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As práticas corporais como promotoras da identificação entre escola e

5.6 AS PRÁTICAS CORPORAIS COMO ARTICULADORAS DA APROXIMAÇÃO

5.6.2 As práticas corporais como promotoras da identificação entre escola e

Outro ponto que chama a atenção nas respostas é a questão da identificação com a escola. Como já exposto, o colégio pesquisado, possui um lugar cativo na memória da comunidade, uma vez que vários de seus membros estudaram nele. A exploração deste sentimento, parece ser uma via interessante de aproximação entre escola e comunidade como estímulo à participação. Algumas respostas trazem claramente isso e indicam que a estratégia foi interessante por evocar as sensações presentes na memória, como vemos nas colocações a seguir.

Iria ser legal um amistoso dos alunos contra nós veteranos. Quase todo mundo já passou pelo colégio. Seria interessante ver a velha geração e nova jogando junto. E acho que seria um orgulho para os pais participarem (RESPONSÁVEL 75).

Sim é muito importante. Ainda mais pra gente que estudou no H.P.. É muito bom voltar na escola e é uma coisa rara. Deveria fazer mais vezes (RESPONSÁVEL 78).

Há um processo de identificação com a escola. O fato da mesma lidar com gerações de famílias, a coloca em um lugar especial. Contudo, isso não basta. É preciso que haja uma apropriação desse aspecto e que se invista nele. O fato de identificar-se com a escola e com o que acontece nela, é uma via que pode condicionar a participação. Podemos notar isso quando alguns pais, mães ou responsáveis expressam que, as Práticas Corporais trabalhadas durante o processo, foram condições que influenciaram sua ida à unidade escolar. Algumas das falas foram:

Foi bom participar e mostrar que a gente também pratica coisas que os alunos estão estudando (RESPONSÁVEL 1).

Foi incrível levar a zumba para a escola. Sempre que posso levo minha filha para o projeto. Saber que na escola ela tá tendo contato com uma coisa tão boa é muito importante (RESPONSÁVEL 9). Foi bom estar na escola com outros pais pra fazer uma coisa que eu gosto muito que é a zumba. Foi legal ver que outros pais também se interessam. Tinha gente que fazia zumba comigo há um bom tempo mas eu não sabia que o filho dela era amigo do meu e eu descobri isso na gincana. Foi bom porque os pais podem ficar mais unidos pra ajudar a melhorar a escola (RESPONSÁVEL 35).

O mapeamento das Práticas Corporais, realizado no início da pesquisa, desempenhou um papel muito importante no processo. A ideia de trazer para a escola as Práticas Corporais presentes na comunidade e de utilizá-las como uma estratégia de aproximação, produziu uma ação que propiciou a identificação do/as responsáveis com a unidade escolar e minimizou a visão da escola enquanto uma instituição superior e alheia à realidade a qual pertence. Ao ressaltar a importância de “mostrar que a gente também pratica coisas que os

alunos estão estudando”, o pai, mãe ou responsável evidencia a necessidade de mostrar

que o conhecimento escolar está também presente na comunidade e que isto precisa ser validado pela escola.

Aliás, as opiniões dos ministrantes das oficinas com o intuito de avaliar as estratégias implementadas também convergem no sentido de atribuir ao trabalho realizado, a possibilidade de despertar uma identificação maior entre escola e comunidade e, portanto, sua participação. Diante da pergunta “Você acha que esses eventos conseguem aproximara

escola e a comunidade” , os entrevistados colocaram que:

Claro! Com absoluta certeza. Eu vejo por mim que nem tinha mais ligação com a escola e isso eu consegui ter de novo quando fui participar da oficina. Acho que muitas pessoas sentem isso também. Então levar aquele povo tudo pra escola, eu acho que despertou nas pessoas esse sentimento. Ainda mais que muita gente estudou ali, conhece os professores e tudo. É como eu falei... É como se a escola tivesse escondida e aparecesse de novo pra gente [...] (PROFESSOR S.C.).

Claro, foi uma forma interessante de fazer isso. Eu tô na comunidade de Prado há quase 30 anos, conheço muita gente, muitos pais daqueles meninos já fizeram capoeira comigo ou me conhecem. A capoeira é uma prática respeitada aqui na cidade, muita gente conhece e respeita. Então eu acho que quando as pessoas verem que tá tendo capoeira na escola, acontece isso de aproximar. É um processo né. À medida que acontecem coisas importantes da cidade ali na escola, a gente se reconhece nela também. Ainda mais do H. p. que faz parte da história de muita gente (PROFESSOR C.F.).

