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Capítulo I – Os Enawene-Nawe

Capítulo 3 As pequenas centrais hidrelétricas no Estado: o caso do Projeto Juruena

Neste capítulo enfatizo o caso exemplar do complexo de pequenas centrais hidre- létricas no Mato Grosso chamado Complexo Juruena. Descrevo, por um lado, o complexo de usinas e, por outro, lanço o olhar para os empresários proprietários dos “empreendimentos energéticos”.

O que se chama de Complexo Energético do Juruena é um conjunto de usinas formado por 9 PCHs (pequenas centrais hidrelétricas) e 2 AHE (usinas hidrelétricas) de inte- resse privado (figura abaixo). Todas as usinas, com exceção de uma, a PCH Divisa84, locali- zam se no curso do rio Juruena (Neves, 2007) e fazem parte do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).

Nesta pesquisa concentrei me somente no “Projeto Juruena”, ou seja, no empre- endimento “voltado para a geração sustentável de energia elétrica” composto por cinco pe- quenas centrais hidrelétricas e implementado pela holding Juruena Participações e Investi- mentos S.A. Essas cinco PCHs possuem potência instalada de 91,4 MW, ou seja, podem abas- tecer uma cidade de aproximadamente 600.000 habitantes. De acordo com o site da Juruena S.A., as pequenas centrais hidrelétricas,

mais do que importantes, são indispensáveis. O Mato Grosso, um dos estados que mais cresceram no país nos últimos anos, é carente de energia e um dos poucos que tem nas centrais térmicas sua principal fonte de geração de eletricidade. As cinco PCHs da Juruena ajudarão a melhorar a qualidade e a reduzir o custo da eletricidade de que o estado necessita para continuar crescendo.

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Figura 13: Mapa da localização das PCHs do Projeto Juruena. Fonte: Juruena S.A.(www.juruenasa.com.br).

Figura8514: Usinas do Complexo Juruena86 Fonte: Almeida, 2010.

Segundo Almeida (2010), os planos para a construção das PCHs do Complexo Ju- ruena iniciaram-se em 2001, quando Blairo Maggi, na época suplente do senador Jonas Pi- nheiro, criou a empresa Maggi Energia e, em parceria com as empresas Maggi Agropecuária, Linear Participações e Incorporações e MCA Energia e Barragem, formou o Consórcio Jurue-

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Somente as oito primeiras PCHs (Telegráfica, Parecis, Rondon, Sapezal, Cidezal, Ilha Comprida, Segredo e Divisa) estão incluídas no Estudo Complementar Complexo Juruena – FUNAI, 2011.

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Informações retiradas do Estudo de Inventário Hidrelétrico da Bacia do Rio Juruena – Relatório Final e Avaliação Ambiental Integrada da Alternativa Selecionada, EPE, 2010; Almeida, 2010; e parecer técnico FUNAI, 2008.

Nome

Potencia MW

Empreendedor

1 PCH Telegráfica 30 Juruena Participações e

Investimentos S.A.

2 PCH Rondon 13 Juruena Participações e

Investimentos S.A.

3 PCH Parecis 15,4 Juruena Participações e

Investimentos S.A.

4 PCH Sapezal 16 Juruena Participações e

Investimentos S.A.

5 PCH Cidezal 17 Juruena Participações e

Investimentos S.A.

6 PCH Ilha Comprida 18, 6 Maggi Energia

7 PCH Segredo 21 Maggi Energia S.A.

8 PCH Divisa 9,5 Maggi Energia S.A.

9 PCH Jesuíta 22,2 Maggi Energia S.A.

10 AHE Cachoeirão 64

na. Desde o fim da década de 90, entretanto, técnicos e representantes dos empresários já so- brevoavam os rios da região para investigar possíveis pontos de barramentos energéticos eco- nomicamente viáveis.

