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Capítulo I – Os Enawene-Nawe

RELATÓRIO FINAL DO ESTUDO COMPLEMENTAR COMPLEXO JURUENA,

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Apêndice

A degradação do trabalho no canteiro de obras

O trabalho se constitui como a fonte primária de realização do ser social (Antunes, 2005), pois é ele, em sua concretude, que permite o intercâmbio entre o homem e a natureza; ele é a “condição para a produção de coisas socialmente úteis e necessárias” (Antunes, 2005:69). Esse intercâmbio, definidor do próprio processo de trabalho, é apresentado em O Capital por Marx em termos metabólicos:

Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercambio material com a natureza (Marx, 2009: 211).

Desde sua gênese, o capital tem criado formas destrutivas de trabalho. O capita- lismo, ao separar os produtores diretos dos produtos do seu próprio trabalho, acaba por trans- formar tanto o homem, que se torna alienado, ou seja, alheio ao objeto do seu trabalho, que passa a ter vida própria; quanto a própria natureza humana.

Segundo Antunes, as atuais formas de valorização do valor, no que diz respeito mais especificamente ao trabalho, implicam em novos modos de geração de mais valia,

ao mesmo tempo em que expulsa[m] da produção uma infinitude de trabalhos que se tornam sobrantes, descartáveis e cuja função passa a ser a de expandir o bolsão de desempregados deprimindo ainda mais a remuneração da força de trabalho em amplitude global (Antunes, 2011:2).

Atualmente, o trabalho contratado e regulamentado, predominante ao longo de to- do século XX, de tipo tayloriano-fordista, encontra-se em corrosão. Em substituição a esse trabalho formalizado encontramos outras formas diferenciadas de informalidade e processos de precarização.

Através das pesquisas bibliográficas e em diversos jornais estaduais pude consta- tar que uma das pequenas centrais hidrelétricas integrantes do Projeto Juruena, a PCH Parecis, havia sido denunciada por trabalhadores e pelo Ministério Público Federal, em 2010, por tra-

133 balho análogo ao escravo. Abaixo reproduzimos a notícia120 retirada do site do Ministério Público Federal do Mato Grosso:

A construção de um complexo de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) ao longo do rio Juruena, em Mato Grosso, já têm contestados judicialmente pelo Ministério Público Federal os estudos sobre o impacto ambiental; e agora um dos empreendimentos é alvo de uma denúncia por trabalho escravo.

O diretor da PCH Parecis, localizada em Sapezal, Rafael José de Oliveira e o funcionário Decrácio Teodoro Correa foram denunciados pelo Ministério Público Federal por exporem 78 trabalhadores a condições de trabalho que se assemelham à escravidão.

Rafael designou Decrácio para gerenciar a contratação de pessoas para o desmate e a limpeza da área a ser inundada para a implantação do reservatório da hidrelétrica. Foram contratados 78 trabalhadores para operarem motosserras, roçadores, carregarem toras de madeira e cozinhar. Todos foram expostos a condições degradantes de vida e trabalho, em desacordo com a legislação trabalhista em vigor bem como as Convenções Internacionais de proteção ao trabalhador ratificadas pelo Brasil.

Os empregados trabalharam na limpeza da área dos reservatórios da usina para os denunciados, expostos à falta de segurança e com riscos à sua saúde, sem equipamento de proteção individual, tais como botas de borracha, óculos, luvas e perneira. Além disso, os empregados estavam sem registro e sem Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinada e foram alojados em um barraco construído com pedaços de madeira, lona preta e com piso de chão batido, onde havia um lugar bastante precário que era utilizado para preparar a alimentação. Os alimentos eram armazenados sem nenhuma condição de higiene e conservação. Os trabalhadores procuravam a mata para suas necessidades fisiológicas. A água de beber era retirada de um rio que fica ao lado do barraco. Essa água era armazenada em recipientes improvisados e utilizada para beber e cozinhar sem tratamento prévio, sem nenhuma condição de higiene.

