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As possíveis causas da queda

O momento parece oportuno para voltarmos ao primeiro Discurso, ou “Discurso sobre as Ciências e das Artes”. Para Rousseau, uma das causas que contribuiu para a decadência do homem ao longo da história foi a introdução das artes “modernas”. Segundo ele, antes das artes corromperem os costumes da Grécia, por exemplo, seus guerreiros venceram duas guerras, mas depois que esta nação foi desfigurada pelo avanço das artes, seus costumes foram esquecidos e os novos hábitos em nada contribuíram para que virtudes como coragem, amor à pátria e honra aos antepassados fossem preservadas. A introdução em Atenas da “sabedoria”, das artes e dos poetas, fez com que esta se transformasse em uma cidade injusta e passasse a viver no mundo das aparências. Atenas comete uma injustiça bárbara quando condena Sócrates à morte sabendo que ele na verdade era inocente. Ora, os juízes que condenam Sócrates, ao que se sabe, tinham consciência de sua inocência, não eram ingênuos a ponto de não saberem que Sócrates não havia corrompido juventude alguma, tampouco negava os deuses da cidade, mas, era importante que as aparências prevalecessem entre eles, assim, optam por sua condenação:

Vede a Grécia, povoada outrora por heróis que por duas vezes venceram a Ásia, uma diante de Tróia e outra nos seus próprios lares. As letras nascentes não tinham ainda levado à corrupção aos corações de seus habitantes, mas o progresso das artes, a dissolução e o julgo do macedoniano seguiam-se de perto e a Grécia sempre sábia, sempre voluptuosa e escrava, só ganhou com sua revolução uma mudança de senhores. Toda eloquência de Demóstenes jamais pode reanimar um corpo que o luxo e as artes tinham desfibrado [...] É verdade que, entre nós, Sócrates absolutamente não teria bebido a cicuta, mas teria bebido, num copo ainda mais amargo, a zombaria insultante e o desprezo cem vezes pior do que a morte. (Rousseau, 1999, p-p, 193-198).

Algo semelhante aconteceu com Roma. Para Rousseau Roma era virtuosa quando os jovens preservavam os hábitos e costumes de seus

antepassados, mas quando os valores antigos foram substituídos por novos valores, Roma que foi sempre virtuosa por preservar sua cultura começou a degenerar. Com tal afirmação Rousseau diz ter sido o avanço das artes que fez com que os novos romanos77 esquecessem as virtudes adquiridas dos antigos.

Os poetas e os filósofos por sua vez, ao invés de contribuírem para o avanço do povo romano no sentido moral e ético, apenas os levaram à degeneração. Se a introdução das ciências e das artes contribui para o esquecimento dos antigos valores, Rousseau diz ser preferível a “ignorância” e neste momento cita Sócrates que, ao investigar os políticos, os sofistas e “sábios” de sua época descobriu que na verdade estes eram os mais ignorantes. Se assim for, é preferível o não saber que tem como ponto de partida a máxima socrática que afirma ser o homem sábio aquele tem consciência de sua ignorância:

Voilà donc le plus sage des hommes au jugement des dieux, et le plus savant des Athéniens au sentiment de la Gréce entière, Socrate, faisant l’éloge de l’ignorance ! Croit-on que s’il ressuscitait parmi nous, nos savants et nos artistes lui feraient changer d’avis ? Non, messieurs, cet homme juste continuerait de mépriser nos vaines sciences ; il n’aiderait point à grossir cette foule de livres dont on nous inonde de toutes parts, et ne laisserait, comme il a fait, pour tout précepte à ses disciples et à nos neveux, que l’exemple et la mémoire de sa vertu78.

Assim como o objetivo de Sócrates era instruir os homens em Atenas combatendo os sofismas de sua época, o velho Catão em Roma tinha ideias semelhantes. Continua Rousseau:

Socrate avait commencé dans Athènes ; le vieux Caton continua dans Rome de se déchaîner contre ces Grecs artificieux et subtils qui séduisaient la vertu et amollissaient le courage de ses concitoyens. Mais les sciences, les arts et la dialectique

77

Rousseau chama de “novos Romanos” aqueles da Roma imperial que, para ele já está corrompida pela introdução do luxo tomando assim, amor pelo supérfluo, esquecendo as virtudes da antiga Roma, ou seja, da Roma que havia antes da queda.