Em 2002, as empresas integrantes do consórcio requereram junto à FEMA (antiga Fundação Estadual do Meio Ambiente, atual SEMA) a licença prévia87 de instalação das se- guintes PCHs: Sapezal, Divisa Alta, Ilha Comprida, Rondon, Parecis, Segredo, Cidezal e Te- legráfica. Segundo uma reportagem do jornal eletrônico O Eco (Fanzeres, 2008), os empreen- dedores adquiriram as licenças prévias três meses após a sua solicitação e, cerca de um mês depois, já estavam com as licenças de instalação. É fundamental destacar que em 2002 Blairo Maggi, o principal sócio do Grupo Maggi e um dos proprietários das usinas, se elegeu gover- nador do estado de Mato Grosso (mandato de 2003-2007).

Em 2005, a holding criada a partir das empresas MCA e da Linca – a Juruena Par- ticipações S.A. – adquire responsabilidade pelo licenciamento de cinco das usinas do Com- plexo Juruena: PCH Cidezal, PCH Sapezal, PCH Telegráfica, PCH Parecis e PCH Rondon (Almeida, 2010). Outras usinas do complexo (PCH Jesuíta, PCH Ilha Comprida, PCH Segre- do, PCH Divisa, AHE Cachoeirão e AHE Juruena) continuaram sob a competência do grupo Maggi88. Segundo um dos proprietários do Grupo Juruena S.A., C.A.J., não houve uma socie- dade entre os dois grupos:

Um projeto desse você têm que fazer um inventário. Nós separamos 100 km de rio aqui e nós pedimos uma autorização para a ANEEL e a ANEEL nos deu essa autorização para a gente estudar esses 100 km; a gente fez todos os estudos. E a Aneel nos dá um tempo, fazemos todos os estudos por nossa conta. Apresentamos lá: aqui, esse trecho de rio, dá pra fazer isso e isso e isso. A ANEEL pega isso, estuda com a equipe dela, concorda com umas, discorda de outras, fala que tem que melhorar assim, e aí começa o processo de autorização. O estudo do rio nós fizemos junto com o Blairo, com o grupo Maggi, nós fizemos o estudo e deu 8 PCHs, 9 PCHs. Das 9, quando saiu a autorização e nós sentamos para dividir, para começar a construir, vocês ficam com essas 4 e nós ficamos com essas 5. Nós viabilizamos economicamente as nossas 5. Eles [Maggi] ficaram esperando estrategicamente, pois sabiam que nessa região teríamos problema, então deixaram a gente passar por todos os problemas, até nos consultaram... Inteligência deles, não fizeram nada errado. Foi isso que fizemos juntos – os estudos. E como ainda tem dois UHE que é o Cachoeirão e o Juruena, essas duas nós continuamos estudando em conjunto, ainda não chegou na fase de autorização. Ainda está em estudo, nós estamos apresentando EIA/RIMA, uma série de coisas, e no dia em que for aprovado nós provavelmente vamos sentar e dividir. Podemos até construir em conjunto. Não

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As etapas para a implantação de uma PCH são: 1) Estimativa de Potencial Hidrelétrico; 2) Estudos de Inventário de Bacia; 3) Plano Básico; 4) Licença Prévia (LP); 5) Licença de Instalação (LI); e 6) Licença de Operação (LO).

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Apesar de mencionar as demais usinas e empresas envolvidas no Complexo Juruena, a pesquisa aqui tratada se concentrou no grupo Juruena S.A.

existe uma sociedade, vinculação, há um interesse em estudar em conjunto, porque seria ruim dois estudarem (2013).

Através de certidões simplificadas obtidas na junta comercial de Mato Grosso, em Cuiabá, verifiquei que a empresa MCA Energia e Barragem Ltda pertence aos irmãos M.A e C.A.89. A família A90 é conhecida no estado por sua atuação na área da construção civil. Os irmãos A. já tinham ampla experiência na construção civil antes de voltarem-se para a energia elétrica – eles são proprietários da construtora Três Irmãos91.

