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A comunicação está presente em todas as relações dos diferentes seres vivos e assume-se como essencial no dia-a-dia. Já a linguagem parece ser um exclusivo da espécie humana e a fala um atributo único que caracteriza a mesma.

A comunicação surge assim, como uma parte crucial das interacções humanas, podendo apresentar-se com um carácter intencional, organizado e planeado, ou não pelos sujeitos. Assume-se, por assim dizer, como uma parte integrante das interacções humanas, com um carácter holístico e transversal. Paralelamente, representa o processo pelo qual um emissor envia uma mensagem, oral ou não, a um receptor que a descodifica e responde à mesma, reiniciando-se assim o processo. Por seu lado, a linguagem constitui-se como um sistema estruturado de símbolos que designam objectos, relações e situações numa dada cultura. Este sistema obedece a um código arbitrário que é partilhado e aprendido por todos os sujeitos através das suas interacções. A linguagem pode abranger diferentes sistemas estruturados de fala, símbolos, gestos, imagens, fala ou símbolos gerados por um software e ainda a escrita.

A fala apresenta-se como a vertente oral da linguagem, ou seja, o processo pelo qual damos voz a uma conjunto de sons que ao combinarem-se produzem palavras. A fala envolve aspectos neurológicos e fisiológicos, pois implica para além da estruturação da informação ao nível do Sistema Nervoso Central igualmente o uso dos órgãos fonadores do indivíduo (Kumin, 2002).

A comunicação, a linguagem e a fala implicam, como já referimos anteriormente, que exista interacção com o ambiente ou ambientes de desenvolvimento, nas suas diferentes dimensões. Consideramos assim ser pertinente centrar a nossa atenção nos outros significativos, pois desempenham um papel fundamental no desenvolvimento, ensino e aprendizagem das formas mais ajustadas de nos relacionarmos com o outro através da comunicação, da linguagem e da fala. Destacamos ainda os estudos desenvolvidos por diferentes linguistas na época de 70, os quais se tornaram num ponto de viragem na conceptualização dos

diferentes aspectos que engloba a comunicação, uma vez que estes passaram a ser analisados quanto à forma (ex: fonologia , morfologia, semântica, sintaxe) e quanto à função( ex: o uso da linguagem) (Shuy, 1984).

A partir desta investigação foi proposto que a criança nasce com a competência para comunicar e aprender a sua língua, mas ele/a necessita de reinventar e descobrir a linguagem através de um processo de aprendizagem. A interacção com a linguagem ocorre em contextos naturais e significativos. O desenvolvimento da comunicação e da linguagem/fala emerge e organiza-se de acordo com um determinado padrão(Linder, 1990).

Inicialmente, os primeiros significativos são os pais, uma vez que se assumem como os parceiros mais aptos para fomentar as experiências e a estimulação necessárias ao desenvolvimento da criança (Bryant, 1988). Exemplo do atrás referido é um estudo que se centrou nas interacções das crianças em idade pré- escolar, o qual demonstra que as mães desempenham um papel central em detrimento das educadoras de infância, pois estas últimas desenvolviam interacções mais pobres e por consequência seriam menos influentes no desenvolvimento cognitivo e no desenvolvimento comunicacional e linguístico com Síndrome de Down(Tizard, 1988).

A comunicação, a linguagem e a fala em crianças com Síndrome de Down assume os mesmos contornos presentes no desenvolvimento dos seus pares, todavia a um ritmo diferente. Na criança com Síndrome de Down, mais concretamente com Trissomia 21, a fala assume-se como a competência em que regista mais dificuldades, porque embora compreenda rapidamente os conceitos de comunicação e linguagem e tenha vontade explícita de comunicar precocemente, as competências essenciais ao nível da linguagem expressiva desenvolvem-se frequentemente meses e por vezes anos mais tarde.

Numa intervenção a nível do desenvolvimento da comunicação e linguagem parece ser crucial centrar a intervenção na família e nos contextos de vida da criança com Trissomia 21. Quando a aprendizagem acontece em cenários naturais e significativos, é mais fácil para a criança reunir a informação, pois encontra aí um maior número de pistas que facilitam todo o processo. Os teóricos e académicos enunciaram esta abordagem como uma alternativa para promover o desenvolvimento da linguagem em ambientes naturais e, salientaram o recurso

a enunciados permeados pelas experiências vividas em contextos naturais (Mclean & Snyder-Mclean, 1978; Powell & Mahoney, 1986).