(Ministério Público Federal. Procuradoria da República em Mato Grosso, 2010).

Além das péssimas condições de vida no local improvisado pela empresa como moradia dos trabalhadores durante a obra que se caracterizavam, entre outras coisas, pela falta de segurança, de equipamentos, de condições mínimas de higiene, os trabalhadores além dis- so, também sofriam ameaças com o objetivo de persuadi-los "desistir de possíveis tentativas de deixar o lugar".

O conceito de trabalho análogo ao de escravo impõe um limite ao assalariamento. Existe, portanto, um limite externo para a relação de assalariamento, e cabe ao Estado, caso tal limite seja ultrapassado e desrespeitado, intervir e desfazer a relação (Filgueiras et al., 2014).

Conforme explica Filgueiras (2014), ainda que inúmeros trabalhadores tenham si- do resgatados da condição de análogo ao de escravo em todo o Brasil nas últimas décadas, a

120

Além do site do Ministério Publico Federal, a notícia foi amplamente divulgada pela mídia da região, como o Diário de Cuiabá (Schmidt, 2009).

134 existência de diversos termos para qualificar a situação – tais como “trabalho degradan- te”,“servidão por dívida”, “trabalho escravo contemporâneo”, etc. – contribui para confundir e para difundir a ideia de que não existe “trabalho escravo” no Brasil, ideia corroborada tanto por agentes do Estado quanto por setores do capital, explorador de mão de obra.

É vital compreender a diferença conceitual e política existente entre os conceitos de trabalho escravo e o de trabalho análogo ao de escravo – pois é através dessa “confusão” que o capital atua deslegitimando as ações de combate ao fenômeno contemporâneo. Primei- ramente, o trabalho escravo foi uma política estatal durante o Brasil Colônia (estado portu- guês), mantida por lei e garantida pelo Estado, tendo seu fim em 1888. Passados mais de um século do fim da escravatura, vivemos em um Brasil livre de “escravos”, ou seja, livre de uma política estatal para produção de excedentes baseada na propriedade do homem pelo homem. Hoje, a mão de obra para o trabalho assalariado se baseia na liberdade formal dos indivíduos. Apesar disso, ainda encontramos formas de trabalho assalariado cujas condições de explora- ção podem ser consideradas “parecidas, iguais ou mesmo piores que aquelas verificadas no período de escravidão institucionalizada” (Filgueiras, 2014:33). Hoje, o trabalho escravo é proibido no país, e, ao contrário do que poderíamos encontrar no século XIX, a mercadoria vendida é força de trabalho livre (e não seres humanos).

No Brasil, o limite do desrespeito à dignidade daqueles que vivem do trabalho é o trabalho análogo ao escravo, crime previsto no artigo 149 do Código Penal Brasileiro que, "se praticado pelo empregador, extingue o contrato de emprego firmado".

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:

Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

(...)

Tratando do caso das PCHs, a denúncia do Ministério Público Federal pela viola- ção do artigo 149 do Código Penal foi acatada pela Justiça Federal do Mato Grosso, tornando- se uma ação penal. Os réus do processo121 são os senhores Rafael José de Oliveira e Decrácio Teodoro Correa – o primeiro, diretor e representante da empresa Parecis S.A., e o segundo, em suas próprias palavras, foi contratado pelo primeiro para gerenciar a contratação de traba- lhadores rurais, que executariam “as funções de operador de motosserra, roçador, carregador

121

135 de toras de madeira, e cozinheiro”. Tais trabalhadores fariam o desmate e a limpeza da área a ser inundada para constituição do reservatório da usina.

A propósito da “contratação de trabalhadores rurais” citada acima, outra questão importante relativa ao trabalho análogo ao de escravo é sua relação íntima e direta com a ter- ceirização. De acordo com Filgueiras (2014)122, que analisou o universo de centenas de relató- rios de ações de combate ao trabalho análogo ao escravo do Ministério do Trabalho dos anos de 2010 a 2013, essa relação direta ocorre porque enquanto “o trabalho análogo ao escravo no Brasil é o limite da relação de emprego, a terceirização é uma estratégia de gestão do trabalho que objetiva justamente driblar esses limites impostos ao assalariamento” (Filgueiras, 2014:2).

