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Experiência: dedicação atual, satisfação, integração organizacional e preocupação

Parte 2 – Estudos empíricos

2.4 Discussão

4.4.2 Modelo de processo voluntário

4.4.2.1 Nível individual

4.4.2.1.2 Experiência: dedicação atual, satisfação, integração organizacional e preocupação

Os voluntários tiveram graus variados de dedicação, sendo mais frequentes a dedicação de até 9 horas por semana (38%) e de um a quatro dias por mês (32%), embora existam casos de dedicação bem maior tanto semanal quanto mensal e outros que indicam uma atuação episódica (Sazonal), o que destaca o importância de se analisar o contexto e o desenho que a atividade assume, se afiliação, quando é estimulada maior permanência, ou

170 programa, quando é estimulada a permanência de curto prazo e a participação em projetos específicos (Karr & Meijis, 2006). Como se observa, esta variedade de graus de envolvimento do voluntário, bem como diferentes formas de engajamento na organização (Shantz, Saksida, & Alfes, 2013), torna complexa a análise diante sua diversidade. Principalmente se considerar que 34% dos voluntários mantém mais de uma atividade voluntária simultaneamente.

Os voluntários participantes apresentam altas medidas de satisfação com a atividade, sendo que a classificação de Satisfação intrínseca teve a concordância de 91% dos voluntários. De modo semelhante à análise das motivações, os itens melhor avaliados quanto à satisfação (7,9,10, 11, 12) também podem denotar um perfil dos principais elementos geradores de satisfação do voluntariado ambiental:

ser uma atividade agradável, na qual se aprende coisas novas e se obtém crescimento pessoal enquanto se contribui para o ambiente.

Similarmente aos achados de Hunter (2010), os voluntários apresentaram dúvidas ou discordâncias no item sobre a contribuição do voluntariado para a carreira (item 6 na dimensão de Benefício pessoal), e nos itens da dimensão Impacto ambiental, voltados à satisfação com o próprio impacto ambiental (item 3) e quanto aos sentimentos relativos ao futuro (item 4). Outra possível discrepância percebida foi entre Eficácia (Motivação) e Contribuição pessoal (Satisfação pessoal), que indica que as expectativas de contribuição frente às necessidades da organização não estejam sendo atendidas.

Como destacado, estas respostas são coerentes com o que se chamou de Proteção do ego na escala de motivação. Este resultado, considerando a semelhança de estudos com amostras tão diversas, deve ser observado quando se pretende manter os voluntários atuando por mais tempo (Clary et al., 1998; Finkelstein, 2008; Omoto & Snyder, 1995).

171 Por exemplo, a ênfase deve ser dada nos benefícios da prática e não em aspectos pessoais como resolução de problemas, alívio da culpa ou dos próprios impactos ambientais.

Sobre a questão da carreira, a grande proporção de voluntários que manifestaram dúvida ou indiferença nos itens de Carreira (Motivação) e também de Benefício pessoal (Satisfação pessoal), pode indicar que a prática do voluntariado ambiental não esteja relacionada ao desenvolvimento de uma carreira profissional embora, seja, como dito, importante para o currículo profissional. Neste único aspecto, Hunter (2010) encontrou maior discordância que concordância, diferenciando-se dos achados do presente estudo.

Particularmente, como o que se chamou aqui de Proteção do ego, uma outra interpretação é possível: os voluntários não pretendem, no leque das alternativas de funções do voluntariado ambiental, resolver suas crises, preocupações e conflitos pessoais. Esta interpretação encontra suporte nas menores médias de natureza Egoística, na escala de Preocupação Ambiental, como será visto adiante. Além disso, a prática voluntária, ao invés de gerar satisfação quanto ao próprio impacto ambiental e sentimentos quanto ao futuro, pode deixar o voluntário mais consciente e preocupado quanto ao futuro do ambiente, uma vez que sua vivência o confronta com os limites da relação entre homem e ambiente, nos seus potenciais construtivos e destrutivos. Assim, a prática do voluntariado assumiria um papel da educação ambiental para o próprio voluntário (Castro, 1998), confrontando-o com a realidade e os problemas ambientais concretos.