Com certeza. A partir do momento que a escola trabalha com a realidade da comunidade isso é um fato porque a comunidade se sente acolhida na escola. O jiu-jitsu por exemplo, é um projeto que já está a anos em Prado e que já faz parte do dia a dia de muitos jovens. E pelo que você me explicou do projeto, o jiu-jítsu foi escolhido pelos alunos, então isso já é um fator que conta muito, trabalhar com práticas da cidade que foram escolhidas pelos próprios alunos. Pra mim isso foi muito show. Parabéns (PROFESSOR N.V.). Todas as falas acima reforçam a questão da identificação entre comunidade e escola a partir das Práticas Corporais vivenciadas. Isso demonstra que um trabalho pedagógico construído a partir de elementos da realidade local fortalece uma relação mais próxima. Em uma experiência parecida, Neira (2007) averiguou que o fato da inserção da cultura comunitária na escola “reforça o sentimento de pertencimento do indivíduo ao grupo pelo fortalecimento dos laços culturais originais” (p. 179).

Aliás, o mestre de capoeira, ao ser provocado a expor suas percepções sobre o trabalho realizado, traça uma linha de raciocínio semelhante e coloca que, há a necessidade de haver uma ação conjunta entre escola e comunidade para a preservação e fortalecimento da identidade presente naquele local. Em suas palavras:

É uma parceria que deve ter mais vezes essa da escola e da gente, não só da capoeira mas de tanta coisa que tem aqui em Prado, que é da cultura, da raiz mesmo sabe?! Essas coisas tem que ser valorizadas pra que não se perder com o tempo... Tipo a Dona Maria do pote que faz tanta coisa de arte poderia ir lá ensinar, mostrar, os pescadores, ensinar sobre a profissão como é trabalhar no mar, aquele pessoal lá da pontinha que tem as farinheiras, tem os índios também... Ihh tem muita coisa. Eu acho que essas coisas tem que tá na escola porque é coisa nossa, da nossa identidade (PROFESSOR C.F.).

O pensamento do mestre de capoeira traz o aspecto da valorização da cultura local como ponto forte de ligação entre escola e comunidade. O contato com o patrimônio cultural, que permeia a realidade onde a unidade escolar está inserida, traz para a mesma o “[...] status de polo cultural, transformando-se em referência e ponto de encontro de agentes culturais” (NEIRA, 2007, p. 179). Nesse contexto, os/as estudantes, pais, mães e responsáveis, professores, professoras e equipes escolar têm a possibilidade de se reconhecerem nas ações escolares e se identificarem como produtores das mesmas.

Os/as estudantes também trazem indícios dessa identificação a partir das vivencias realizadas. Algumas falas são construídas tendo como base uma visão parecida com as já apresentadas assentadas no fato de que a abordagem realizada levou em consideração aspectos que estão presentes no contexto local., como podemos ver nas citações abaixo:

Eu gostei porque me sinto valorizado em ter uma atividade que eu faço fora da escola aqui. Ficam mais interessante as aulas e a gente consegue (ESTUDANTE 12).

Eu não sou muito de praticar esportes e tenho um pouco de medo. Mas eu acho importante ter essas atividades da comunidade aqui na escola porque acaba sendo um pouco da realidade que muitos alunos já vivem e acaba valorizando também (ESTUDANTE 21). Gostei demais porque que já faço capoeira lá no bairro e então eu fiquei mais interessado porquê é um assunto que gosto e que eu sei (ESTUDANTE 69).

Gostei demais. Até minha mãe queria vir quando falei pra ela que ia ter zumba. Porque ela já faz no bairro e gosta muito (ESTUDANTE 34).

Fica nítido que, no contexto das estratégias utilizadas, a questão da identificação com a escola é um ponto bastante importante e que deve ser previsto em um plano de ação que visa condicionar a participação. As Práticas Corporais, enquanto marcas próprias da comunidade, que trazem aspectos e características da realidade em que são produzidas, representam um elemento de bastante eficácia na proposição de vias participativas na escola.