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As queixas e as denúncias em relação aos danos causados pelas fumigações e a

No documento A política criminal de drogas contemporânea (páginas 140-146)

CAPÍTULO 3. A ERRADICAÇÃO DE CULTIVOS E AS ALTERNATIVAS PARA

3.1. A erradicação de cultivos e as fumigações

3.1.2. As queixas e as denúncias em relação aos danos causados pelas fumigações e a

Muitas são as queixas que fazem os pequenos produtores e as denúncias de entidades voltadas à proteção do meio ambiente e dos direitos humanos, em razão do modo como são feitas as fumigações e da maneira como são tratados os pequenos cultivadores e as pessoas suspeitas de envolvimento com a produção de drogas. Uma das denúncias mais comuns é a pulverização aérea de cultivos com área inferior a dois hectares, o que contraria normas de erradicação, que dizem que esses cultivos menores devem ser erradicados manualmente.

A maioria dos produtos hortifrutigranjeiros sofrem com a ação das pulverizações com glifosato, assim como alguns animais. Esses danos vão desde o amarelamento até a morte de plantas e problemas de peles à morte de animais.

As queixas e denúncias dão conta de que as bananeiras situadas nas lavouras fumigadas ou próximo a estas, amarelam, seus frutos amadurecem prematuramente e a planta acaba secando, acontecendo processos semelhantes com mamoeiros, tomateiros, hortaliças, pastagens etc. Arvores nativas perdem suas folhas, deixando florestas

20 - Defensoría dei Pueblo, op. cit. p 88: “Los cultivos ilícitos de coca, como parte transcedental dei problema nacional, son el factor que más está contribuyendo al fenómeno transformador y destructor de un ecosistema estratégico, muy importante para la biosfera. El fenómeno es llamado por los campesinos y las autoridades de varias regiones del Guaviare como 7a triple deforestación siembra, fumigación y nueva siembra en otro sitio.”

desfolhadas; bovinos e porcos perdem o pêlo e abortam suas crias; e aves adoecem e perdem suas penas. As pessoas estabelecidas em regiões onde as fumigações são realizadas, apresentam doenças de pele e nos olhos, além de problemas no aparelho respiratório e no aparelho digestivo, e há notícias da morte de duas crianças e uma pessoa adulta, nessas áreas, em virtude das fumigações.21

As pessoas que mais sofrem com as fumigações são os pequenos produtores de cultivos ilícitos, e entre eles, ninguém mais sensível e nem mais afetado do que os indígenas, em virtude do modo de vida mais associado à natureza e de seus cultivos de coca e papoula encontrarem-se, em sua grande maioria, consorciados com culturas lícitas dc subsistência.22

Os efeitos negativos das fumigações para o meio ambiente são enormes e de pouco ou nenhum resultado prático, podendo levar à diminuição momentânea de cultivos ilícitos em determinada região, mas isso é ilusório, porque a produção apenas se desloca para outras áreas.

Dizem Camacho e Restrepo:

Os efeitos da erradicação não foram os esperados.Assim, por exemplo, no norte de Huila, as fumigações de finais do ano de 1994 e princípios de 1995 produziram um efeito devastador sobre o meio ambiente no seu conjunto, provocando a diminuição temporal nos cultivos[...].23 Dados do próprio governo confirmam que a redução dos cultivos ilícitos como resultante das fumigações é ilusório, eis que, de 1992 a 1999 o cultivo da coca teve um incremento de 200%, em que pese os cerca 200.000 hectares de coca destruídos pelas fumigações, no mesmo período,24 com danos irreparáveis aos ecossistemas regionais e os inúmeros problemas sociais decorrentes desse processo.

21 - Defensoría dei Pueblo, op. cit., pp 92-98.

22 - CAMACHO GUIZADO, Álvaro e Andrés Lôpez Restrepo, op. cit. p 21: “Los productores más preocupados por los efectos deletéricos que sobre su organization social tienen los cultivos ilícitos han sido los indígenas. Y son particularmente sensibles a las fumigaciones aéreas porque por lo general sus parcelas tienen diversos cultivos asociados, y la amapola y la coca están mezclados con los cultivos de pancoger”.

23 - Ibidem, p 23: “Los efectos de la erradicación no han sido los esperados. Asi, por ejemplo. en ei norte de Huila, las fumigaciones de finales dei ano 1994 y comienzos de 1995 produjeron um efeçto devastador sobre el medio ambiente en su conjunto, provocando la disininución temporal en los cultivos. [...]” 24 - www.anncol.com.co - El Plan Colombia Proyecto de M antenim iento del Statu Quo. Consulta ao site em 05 set. 2001.

Tem-se noticiado danos decorrentes das fumigações em praticamente todos os departamentos colombianos, e, conseqüentemente, as queixas e denúncias partem das mais diversas zonas de produção pulverizadas com herbicidas. A título de exemplo, no Departamento de Meta, quase ao centro do país, foram registradas queixas que as fumigações de cultivos ilícitos provocaram a queima de plantios de milho, arroz, banana, laranja, manga, hortaliças, pastos, a intoxicação de pessoas, tosse em crianças e

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a morte de bodes e vacas.