78 Rousseau, 2003, p. 38.

Aí está, pois, o mais sábio dos homens no julgamento dos deuses e o mais sábio dos atenienses na opinião de toda a Grécia. Sócrates, fazendo o elogio da ignorância! Seria de crer que, se ressuscitasse entre nós, nossos sábios e nossos artistas fariam com que mudasse de opinião? Não, meus senhores, esse homem justo continuaria a desprezar nossas ciências vãs, em absoluto ajudaria a aumentar essa multidão de livros com que nos inundam de todos os lados, e, como o fez, só deixaria, como único preceito a seus discípulos e a nossos descendentes, o exemplo e a memória de sua virtude.Rousseau, 1990, p, 197.

prévalurent encore : Rome se remplit de philosophes et d’orateurs ; on négligea la discipline militaire, on méprisa l’agriculture, on embrassa des sectes et l’on oublia la patrie79.

Parece que Rousseau se refere nestes momentos, a Apologia de Sócrates. Platão conta que certo dia foi um amigo de Sócrates, (Querefonte) ao oráculo de Delfos, onde ficava a Sacerdotisa Pítia, a porta-voz do deus Apolo. Querefonte teria perguntado à Pítia quem era o homem mais sapiente de Atenas, ela respondeu que não havia em toda a Grécia ninguém mais sábio do que Sócrates. Sócrates por sua vez, diz não ter entendido o significado de tal resposta. Ora, sendo Pítia a porta-vos de Apolo, o deus havia afirmado que Sócrates é sábio:

Querefonte [...] certa vez, havendo ido a Delfos, ariscou esta consulta ao oráculo; ele perguntou se havia alguém mais sábio do que eu; respondeu Pítia que não existia ninguém mais sábio. Para testemunhar isso, tendes aí o irmão dele, porque ele já morreu. Quando soube daquele oráculo, pus-me refletir assim: que “Que quererá dizer o deus? Que sentido oculto colocou na resposta? Eu não tenho consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele, então, significar declarando eu o mais sábio? Logicamente, não está mentindo, porque isso lhe é impossível” 80.

Segundo Platão, Sócrates continua em sua defesa dizendo que ficou curioso quanto ao significado do deus Apolo. A curiosidade e o desejo de descobrir o significado levaram Sócrates a interrogar aqueles da cidade que eram considerados os mais sábios, como por exemplo, os políticos e os poetas. No entanto, Sócrates diz ter chegado àseguinte conclusão: os homens que eram considerados inteligentes eram na verdade, os mais desprovidos de conhecimentos. O pior de tudo era que estes homens estavam enganados porque imaginavam conhecer algo que ignoravam. Assim, Sócrates diz ter entendido a mensagem do deus Apolo, ou seja, neste ponto era mais sábio, pois tinha consciência de sua própria ignorância:

79 Ibid. p, 38.

Sócrates começou em Atenas, o velho Catão continuou em Roma a deblaterar contra esses gregos artificiosos e sutis que seduziam a virtude e afrouxavam a coragem de seus concidadãos. Mas continuaram a prevalecer as ciências, as artes e a dialética, Roma encheu- se de filósofos e de oradores, descuidou-se da disciplina militar, desprezou-se a agricultura, adotaram-se certas seitas e esqueceu-se a pátria.

Por longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto, decidi-me por uma investigação, que agora vou expor: “Eis aqui um mais sábio do que eu, quando tu disseste que eu o era!” Submeti a exame essa pessoa [...] era um dos políticos. Achei que ele passava por sábio aos olhos de muita gente, principalmente aos seus próprios, mas não o era. Depois dos políticos, fui me encontrar com os poetas, tanto os autores de tragédias quanto os de ditirambos e outros, na esperança de aí me apanhar em flagrante inferioridade cultural. Pois bem, senhores, envergonho-me de vos dizer a verdade, mas é preciso. Na realidade, quase todos os presentes poderiam falar melhor que eles próprios a respeito das obras que eles compuseram. Assim, logo compreendi que tampouco os poetas compunham suas obras por sabedoria, mas por dom natural, em estado de inspiração, como os adivinhos e profetas81.

