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Parte 1 – Contextualização teórica e empírica geral

1.2 Abordagem processual do voluntariado

1.2.1 Nível do Contexto Cultural e Social

1.2.1.2 As práticas dos voluntários ambientais

Como se pode perceber, os movimentos ambientalistas e, particularmente, do voluntariado no Brasil não podem ser compreendidos fora de um ideário histórico, político e social, constituindo-se como uma articulação entre o poder constituído e os desassistidos ou áreas sociais ou ambientais pouco exploradas. Eles têm sido incentivados como estratégia do Estado que assumiu um caráter populista e paternalista entre as décadas de 30 e 90, e que, posteriormente vem se afastando paulatinamente das suas obrigações, delegando à sociedade civil as ações que favoreçam a saúde e o bem estar da população (no período de 1990 – 2012) em organizações voluntárias para maximizar seus objetivos e defender seus interesses (Araujo, 2008).

Nesse formato particular de relação de trabalho entre o indivíduo e a entidade, foi necessário regulamentar os serviços voluntários de modo a proteger as partes envolvidas por meio da regulamentação da Lei do Voluntariado (Lei 9.608, de 18/02/1998).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010), em 2010, existiam no Brasil, 290,7 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (FASFIL). Destas, 2.242 (0,77%) dedicavam-se ao meio ambiente e à proteção animal, divididas entre as regiões brasileiras da seguinte forma: 50,13% (Sudeste); 23,33% (Sul);

37 13,25% (Nordeste); 7,94 % (Centro-oeste); 5,35% (Norte). Foram fundadas predominantemente na década de 2000-2010 (60,17%); seguido das décadas de 90 (28,72%), 80 (7,94%), e antes de 80 (3,17%). Este documento não traz informações específicas sobre o voluntariado, mas pode-se depreender, pelo número de instituições que não têm pessoas assalariadas em seu quadro (1707 fundações e associações), que a grande maioria realiza serviços baseados neste modelo, correspondendo a 76,14% do total, em 2010.

Em uma pesquisa nacional de opinião, cerca de 25% da população destacou que faz (11%) ou já fez (14%) algum tipo de serviço voluntário (IBOPE, 2011). Ou seja, um em cada quatro brasileiros. Numericamente, considerando apenas as que o praticaram, em 2011 (190.755.799 pessoas – IBGE), seria o equivalente a mais de vinte milhões de pessoas, o que, por si só, já coloca o voluntariado como um fenômeno social de grandes proporções. Essa força de trabalho concentra-se em ações voltadas ao público geral e a crianças e adolescentes em particular (80%), sendo que o meio ambiente tem consideravelmente menor contingente (2%), ficando acima apenas da dedicação aos animais.

Tanto em caráter social, quanto específico, ambiental, estas instituições executam uma série de atividades. Como destacado, elas são plurais, heterogêneas e contribuem com a preservação do meio ambiente, independentes ou articuladas com as políticas públicas, congregando a sociedade civil como parceira, em práticas de voluntariado que podem ser classificadas de diversas formas (por exemplo, quanto à relação com a comunidade Kaniak (1990, p. 63) apresenta uma lista de atividades relacionadas a prefeituras, escolas e universidades, comunidades de bairro, comunidades rurais, etc.).

Embora seja bastante abrangente, a diferenciação de Kaniak (1990) apresenta sobreposição de atividades entre diferentes públicos atendidos. Um dos modos de evitar

38 este problema é focar na classificação das atividades em grupos ou tipos específicos que, por sua vez, pode ser utilizado para públicos variados. Por exemplo, uma das classificações de tipologias de ação dos voluntários ambientais caracteriza cinco vertentes (Castro,1998, 2002):

1) proteção de espaços naturais – que inclui ações de limpeza e conservação ambiental, vigilância e controle dos impactos ambientais, além da construção e manutenção de elementos interpretativos;

2) conservação da biodiversidade - acompanhamento e vigilância de espécies da fauna e flora ameaçadas, além da conservação e melhoria do habitat natural destas espécies;

3) conservação do litoral - manutenção dos ecossistemas litorâneos, recolhimento de resíduos, fixação de dunas e informação e sensibilização de usuários;

4) defesa do meio florestal - manutenção, controle e recuperação do entorno florestais, informação e sensibilização de populações rurais e visitantes;

5) melhoria do meio urbano - restauração e promoção de atividades em áreas verdes, vigilância de vertedores das instalações de tratamento de água, reciclagem e recuperação de resíduos, construção de elementos de apoio aos pedestres e transportes de baixo custo.

Estas ações podem se sobrepor, conectar-se e ainda incluir a luta contra a desertificação, investigação da biodiversidade, gestão comunitária de espaços naturais protegidos e educação ambiental (Castro, 2002). Destacam-se ainda os trabalhos de limpar trilhas, restaurar ecossistemas pela retirada de espécies exóticas e plantação de espécies nativas, monitorar e identificar espécies em perigo e seus habitat, publicar mensagens ambientais em jornais, realização de workshops e demonstração de projetos (Ryan, Kaplan, & Grese, 2001). Podem-se destacar também as ações relativas à questão indígena,

39 agroecologia e agricultura familiar sustentável como outras temáticas possíveis no contexto brasileiro.

Os voluntários desempenham um papel central entre os atores implicados na conservação da biodiversidade com o objetivo de implicar as pessoas e grupos em favor da fauna e da flora e exercendo um papel mediador em relação às demandas de instituições científicas e administrações ambientais (Castro, 2007). Constituem-se elementos essenciais para a democratização da gestão das Unidades de Conservação, favorecendo o envolvimento da população na preservação dos recursos naturais de modo comprometido e sustentável (Amador & Palma, 2013), além de trazer benefícios pessoais como a prática da solidariedade com o ambiente (Valejo, 2013). Uma publicação da APA (2010), ao destacar como as pessoas se adaptam e enfrentam as ameaças do aquecimento global, incluiu o voluntariado e a ajuda entre vizinhos como respostas da comunidade contra a falta de água e destruição de residências após desastres e crises decorrentes das mudanças climáticas.

Entre as razões apontadas por Castro (2007) para implicar pessoas voluntárias está a necessidade de contar com uma rede comunitária de aliados, com ampla participação social, no âmbito de influência, principalmente quando envolve medidas restritivas para a população local, tal como redução de infraestruturas e controle de utilização. Além disso, destaca-se a influência social e educativa dessas iniciativas, dando visibilidade ao projeto e garantindo maior suporte comunitário.

O próprio Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2002a) destaca que os voluntários podem ser aproveitados em praticamente qualquer atividade, onde possa ser demonstrada uma efetiva relação de custo e benefício, na medida em que:

 Permita que projetos e obras sejam concluídos em determinado ano fiscal, apesar de terem recebido recursos financeiros insuficientes.

40  Possibilite que funcionários da Unidade de Conservação executem trabalhos que não seriam, de outra forma, executados em um determinado ano fiscal devido às dificuldades de financiamento ou limitações de pessoal.

 Não resulte na substituição de nenhum funcionário assalariado já alocado naquela função.