A disputa em torno das definições da terceirização tem sido acirrada no Brasil123. Os argumentos favoráveis a definem como a transferência de parte de uma atividade para ou- tra empresa (ou alguém) mais especializada, de forma a melhorar o desempenho industrial da primeira. Já os argumentos contrários a prática vão no sentido da precarização do trabalho – mais horas de trabalho, menores salários, piores condições, vínculos de trabalho instáveis.

Após análise de centenas de materiais in loco, Filgueiras argumenta que há pistas que mostram que a definição da terceirização como transferência de parte da atividade empre- sarial não procede. Para o pesquisador, “o tomador de serviços que terceiriza, longe de trans- ferir a atividade, continua a ter controle sobre ela. Esse controle pode ocorrer de diversas for- mas e por meio de inúmeros instrumentos, estando na própria raiz da terceirização nos moldes do fenômeno hoje conhecido”. Para ele, portanto, a terceirização nada mais é que “uma estra- tégia de gestão da força de trabalho por um tomador de serviços”, que consiste no uso de um ente interposto como instrumento de gestão da sua própria força de trabalho. Esse interposto pode ser tanto uma pessoa física como uma pessoa jurídica, desde que cumpra o objetivo da aparente separação entre a empresa contratante e o trabalhador. No caso da denúncia tratada aqui, identifiquei o senhor Decrácio Teodoro Correa como um intermediador, “o gato”.

Voltando ao caso em questão na pesquisa, a equipe móvel de fiscalização de de- núncias de trabalho análogo ao escravo do Ministério do Trabalho e Emprego esteve na PCH

122

Cf. também Filgueiras et al., 2014.

123

Infelizmente, enquanto redigia esta tese, no dia 22/04/2015 a Câmara dos deputados aprovou o projeto de lei 4.330, aprovando a terceirização de atividade-fim de empresa. Disponível em <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/TRABALHO-E-PREVIDENCIA/486413-CAMARA- APROVA-PROJETO-QUE-PERMITE-TERCEIRIZACAO-DA-ATIVIDADE-FIM-DE-EMPRESA.html>. Acessado em: 27/04/2015.

136 Parecis, no município de Sapezal (cerca de 700 km de Cuiabá), no período de 29/09/2009 a 08/10/2009, para apuração da denúncia.

Segundo seu relatório, havia 80 trabalhadores contratados para trabalhar nas obras das barragens Cidezal e Parecis que se encontravam “alojados em barracos de lona, sem regis- tro, sem Carteira de Trabalho e Proteção Social assinada, atraso de pagamento, sem equipa- mentos de pequenos socorros e de segurança”124

.

Tanto no relatório da equipe de fiscalização quanto no próprio processo do Minis- tério Público torna-se claro que as condições em que se encontravam os trabalhadores “eram as mais precárias possíveis”. A apuração das denúncias nas usinas mencionadas foi acompa- nhada pelo trabalhador denunciante.

Nas imagens abaixo, retiradas do relatório da equipe móvel de fiscalização do MP, vemos as entradas de acesso às barragens e, além disso, os outdoors de dois dos órgãos estatais financiadores: Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Figura 31 -32: Entrada para os canteiros de obras/ Placa da Caixa econômica Federal Fonte: Erradicação do Trabalho Escravo – Relatório de Fiscalização Parecis S.A.

Na propriedade onde localizam-se as usinas, a equipe encontrou alguns trabalha- dores roçando o pasto, posteriormente, deslocando-se, para o local dos alojamentos destes trabalhadores cerca de um quilômetro e meio da entrada principal da PCH Parecis. Neste lo- cal, foram encontrados 39 trabalhadores alojados em barracos madeira com tetos de lona e nenhuma proteção que impedisse a entrada de animais peçonhentos, conforme mostra a ima-

124

137 gem abaixo. Além disso, “a água de beber, cozinhar e tomar banho era retirada do Juruena, localizado do lado dos barracos. A água era armazenada em baldes sem nenhuma condição de higiene e conservação” (relatório da equipe móvel de erradicação do trabalho escravo).

