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O reino dado à mulher é verdadeiro?

Como visto ao longo deste texto, Rousseau parece dar atenção especial ao papel dado à mulher neste teatro que se pretende instalar em Genebra. A preocupação de Rousseau se sustenta, no fato da mulher possuir para ele, por natureza, o domínio sobre os homens. Mas, vale ressaltar que, para Rousseau a mulher neste meio também é prejudicada, porque está sendo enganada por aqueles homens que comandam este tipo de teatro. Para ilustrar seus argumentos Rousseau cita a seguinte máxima: “aquele que quer conhecer os homens precisa estudar as mulheres”. Ele diz não ter encontrado opositores

neste ponto, mas quando defende que, as mulheres de bons costumes não devem se exibir em público, uma vez que suas funções devem limitar-se aos afazeres domésticos, sabe que logo haverá muitos que falarão contra ele:

Voulez-vous donc connaître les hommes? Étudiez les femmes. Cette maxime est générale, et jusque-là tout le monde sera d’accord avec moi. Mais si j’ajoute qu’il n’y a point de bonnes moeurs pour les femmes hors d’une vie retirée et domestique ; si je dis que les paisibles soins de la famille et du ménage sont leur partage, que la dignité de leur sexe est dans sa modestie, que la honte et la pudeur sont en elles inséparables de l’honnêteté, que rechercher les regards des hommes c’est déjà s’en laisser

125 Rousseau, 2003, p, 131.

Esses grandes e soberbos espetáculos que aconteciam a céu aberto, diante de toda uma nação, só ofereciam por toda parte combates, vitórias, prêmios, objetos capazes de inspirar aos gregos uma ardente rivalidade, e de aquecer seus corações com sentimentos de honra e de glória. Foi em meio a esse importante aparato, tão propício a elevar e comover a alma, que os atores, animados pelo mesmo zelo, compartilham, segundo seus talentos, as honras prestadas aos vencedores dos jogos e não raros aos primeiros homens da nação. Com tudo isso, nunca a Grécia, com a exceção de Esparta, foi citada como exemplo de bons costumes; e Esparta, que não tolerava o teatro, não se preocupava em honrar os que nele se mostravam.

corrompre, et que toute femme qui se montre se déshonore : à l’instant va s’élever contre moi cette philosophie d’un jour qui naît et meurt dans le coin d’une grande ville, et veut étouffer de là le cri de la Nature et la voix unanime du genre humain126.

Ainda em relação a essa exposição da mulher em público, destacamos a importante passagem da Carta a d’Alembert onde Rousseau comenta a repercussão do beijo dado por um dos membros do senado Romano em sua mulher. A censura aconteceu devido a tal beijo ter ocorrido na presença da filha do casal, o que poderia segundo esse julgamento, levar a jovem à imoralidade. Assim, mais uma vez, Rousseau parece chamar à atenção a questão do amor que é posto em cena no teatro:

Quando o patrício Manilius foi expulso do senado de Roma por ter dado um beijo em sua mulher na presença da filha, a se considerar apenas a ação em si mesma, que tinha ela de repreensível? Nada, sem dúvida: anunciava até um sentimento louvável. Mas os castos ardores da mãe podiam inspirar outros ardores impuros à filha. Portanto, isso era fazer de uma ação muito honesta um exemplo de corrupção. Eis aí o efeito dos amores permitidos do teatro (Rousseau, 1993, p, 68).

Em oposição aos espetáculos apresentados em salas escuras cujo modelo é francês e inglês, Rousseau diz não se cansar de citar as festas populares genebrinas e espartanas. Rousseau observa que enquanto as artes reinavam, por exemplo, em Atenas, levando a moleza e a corrupção provocada pelo luxo, os espartanos continuavam praticando seus exaustivos exercícios e trabalhando em seus grosseiros afazeres, como se estes fossem para eles, uma diversão que só tinha trégua em tempo de guerra:

Ainsi rappelait ses citoyens, par des fêtes modestes et des jeux sans éclat, cette Sparte que je n’aurai jamais assez ciée pour l’exemple que nous devrions en tirer ; ainsi dans Athènes parmi les beaux-arts, ainsi dans Suse au sein du luxe et de la mollesse, le Spartiate ennuyé soupirait après ses grossiers festins et ses

126Rousseau, 2003, p, 135.

