, na qualidade de vida da família e fortalecer as capacidades dos pais como educadores dos seus filhos; às educadoras procurando conhecer melhor o seu trabalho e as dificuldades que sentem no seu trabalho, construindo apoios e elos de ligação para a compreensão dos contextos em que as crianças se desenvolvem e que são fundamentais, essa compreensão, para o correcto desenvolvimento de acções sobre o desenvolvimento e aprendizagem das crianças.

Feito o enquadramento teórico da problemática onde se insere, definido o campo de acção do estudo, analisados os campos conceptuais mais relevantes, passamos a apresentar a questão central que esteve na origem da reflexão e da pesquisa aqui descrita:

Como participam, crianças, famílias e educadores, no contexto de jardim de infância, enquanto intervenientes no processo de construção e desenvolvimento do currículo?

A questão que se procurou concisa e compreensiva (Quivy & Campenhoudt, 1992), foi ponto de partida para os objectivos da pesquisa:

ƒ Conhecer a forma como as crianças, as famílias e educadores conceptualizam o currículo.

ƒ Identificar hábitos e formas de participação na construção e desenvolvimento do currículo.

ƒ Verificar se a participação dos diferentes intervenientes é valorizada e tida em conta pelas educadoras de infância.

ƒ Identificar nos discursos das crianças, famílias e das educadoras de infância,

dinâmicas facilitadoras ou inibidoras da participação e quem as fomenta.

A par destes objectivos recorreu-se a questões orientadoras que nortearam o desenvolvimento deste estudo:

ƒ Que concepções têm as crianças, as famílias e as educadoras sobre a educação de infância?

ƒ Que percepções e expectativas têm os vários actores da educação pré -escolar e das suas finalidades?

ƒ Quais as actividades/conteúdos valorizados por estes diferentes actores? ƒ Em que actividades participam?

ƒ Que formas assume a participação das famílias e das crianças?

ƒ Que pensam e desejam os educadores da participação das crianças e famílias? ƒ Que participação desejam os educadores que as crianças e famílias tenham na

construção e desenvolvimento do currículo?