Nota-se que C.A. é um indivíduo que transita nas esferas dos mundos econômico e político, público e privado, do estado de Mato Grosso. Tendo iniciado sua carreira política ao lado de Dante de Oliveira, C.A. foi deputado estadual pelo PSDB, tendo ocupado nos últi- mos dez anos diversas secretarias de estado92. Atualmente é o presidente do PSDB em Mato Grosso. Além disso, já ocupou o cargo de vice-presidente da Federação das Indústrias do Es- tado de Mato Grosso (FIEMT), no mandato 2009-2012, sendo o atual presidente do Instituto Ação Verde, uma OSCIP (organização da sociedade civil de interesse público) criada pelo setor produtivo do estado de Mato Grosso em 2007, durante a Bienal dos Negócios da Agri- cultura (Galvão, 2008). Esta organização possui representação no CONSEMA (Conselho Es- tadual de Meio Ambiente), juntamente com outras entidades governamentais e não governa- mentais, entidades do poder público e da sociedade civil organizada, além de participar no Conselho Pleno, que também compõe representação – como presidente do Instituto Ação Verde, A. é o representante oficial da OSCIP no órgão colegiado.93

Uma situação bastante interessante foi narrada pelo próprio CA na sede de sua empresa, a Juruena S.A., em Cuiabá. Uma “confusão”, em suas próprias palavras, teria ocor- rido em uma das reuniões do CONSEMA - cuja agenda era a votação do processo de licenci- amento da PCH Paiaguás, no rio Sangue – para o qual seriam apresentados, portanto, estudos ambientais. Na ocasião relatada, algumas ONGs presentes uniram-se contra esse licenciamen-

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A segunda empresa integrante da Juruena Participações S.A. é a empresa Linear, pertencente à família N., também atuante da área de construção civil. Ver as certidões Simplificadas nos anexos.

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Em 2009, CA e MA, proprietários da Três Irmãos Engenharia, foram presos pela polícia Federal durante a Operação Pacenas, que investigou esquemas de fraudes em licitações de obras públicas com recursos do PAC (Gazetaweb, 2009).

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O único mandado de busca e apreensão expedido pela Operação Lava Jato em Mato Grosso foi na sede da Empresa Juruena S.A.. Um dos membros do conselho administrativo da Juruena S.A. também é proprietário da Construtora Três Irmãos, que possui vários contratos de obras com o estado do Mato Grosso, inclusive cinco obras da Copa do Mundo de 2014 (Matos, 2014b).

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Nas eleições de outubro de 2014, CA não conseguiu reeleger-se como deputado estadual pelo PSDB.

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Em 2014, novas organizações foram eleitas para o colegiado do CONSEMA. O Instituto Ação Verde ficou de fora do conselho.

to, argumentando e citando o exemplo, dentre outras coisas, da falta de peixe que já ocorria no rio Juruena, devido a construção das usinas do Complexo Juruena. De acordo com A.,

citaram o nosso caso na bacia do rio Juruena, sem saber que eu era o proprietário. E aí começou a citar e a diretora da SEMA, a Lilian, não tinha as informações todas daqui. Eu percebi que estrategicamente eu não devia me pronunciar, chamar atenção pra cima e tal. Do jeito que as ONGs pensam, eles não iam mais me escutar; a partir do momento que eles entendessem que eu tenho interesse, acabou a discussão, não ia abrir a discussão. Mas a menina da SEMA ficou tão desesperada, ela olhava pra mim pedindo ajuda desesperada, e eu não posso me omitir e fui falar. Eles começaram a falar um monte de besteira: não tem mais peixe no rio Juruena, por causa do Complexo Juruena. Eu falei assim: “não existe rio mais estudado que o rio Juruena. Nós estudamos aquele rio nos últimos dez anos. Têm os estudos todos e você está dizendo que não tem peixe, eu quero dizer pra você que antes de eu desviar o Rio (o F. que comandou tudo isso) os índios pediram peixes para nós. Ele [F.] foi lá, negociou com eles a doação 3 toneladas de peixe para eles fazerem a festa do peixe deles porque o Rio não tinha peixe – antes de nós começarmos a construir. Aí nos construímos. Depois, agora oito anos depois, vocês vêm aqui e dizem que nós acabamos com o peixe do rio? Não tinha peixe no rio”. Ele falou um monte de besteira, disse que sempre existiu projeto de PCHs no rio Juruena. Isso não existe, isso é estudo. Aí uma outra ONG falou: “mas não é antiético o senhor está aqui?”. “Por que antiético? O senhor está defendendo uma coisa e eu estou defendendo outra, aqui é um lugar para defender as opiniões. São 27 pessoas que decidem”. Eu disse que não tem nada disso. Na região seguinte levaram os índios. É no rio Sangue, perto de Campo Novo. Deu empate, 9 a 9, e a SEMA foi o voto de minerva e foi favorável.

