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Parte 1 – Contextualização teórica e empírica geral

1.2 Abordagem processual do voluntariado

1.2.3 Nível Individual

1.2.3.3 Consequentes: benefícios, tempo de permanência, interesse em continuar e

Os benefícios pessoais e comunitários são fatores motivadores para permanência no serviço voluntário (Hernandez, 1998; Moniz, 2002; Wilson & Musick, 1999). A atividade voluntária traz benefícios para a saúde, bem-estar psicológico (Piliavin, 2010) e a qualidade de vida, além de ser terapêutico e servir como um instrumento para a mudança e redução da carência social (Unger, 1991).

O voluntariado contribui para a saúde física e mental, traz benefícios socioeconômicos, aumenta a chance de alcançar maior grau educacional e melhores postos de trabalho (Wilson, 2012). Está associado à percepção de fatores políticos, como corrupção, se mostrando como uma resposta cidadã, manifestada em um movimento social, contrária a um governo disfuncional (Torgler & Garcia-Valiñas, 2006).

Aplicados ao voluntariado ambiental seus efeitos podem ser sintetizados em três áreas (Castro, 1998, 2002):

1) melhoria do entorno: influir de maneira direta sobre o próprio entorno contribuindo para sua melhoria, proteção e conservação.

2) mudança social: criação de uma rede social em favor do meio ambiente, tornar- se exemplo ou modelo cívico de solidariedade e generosidade, satisfação pessoal e qualidade de vida.

3) mudança pessoal: aprendizagem e enriquecimento pessoal, possibilidade e necessidade de aplicar o que aprendeu, expressar coerência entre o que se pensa e o que se faz.

67 O voluntariado ambiental traz benefícios adicionais quando comparado às outras áreas de atuação, destacando suas consequências positivas para a atividade e saúde físicas, por meio do envolvimento em ações desenvolvidas sobre o ambiente natural ou ar livre (trilhas, nascentes, córregos e reservas naturais) e contato com outras pessoas, e saúde mental, alcançada pela manutenção de uma vida produtiva e com impacto positivo para si e para os outros e alívio do estresse diário (Pillemer et al., 2010).

Pillemer et al. (2010) avaliaram os dados de uma pesquisa longitudinal que acompanhou pessoas por vinte anos (entre 1974 e 1994), comparando aquelas que desenvolveram voluntariado ambiental e as que desenvolveram voluntariado em outras áreas. Investigaram a frequência com que as pessoas desenvolvem atividades físicas, a autopercepção da própria saúde, estado de depressão (retardo psicomotor, distúrbio de humor, perda de energia, problemas na alimentação e no sono, e agitação), isolamento social, presença de doenças crônicas, comportamento funcional em atividades da vida diária, além de variáveis demográficas. Foi constatado que o voluntariado foi um preditor mais forte de atividade física, tanto para voluntários ambientais quanto de outras áreas. Estas também tiveram menor probabilidade de percepção negativa da própria saúde e menor probabilidade de sintomas depressivos. Além disso, os indivíduos que relataram mais recursos pessoais e sociais tiveram maior probabilidade de serem voluntários ambientais.

Ryan, Kaplan e Grese (2001) conduziram uma pesquisa com 148 voluntários de três organizações ambientais com mais de um ano de atividade e constataram, particularmente quanto às mudanças de perspectiva sobre o meio ambiente natural, que os voluntários passaram a dar mais importância à: 1) criação de paisagens nativas - que abrange restabelecer paisagens com plantas nativas e desencorajar amigos e vizinhos de usar espécies exóticas invasivas e reconhecer paisagens não saudáveis; 2) apreciação geral

68 da área natural – que envolve visitar áreas naturais e preservadas, divertir-se em ambientes externos, explorar novas áreas próximas a parques e reservas; 3) vinculação com o lugar onde se desenvolve o voluntariado – que compreende sentir saudade caso o local fosse movido, considerar o local como favorito; e 4) ativismo ambiental – que inclui escrever cartas sobre questões ambientais, interesse em proteger áreas naturais nacionalmente e desencorajar a degradação ambiental.

O tempo de permanência e a intenção de continuar têm sido as variáveis-critério mais utilizadas no modelo processual, uma vez que se pretende identificar seus antecedentes para estabelecer programas que mantenham o voluntário atuando por mais tempo.

