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1.2 A CONSTRUÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA

1.2.1 As primeiras aproximações

Seguindo minha história profissional, trabalhando com orientação pedagógica de escolas da rede pública estadual na GERED, acompanhei, de perto, a implantação do Ensino Fundamental de nove anos.

Nesse contexto, percebia as dificuldades dos professores para alfabetizar, dos alunos para aprender a ler e escrever, os inúmeros equívocos teórico- metodológicos, aspectos esses que contribuíam para os baixos índices de

desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) da nossa região (Sul de Santa Catarina).

É sabido que uma das principais metas estabelecida pelo Plano Nacional de Educação para a última década foi a garantia de acesso e permanência das crianças de seis a quatorze anos na escola. Segundo o Ministério da Educação, esse objetivo foi praticamente atingido e o desafio agora está centrado na qualidade da Educação Básica, basicamente na forma de como atingi-la. Destacam-se, então, algumas iniciativas importantes do Governo Federal, como: a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos de duração; as tentativas de correção das distorções idade/ciclo/série; a reorganização dos tempos e espaços escolares; a avaliação de desempenho dos alunos (Prova Brasil e Provinha Brasil); a definição de novas orientações curriculares para o Ensino Fundamental e, recentemente, o PNAIC – Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Além disso, constata-se que os desafios presentes nos processos de alfabetização e de formação docente têm sido amplamente revisitados e discutidos nas últimas décadas.

No entanto, apesar dos esforços empreendidos, ainda nos deparamos com baixos índices de desenvolvimento da Educação Básica - IDEB, especialmente no que se refere à aprendizagem da leitura e da escrita. Parece, então, que algumas questões permanecem sem respostas: quais as possíveis causas do fracasso do processo de alfabetização no Brasil? Por que nossas estatísticas sobre o analfabetismo (e também sobre o baixo desempenho escolar nos primeiros ciclos do ensino fundamental) insistem em nos revelar números tão incômodos? Qual a responsabilidade que cabe ao educador, aos métodos, aos materiais didáticos, à escola, à universidade e à própria sociedade em relação a isso? Por que os investimentos do Ministério da Educação não estão repercutindo efetivamente na superação do analfabetismo no Brasil?

Infelizmente, a questão do analfabetismo no Brasil constitui-se como um problema de uma longa história no país. Almeida (1993, p. 37 e p. 65) comenta, em sua obra “História da instrução pública no Brasil (1500-1889)”, dois fatos importantes para compreender o contexto sócio-educacional do país nesse período: o primeiro, de que, no Brasil colonial, "havia um grande número de negociantes ricos que não sabiam ler", e o segundo, sobre um problema ainda atual – os baixos salários dos professores - que impediam a contratação de pessoal qualificado e levavam ao

"afastamento natural das pessoas inteligentes de uma função mal remunerada e que não encontra na opinião pública a consideração a que tem direito."

Atualmente, o Brasil ainda enfrenta insistentemente o problema do analfabetismo. O fato é que nosso país possui um número significativo de indivíduos que ainda não adquiriram o saber necessário para atender às exigências de uma sociedade letrada. Ao final do século XX, foi possível constatar que a taxa de analfabetismo na população de 15 anos ou mais diminuiu ininterruptamente, saindo de um patamar de 65,3%, em 1900, para chegar a 13,6% em 2000.

Contudo, como já nos alertava Anísio Teixeira (1971) em um trabalho publicado em 1953, não basta a queda da taxa de analfabetismo, é fundamental a sua redução em números absolutos. E, nesse aspecto, muito ainda havia a ser feito. Como dado positivo, tem-se o fato de que, na década de 1980, reverteu-se o crescimento constante do número de analfabetos e, como dado negativo, o de que em 2000 havia um número maior de analfabetos que aquele existente em 1960 e, quase duas vezes e meia, o que havia no início do século XX. Nesse contexto, os altos índices de analfabetismo no Brasil eram consequência, principalmente, da falta de oportunidade de acesso à escola.

De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – a pesquisa Pnad 2011 - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios -, aponta para a queda de 1% na taxa de analfabetismo das pessoas com dez anos ou mais de idade em relação ao índice de 2009. O número agora é de 7,9% dessa população.

Os números divulgados em 21de setembro de 2012 demonstram que entre os jovens de 10 a 14 anos, 1,9% é analfabeto. Com 15 anos ou mais, a taxa de analfabetismo é de 8,6% - o que representa 12,9 milhões de brasileiros.