A minha entrada nas dependências da empresa Juruena S.A., em Cuiabá, confor- me já mencionado, foi possibilitado por F., que tem sob sua responsabilidade todas as ques- tões socioambientais da empresa. O senhor F. – engenheiro ambiental e professor universitá- rio aposentado é atualmente proprietário de uma empresa de consultoria ambiental –, além disso, ele já exerceu diversas vezes o cargo de secretário de estado, inclusive como presidente da extinta FEMA (Fundação Estadual do meio Ambiente). Acredito, assim, que F. tenha a- cumulado um know-how excepcional tanto do funcionamento da máquina pública quanto da- quele demandado pela iniciativa privada.

No trabalho “Secretariado: a parcela eclipsada do poder”, apresentado no 8º En- contro da ABCP, em 2012, Silveira analisa os secretariados municipal e estadual de Mato Grosso no período de 1983 a 2011. Através dos dados obtidos com sua pesquisa, pude lançar mão de algumas pistas para pensar o lugar ocupado por estes indivíduos. A autora revelou, entre outras coisas, “a existência de ‘feudos de área’, cujas secretarias acabam recorrentemen- te nas mãos de alguns nomes, independente da esfera de poder ou de partidos governantes”, e, além disso, que “parte significativa dos secretários atua na iniciativa privada”, sendo portanto

fundamental atentar o olhar para esse segmento, “que é parte importante das relações de po- der” (Silveira, 2012).

Segundo a autora, há uma tendência, evidenciada pela pesquisa do secretariado no Mato Grosso, do empresariado brasileiro aspirar a participação direta no Estado, através tanto de cargos eletivos como através de cargos de confiança ou secretariado. Dessa maneira, de acordo com Silveira,

sob a investidura de “Secretário de Estado” promove-se – no imaginário social – uma simbiose paradoxal: ao mesmo tempo em que recobre de certo “interesse público” as políticas estatais, de outro lado recorre aos espaços privados para recolher personificações de êxito econômico para justificar o “interesse público” (Silveira, 2012:6).

Do total de secretários municipais e estaduais pesquisados por Silveira, cerca de 54,21% dos municipais e 56% dos estaduais possuem empresas registradas na junta comercial de Mato Grosso. Além dessa elevada porcentagem dos empresários- secretários, alguns exer- cem ou exerceram cargos nas suas respectivas entidades de classe. Conforme enfatiza a auto- ra, “não somente a perspectiva de classe destes secretários imiscui-se nas políticas de gover- no, senão que sua atuação direta nos processos decisórios garante retorno político e econômi- co (na perspectiva de classe) a médio e longo prazo”.

É justamente a categoria de empresários-secretários94 que, trazida da análise de Silveira, se enquadraria o empresário destacado por esta pesquisa – CA. Observemos o qua- dro abaixo retirado do trabalho de Silveira:

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As categorias de secretários de estado elaboradas por Silveira em sua pesquisa foram: os secretários monopolistas, os multifuncionais, os secretários resgatados, secretários políticos, os secretários empresários- políticos.

CA. (08 x - secretário)

Secretário Municipal

Extraord. Gab. Prefeito (93) 09 empresas: 02 estatais

Supl. Dep. Estadual (07/10) Secretário Municipal

Extraord. (93/94) Secretário Municipal Especial Ind. Com. e Turismo (93/94) Secretário Estadual Para Assuntos Extraordinários (95) SINDUSCON (88/91) Secretário Estadual Desenv.