Dávila e Chacón (2004) compararam voluntários de organizações socioassistenciais e ecológicas e constataram diferenças quanto a variáveis pessoais e situacionais nas diferentes organizações, e em relação às atitudes organizacionais. Em seu trabalho constatou-se que, uma vez controladas as variáveis idade, atitudes religiosas e a ideologia política, os voluntários de organizações ecológicas obtiveram maiores médias em: expressão de valores (medida por uma adaptação do Inventário Funcional do Voluntariado (IFV) validada pelos autores em trabalho anterior); variedade de habilidades; relação com profissionais; satisfação por diversão; e tempo de permanência e custos econômicos derivados. Os voluntários socioassistenciais, por sua vez tiveram médias maiores em: obtenção de conhecimento (também avaliado pelo IFV); apoio social, emocional e da própria ONG; satisfação com a experiência e com a própria vida; contato com os outros, potencial motivador; coesão, relação com companheiros; e envolvimento com a atividade.

Os autores propuseram um modelo preditivo para a permanência de voluntários socioassistenciais (Figura 1) e para voluntários ambientais (Figura 2) e destacaram que há uma relação direta e positiva entre satisfação, compromisso, intenção de continuar e o

69 tempo real de permanência. No entanto, como se pode observar nas figuras, houve diferenças com relação ao papel das variáveis: melhora do currículo, reembolso econômico, custo econômico e defesa do ego, maiores para voluntários ambientais.

Figura 1 – Representação do Modelo específico para voluntários socioassistenciais (Dávila & Chacón, 2004).

Figura 2 – Representação do modelo específico para voluntários ecológicos (Dávila & Chacon, 2004).

Os autores, em trabalho posterior (Dávila & Chacón, 2007) desenvolveram um modelo mais parcimonioso (Figura 3) comparando as mesmas variáveis anteriormente descritas, sendo importante ressaltar que a variância explicada para o tempo real de permanência foi de 17% para voluntários socioassistenciais e 9% para voluntários ambientais.

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Figura 3 – Representação do modelo básico para voluntários socioassistenciais e ambientais (Dávila & Chacón, 2007).

Evidências como estas, reforçam a perspectiva de que o estudo do voluntariado deve ser sensível à particularidade de cada tipo de área a que se dedica, sendo necessários modelos que expliquem a permanência nesse tipo de atividade (Dávila, 2009; Ryan, Kaplan, & Grese, 2001).

Como se observa, estudos nessa linha têm utilizado modelos de equações estruturais e de regressão a partir de vários instrumentos validados pelos autores e em estudos anteriores. Esta estratégia não foi utilizada no presente trabalho uma vez que o número de participantes em todas as suas etapas foi reduzido, o que impossibilitou realizar novas medidas de validade para os instrumentos utilizados e, ainda a realização de equações estruturais. Em vista da limitação de participantes, as variáveis foram analisadas qualitativamente, buscando interpretações à luz do Modelo Processual e, assim, oferecer alguns indicadores empíricos para futuras pesquisas e desenvolver uma agenda de trabalho. As preocupações ambientais podem ser entendidas como sentimentos favoráveis ou desfavoráveis em relação ao meio ambiente ou algum problema a ele relacionado, o que as inserem no conceito de atitudes ambientais (Milfont & Duckitt, 2010). Thompson e Barton (1994) sugerem três tipos de atitudes ambientais: antropocêntricas, ecocêntricas e de apatia. Apesar das duas primeiras refletirem preocupação ambiental e interesse na preservação da natureza, elas têm motivos distintos de desencadeamento dos

71 comportamentos. As atitudes ambientais antropocêntricas são aquelas que objetivam manter a saúde, a qualidade de vida e a existência humana e, para isso, é necessário preservar os recursos naturais. As atitudes ambientais ecocêntricas, por sua vez, relacionam-se com as crenças acerca dos valores intrínsecos da natureza e sua dimensão espiritual, valorizando-a por si mesma. Deste modo, antropocêntricos são utilitários e consideram que a natureza tem valor na medida em que contribui para a satisfação das necessidades humanas. Já os ecocêntricos julgam que a natureza tem um valor independente e que deve receber uma consideração moral por si própria. As atitudes de apatia, por sua vez, refletem a falta de interesse em questões ambientais e a crença generalizada de que os problemas nessa área têm sido exagerados ou não existem.

Outro modo de avaliar as atitudes de preocupação ambiental tem foco na avaliação das consequências dos problemas ambientais para si mesmo (egoísticas), para outras pessoas (altruísticas) e para a biosfera (biosféricas), e está relacionado a orientações de valor e de crenças sobre a importância destes âmbitos para o indivíduo (Schultz, 2001). A variável Preocupação ambiental foi incluída em virtude de um questionamento sobre a orientação das preocupações de voluntários ambientais que pareceram, em um estudo qualitativo, mais preocupados com o ambiente que com as pessoas (Moniz & Günther, 2011), uma vez que os voluntários entrevistados consideraram a sociedade apática e em uma condição de descaso em relação ao ambiente e que, além disso, avaliam o voluntário ambiental de modo crítico e negativo.