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Capítulo II Percursos de leitura da poesia de Sophia de Mello Breyner

4. Os manuais escolares

5.2. A poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen nos manuais para-

5.2.4.1. Caracterização do corpus de análise

No âmbito do nível paratextual, assumem-se de forma inequívoca como materiais auxiliares sete elementos do nosso corpus, dois dos quais (A e B) com a classificação de “livro auxiliar” no verso da página de rosto, um (E) com essa indicação na contracapa e na página de rosto, acrescida da identificação do decreto-lei que dá cobertura legal a estes materiais, e os restantes (C, D, F e H) fazendo referência a esse

103 estatuto nas notas de abertura ou na contracapa. Nos casos G, I e J, esse estatuto é depreendido pelo leitor, tendo em conta o título, informações na contracapa e/ou nas notas de abertura e a colecção de que faz parte.

Oito para-escolares do nosso corpus encontram-se em suporte de papel e dois em suporte CD-ROM (C e J)163. Nestes últimos foi tirado partido da capacidade de armazenagem da informação que os novos meios informáticos possibilitam, abrangendo o exemplar C, cujo primeiro destinatário é o professor, os três anos das disciplinas de Português A e B, enquanto o J, destinado ao aluno, oferece apoio a dez disciplinas do 12.º ano, duas das quais se inscrevem no âmbito deste estudo: Português A e B. Ambos são, quanto à tipologia, de cariz generalista, tal como outros quatro para-escolares (A, B, D e H). Há ainda quatro de cariz especializado (E, F, G e I), publicados em data anterior a 2000 ou sem indicação de data (E). Logo, os seis instrumentos auxiliares de cariz generalista são do ano 2000 ou de data posterior.

Além do para-escolar C, que na contracapa se afirma como “uma ajuda essencial para o Professor”, apenas mais um (A) elege como destinatário exclusivo o professor, como é logo revelado no seu subtítulo: “sugestões para preparação de aulas”. Dois têm um destinatário duplo, o aluno e o professor em simultâneo, afirmando-se G como “fundamentalmente útil enquanto condutor da pesquisa de professores e alunos”, e I como contendo “uma dimensão pedagógica e didáctica que lhe alarga seguramente muito o universo de destinatários”, pois resultou de uma reformulação e ampliação de uma dissertação de mestrado sobre o Livro Sexto de Sophia de Mello Breyner Andresen para cumprir esses fins. O exemplar E não especifica o seu destinatário, a disciplina de Português ou o ano de escolaridade do ensino secundário, afirma-se unicamente como ao serviço dos “Novos Programas” em destaque tipográfico na capa. Porém, como não

163 Vide Quadro VII – Parâmetros de observação da informação paratextual nos manuais para-escolares,

104 está datado, torna-se dúbio a que novos programas se reporta. Alvitramos que estas omissões são estratégias de prolongamento da actualidade deste instrumento auxiliar que poderá estar ao serviço do professor ou do aluno independentemente da disciplina ou do ano em que os Programas prescrevam a leitura da poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen.

Os restantes cinco para-escolares (B, D, F, H e J) elegem como seu primeiro destinatário o aluno, mas nem sempre de uma forma directa ou excluindo inteiramente a figura do professor. De facto, apenas J se dirige explicitamente ao aluno e num registo familiar, como o prova o uso da segunda pessoa do singular: “para pores à prova os teus conhecimentos”. Os restantes referem-se ao aluno na terceira pessoa do singular – B: “no dia do exame, os alunos (...)”; D: “o auxiliar que apresentamos pretende ser um instrumento útil aos alunos (...)”; F: “esta colecção é a única que permite ao aluno (...)”; H: “dirigir o aluno no seu trabalho, fornecendo-lhe algumas linhas orientadoras.” –, pelo que se pressupõe que a par destes “leitores preferenciais” (D) o professor também é um possível candidato.

Apenas três para-escolares (A, D e H) se destinam exclusivamente à disciplina de Português B, servindo os restantes indiferentemente para ambas as disciplinas, procedimento semelhante ao que é adoptado na generalidade dos manuais, como foi comentado já em momento anterior deste trabalho. O ano de escolaridade a que prestam apoio para a leitura da poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen é o 12.º ano, à excepção de dois instrumentos (E e I) que apenas mencionam estar ao serviço do ensino secundário.

A finalidade mais recorrente destes materiais não é, como inicialmente esperávamos, o apoiar o aluno na compreensão interpretativa do texto literário, mas sim o auxiliar a preparação do aluno para o exame nacional (B, D, F e H). Essa finalidade, o

105 auxiliar a leitura de obras, apenas é assumida em três casos e todos eles de tipologia especializada (F, G e I). O outro exemplar de cariz especializado (E) não formula qualquer finalidade, embora o seu título (Introdução à leitura (...)) e o índice nos permitam atribuir-lhe a finalidade de orientar um percurso de leitura. Também apenas dois para-escolares (H e I) visam promover a progressiva autonomia do aluno, quando estes instrumentos se destinam primordialmente a serem utilizados em contexto de pesquisa/estudo autónomo em regime domiciliário. Os dois exemplares destinados em exclusivo ao professor (A e C) advogam como sua finalidade o auxiliar a sua prática lectiva, e o inequivocamente destinado ao aluno (J) o auxiliar a sua preparação para provas escritas.

Quatro para-escolares não incluem qualquer bibliografia ( C, D, H e J) e apenas três (A, F e I) conciliam bibliografia da área da educação com as das áreas da teoria e da crítica literárias, como é próprio das obras produzidas para um contexto educativo em que os saberes pedagógico-didácticos são parceiros de igual relevância com os de outras áreas científicas. Os restantes três (B, E e G) circunscrevem a sua bibliografia às áreas da teoria e da crítica literárias, apesar de um deles (G) ter em destaque tipográfico na capa que contém uma “abordagem crítico-didáctica”, na contracapa afirmar que “procura veicular um análise simultaneamente crítica e pedagógica” e reafirmar estas dimensões na “Introdução” da obra, decepcionando assim pelo menos as expectativas de qualquer potencial leitor com a função de professor.

Os materiais do nosso corpus pertencem todos a colecções ou séries da área da educação, duas exclusivas da disciplina de Português (A: “Abordagens”, F: “Novas Leituras”), três especialmente desenvolvidas para os alunos do 12.º ano e abrangendo um número variado de disciplinas ( B: “Acesso ao Ensino Superior, D: “Dossier Exame”, H: “O essencial do 12.º ano”), outras três englobando um leque variado de

106 disciplinas do 3.º ciclo ao ensino secundário (C: “Banco de Questões”, E: “Cadernos”, J: “Teste Mais”) e, por fim, duas colecções de âmbito mais lato, embora ao serviço do contexto educativo ( G: “Textos de Apoio”, I: “ Da Educação”).