Turismo (95/98) SINDUSCON/FIEMT (91/94) SINDUSCON (91/94) Secretário Estadual

Ind. Com. e Mineração (98)

FIEMT (91/94) FIEMT (94/97) Secretário Estadual Desenv. Turismo (99) SINDUSCON (94/97)

Supl. Dep. Estadual (11/14) SINDUSCON/FIEMT

(94/97)

Secretário Estadual de Ind. Com. e Mineração (99/02)

FIEMT (97/00) FIEMT (00/03)

FIEMT (03/06) FIEMT (06/09)

Figura 15: Empresários e Cargos Fonte: Silveira, 2012

Observa-se na tabela que CA exerceu, no período de 1993 a 2002, 8 vezes o cargo de secretário de estado, alternando entre secretarias municipais e estaduais. Além disso, atuou como representante de duas importantes entidades patronais do estado de Mato Grosso: a SINDUSCON-MT (Sindicato das Indústrias de Construção do estado de Mato Grosso) e na FIEMT (Federação das Indústrias do estado de Mato Grosso), por vários anos consecutivos. Finalmente, observa-se também que nos anos de 2007- 2010 e de 2011-2014 ele exerceu o cargo de suplente de deputado estadual na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, pelo PSDB. Durante esse período, por duas vezes, deixou de ser suplente e exerceu o cargo de de- putado estadual, quando o deputado Guilherme Maluf (PSDB) se licenciou do cargo – primei- ramente em 2007-2008, para assumir a Secretaria de Saúde de Cuiabá, e posteriormente em 2011, para se candidatar à prefeitura de Cuiabá (Só Notícias, 2011). Nas eleições de 2014,

CA95 disputou mais uma vez o cargo de deputado estadual pelo PSDB. Entretanto, não conse- guiu ser eleito pois obteve apenas 0.89% dos votos, ou seja, 13.156 eleitores. Há, conforme observa Silveira, um movimento em direção aos cargos eletivos, que ocorreria após certa ex- periência administrativa.

É vital para a nossa pesquisa, enfatizar que Silveira vislumbra, ainda que com da- dos informais, a formação do que ela chama de “clãs familiares” na ocupação dos cargos de confiança. Apesar de não ser o tema principal de sua investigação, a autora afirma ter obser- vado “a regularidade com que determinados sobrenomes – pouco comuns – comparecem no primeiro e no segundo escalão”. Um dos sobrenomes destacados por Silveira dentre os nomes do secretariado estadual foi o sobrenome de "F”. Tendo sido secretário estadual do meio am- biente de 1995 a 2002, F. também acumulou o cargo de presidente da extinta FEMA.

Voltando a iniciativa de construção do Projeto Juruena, originalmente os empre- endimentos energéticos pertenciam à Linca e à MCA, empresas que também realizaram, jun- tamente com o grupo Maggi, os primeiros estudos hidrológicos e ambientais necessários para dar seguimento aos processos de licenciamento dos empreendimentos junto à ANEEL. Se- gundo um dos empresários, depois disso,

“vendemos a energia do projeto para a Eletrobrás. Depois desse ponto precisávamos do recurso para construir o projeto. De onde veio esse dinheiro? Em parte veio do BNDES (...), em que metade assume o risco do projeto e metade a Caixa e o Banco do Brasil assumem o risco de empréstimo para o projeto. E metade veio de um fundo de investimento. [O dinheiro desse fundo] veio desses contribuintes que nessa participação são os detentores da cota do Fundo de Investimento, que são fundos de pensão – que, no final das contas, é dinheiro de contribuição mensal de funcionários dessas empresas que no futuro vão receber de volta quando se aposentarem” (C.N, 2012).