Quer V.Sa. conhecer os homens? Estude as mulheres. Essa máxima é geral, e sobre isso todos estarão de acordo comigo. Mas se acrescento que não existem bons costumes para as mulheres fora de uma vida retirada e doméstica; se digo que os tranquilos cuidados da família e do lar são a parte que lhes cabe, que a dignidade de seu sexo está na modéstia, que para elas a vergonha e o pudor são inseparáveis da honestidade, que procurar os olhares dos homens é já deixar-se corromper por eles, e que toda mulher que se exibe se desonra: imediatamente vai levantar-se contra mim essa filosofia efêmera que nasce e morre numa esquina de grande cidade, e quer Dalí sufocar o grito da natureza e a voz unânime do gênero humano. Rousseau, 1993, p, 94.

fatigants exercices. C’est à Sparte que, dans une laborieuse oisiveté, tout était plaisir et spectacle ; c’est lá que les plus rudes travaux passaient pour des récréations, et que les moindres délassements formaient une instruction publique ; c’est lá que les citoyens, continuellement assemblés, consacraient la vie entière à des amusements que faisaient la grande affaire de l’État, et à des jeux dont on ne se délassait qu’à la guerre127.

Mais uma vez, parece que prevendo uma possível objeção do fato de ter ido buscar exemplo tão longínquo, Rousseau se antecipa e responde que haverá quem questione o porquê dele não ter sugerido também para a Genebra do século XVIII, as danças das jovens espartanas. A resposta dada por Rousseau é que ele gostaria de ver os costumes de tais jovens sendo praticados pelas moças de sua pátria. Mas, Rousseau não é nenhum ingênuo, sabe que certos costumes dos espartanos são impossíveis de serem praticados pelos cidadãos genebrinos, e diz que só convidará tais homens, a praticar aqueles que crê ainda ser possível:

J’entends déjà les plaisants me demander si, parmi tant de merveilleuses instructions, je ne veux point aussi, dans nos fêtes genevoises, introduire les danses des jeunes Lacédémonienes ? Je réponds que je voudrais bien nous croire les yeux et les coeurs assez chastes pour supporter un tel spectacle, et que de jeunes personnes dans cet état fussent à Genève comme à Sparte couvertes de l’honnêteté publique ; mais, qualque estime que je fasse de mes compatriotes, je sais trop combien il a loin d’eux Lacédémoniens, et je ne leur propose des institutions de ceuxci que celles dont ils ne sont pas encore incapables128.

127 (Rousseau, 2003, p, 190).

Assim chamava de volta seus cidadãos, com festas modestas e jogos sem brilhos, essa Esparta que nunca citaria demais para exemplo do que deveríamos dela tirar; assim, em Atenas, em meio às belas-artes, assim em Susa em meio ao luxo e à moleza, o espartano entediado suspirava por seus grosseiros festins e seus cansativos exercícios. Era em Esparta que, numa laboriosa ociosidade, tudo era prazer e espetáculo; era lá que os mais rudes trabalhos eram considerados recreações, e que os menores lazeres criavam uma instrução pública; era lá que os cidadãos, continuamente reunidos, consagravam a vida inteira a diversões que eram o principal negócio do Estado, e a jogos de que só descansavam na guerra. Rousseau, 1993, p, 134.

128IBIDEM, p, 191.

Ouço já os engraçadinhos que me perguntam se, dentre tantas maravilhosas instruções, não quero também, em nossas festas genebrinas, introduzir as danças das moças lacedemônias? Respondo que gostaria de acreditar que nossos olhos e nossos corações fossem castos o bastante para suportarem um tal espetáculo, e que as moças nessa condição fossem em Genebra como em Esparta cobertas pela honestidade pública; mas, por maior que seja a estima que tenho de meus compatriotas, sei muito bem quão longe estão dos lacedemônios, e das instruções destes últimos só lhes proponho aquelas de que ainda não são incapazes. Idem, p, 134.

