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Capítulo II Percursos de leitura da poesia de Sophia de Mello Breyner

6. Os exames nacionais do ensino secundário

6.2. As provas escritas de Português A e B

O carácter regulador dos exames adquire visibilidade imediata, por um lado, pela determinação dos objectivos e conteúdos essenciais dos Programas do 12.º ano, conforme consta nas OGP´S, por outro, pela divulgação da matriz da prova escrita, exemplo de prova modelo e critérios de classificação e respectivas cotações.

Se pelas OGP'S se garante um núcleo de ensino-aprendizagem mínimo no modo como, a nível nacional, os Programas são trabalhados com os alunos, com a explicitação das competências/capacidades a avaliar pelas provas escritas garante-se a supremacia das seguintes:

• competência de compreensão escrita;

• competência de leitura crítica de textos literários; • competência de expressão escrita.

124 Pelos tipos de itens e modalidades de questões contempladas pela prova escrita, garante-se, de igual modo, a hegemonia da formulação, pelo professor, e treino de resolução de itens de resposta aberta orientada, por parte do aluno, das seguintes modalidades:

Português A

• Comentário de um texto literário de um autor e obra do Programa;

• Texto expositivo-argumentativo, fundado na experiência de leitura de um autor e obra do Programa;

• Resumo de um texto informativo-expositivo (de crítica ou teoria literárias).

Português B

• Questionário de compreensão e interpretação de um texto literário de um autor e obra do Programa;

• Texto expositivo-argumentativo, fundado na experiência de leitura de um autor e obra do Programa;

• Resumo de um texto informativo-expositivo.

É, por isso, e apenas mencionando um exemplo, relegado para segundo plano, quer pelo professor, quer pelo aluno, a capacidade de produção de um texto expressivo e criativo a partir de um tema ou de um texto.

Por último, pela explicitação dos critérios de classificação e respectivas cotações cria-se um quadro de referência para toda a avaliação contínua, e, consequentemente, uma hierarquização das competências/capacidades eleitas pela atribuição de diferente ponderação178.

178 Vide Quadro XIII – Percentagens das competências/capacidades a avaliar na prova escrita de

Português A e Quadro XIV - Percentagens das competências/capacidades a avaliar na prova escrita de Português B, em anexo.

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GRÁFICO 8

Percentagens das competências/capacidades na prova escrita de Português A

44,50% 8,00% 47,50% Competência/capacidades de compreensão escrita Competência/capacidades de leitura crítica de textos literários

Competência/capacidades de expressão escrita

GRÁFICO 9

Percentagens das competências/capacidades na prova escrita de Português B

42,00% 12,00% 46,00% Competência/capacidades de compreensão escrita Competência/capacidades de leitura crítica de textos literários

Competência/capacidades de expressão escrita

126 Assim, os intervenientes na acção educativa ficam a saber que, numa análise global do desempenho do aluno, as competências do domínio da recepção (competência de compreensão escrita e competência de leitura crítica) são valorizadas face às competências do domínio da produção (competência de expressão escrita), numa proporção de 52,5% para 47,5%, no Português A , e 54,0% para 46,0%, no Português B. A análise da ponderação das competências, por tipo de item (Quadros XIII e XIV, em anexo), esclarece-nos que não só a competência de compreensão escrita de um texto literário tem igual peso em ambas as disciplinas (30%), mas também a forma como a competência de expressão escrita aí é evidenciada (20%). Contudo, a actividade é substancialmente mais exigente no caso do Português A onde o aluno tem de estruturar um comentário escrito do texto literário apresentado, articulando os vários tópicos de leitura prescritos.

Se em ambas as disciplinas se avalia o desempenho do aluno na produção de um texto expositivo-argumentativo, fundado na experiência de leitura de autores ou obras do programa, o seu peso no desempenho global é diferente consoante a disciplina: Português A - 25%, Português B - 20%. Esta diferente ponderação parece adequada quando atendemos ao facto de os alunos de Português A se encontrarem inscritos no Agrupamento em que a dominante do conhecimento científico é as Humanidades, logo as experiências de leitura literária devem ser mais valorizadas. Contudo, a distribuição dessa percentagem pelas competências/capacidades a evidenciar entra em contradição com o anterior argumento. Como justificar que a competência de leitura crítica de textos literários, evidenciada pela capacidade de formulação de juízos críticos fundados na experiência do leitor, tenha um peso de 8% no Português A, enquanto no Português B tem um peso de 12%? O peso diferente atribuído à competência de expressão escrita (Português A – 12,5% , Português B – 8,0%) poderá ser justificado pela exigência de

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um texto expositivo-argumentativo mais extenso no Português A, duzentas a trezentas palavras, enquanto no Português B a extensão imposta situa-se entre as cem e as duzentas palavras. Mas se assim é, esta constatação, parece-nos, só vem reforçar a falta de coerência no baixo peso atribuído no Português A à competência de leitura crítica, uma vez que ao se solicitar um texto de maior extensão se espera também uma argumentação mais desenvolvida. Uma outra distinção neste item do Grupo II da prova escrita reside no facto de, no caso do Português A, se testar também a competência de compreensão escrita, de um enunciado ensaístico, tendo-lhe sido atribuído um peso de 4,5%.

Por último, ambas as provas testam a competência/capacidade de compreensão de um texto informativo-expositivo pela determinação das suas ideias fundamentais e a competência de expressão escrita pela capacidade de contracção da informação, segundo os requisitos da técnica do resumo. Contudo, estas competências/capacidades têm uma maior ponderação no desempenho global do aluno no Português B, 30%, contra 25% no Português A.

Em nenhum momento dos Programas Ajustadas de 1997 destas disciplinas ou nas OGP’S subsequentes se informa o professor sobre qual a ponderação de cada uma das competências/capacidades a avaliar, pelo que todas as regras do “jogo” só passaram a ser inteiramente conhecidas pelo professor, pelo aluno e pelo encarregado de educação após a divulgação da matriz da prova escrita de âmbito nacional e sua prova modelo. Circunstância que vem acentuar ainda mais o carácter regulador dos exames nacionais.

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