O pior é que esses fatos lamentáveis são levados ao conhecimento dos órgãos governamentais colombianos, tais como o Ministério da Defesa, Ministério do Meio Ambiente, Polícia Nacional e Antinarcóticos, através de queixas, denúncias e audiências, os quais, se utilizam dos mais diversos argumentos e justificativas, tais como impossibilidade de chegar à área afetada para constatar a veracidade das informações e avaliarem os danos, falta de competência para agirem de acordo com. o reivindicado, negativa de que o veneno utilizado nas pulverizações produza os efeitos negativos denunciados etc, e, assim nada fazem no sentido de modificar os métodos de erradicação, minorar os efeitos danosos dos métodos adotados ou indenizar os danos causados, e as fumigações aéreas continuam sendo realizadas de forma indiscriminada. Nem mesmo as reivindicações de Organizações Não-Governamentais tem sensibilizado os governos colombiano e norte-americano a mudar de estratégia.

Assim, muitas são as queixas e denúncias de aplicações de aspersão aérea de herbicidas em desacordo com o recomendado pelo Ministério do Meio Ambiente, que chegam a este, e que se transforma em solicitações desse Ministério à Direção Nacional de Estupefacientes, mas esta sequer responde e, quando responde, se limita a negar que tenha levado a efeito ações de erradicação de cultivos com prejuízos aos ecossistemas, e as fumigações continuam sendo feitas da mesma forma e os danos ambientais também.

Contrariando as informações de entidades voltadas à proteção do meio ambiente e dos direitos humanos, os órgãos do governo colombiano afirmam que o glifosato é inofensivo à saúde humana e animal, não afeta outros cultivos e não contamina o ar, o solo ou os recursos hídricos, pois ele adere imediatamente às partículas de terra, ao cair

no solo, e, portanto, não é carregado para os rios e nascentes pela chuva. Por essa visão, as fumigações com esse herbicida, que é o mais utilizado para pulverizar os plantios ilícitos, não produziria qualquer efeito colateral ao homem, aos animais domésticos, aos

r 26 cultivos de subsistência dos camponeses, à flora ou à fauna silvestre ou aquática.

Corroborando a versão do governo da Colômbia, Jim Kouri, chefe de segurança do Departamento de Assuntos culturais, de Nova Iorque, diz que o glifosato só atua no sistema bioquímico dos vegetais, e é composto de substâncias totalmente biodegradáveis tanto pelo solo como pela água, e, portanto, não produz efeitos

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residuais.

Quanto ao que pensam os colombianos sobre os danos causados pelas fumigações, ainda que as opiniões que colhemos representem parcela ínfima da população, pode-se perceber que a quase unanimidade condena as pulverizações áreas dos cultivos ilícitos. Assim, à pergunta “vocá acredita que a fumigação de culturas e florestas para matar as plantas que servem de matéria-prima às drogas resolve o problema da produção e tráfico de d r o g a sque faz parte do questionário que elaboramos, alunos de uma das turmas do 3o semestre do curso de Direito da Universidade Innca de Bogotá, em 25 de outubro de 2001, 85% deles responderam negativamente, o restante absteve-se de responder. E à pergunta “As fumigações prejudicam a natureza? De que forma? ”, o mesmo percentual de alunos respondeu de maneira afirmativa, dizendo que as fumigações prejudicam a flora, a fauna, os cultivos lícitos, as águas e a saúde das pessoas.28

26 - El Glifosato ein la erradicación de cultivos ilícitos, op. cit., p 30. 27 - Ibidem. 31.

28 - Questionário elaborado contendo 20 perguntas sobre a política internacional de drogas na Colômbia, a erradicação de cultivos ilícitos com o uso de fumigações, os efeitos negativos destas, a substituição de cultivos, foi apresentado a uma turma de alunos do 3o semestre do curso de Direito, durante a aula de Direito Internacional, do turno da noite, em data de 25 out. 2001, ministrada pelo professor Hugo González. Nem todos os alunos da turma dispuseram-se a responder ao questionário, mas dezesseis deles responderam. Os percentuais apresentados referein-se apenas àqueles alunos que concordaram cm responder.

A União Européia não concorda com as fumigações aéreas dos cultivos e busca incentivar, através de apoio financeiro ao desenvolvimento alternativo, se faça a substituição dos cultivos ilícitos por culturas lícitas, num processo de médio e longo prazo.

A Organização das Nações Unidas, a partir de 1998, defende um plano de ação internacional, que viabilize a erradicação dos cultivos de forma mais racional e mais lenta, sem o uso de pulverizações aéreas com herbicidas, e, paralelamente um plano de desenvolvimento alternativo. Essa política deveria ser implementada tendo como alicerces o princípio da responsabilidade compartilhada e um enfoque integral e equilibrado, considerando sempre o respeito aos direitos humanos e as liberdades

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fundamentais.

De tudo o que até aqui foi dito, percebe-se que a política imediatista e militarizada de erradicação dos cultivos ilícitos, via fumigações aéreas, não tem o respaldo da população colombiana, é criticada por expertos no tema, não conta com o apoio da União européia, nem da Organização das Nações Unidas e é um fracasso quanto ao objetivo declarado de terminar com a produção e o tráfico de substâncias entorpecentes, enfim, é uma política pensada pelos Estados Unidos, executada por este e os países andinos, que a ele não conseguiram se opor, e colocada goela abaixo da população sul-americana, que, na sua maioria, não conseguiu digeri-la, mas dela não consegue se livrar, causando grandes danos, indignação, medo e injustiças à população regional, em especial aos andinos e caribenhos.

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3.1.3 - Das pulverizações químicas à previsão do controle biológico dos

No documento A política criminal de drogas contemporânea (páginas 140-146)