É assim, que Rousseau insiste nas festas populares que gostaria de ver em Genebra. O modelo espartano é bem visto por ele, devido à simplicidade e também pela preservação dos antigos costumes pelos jovens que não tem por objetivo a veneração do luxo. Outro ponto admirado por Rousseau em tais festas é o amor à pátria por parte desses jovens que receberam, desde cedo, instruções neste sentido. Dessa forma, diz Rousseau, todos voltam para casa alegres e satisfeitos com sua pátria e consigo mesmo.

Para alguém que não viveu no século XVIII e que desconheça os costumes dos antigos tão valorizados por Rousseau, e, que conhecendo discorde que eles sejam melhores do que aquele praticado no século das luzes poderá talvez, afirmar ser absurdo que um filósofo diga que quando as mulheres viviam limitadas ao ceio doméstico, se encontravam em seu devido lugar. Além de algumas mulheres viverem limitadas a vida caseira, havia também, aquelas que eram obrigadas, por exemplo, a casar-se contra sua vontade. Não é raro ainda, encontrarmos ao longo da história, mulheres que não encontrado casamento mesmo contra sua vontade, viam-se obrigadas a encerra-se em conventos. Mas, havia aquelas que se destacavam e tornavam-se “senhoras de si”, estas, reinavam nos grandes salões onde o luxo é posto acima de tudo.

Mas será que esse seu reinado é verdadeiro? Vejamos o que diz Starobinski:

La femme règne ( on lui fait croire gu’elle règne). C’est autour d’elle que flotte la promesse du plaisir. Mais sa situation est ambiquë. Pour quelques-unes qui sont maitresses d’elles- mêmes, qui règnent sur les salons par leur esprit et leur science, combien d’autres en revanche que l’on traite en objets : enfermées dans des couvents, mariée contre leur gré, conquises par ruse. L’histoire nous apprend que la majorité restent strictement confinées dans le ménage où elles exerceront leurs vertus domestiques. Mais il en va autrement en ces terres d’élection de la richesse, où brille le luxe et où l’art se dépense. La femme gu’un destin dépend de ses faveur : le soupirant n’a cependant point d’autre ambition que d’avoir une femme de plus.

Continuando em sua análise acerca da mulher, Starobinski, diz que não se pode ficar surpreso se em seguida a mulher, assim como já o faz neste meio o homem, também aprenda a arte do disfarce. Ora, parece que neste meio o que interessa é parecer que é alguma coisa, ficando assim, o ser em segundo plano, se é que, o “verdadeiro” possua algum lugar neste momento:

Nulle surprise si bientôt la femme se masque à sont tour et rivalise d’hypocrisie avec l’homme : le sentiment n’est plus guère que le point d’honneur du désir. Les protestations tendres sont le langage chiffré de l’impatience charnelle, le prélude intelligent aux défaites de la raison129.

Assim, neste meio onde prevalece o reino das máscaras, a razão parece fracassar, pois dá lugar ao reino dos prazeres que mesmo passageiros, têm o poder de dominar a maioria. Se a razão possuísse lugar nos espetáculos que têm por finalidade agradar despertando os desejos desenfreados pelos prazeres, as representações teatrais não poderiam causar nenhum mal aquele que as assistem, mas com essa atuação da mulher descrita por Starobinski onde ela se mascara e se torna tão hipócrita quanto o homem, tudo se degenera.

Em sua exposição de como é tratado o mundo dos prazeres no século XVIII, Starobinski talvez ajude o leitor a compreender o lugar que ocupa a atriz neste momento descrito por Rousseau. Tais comentários parecem deixar claro que a mulher neste meio encontra-se a venda. É importante ressaltar que não são todas as mulheres, mas aquelas que possuem o papel de amantes daqueles que podem comprá-las:

Par les effets conjugués de l’esptrit et du décor, la vie acquiert sa mobilité de fiction, son allure de divertissement. Une rhétorique agile s’ingénie à désigner son objet ( ou son défaut d’objet) à travers les images d’autre chose. Ainsi l’on met le masque sans

intention de rester masqué ; l’on s’avance à découvert sans projet d’être sincère. A rhétorique des doubles registres correspond symboliquement la pratique de la doublevie. Le riche a femme et maîtresses, maisons de ville et « petites maison ». A peine clandestin, le plaisir requiert cependant un domaine consacré, des lieux séparés, un territoire propice : l’actrice,

virtuose du dédoublement, en sera l’habitante prédestinée130.