O Nordeste é a região com os piores resultados em todas as faixas etárias. Ali, 15,3% da população com mais de 10 anos não sabe ler nem escrever. Se considerados apenas aqueles com mais de 25 anos, o índice chega a 21,3%. Na região Norte, o analfabetismo entre os maiores de 10 anos é de 9,2%.

Na região Sudeste, a taxa de analfabetismo é de 4,4% entre a população com mais de dez anos de idade. Quando considerados os jovens entre 15 e 17 anos, o índice chega a 0,8%.

Embora ainda haja um alto índice de analfabetismo, principalmente nas regiões norte e nordeste, os diversos programas governamentais dos últimos anos,

voltados à alfabetização e à oferta de vagas nas escolas públicas, têm contribuído para a diminuição desse índice (Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 21 dez. 2012).

No entanto, vale trazer aqui a crítica de Azevedo (1997, p. 38), que afirma que "a infância brasileira vem sendo, há muito tempo, analfabetizada pela escola,” ou seja, passa pela escola sem aprender. Essa realidade vem despertando inúmeras pesquisas, realizadas nas últimas quatro décadas, que buscam compreender o fracasso na alfabetização escolar.

Numa tentativa de verificar a compreensão leitora dos alunos matriculados na Educação Básica a partir de 1990, passa a ser realizado no Brasil o exame amostral do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb4), denominado a partir de 2005, por meio da Portaria Ministerial nº 931, de Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb). Esse sistema é, atualmente, composto por duas avaliações: Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), que é amostral, e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc) - mais conhecida como ‘Provinha Brasil’ - nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, e ‘Prova Brasil’, nos anos finais do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio.

As avaliações do Saeb levantam informações a respeito da realidade educacional brasileira, especificamente por regiões e redes de ensino (pública e privada), nos estados e no Distrito Federal, por meio de exame bienal de proficiência em Matemática e em Língua Portuguesa (leitura), aplicado em amostra de alunos de 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio.

Para o MEC, a Prova Brasil não tem por objetivo avaliar o aluno, mas o sistema educacional de ensino, possibilitando-lhe mapear as escolas que precisam de ajuda para, assim, saber onde precisa investir e qualificar melhor os professores e saber quais municípios necessitam de assessoria.

Em 2003, o Saeb apresentou os seguintes resultados na avaliação da compreensão leitora de alunos do Ensino Fundamental e Médio: na quarta série, a

4Desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

(Inep),autarquia do Ministério da Educação (MEC), o Saeb é a primeira iniciativa brasileira, em âmbito nacional, no sentido de conhecer mais profundamente o nosso sistema educacional. Além de coletar dados sobre a qualidade da educação no País, procura conhecer as condições internas e externas que interferem no processo de ensino e aprendizagem, por meio da aplicação de questionários de contexto respondidos por alunos, professores e diretores, e por meio da coleta de informações sobre as condições físicas da escola e dos recursos de que ela dispõe. (Disponível em: <www.inep.gov.br/basica/saeb/caracteristicas.htm>. Acesso em 6 out.2010).

compreensão leitora de 18,7% dos estudantes foi avaliada como muito crítica pelos critérios do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep). Em 36, 7% das provas, o resultado foi avaliado como crítico; em 39,7%, como intermediário. Somente 4,8% dos alunos obtiveram resultado adequado. Na oitava série do Ensino Fundamental, os dados não foram muito diferentes. Muito crítico: 4,8%; crítico: 22%; intermediário: 63,8%; e adequado: 9,3%. Na conclusão do Ensino Médio, esses dados foram, respectivamente, 3,9%, 34, 7%, 55,2% e 6,2%. Em síntese, nas três séries que diplomam nos diferentes níveis de ensino da Educação Básica, menos de 10% dos alunos apresentaram um nível adequado de compreensão leitora.

Os resultados dos anos seguintes, já com a aplicação da Prova Brasil, não mostraram avanços significativos. Em 2005, na quarta série do Ensino Fundamental, somente 43% do universo pesquisado atingiu uma proficiência média no exame. Já na oitava série do Ensino Fundamental, o percentual foi de 57, 9% e, no terceiro ano do Ensino Médio, 64%. Esses resultados precários apontados são confirmados por outros obtidos em levantamentos demográficos oficiais. Por isso, a avaliação do Saeb vem revelando, o baixo índice de desenvolvimento da Educação Básica no Brasil.