Os exemplos mostrados por Platão nesta passagem da “Apologia de Sócrates”, talvez ajudem o leitor a compreender o sentido da ignorância socrática citada por Rousseau no primeiro Discurso. Não é só nesta obra que Rousseau cita o ilustre admirador de Sócrates, Platão, mas em outros momentos o filósofo genebrino deixa clara a admiração pelo grande pedagogo autor da República, como por exemplo, no Émile ou de l’ éducation onde

escreve:

Voulez-vous prendre une idée de l’éducation publique, lisez la

République de Platon. Ce n’est point un ouvrage de politique, comme le pensent ceux qui ne jugent des livres que par leurs titres : c’est le plus beau traité d’éducation qu’on ait jamais fait82.

(Rousseau, 1966, p, 40).

Rousseau afirma neste momento que para ele a República de Platão é um tratado de educação, mas com que objetivo? Parece que alguém poderia objetar ser tal afirmação anacrônica para um cidadão do século XVIII. Talvez a ideia de cidadão seja o ponto principal destacado por Rousseau. Para Rousseau o cidadão foi extinto quando se perdeu o amor à pátria e se exterminou a instituição pública. Então, segundo Rousseau, já no século XVIII, não se tem mais cidadãos nem apego a pátria: « L ’institution publique n’existe

81 Ibid.

82 Rousseau, 1966, p, 40.

Se quiserdes ter uma ideia de educação pública, lede a República de Platão. Não é uma obra de política, como pensam os que só julgam os livros pelo título: é o mais belo tratado de educação jamais escrito. (Rousseau, 2004, p, 13).

plus, et ne peut plus exister, parce qu’ où il n’ y a plus de patrie, il ne peut plus y avoir de citoyens. Ces deux mots patrie et citoyen doivent être effacés de langues modernes ».(Rousseau, 1966, p. 40).

Assim, quando Rousseau cita a obra de Platão, parece ser com o objetivo, não de afirmar que sua época é igual a da Grécia antiga, mas para mostrar que Platão teria idealizado um modelo de educação pública que gostaria que existisse e que talvez já houvesse sido perdido na Atenas de sua época.

Segundo Jean Starobinski, a atuação da personagem socrática já na primeira parte do primeiro Discurso de Rousseau, é de importância fundamental. Para Starobinski, o motivo que leva Rousseau a citar o filósofo ateniense pode ser entendido com a introdução em seguida de uma nova personagem que Rousseau assemelha a Sócrates, a saber, Fabrício. O papel de Sócrates neste momento do texto rousseauniano, parece ser o daquele que extermina as plantas daninhas que tomaram conta da plantação benéfica e expulsaram aquelas produtivas. Então, Rousseau parece, diz Starobinski, chamar a atenção para as coisas que ficaram perdidas, uma vez que foram substituídas pelas aparências introduzidas em uma época degenerada. Assim, Sócrates, fazendo o elogio da “ignorância”, como já se teve a oportunidade de

ver em momentos anteriores, abre espaço para que Rousseau apresente sua personagem modelo:

[...] Socrate, tel qu’il se définit lui-même, au dire de Platon, dans

l’Apologie : contrairement aux poètes, aux sophistes, aux

orateurs, aux artistes, Socrate sait qu’il ne sait rien. La sagesse de Socrate consiste dans la négation de tout ce que les autres croient pouvoir affirmer. Puis Rousseau introduit un second locuteur, Fabricius, auquel il déleque aussi la fonction du spectateur lucide et tâche d’une nouvelle négation. Fabricius, hypothétiquement ressuscité, est à la fois le héros d’une âge vertueux et le témoin d’un âge corrompu83 [...].

83 Starobinski, 2012, p. 92. Starobinski diz na nota IV, que provavelmente Rousseau tenha sido

influenciado pela “Apologia de Sócrates”. Rousseau teria talvez, conversado com Diderot sobre este assunto em uma das visitas que fizera ao amigo quando este estivera preso. “on a supposé, non sans arguments, que lors de la visite de Rousseau au do donjon de Vincennes. Diderot traduisait l’ Apologie de Socrate". Na ocasião, Diderot encontra-se preso devido a Carta sobre os cegos de sua autoria.