Figura 33-34: Condições de moradia dos trabalhadores

Fonte: Erradicação do Trabalho Escravo – Relatório de Fiscalização Parecis S.A.

Os alimentos consumidos não eram armazenados de maneira apropriada, com hi- giene apropriada ou em condições que assegurassem sua conservação. As refeições eram pre- paradas de maneira precária, numa área anexa, bem próxima aos barracos onde os trabalhado- res dormiam.

Com relação à higiene pessoal, os trabalhadores tomavam banho no rio e faziam suas necessidades fisiológicas no mato ou num banheiro de madeira improvisado, sem rede de esgoto. As próximas três imagens, retiradas do relatório da equipe móvel do Ministério do Trabalho, evidenciam tais condições.

138 Figuras 35-37: condições dos trabalhadores no alojamento

Fonte: Erradicação do Trabalho Escravo – Relatório de Fiscalização Parecis S.A.

Os 39 trabalhadores estavam sem registro e sem a carteira de trabalho devidamen- te assinada pelo empregador. Em depoimento, tais trabalhadores afirmaram que seus equipa- mentos de trabalho e os de proteção individual estavam em péssimo estado, alguns rasgados e, além disso, que seu uso era descontado no pagamento realizado pelo empregador, condição posteriormente verificada pela equipe de fiscalização.

Constatou-se que os trabalhadores foram reunidos para o trabalho por um dos réus, Decrácio Teodoro, e pelos “gatos”125

conhecidos como Raimundo e Melo. Enquanto alguns trabalhadores afirmaram receber pagamento através de diárias que poderiam variar entre R$30, R$40 ou R$80, outros recebiam mensalmente, e alguns ainda declararam que “estavam há mais de 40 dias no local e ainda não tinham recebido nada”.

Os contratantes mantinham cadernos – encontrados pela equipe de fiscalização em um “armazém do gato” e na caminhonete do senhor Decrácio – nos quais anotavam as diárias pagas e as mercadorias fornecidas aos trabalhadores (tais como colchões, sabonetes, luvas, correntes de motosserra, gasolina, botas, alimentos, etc.), e cujos valores, diga-se de passa-

125

Os “gatos” são os recrutadores da mão de obra e servem de fachada para que os verdadeiros empregadores não sejam responsabilizados.

139 gem, superiores aos do comércio local, eram descontados dos pagamentos dos trabalhadores. Além de trabalharem na situação de extrema precariedade e insegurança, os trabalhadores pagavam pela obtenção de materiais e bens que não existiam no local de trabalho e que deve- riam ser fornecidos pelo empregador gratuitamente, alguns instrumentos de trabalho essenci- ais para a realização da atividade para a qual foram contratados, tais como foice, roçadeira, etc. Estes trabalhadores deviam comprar seus instrumentos de trabalho com o próprio empre- gador, “em razão da impossibilidade física de deslocamento a outra localidade, não apenas pela distância, mas por causa das péssimas condições das vias de circulação” (p.24). Na ima- gem abaixo, observam-se os cadernos apreendidos.

Figura 38: Cadernos apreendidos

Fonte: Erradicação do Trabalho Escravo – Relatório de Fiscalização Parecis S.A.

A equipe de fiscalização, em entrevista com os trabalhadores, constatou que al- guns destes sofriam ameaças pelo gato “Raimundo”. Um dos trabalhadores entrevistados rela- tou que

presenciou a ameaça do Raimundo a alguns trabalhadores que ficavam alcoolizados. Que era o Raimundo que levava as bebidas ao local escondido da usina Parecis. Que o Raimundo ameaçava os trabalhadores para não saírem do local de trabalho e lugar