Continuando a tratar sobre o reino dos prazeres existentes na França do século XVIII, o autor mostra como aqueles amantes, que parecem caminhar em direção à degeneração dos costumes, criam meios para que suas fantasias possam se libertar sem que sejam freadas. Assim, a existência dessas pequenas casas paralelas aquelas primeiras da classe burguesa, são refúgios

129 Starobinski, 1700-1789, p, 55. 130 IBIDEM, p, 56.

apropriados para viver essas emoções passageiras, onde as mulheres são meros objetos de prazeres passageiros. Starobinski expõe o relato de um frequentador que diz ter alugado uma dessas casas onde se “alugava” também moças que se tinham como meros objetos de desejo:

«On avait alors la fureur des petites maisons, déclare un personnage des Bijoux indiscrets, j’en louai une dans le faubourg oriental et j’y plaçai sucessivement quelques-unes de ces filles qu’on voit, qu’on ne voit plus ; à qui l’on parle, à qui l’on ne dit mot, et qu’on renvoie quand on en est las : j’y rassemblais des amis et des actrices de l’Opéra ; on y faisait des petits soupers, que le prince Erguebzed a quelques fois honorés de sa présence. Ah! madame, j’avais des vins délicieux, des liqueurs exquises et le meilleur cuisinier du Congo. » C’est la France (sous le nom de Congo), mais c’est aussi l’Opéra, sans déguisement, parce que l’Opera appartient déjá à l’universdu déquisement. Le plaisir a son royaume dans un monde parallèle, à la fois homogène et dispersé131.

Assim, Starobinski mostra a complexidade existente neste jogo de quem reina e de quem é submisso. Em tal jogo existente entre o ser e o parecer, faz- se com que a mulher pense que é dona da situação, mas o que ocorre é o oposto, uma vez que, ela ao mesmo tempo em que comanda é também subordinada. Essa submissão ocorre porque a mulher encontra-se na posição de prostituta convidada, pronta para saciar os desejos dos poderosos e quando não serve mais é desprezada como se fora um objeto qualquer.

Voltando as criticas apresentadas por Rousseau ao teatro que se pretende instalar em Genebra, relembremos que uma das objeções postas pelo filósofo genebrino diz respeito à questão das diferenças. Segundo Rousseau, d’Alembert talvez tenha esquecido este ponto antes de tal proposta. Rousseau diz, é verdade que o homem é uno, mas ao mesmo tempo ele também é múltiplo, pois os costumes e os climas possuem suas particularidades em cada região o que influencia também o homem. Tais observações aparecem também na obra intitulada “A Nova Heloísa” (La Nouvelle Héloïse). Nas Cartas XVI e XVII da 2ª parte destinada a Júlia, Rousseau fala das diferenças existentes entre os povos. Se levada em conta tais diferenças, quem tem como objetivo estudar um povo não deve ter como ponto de partida as grandes cidades como

Paris, mas deve ir aos lugares distantes onde a seu ver, os costumes são preservados e não há uma rotulação geral como ocorre em Paris:

Não seria tão inábil a ponto de escolher a Capital como local de minhas observações. Não ignoro que as Capitais diferem menos entre si do que os povos e que os caractes nacionais nelas se apagam e se confundem em grande parte, tanto por causa da influência comum das Cortes, que se parecem todas, quanto pelo efeito comum de uma sociedade numerosa e restrita, que é mais ou menos o mesmo sobre todos os homens e prevalece, finalmente, sobre o caráter original. Se quisesse estudar um povo, é nas províncias longínquas, onde os habitantes têm ainda suas inclinações naturais, que iria observá-los. Meu objetivo é conhecer o homem e meu método o de estudá-lo em suas diferentes relações. (Rousseau, 1994, p, 219).