Starobinski interpreta acima a “Apologia de Sócrates” e segundo ele, Platão apresenta Sócrates como aquele que rejeita tanto os poetas quanto os sofistas de sua época. Tal reprovação deve-se do fato de serem para Sócrates, estes homens enganadores do povo uma vez que não tinham como objetivo a instrução pública, mas seus objetivos eram persuadir. O fato dos sofistas possuírem como profissão enganar os outros, já era para Sócrates gravíssimo, porém, além de seduzirem os outros, dizendo serem possuidores de conhecimentos que ignoravam, ainda cobravam por isso.

Após apresentar essa nova personagem relacionando o século XVIII à antiguidade romana, como já disse Starobinski, Rousseau formula a seguinte hipótese: como será que um cidadão que teria vivido em uma época na qual os hábitos e costumes eram preservados, se sentiria com as mudanças ocorridas na Roma dos imperadores, onde a corrupção havia invadido tudo e os velhos costumes tinham sido pisoteados e as artes degeneradas tomado conta da juventude, que antes era guerreira agora tomou gosto pela moleza e pelos costumes efeminados:

O Fabricius! qu’eût pense votre grande âme, si pour votre malheur rappelé à la vie, vous eussiez vu la face pompeuse de cette Rome sauvée par votre bras et que votre nom respectable avait plus illutrée que toutes ses conquêtes ? « Dieux! eussiez- vous dit, que sont devenus ces toits de chaume et ces foyers rustiques qu’habitaient jadis la modération et la vertu ? quelle splendeur funeste a succédé à la simplicité romaine ? Quel est ce langage étranger ? Quelles sont ces moeurs efféminées ? Que signifient ces statues, ces tableaux, ces édifices ? Insensés, qu’avez-vous fait84 ?(...).

84 Rousseau, 2003, p. 39. A nota V da pagina 197 da tradução dos pensadores 1990 diz que

Fabrício é: “cônsul e censor romano do III século a.C Símbolo de integridade e de austeridade da Roma republicana”. Já para Starobinski, como vimos, a personagem é o segundo locutor hipotético de Rousseau cuja função é de espectador de uma época degenerada pelos vícios. Oh, Fabrício! que teria pensado vossa grande alma, se, voltando à vida, para vossa infelicidade, vísseis a face pomposa dessa Roma salva por vosso braço e que vosso nome respeitável ilustrou mais do que todas as suas conquistas? “Deuses”, teríeis dito, “em que se transformaram esses tetos de choupanas e esses lares rústicos nos quais outrora habitavam a moderação e a virtude? Que esplendor funesto é esse, que sucedeu à simplicidade romana? Que língua estranha é essa? Que costumes efeminados são esses? Que significa essas estátuas, esses quadros, esses edifícios? Insensatos, que fizestes? Rousseau, 1990, pp, 197- 198.

Parece que esse “segundo locutor” como diz Starobinski, apresentado por

Jean-Jacques neste momento, tem como objetivo observar de maneira crítica a decadência em que o avanço das ciências e das artes provocou em Roma, que antes era virtuosa agora toma gosto pelos costumes efeminados. Esse gosto pela moleza, pelo luxo que passa a possuir nova formula, destrói a beleza que havia nos modos antigos. Então, Rousseau fala através de Fabrício aquilo que ele mesmo pensa de sua época que não valoriza os costumes que estão relacionados às coisas naturais.

Se as ciências e as artes serviram para degenerar os hábitos e costumes dos povos, Rousseau afirma ser mais adequada a época em que se vivia de maneira rústica onde a relação entre o homem e o meio natural era constante e harmoniosa. Assim, como a invenção da propriedade privada criticada no segundo Discurso é o começo da submissão do homem pelo próprio homem, no primeiro Discurso, o primeiro motor da queda do homem acontece com a invenção das artes. Se as artes provocaram a degeneração do homem, aquele que foi seu inventor é o inimigo número um do gênero humano. Esse inventor para Rousseau é Prometeu. Como se pode conferir a seguir:

C’était une ancienne tradition passée de l’Egypte en Grèce, qu’un dieu ennemi du repos des hommes était l’inventeur des sciences. Qualle opinion fallait-il donc qu’eussent d’elles les Egyptions même, chez qui elles étaient nées ? C’est qu’ils voyaient de près les sources qui les avaient produites. L’astronomie est née de la superstition ; l’éloquence, de l’ambition, de la haine, de la flatterie, du mensonge ; la géométrie, de l’avarice ; la physique, d’une vaine curiosité ; toutes, et la morale même, de l’orgueil humain85.