Estes aspectos precisam ser explorados e podem indicar a necessidade de adaptação do instrumento para que se contemple este grau de consciência a respeito da problemática ambiental e os próprios impactos pessoais sobre esta, pois há evidências de que este tipo de constatação influencia comportamentos pró-ambientais (Gadenne, Kennedy, & McKeiver, 2009).

172 Outro item que também foi avaliado de modo semelhante foi relativo à Satisfação de pessoas próximas ao voluntário (classificação Benefício pessoal) (Hunter, 2010), indicando, coerentemente com a classificação Norma social (em Motivação), que a influência social para a entrada, bem como o fato de agradar as pessoas próximas, com a permanência, não são aspectos tão importantes ou centrais para o voluntariado ambiental. Isso pode indicar um grau importante de autonomia e até mesmo de confrontação da opinião vigente. Um estudo anterior também reportou a insatisfação do voluntário com a sociedade de maneira geral, em que esta é percebida como apática ou manifesta descaso em relação ao meio ambiente e, além disso, tem uma avaliação negativa e crítica em relação ao voluntário (Moniz & Günther, 2011). Pode-se questionar se a baixa importância dada à pressão das pessoas não se deva a uma atitude negativa em relação ao grupo próximo.

Na escala de Satisfação com a organização também se observou grande índice de satisfação dos voluntários, tanto no quesito de Liberdade individual quanto no de Satisfação organizacional. Contudo, comparando-se com as medidas de Satisfação pessoal, esta foi pior avaliada. Mesmo assim, quanto aos itens com maior índice de satisfação (itens 4, 5, 7, 12, 13 e 14), pode-se fazer uma síntese relativa ao relacionamento com a instituição:

é uma atividade que gera satisfação no contato com profissionais não- voluntários e com a liderança, em que se pode utilizar os próprios conhecimentos e habilidades, no próprio ritmo, com liberdade e ser reconhecido pelo que se faz. Os itens com maior frequência de dúvida ou de indiferença foram relativos à Liberdade individual, que, embora sejam praticamente idênticos aos itens de Independência (Motivação), tiveram médias menores, indicando maior satisfação, mesmo não sendo estas razões frequentes para a entrada nos serviços voluntários. Para interpretar

173 o relacionamento entre estas duas variáveis pode-se supor que, os voluntários não saibam avaliar, ou não tenham como avaliá-las, por várias razões, por exemplo: o pouco tempo de dedicação semanal e mensal e a própria natureza da tarefa que desempenham, fator este que não foi explorado neste estudo. Assim, é até recomendável que eles tenham funções bem claras e delimitadas, adequadas às suas expectativas, ao tempo de dedicação, e às necessidades da organização. Aspectos de baixa liberdade e autonomia, neste caso, não são, necessariamente, ruins, mas essenciais ao planejamento das atividades. O mesmo pode ajudar a compreender a alta frequência de dúvidas ou indiferença na classificação de Satisfação com a organização, como itens relativos à rede de apoio (item 7), treinamento (item 16) e supervisão (itens 2 e 17), que pode indicar que os voluntários ou não manifestam qualquer preferência com relação às formas de apoio ou, igualmente, pelas mesmas razões, também não sabem como avaliar o quanto estão satisfeitos ou insatisfeitos se encontram.

Nestes últimos quesitos, fundamentais na temática do voluntariado, se considerarmos os resultados do Estudo 1, observa-se que estas práticas de treinamento e de supervisão, como políticas ou, especificamente, como atividades de desenvolvimento para voluntários, são pouco privilegiadas, uma vez que 1/3 das instituições do CNEA e 1/6 das do ICMBio, participantes desta pesquisa, relataram adotá-las amplamente. Por outro lado, como se observa, é frequente a referência que os voluntários recebem ajuda quando precisam (item 5), o que indica algum nível de suporte ao trabalho, e tem bom relacionamento com o pessoal remunerado (item 6), mas não é tão frequente quando trata da rede de apoio local quando tem problemas com o voluntariado, mas apresenta-se como suporte pontual apenas quando necessário.