Rousseau parece deixar claro que o homem do campo é mais próximo talvez, do que se pode entender por “homem natural”, mais admite não ser fácil chegar a uma conclusão daquilo que seria a sociedade. A dificuldade segundo Rousseau, está no fato do filósofo encontrar-se muito distante da sociedade, enquanto que o homem comum por estar inserido nela, não possui tempo para refletir sobre aquilo que está a sua vista. Assim, tanto o homem comum quanto o filósofo parece encontrarem-se em uma aporia da qual talvez não exista saída:

Assim, começo a ver as dificuldades de estudar a sociedade e nem mesmo sei em que lugar é preciso colocar-se para conhecê-la bem. O filósofo dela está longe demais, o homem da sociedade está perto demais. Um vê demais para poder refletir, o outro demasiadamente pouco para julgar o quadro total. Cada coida que impressiona o filósofo, ele considera separadamente e, não podendo discernir nem suas ligações nem suas relações com outras coisas que estão fora de seu alcance, nunca a vê em seu lugar e não sente nem sua razão nem seus verdadeiros efeitos. O homem da sociedade vê tudo e não tem tempo para pensar em nada. A mobilidade das coisas permite-lhe apenas percebê-las e não observá-las; apagam-se mutuamente com rapidez e do conjunto apenas lhe restam impressões confusas que se assemelham ao caos. (Rousseau, 1994, p, 222).

Mesmo admitindo não ser fácil afirmar o que é o homem, uma coisa Rousseau parece deixar claro, o homem da cidade é desfigurado, alienado, atrapalhado. Esse “novo ser” não sabe quem é, nem porque faz, e tampouco porque participa de determinadas coisas que lhes são impostas. Rousseau fala dos jantares que acontecem em Paris onde as pessoas convidadas se

encontram para conversarem sobre assuntos que não são tratados durante o dia. Em tais jantares, as mulheres possuem “maior liberdade” para se expressarem e talvez se possa conhecê-las melhor. Rousseau observa a vulgaridade existente em Paris, questiona o porquê de assuntos relacionados ao bem e o mal serem tratados como se estas palavras fossem sinônimas. Então, diz Rousseau, o que resta fazer em uma cidade que entende tudo somente do ponto de vista do divertimento? Que lugar possui a virtude nesta sociedade?

É lá que as mulheres se controlam menos e que se pode começar a estudá-las; é lá que reinam com maior tranquilidade conversas mais finas e mais satíricas, é lá que em lugar de das gazetas, dos espetáculos, das promoções, dos mortos, dos casamentos, de que se falou pela manhã, passa-se discretamente em revistas as anedotas de Paris, que se revelam todos os acontecimentos secretos da crônica escandalosa, que se tornam o bem e o mal igualmente divertido e ridículo e que, pintando com arte segundo o interesse particular os caractes dos personagens, cada interlocutor, sem pensar, pinta ainda muito melhor o seu próprio. Que resta censurar onde a virtude não é mais estimada e de que serve a maledicências onde nada mais é considerado mau? Em Paris, sobretudo, onde somente se tomam as coisas pelo seu lado divertido, tudo o que deve excitar a coleta e a indignação é sempre mal recebido132.

Em Paris, continua Rousseau, as pessoas não possuem opinião própria, porque sempre copiam umas das outras o modelo do momento. Tais pessoas são como marionetes conduzidas sem que se leve em consideração suas decisões ou vontades. Se todas as pessoas se comportam da mesma maneira, diz ele, os acontecimentos têm o mesmo significado para todas. Assim, em Paris o homem foi rotulado e não possui consciência de si, uma vez que vive segundo o modelo pré-estabelecido reinante nas grandes cidades:

Todo mundo faz ao mesmo tempo a mesma coisa nas mesmas circunstâncias: tudo é regulado pelo tempo como os movimentos de um regimento numa batalha. Diríeis que são marionetes pregadas na mesma prancha ou puxadas pelo mesmo fio. Ora, como não é possível que todas as pessoas que fazem exatamente a mesma coisa sejam afetadas exatamente da mesma maneira, é claro que é preciso penetrá-las por outros

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