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4.1 IDAS E VINDAS DA TRAJETÓRIA PEDAGÓGICA

4.1.4 ORGANIZAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DOS CURSOS DE PEDAGOGIA E DE

Para que se possa compreender este período que segue é fundamental que se recorde a Era Vargas.

A Constituição do Estado Novo, em 1937, de caráter altamente autoritário e centralizador, transformou o sistema educacional numa forma de exercer a dominação das camadas populares. Nessa perspectiva, a centralização do sistema de ensino, a profissionalização da escola, com a finalidade de obter mão-de-obra barata, e o enfraquecimento dos Institutos de Educação, pela instituição de três modalidades de formação, foram alguns dos resultados dessa política.

Foram elaboradas, então, as Leis Orgânicas do Ensino - decretos-leis federais, publicados oficialmente entre 1942 e 1946.

Saviani (2007) relata que, em 1935, Anísio Teixeira foi afastado do cargo que exercia na Secretaria da Educação do Distrito Federal e substituído por Francisco Campos, que assumiu com a tarefa de "desmantelar a obra" de seu antecessor, distanciando as próximas reformas educacionais dos ideários escolanovistas.

A Lei Orgânica do Ensino Normal tentou garantir uma base comum aos sistemas de formação de professores. Todavia, ao propor uma formação em três modalidades, provocou uma dualidade na formação.

Os Institutos de Educação do Distrito Federal e de São Paulo foram ambos elevados ao nível universitário, tornando-se a base dos estudos superiores de educação: o Instituto de Educação Paulista foi incorporado à Universidade de São Paulo, fundada em 1934, e o Instituto de Educação do Rio de Janeiro foi incorporado à Universidade do Distrito Federal, criada em 1935. E foi sobre essa base que se organizaram os Cursos de Formação de Professores para as escolas secundárias, generalizados para todo o país, a partir do Decreto-Lei n. 1.190, de 04 de abril de 1939, que deu organização definitiva à Faculdade Nacional de Filosofia da

Universidade do Brasil. Sendo esta instituição considerada referência para as demais escolas de nível superior, o paradigma resultante do Decreto-Lei 1.190 estendeu-se para todo o país, compondo o modelo que ficou conhecido como “esquema 3+1”, adotado na organização dos Cursos de Licenciatura e de Pedagogia. Os primeiros formavam os professores para ministrar as várias disciplinas que compunham os currículos das escolas secundárias. Os segundos formavam os professores para exercer a docência nas escolas normais. Em ambos os casos, vigorava o mesmo esquema, isto é, três anos para o estudo das disciplinas específicas, vale dizer, os conteúdos cognitivos ou os cursos de matérias, na expressão de Anísio Teixeira; e um ano para a formação didática.

Cabe observar que, ao ser generalizado, o modelo de formação de professores em nível superior perdeu sua referência de origem, cujo suporte eram as escolas experimentais, às quais competia fornecer uma base de pesquisa, que pretendia dar caráter científico aos processos formativos.

A mesma orientação prevaleceu no que se refere ao ensino normal com a aprovação, em âmbito nacional, do decreto-lei 8.530, de 2 de janeiro de 1946, conhecido como Lei Orgânica do Ensino Normal (BRASIL, 1946). Na nova estrutura, o Curso Normal, em simetria com os demais cursos de nível secundário, foi dividido em dois ciclos: o primeiro correspondia ao ciclo ginasial do curso secundário e tinha a duração de quatro anos. Seu objetivo era formar regentes do ensino primário e funcionaria em Escolas Normais Regionais. O segundo ciclo, com a duração de três anos, correspondia ao ciclo colegial do curso secundário. Seu objetivo era formar os professores do ensino primário e funcionaria em Escolas Normais e nos Institutos de Educação. Estes, além dos cursos citados, contariam com Jardim de Infância e Escola Primária, anexos. Ministrariam, também, cursos de especialização de professores primários para as áreas de educação especial, ensino supletivo, desenho e artes aplicadas, música e canto e cursos de administradores escolares para formar diretores, orientadores e inspetores escolares.

Mas o que era a profissão de professor primário? Qual o estágio de desenvolvimento dessa profissão? Quem eram os profissionais? Qual era a prática esperada dos professores primários?

Quanto aos profissionais, que passaram a exercer a função de professor primário, vale dizer que se tratava de uma ocupação exercida por mulheres, provenientes dos segmentos economicamente favorecidos da sociedade, e não de

uma profissão propriamente dita. E, como nos diz Pimenta (2010, p. 29), "era uma missão digna para as mulheres".

Essa concepção de ocupação como missão é muito bem explorada pelo professor Antonio Nóvoa (1991, p. 119-120), em seu estudo sobre a gênese da profissão de professor:

[...] o modelo do docente permanece muito próximo daquele do padre [...]. Na origem, os docentes aderem a uma ética, a um sistema normativo essencialmente religioso. Entretanto, mesmo quando se passa da missão religiosa de educar os jovens à prática de um ofício [...] as motivações originais não desaparecem e apenas parcialmente são substituídas por valores e crenças alternativos.

O autor também aponta a feminização como um dos fatores da manutenção dessa dimensão missionária, a partir do século XIX. (NÓVOA, 1991, p. 126-27).

No Brasil, a feminização do Magistério primário se acentua, a partir dos anos 30 do século XX, em decorrência da expansão da escolaridade primária, das transformações políticas, econômicas e sociais que ocorreram no país.

Se os cursos normais de primeiro ciclo, pela sua similitude com os ginásios, tinham um currículo marcado pela predominância das disciplinas de cultura geral, no estilo das velhas escolas normais, tão criticadas, os cursos de segundo ciclo contemplavam todos os fundamentos da educação introduzidos pelas reformas da década de 1930.

4.1.5 Substituição da Escola Normal pela Habilitação Específica de Magistério