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O valor total dos bens declarados por CA, de acordo com seu registro de candidatura no site do TSE, somam R$1.155.554,93.Disponível em <http://inter01.tse.jus.br/divulga-cand- 2014/eleicao/2014/idEleicao/143/cargo/7/UF/MT/candidato/110000000107>. Acessado em: 05/03/2016.

Figura16: Empresas formadoras do Grupo Juruena S.A. Fonte: Juruena S.A. (www.juruenasa.com.br)

3.2: Investimentos nas PCHs: PAC, BNDES e Fundos de Pensão

As usinas do Projeto Juruena, conforme mencionado anteriormente, fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento, criado em 2007, no segundo mandato do presi- dente Luis Inácio Lula da Silva. Elas receberam recursos advindos do PROINFA, o maior programa do mundo de incentivo às fontes alternativas energia elétrica96, através de repasses do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, e ainda, dinheiro do BNDES.

O Programa de Aceleração do Crescimento teve como objetivo a “retomada do planejamento e execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energé-

tica do país, contribuindo para o seu desenvolvimento acelerado e sustentável”97. Estrategi-

camente idealizado como um plano de retomada dos investimentos em setores-chave da eco-

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O Programa de Incentivo às Fontes de alternativas de energia elétrica foi instituído pela Lei nº 10.438/2002, e até 31/12/2011, implantou "um total de 119 empreendimentos, constituído por 41 eólicas, 59 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e 19 térmicas a biomassa". Disponível em: < http://www.eletrobras.com/elb/ProinfA/data/Pages/LUMISABB61D26PTBRIE.htm> Acessado em 30/02/2016.

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Informações retiradas do site do Ministério do Planejamento, disponíveis em <http://www.pac.gov.br/sobre-o- pac#>. Acessado em 13/02/2016.

nomia, o programa “contribuiu de maneira decisiva para o aumento da oferta de empregos e

na geração de renda, e elevou o investimento público e privado em obras fundamentais”98.

Inicialmente, quando ocorreu o lançamento do PAC, alguns economistas acredita- ram que tais medidas para o crescimento econômico significariam uma negação do neolibera- lismo e uma volta do estado como regulador. Entretanto, Plínio de Arruda Sampaio Jr., afir- mava já em 2007 que tais medidas seriam

apenas um pouco mais do mesmo. Seus fins e seus meios enquadram-se perfeitamente nos parâmetros do padrão de acumulação neoliberal-periférico, implantado por Collor de Mello, consolidado por FHC e reciclado e relegitimado por Lula da Silva (Sampaio Jr., 2007:01).

Dois dos objetivos principais almejados pelo PAC, de acordo com Sampaio Jr., eram “enfrentar o estrangulamento na infraestrutura econômica nas áreas de energia, transpor- te e portos” e “incentivar a iniciativa privada a sair da especulação financeira e realizar inves- timentos produtivos”. Entretanto, de acordo com o autor, nenhuma das causas estruturais res- ponsáveis pela multiplicação de tais problemas foi visada pelo plano e, além disso, a orienta- ção da política econômica brasileira continuou intocada, voltada para, entre outras, as metas inflacionárias, o ajuste fiscal permanente, o câmbio flutuante e a liberalização e internaciona- lização da economia. Assim,

a baixíssima capacidade de investimento do setor público; a inapetência da iniciativa privada para realizar investimentos que envolvam risco, grandes imobilizações de capital e longo prazo de maturação; e a ciranda financeira que transformou o Brasil em verdadeiro paraíso dos especuladores – fenômenos relacionados com a extrema instabilidade gerada pela inserção subalterna na ordem global e a absoluta subordinação da economia brasileira às vontades do rentismo. Por isso, pode-se antecipar: o pacote será absolutamente inócuo para superar os condicionantes responsáveis pela paralisia da economia (Sampaio Jr., 2007:2).

O autor destaca que o PAC demonstra claramente a aposta do governo pela conti- nuidade e pelo aprofundamento do desenvolvimento voltado pra fora – através da

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Apesar de ter iniciado no segundo mandato do presidente Lula, foi durante o governo de Dilma Rousseff que o