Como observado, os voluntários do ICMBio, ainda que não significativas, tiveram maiores médias em todas as classificações de Satisfação pessoal e de Satisfação com a

174 organização, o que pode ser devido, considerando as características demográficas da amostra, à satisfação das expectativas de crescimento pessoal, que também foram maiores quando se avaliou suas motivações. Como as UCs são espaços privilegiados para quem gosta do contato com a natureza, e, em geral, atraem pessoas engajadas, não é surpreendente esse grau de satisfação, considerando tratar-se de público jovem, composto principalmente de estudantes. Assim, à medida que houve correspondência entre as razões da procura pelo serviço voluntário e a natureza da vivência na instituição, houve maior satisfação. Embora seja difícil estabelecer esta direção no relacionamento entre as variáveis, partindo-se de uma análise qualitativa, pesquisas anteriores apontam que quanto maior a correspondência entre os motivos iniciais e as possibilidades de concretizá-los, maior a satisfação e a intenção de permanência (Stukas et al., 2009).

Nas medidas de integração institucional, referentes à concordância com os princípios da organização, assistir às reuniões, conseguir novos voluntários e continuar participando de outras atividades, observou-se grande concordância entre os voluntários, indicando forte vínculo com a instituição e uma possível coerência com Satisfação Intrínseca (em Satisfação pessoal), Crescimento e Valor ambiental (em Motivações). Pela análise da literatura, pode-se supor um grupo bastante coeso, comprometido com a instituição e com as atividades desenvolvidas (Dávila, 2002; Wilson & Musick, 1999). Interessante discutir a menor média em interesse em conseguir novos voluntários, para o grupo de voluntários do ICMBio. Provavelmente isto se deva a menor oportunidade de vagas e a disputa por oportunidades de trabalho, considerando o perfil desta amostra e as características do voluntariado nestas instituições (ICMBio, 2013b) e ainda ao fato desta tarefa não caber ao voluntário. As dificuldades de entrada no grupo podem ter efeito motivador e fortalecer os vínculos dos participantes (Aronson, Wilson, & Akert, 2002), sendo esta outra explicação razoável para as maiores médias deste grupo.

175 Embora as médias dos voluntários tenham sido maiores para preocupações ambientais de ordem biosférica, as particularidades de suas preocupações contribuíram para diferenciar os grupos. Embora a preocupação com as futuras gerações tenha sido a maior preocupação, os itens das preocupações biosféricas podem ter influência do tipo de atividade desenvolvida pelos voluntários em suas instituições, aspecto que não foi explorado neste estudo. A preocupação com a própria saúde foi o aspecto mais importante dos itens de preocupação egoística para todos os voluntários, mas, ainda assim, este fator foi o pior avaliado dos três.

As maiores ênfases nas preocupações altruísticas e biosféricas e menores em egoísticas encontram suporte interno nas medidas de motivação, nas menores médias gerais em Carreira e Independência (médias 3,95 e 3,78 respectivamente – Motivação), e Proteção do ego (média 3,0 - Motivação), e nas medidas de satisfação com a mesma direção: Benefício pessoal e Impacto ambiental (médias 3,69 e 3,43 respectivamente). Estas medidas são de ordem pessoal e profissional, voltadas ao benefício do próprio voluntário. Esta diferenciação das atitudes ambientais (Milfont & Duckitt, 2010; Schultz, 2001), embora não esteja assentada em evidências estatísticas significativas, demonstra coerência interna e reforça a tese de que o voluntariado ambiental é uma síntese dos comportamentos pró-sociais e pró-ambientais, como força centrífuga voltada a fatores externos.

Assim os voluntários estariam ligados às causas ambientais, aos princípios e dinâmicas institucionais e, ainda que tenham benefícios pessoais, estes mostram-se mais voltados à natureza como um valor e à satisfação decorrente da atividade e da própria contribuição. Então não é que os voluntários estejam mais preocupados com o ambiente que com as pessoas, como questão levantada anteriormente (Moniz & Günther, 2011), pois eles demonstram se preocupar tanto com as pessoas quanto com o ambiente. O que pode

176 acontecer é que os voluntários têm uma atitude negativa diante da sociedade, e isso pode diferenciá-los em sua identidade como pessoa e como grupo (Pilliavin, 2010) o que pode estar refletido em seu orgulho em dizer que é voluntário (item 17 – Relacionamento social – Benefícios). Contudo, este item pode ser criticado, uma vez que ter orgulho em dizer pode ser diferente em sentir orgulho de ser, pois guarda a perspectiva de promoção pessoal.

4.4.2.1.3 Consequentes: benefícios da prática, tempo de permanência e interesse em