Parece ser necessário ressaltarmos que Rousseau é talvez, entre os filósofos de seu tempo, o único a defender que o caminho trilhado pela humanidade é o que a leva para a decadência. Então, para Rousseau é

85 Rousseau, 1992, p, 41.

Era tradição antiga, levada do Egito para a Grécia, que o inventor das ciências fora um deus

inimigo do repouso dos homens. Que opinião deveriam, pois, ter das ciências os próprios egípcios, entre os quais elas nasceram? Explica-se: conheciam de perto as fontes que as tinham produzido. A astronomia nasceu da supertição; a eloquência, da ambição, do ódio, da adulação, da mentira; a geometria, da avareza, a física, de uma curiosidade infantil; todas elas, e a própria moral, do orgulho humano. Rousseau, 1990, p, 203.

impossível a existência de um ser humano melhor em uma sociedade fundada na desigualdade onde a avareza tomou conta dos homens desde que foi fundada a propriedade privada, como já vimos. Ora, as ciências e as artes são filhas dos vícios adquiridos na vida social, como Rousseau afirma na citação acima. Se assim for, a ideia de progresso conduz o homem para um abismo do qual não se tem escapatória uma vez que este homem não sabe mais quem é, pois se encontra perdido agora no meio social que o degenerou para sempre. Este “novo homem” avarento que é fruto do meio social parece já nascer corrompido, assim, avanço técnico e avanço moral parece não serem compatíveis.

É importante observarmos e relembrarmos neste momento as seguintes afirmações de Rousseau: “o estado de reflexão é um estado contra a natureza e que o homem em que medida é um animal depravado”. Ora, é a educação que o homem recebe quando passa a viver em sociedade que faz com que ele se esqueça dos ensinamentos naturais que aprendeu quando vivia em meio a mãe natureza. Aprendendo a refletir agora em sua vida social, o homem crê ser talvez superior a natureza, pois cria um “mundo particular”. O começo desse estado de reflexões tem início, segundo alguns autores, quando Prometeu é acorrentado. Desse ponto de vista, a prisão de Prometeu é voluntária cujo fim é a pesquisa, pois em seu exílio Prometeu desenvolve a pesquisa que o leva a criar algo novo. Como bem mostra Raymond Trousson:

Pour la première fois aussi depuis Eschyle, le mythe de Prométhée se trouve uni à l’histoire de la culture et du progrès : « par la force de son éducation, l’homme s’élève au-dessus de la nature et se bâtit un univers propre, qui s’édifie face à la nature : l’univers de la culture ». Prométhée, pour Boccace, n’est donc plus un coupable : son exil sur le Caucase devient un exil voluntaire, une recherche de cette solitude favorable à la réflexion et à la création. ( Trousson, 1976, p, 90).

Trousson mostra acima a interpretação do Mito de Prometeu após Ésquilo86. Mas qual é a diferença entre o mito de Prometeu antes e pós Ésquilo? Segundo Trousson, antes de Ésquilo não havia ainda quem defendesse uma

86 Ésquilo (em grego

: Αἰσχύλος,) a.C. (525-524) foi um dramaturgo da Grécia antiga. É reconhecido frequentemente como o pai da tragédia.

posição oposta entre Prometeu e os deuses. Até então, havia uma convivência harmoniosa entre a natureza, os deuses e Prometeu. Porém após este período Prometeu é interpretado como aquele que declara um estado de guerra contra os deuses.

[...] chez Eschyle, hommes et dieux ne sont pas encore opposés : ils ne sont que les pôles de l’univers. En somme,le drame d’Eschyle n’est pas la tragédie de la révolte humaine : chez lui, l’opposition entre les hommes et les dieux est faite de différences et non d’hostilité. La liberté et la volonté de l’homme doivent être tempérées par la crainte et le respect des immortels ; lá aussi, Eschyle, comme Sophocle et comme

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