A intervenção nos contextos de vida da criança, por exemplo, em casa e no jardim de infância, baseia-se no princípio que a linguagem é aprendida e apreendida «sob a forma de um todo» (Goodman, 1986; Norris & Hoffman, 1990; Winitz, 1983). A linguagem é perspectivada como um processo o qual envolve aspectos cognitivos e semióticos (ex: quer a comunicação verbal, quer a não verbal) bem como desenvolvimento a nível social (Norris & Hoffman. 1990). Através da

integração destes processos, a criança desenvolve competências

comunicacionais que lhe permitirão exprimir conteúdos, a forma e o uso (ex: semântica, sintaxe, pragmática).

Nesta abordagem da linguagem, o adulto ajuda a criança a aceder aos aspectos cruciais do seu meio, ao conhecimento do mundo, de forma a que esta estruture o seu raciocínio e faça uma correcta organização e conceptualização das palavras. A criança desenvolve as competências comunicacionais adequadas quando as suas acções têm o efeito desejado nas pessoas que fazem parte do seu contexto social. Através da interacção, os enunciados da criança são alargados, expandidos, tornando-se mais elaborados e precisos, adaptados à norma e o mais aproximado possível do modelo linguístico do adulto (Norris & Hoffman, 1990).

Assim, revela-se fulcral a tomada de consciência, da importância da mudança das práticas e das percepções dos diferentes significativos relativamente à criança com Trissomia 21, designadamente quanto às formas de acção que implementam no âmbito do desenvolvimento comunicacional e linguístico.

Esta consciencialização poderá passar por uma abordagem centrada na família, a qual assenta nas perspectivas de Bronfenbrenner(1975) acerca do sistema ecológico e social (Dunst et ai.,1985,1988,1994), nas rotinas( McWilliam, s/d) e nos diferentes contextos de vida da criança, na medida em que deste modo poderemos desenvolver competências de co-responsabilização e capacitação dos diferentes significativos, tornando-os assim, verdadeiros agentes de mudança. O trabalho a realizar assentará numa perspectiva centrada na família, a qual tem como meta assegurar, que os objectivos do Programa de Intervenção Centrado na Família ( PICF) e a prestação de serviços sejam definidos, de acordo com as preocupações/recursos e prioridades da família, onde os profissionais encorajam

e apoiam os pais a liderarem a tomada de decisões. Em suma, os serviços apresentam-se como promotores de competências, e co-responsáveis no fortalecimento das famílias, através do desenvolvimento de redes de apoio informal e de troca recíproca de serviços ( McGonigel & Garland, 1988).

O estudo descritivo que desenvolvemos teve por objectivo definir e implementar um programa de intervenção que promovesse o desenvolvimento comunicacional /linguístico na criança com Trissomia 21. Pressupõe, para além do desenvolvimento da área atrás referenciada, contemplar também o desenvolvimento global do sujeito participante, bem como desenvolver práticas educativas junto dos pais e profissionais promotoras do desenvolvimento linguístico e comunicacional. A eficácia das referidas interacções terá como meta promover um desenvolvimento global qualitativo e quantitativamente superior, da criança com Síndrome de Down, mais especificamente com Trissomia 21 alvo do nosso estudo.

Deste modo, as questões de investigação são:

• De que forma o desenvolvimento linguístico/comunicacional da criança com Trissomia 21 evoluiu com o programa de intervenção?

• De que forma as percepções e práticas do casal (pais) relativas à comunicação/ linguagem do Manuel mudaram com a intervenção?

• De que forma as percepções e práticas dos profissionais de educação relativas à comunicação/ linguagem do Manuel mudaram com a intervenção?

No que concerne ao método, passaremos a apresentar os participantes e os contextos da intervenção, definiremos as condições de realização e desenvolvimento do presente estudo, procedendo a uma descrição das metodologias, dos instrumentos e do programa de intervenção implementado.

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